A luta pelo Brasil

Foto: Leandro Taques

Por Gibran Mendes, com fotos de Francisco Proner e Leandro Taques

 

Nos dias 8, 9 e 10 de maio Curitiba viu sua rotina ser alterada. Espaços públicos, como praças e terrenos, foram ocupados por pessoas oriundas de todas as regiões do Brasil. Na pauta a democracia e os retrocessos sociais. Caravanas de trabalhadores do campo e da cidade chegavam pelas rodovias. Pessoas que se organizaram em grupos de amigos também chegavam pelo chão ou pelo ar.

 

Segundo a Frente Brasil Popular, responsável pela organização do evento, aproximadamente 400 ônibus chegaram à Curitiba. Contudo, o número é certamente maior. Parte das pessoas que vieram à capital paranaense o fizeram de forma autônoma. “A organização também partiu de iniciativas individuais”, explicou o coletivo em nota oficial.

 

Nestas 72 horas uma série de atividades foi realizada na capital paranaense. Debates relacionados à reforma da previdência e trabalhista. A democratização da comunicação. A reforma agrária. Os conflitos envolvendo a lei e as decisões judiciais. Arbitrariedades na Lava-Jato. Especialistas de todo o Brasil participaram destas atividades que foram invisibilizadas pela mídia. Mais de 50 mil pessoas participaram dos eventos organizados por diversas entidades e coletivos. Enquanto isso, na grande imprensa, o tema era apenas um: o depoimento do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva ao magistrado Sérgio Moro.

 

 

A estratégia de estabelecer um duelo, envolvendo duas pessoas, faz parte da tentativa de minimizar a Jornada de Lutas pela Democracia (nome dado ao evento) como algo individual, centrando na figura do ex-presidente Lula Regina Cruz presidente CUT Paraná “A estratégia de estabelecer um duelo, envolvendo duas pessoas, faz parte da tentativa de minimizar a Jornada de Lutas pela Democracia (nome dado ao evento) como algo individual, centrando na figura do ex-presidente Lula. Desta forma cria-se um clima para não entrar em temas importantes como as reformas propostas pela gestão de Michel Temer e todos os retrocessos sociais que acompanham as mudanças que tramitam no Congresso Nacional”, explica uma das coordenadoras da Frente Brasil Popular no Paraná e também nacionalmente, Regina Cruz.

 

Figuras como a do intelectual e diplomata Samuel Pinheiro Guimarães Neto e o jurista Marcello Lavenère ficaram anônimas em meio à multidão. Fontes em potencial para temas que atualmente estão em pauta no Brasil. Permaneceram em silêncio. Não foram procurados e talvez tampouco identificados. A pauta que interessava era somente a guerra jurídica travada pela equipe da Operação Lava-Jato e Sérgio Moro contra o ex-presidente. Quando muito, relatos relacionados ao trânsito e as manifestações, além da curiosidade sobre um acampamento que reuniu mais de cinco mil pessoas em pleno centro de Curitiba.

 

 

Acampamento

Localizado em um terreno na região central de Curitiba, o acampamento pela democracia, como foi batizado pelos seus idealizadores, recebeu pessoas de diversas regiões do Brasil. Em sua maioria trabalhadores rurais que deixaram o lar e seu trabalho para lutar pelo que consideram um Brasil justo para si mesmo e para seus filhos.

 

Um deles era Carlos Fernando Ortiz, de 52 anos, que deixou a esposa em Santana do Livramento (RS), onde vive. Trouxe consigo o pequeno Ernesto Che Guevara, seu filho, de três anos de idade. Percorreram quase 1.200 quilômetros. Mas por qual motivo?

 

 

Nós levamos a luta de classes para onde vamos e sempre tivemos essa consciência. Estamos aqui para não deixar que aconteça o que estão tentando fazer com o povo. Pode ser que não seja possível (barrar as reformas) Manifestante “Nós levamos a luta de classes para onde vamos e sempre tivemos essa consciência. Estamos aqui para não deixar que aconteça o que estão tentando fazer com o povo. Pode ser que não seja possível (barrar as reformas), mas estamos na luta porque é uma causa justa. O que vamos deixar para meu filho e meus netos?”, questionou.

 

Ortiz vendia “rapaduras” no acampamento. É a forma que encontrou de ganhar a vida. Os doces são produzidos pela esposa no assentamento onde mora. “Sempre trago para vender. Nos últimos dois anos estou trabalhando apenas com isso. Fiz quatro pontes de safena e estou impossibilitado de ‘trabalhar no pesado’. A mulher faz e eu o guri vamos vender”, explicou.

 

 

Com o problema de saúde que carrega Ortiz tem motivos de sobra para ficar preocupado com as reformas, sobretudo a da previdência. “Tchê, fica ruim demais. Agora já têm médicos lá em Livramento que já deram um papel falando que estou impossibilitado de trabalhar e mesmo assim me negam a perícia. Estou com o INPS (INSS) na justiça e enquanto isso vamos levando a vida e vendendo rapadura”, comentou.

 

A reportagem na íntegra estará na edição da revista Ágora desse mês.

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