Política
Luíza Erundina: Marco histórico da gestão da cidade de SP
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6 anos atrásem

Nestes tempos de trevas e desesperanças, senti-me instigada a resgatar um pouco do espírito e dos sentimentos que permearam a gestão da Prefeita Luíza Erundina. À frente do Município de São Paulo, uma das maiores cidades da América Latina, sua gestão deixou profundas marcas para o povo de São Paulo e para os profissionais das mais diversas áreas que participaram, em vários níveis, da sua gestão.
Se formos perguntar ao povo de São Paulo, que há 30 anos vivenciou a gestão da prefeita Luíza Erundina, quem pela primeira vez de fato olhou para as nossas periferias, certamente milhares responderão com saudades – foi a Erundina.
“Para falar sobre a gestão Luíza Erundina na Prefeitura Municipal de São Paulo – PMSP, é importante destacar o grande feito que foi sua eleição, num colégio eleitoral com histórico conservador. Tratava-se de escolher uma mulher, nordestina, pobre e sem nenhum glamour. Àquela época, as redes sociais ainda não dominavam, nem conquistavam cabeças sem o debate de idéias. A Luísa participava, há muitos anos, das lutas populares e foi reconhecida por isso, essa foi sua bandeira de campanha. No governo, honrou seu compromisso com as camadas populares, acolhendo demandas e criando mecanismos de participação”. Maria Nadja Leite de Oliveira, Pedagoga do quadro de funcionários da Secretaria de Bem Estar Social, uma das responsáveis pela rede de creches.
Através de depoimentos de algumas pessoas que participaram da administração municipal no período de 1989 a 1992, é possível resgatar um pouco do entusiasmo, da coragem, criatividade e ousadia que marcaram sua gestão. Especialmente aos jovens gostaria de transmitir um olhar crítico e ressaltar que muitos dos desafios de 30 anos atrás são de grande atualidade. E que a utopia se constrói a partir de objetivos claros, da prática e de ações concretas, do compromisso político de transformação social. Jamais podemos abrir mão da esperança.
”Nós éramos jovens, imbuídos de sonhos e coragem. Ousadia que vinha do exemplo dado diariamente pela prefeita Luiza Erundina, que acreditava na mudança de valores e apoiava quem se dispusesse a correr riscos na defesa dos direitos de cidadania. Assim foi na saúde e nas demais áreas”. Carlos Neder, Chefe de Gabinete (89/90) e Secretário de Saúde (90/92)”.
“Como Superintendente do Hospital do Servidor Público Municipal, engajei-me desde a primeira hora no grande desafio que tínhamos pela frente: administrar a maior cidade do país comandados por uma mulher, nordestina e que venceu a eleição de maneira surpreendente. Confesso que nos primeiros muitos meses, nem dormir conseguíamos. Preocupados em acertar, fazer de maneira diferente a política, as relações com as forças vivas da sociedade, num clima de permanente hostilidade por parte daqueles que sempre detiveram o poder durante tanto tempo. Quando me perguntavam se estava com medo; respondia apenas que estava assustado com o tamanho da nossa coragem, coragem de todos que estavam juntos naquela dura missão”. Giovanni Di Sarno, Superintendente do Hospital do Servidor Público Municipal
“Trabalhar com Luiza Erundina permitiu a realização de um sonho: levar à prática os princípios do Sistema Único de Saúde de universalização, hierarquização, equidade e participação popular nos serviços de saúde. Assim participei da reestruturação dos serviços de saúde da Prefeitura, integrando as unidades básicas aos hospitais em todas as regiões da cidade, montando, assim, os distritos de saúde. Desta forma, a pessoa que recorria a um posto, poderia ser encaminhada a um especialista, pronto-socorro ou hospital na mesma região. Este modelo de serviço favorece imensamente, a prevenção e promoção da saúde, a cura e a reabilitação do cidadão”. Elzira Vilela, médica sanitarista, Diretora do Hospital Campo Limpo
Luíza transformou a gestão municipal num campo de batalha de ideias e de diálogo em todas as frentes cuja meta era inverter a prioridade da gestão da PMSP e de toda a Administração Pública, para atender os mais necessitados – a população historicamente excluída de bens e serviços.
“O Governo de Luíza Erundina foi o mais revolucionário de todos os tempos em todas as áreas. Porque inovou e ousou em tudo. Desde as pequenas coisas como, por exemplo, deixar de fazer canalização de córrego fechado, que dá muito dinheiro às empreiteiras e fazer canalização de córrego em gabião, que é muito mais barato e muito mais fácil de limpar; até tentar impor para a cidade o coeficiente de aproveitamento igual a 1 (um) que a cidade só conseguiu emplacar 24 anos depois, na gestão de Haddad. Tudo era tratado com muita atenção tendo a preocupação de inovar no sentido de propor atos modernos e sempre pensando o quanto custaria para a cidade. Mas, a imprensa batia nela todos os dias. Era uma luta a cada dia. Na área em que trabalhei, foi implantado o planejamento descentralizado que se obtinha uma inter-relação com as demais secretarias de forma real. Os núcleos de planejamento eram estruturados de maneira em que as subprefeituras e as secretarias sociais e as de obras como vias, transportes, habitação, discutiam e decidiam conjuntamente todos os projetos e problemas. Era uma estrutura difícil porque dependia de profissionais dispostos a entrosar o Trabalho. Foi uma experiência única e nunca mais foi retomada. Foi proposto um novo Plano Diretor que a Câmara não votou. As experiências foram muitas, com ótimos resultados em todas as áreas. Mas, a imprensa não perdoou o sucesso de uma mulher, nordestina e de esquerda.” Penha Pacca, Arquiteta da Secretaria Municipal de Planejamento.
“Partimos do principio de que as creches eram um direito das famílias, para atenderem seus filhos mas acima de tudo, um direito sagrado das crianças, um espaço de educação. Era necessário elevar a qualidade do atendimento, abrindo duas frentes de atuação: – melhorar as condições materiais, dando suporte para um projeto educacional de qualidade em que contamos com total apoio da administração; – levar o debate para o conjunto dos educadores envolvidos no atendimento, de forma a refletirem sobre o papel educacional das creches, partindo da concepção de que a criança é agente e construtora do seu conhecimento. Promovemos seminários, palestras, convidando profissionais de reconhecida competência, ao mesmo tempo em que levamos o debate para dentro dos equipamentos”. Maria Nadja Leite de Oliveira, Pedagoga do quadro de funcionários da Secretaria de Bem Estar Social.
De seriedade e ética inquestionável, Luíza se cercou de pessoas identificadas com os mesmos princípios, objetivos e capacidade profissional excepcional. Foi a regente de uma orquestra muito rica e diversa – Paulo Freire, Paul Singer, Amir Kair, Carlos Neder, Marilena Chauí e muitos outros..Confiava no trabalho de equipe, na capacidade criativa e no potencial do ser humano, como agente da transformação.
“Tenho muito orgulho de ter feito parte do governo de Luiza Erundina. O time de secretários mostra que o critério intelectual, técnico ou de conhecimento da realidade era fundamental naquele tempo de início de um ciclo democrático impar na história do Brasil. Aprendi muito com Paulo Freire, Marilena Chauí, Paul Singer, Lucio Gregori, Eduardo Jorge e Carlos Neder, além de outros tantos parceiros e parceiras. À testa da Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano convivi com uma equipe dedicada e muito competente. Os movimentos sociais não nos deram tréguas fazendo manifestações semanais e frequentes ocupações do Edifício Martinelli onde estávamos. Exigiam seus direitos como havia ensinado nossa prefeita. Não fosse essa prática incisiva e corajosa talvez não tivéssemos realizado uma gestão tão promissora. Inauguramos um programa habitacional com participação social e assistência técnica que deitou raízes no Brasil pelo resto dos nossos dias. Esse programa – FUNAPS COMUNITÄRIO- mostrou que é possível fazer moradia social com arquitetura e construção de qualidade e preço baixo” Ermínia Maricato, Secretária de Habitação à época.
O estímulo à participação popular em todas as instâncias da gestão municipal através de Conselhos Gestores, foi um dos pilares de sua gestão:
“Considero um privilégio poder ter participado da gestão da prefeita Luiza Erundina ao lado de Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação. Primeiro nome anunciado de sua equipe quis a prefeita evidenciar seu compromisso com uma gestão democrática e educadora. Assim buscava concretizar o que deveria ser uma gestão pautada pelos princípio da inversão de prioridades e da participação popular. Todas as grandes ações da Prefeitura mereceram intenso debate interno e amplo debate com a sociedade. Vale lembrar as propostas de Tarifa Zero nos transportes e do IPTU progressivo. Houve uma politização das ações o que promoveu grandes debates e polêmicas na cidade. Tínhamos a consciência de que através do diálogo e da participação popular estávamos construindo cidadania, democracia e efetivando direitos. Muitas dificuldades e adversidades tiveram que ser enfrentadas mas faziam parte do processo e havia muita energia e compromisso político para buscar alternativas. Tivemos muitos aprendizados dos acertos e erros cometidos que nos foram muito úteis durante todos estes anos e diante de tantos desafios que todos tivemos de enfrentar para levar a frente um projeto democrático e popular para nosso País”. Pedro Pontual, Educador Popular.
“Luiza Erundina foi a prefeita da Cidade de São Paulo (1989/1992) mais ousada, coerente e democrática que a cidade já teve! Reorientou as prioridades tradicionais da gestão das cidades, redefinindo os investimentos para as regiões mais pobres da cidade, respondendo com competência e inovação às demandas populares. Investiu em projetos de ação solidária envolvendo diferentes grupos sociais, e exercendo, na prática, suas convicções: só é possível unir essa cidade/estado por meio de uma Gestão Democrática em que as pessoas se sintam, de fato, partícipes ativos das decisões e ações das políticas públicas. Não por acaso, a criação e recriação reformulada de Conselhos na Cidade possibilitou uma ação/participação popular como nunca se teve! A competência de escolha e organização de uma equipe de trabalho coesa e identificada com princípios de cidadania possibilitaram políticas que, diversificadas na sua função – saúde, cultura, educação, assistência social – tivessem como princípio comum a melhoria das condições e de qualidade de vida de todos e todas na cidade, mas, com prioridade aos historicamente marginalizados”… “As consultas populares, que envolviam, do motorista de taxi ao usuário de transporte público para a definição dos pontos de parada dos ônibus, dos pais e alunos sobre as prioridades da educação, do happer ao corpo de balé do teatro municipal, possibilitando sugestões e críticas às políticas possibilitaram um exercício concreto de cidadania”. Lisete Arelaro, Chefe da Assessoria Técnica e de Planejamento da Secretaria de Educação
“Decoramos as paredes do pronto-socorro com fotos da população local para propiciar ao povo da região o sentimento de que aquele era um espaço deles, eram os protagonistas daquele novo cenário”. Elzira Vilela, médica sanitarista. Diretora do Hospital Campo Limpo
As políticas públicas e os programas foram formulados e se concretizaram a partir das necessidades, interesses e anseios da grande maioria da população paulistana – as classes populares e os segmentos mais pobres. Através das várias áreas de atuação se concretizava a utopia de mudança de prioridades da gestão pública, a construção de um mundo mais digno e justo para todos e de uma cidade mais humana. Luíza enfrentou forças e dificuldades imensas e de todo tipo.Com garra, confiança na equipe de trabalho, participação popular e articulação com forças sociais da cidade enfrentava e administrava com serenidade os obstáculos que apareciam pela frente.
“Campo Limpo, bairro da zona sul da capital tinha 600.000 habitantes, sendo a maioria muito pobre, sobrevivendo em locais de extrema violência. A primeira causa de morte era homicídio, de adultos, crianças e adolescentes. O enfrentamento deste problema de saúde tornou-se prioritário, e a complexidade desta tarefa exigiu mudanças no projeto do hospital em construção – criando centro de reabilitação, ambulatório de especialidades e UTI para crianças e adolescentes e um trabalho conjunto à Secretaria de Cultura e Educação, Bem-Estar Social e Esportes e Lazer. A prefeita priorizava os serviços voltados à periferia da Cidade, pois entendia que era lá que morava a parcela mais necessitada”. Elzira Vilela, Médica Sanitarista, diretora do Hospital Campo Limpo.
Conseguiu realizar uma gestão cujos programas implantados foram de grande ousadia, subsídio e embrião para políticas públicas em várias gestões municipais e estaduais de governos do PT e de partidos progressistas, e nos governos Lula e Dilma.
“Surgiram propostas inovadoras na área da saúde, com a transformação da Secretaria de Saúde em sistema de atenção a todos, não mais para crianças, gestantes e mulheres apenas, além das emergências e urgências e atendimento hospitalar. Foram quatro anos de efervescência criativa e estímulo profissional, mudando o foco da Secretaria do modelo hospitalocêntrico e medicocentrado, para atendimento na Rede Básica de Saúde e interprofissional… Se não tivesse acontecido aquele estímulo pela administração da Luiza Erundina, não teríamos toda a proposta inovadora que, hoje, a cidade de São Paulo apresenta a todo o SUS, com programas e políticas premiadas e reconhecidas nacionalmente, na área da atenção à saúde da pessoa idosa.” Sérgio Paschoal, Coordenador da Saúde do Idoso, SMS.
A integração dos programas considerada fundamental para o enfrentamento das necessidades dos munícipes foi uma realidade em todas as áreas. Muito se realizou, muitas sementes foram lançadas.
“A gestão da prefeita Luiza Erundina segundo o partido pelo qual foi eleita – Partido dos Trabalhadores – pensava em uma cidade plural, justa e democrática, implantando uma política social que acolhia todas as pessoas. Na época eu era professora da Rede Municipal de Educação, atuando na Educação Infantil e no Ensino Fundamental e tive o privilégio e a alegria de compor o governo como formadora de professores desta mesma rede… a Prefeita valorizava a Educação e em minha memória de educadora, (atuei por mais de trinta anos da Rede Municipal de Educação), esta foi uma época de muito entusiasmo, de prática democrática e dialógica, de muito trabalho árduo, de muita formação, de realizações, conflitos, conquistas e vitórias. Minha formação política e pedagógica deu-se nesta época. Formulávamos a política Educacional nos fóruns de debate, com os educadores e com a população da cidade… além disso, na gestão de Luiza Erundina, obtivemos uma grande conquista para o magistério: professores serem pagos para planejarem suas aulas e estudarem- era a JTI- Jornada de Tempo Integral. Os aprendizados, as experiências, a postura democrática e dialógica desta gestão caminharam comigo por todos os meus anos de magistério e continuam a orientar minha atuação como cidadã! Lutei e continuarei lutando por uma sociedade justa, democrática e acolhedora para todas e todos!” Lívia Maria Antongiovanni, Equipe Pedagógica, Grupo de Formação do NAE-4.
“Lembro, com saudades, das excelentes e criativas experiências de integração de políticas: saúde/educação; educação/cultura; educação/esportes que possibilitaram aos cidadãos da cidade de São Paulo, a fruição de direitos que nunca tinham experimentado”. Lisete Arelaro, Chefe da Assessoria Técnica e de Planejamento da Secretaria de Educação
A serenidade, a firmeza com que Luíza Erundina enfrentou os desafios do cargo, sempre de acordo com seus princípios e ética deixam saudades desta gestão corajosa.
“Criticada diariamente pela mídia e pelos poderosos, nunca se deixou abater! Ao contrário, as enfrentava com um pacífico sorriso: Já esperávamos isso! dizia. As greves de funcionários, de lixeiros a motoristas de ônibus – a CMTC era até então uma empresa pública! – ainda que muito difíceis de resolver, nunca lhe ocorreu a possibilidade de chamar a polícia para conter as reivindicações, mesmo quando elas não eram justas…”. Lisete Arelaro, Chefe da Assessoria Técnica e de Planejamento da Secretaria de Educação
“Numa reunião de governo num sábado chuvoso, a Prefeita foi chamada a atender o telefonema do senador por São Paulo, que perguntava por uma chefia de Clínica que havia sido destituída do cargo de chefia, por nós dirigentes do Hospital do Servidor Público Municipal, Há anos ela desempenhava tal função, e que ele, senador da república, gostaria de ver revertida, era um cargo de confiança. A Luiza com respeito e cuidado perguntou-me se aquela decisão era algo irrevogável e necessária. Confirmando que a decisão final havia sido tomada, imediatamente retomou a conversa com o senador, lamentando o fato de não poder atendê-lo, não se intimidando com o personagem influente do outro lado da linha. Deu o irrestrito respaldo para os seus novatos dirigentes. Não ficou intimidada e respeitou a decisão que sua equipe havia tomado. Isso, ilustra como esta mulher corajosa, generosa e solidária com a sua equipe, comandava a maior cidade do Brasil…Também não esqueço a firmeza com que a Prefeita de posicionou no episódio da prisão de um diretor de uma das subdivisões médicas do Hospital. Estávamos com um preso, sendo atendido na enfermaria do hospital, guardado por uma escolta da Polícia Civil. Num dos retornos dos exames que foi realizar os policiais decidiram algemar o paciente ao leito hospitalar. Sabendo deste fato, o diretor de subdivisão, foi imediatamente a enfermaria para protestar da atitude e exigir a remoção das algemas atadas ao leito, porque se tratava de uma violação intolerável. Na discussão com os policiais apareceu o delegado titular do 36ª D.P. dando voz de prisão ao nosso diretor, levando-o de camburão para o distrito policial. Também acabei me envolvendo na discussão, chegando a dizer ao delegado que ele era autoridade dentro da delegacia, e nós, erámos a autoridade dentro do hospital. Se seguiu uma intensa noite de detenções, discussão dentro e fora da delegacia. A Prefeita com pulso firme como o caso requeria, mobilizou toda a sua equipe da prefeitura, inclusive o seu secretário de negócios jurídicos para intervir a favor dos profissionais da saúde de seu governo. Fomos todos liberados após intensa noite e madrugada de negociação com as autoridades policiais. A opinião pública ficou estarrecida pelos acontecimentos de truculência e falta de respeito dos policiais. A Prefeita Luiza Erundina fez um ato de desagravo nas dependências do Hospital do Servidor Público Municipal no dia seguinte, noticiado por toda a imprensa e repercutido por todas as pessoas desta cidade, aos profissionais de saúde do hospital, neste flagrante desrespeito aos direitos básicos e elementares de qualquer cidadão”. Giovanni Di Sarno, Superintendente do Hospital do Servidor Público Municipal.
A prefeita Luíza Erundina, ciente da importância de se preservar a história da cidade e a memória da gestão municipal no período em que foi responsável pela Administração do Município de São Paulo, encaminhou ao Centro de Documentação e Memória – CEDEM/UNESP todo o acervo programático e documental de sua gestão.
No dia 29 de março de 2019, em comemoração aos 30 anos da Gestão Democrática e Popular, Luíza Erundina proferiu no CEDEM uma palestra seguida de debates, depoimentos e reflexões de pessoas comprometidas, profissionais que participaram de sua gestão.
Reviver este momento da história, da gestão Democrática e Popular de Luíza Erundina, consiste em importante exemplo especialmente para as novas gerações de que a luta vale a pena. A Utopia se constrói a partir de objetivos claros, da prática e de ações concretas, da participação popular na gestão, do compromisso político de transformação social. Jamais podemos abrir mão da esperança!
Assista a palestra completa:
Campinas
Ocupação Mandela: após 10 dias de espera juiz despacha finalmente
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5 anos atrásem
10/09/20por
Fabiana Ribeiro
Depois de muita espera, dez dias após o encerramento do prazo para a saída das famílias da área que ocupam, o juiz despacha no processo de reintegração de posse contra da Comunidade Mandela, no interior de São Paulo.
No despacho proferido , o juiz do processo – Cássio Modenesi Barbosa – diz que aguardará a manifestação do proprietário da área sobre eventual cumprimento de reintegração de posse. De acordo com o juiz, sua decisão será tomada após a manifestação do proprietário.
A Comunidade, que ocupa essa área na cidade de Campinas desde 2017, lançou uma nota oficial na qual ressalta a profunda preocupação em relação ao despacho do juiz em plena pandemia e faz apontamento importante: não houve qualquer deliberação sobre as petições do Ministério Público, da Defensoria Pública, dos Advogados das famílias e mesmo sobre o ofício da Prefeitura, em que todas solicitaram adiamento de qualquer reintegração de posse por conta da pandemia da Covid-19 e das especificidades do caso concreto.
Ainda na nota a Comunidade Mandela reforça:
“ Gostaríamos de reforçar que as famílias da Ocupação Nelson Mandela manifestaram intenção de compra da área e receberam parecer favorável do Ministério Público nos autos. Também está pendente a discussão sobre a possibilidade de regularização fundiária de interesse social na área atualmente ocupada, alternativa que se mostra menos onerosa já que a prefeitura não cumpriu o compromisso de implementar um loteamento urbanizado, conforme acordo firmado no processo. Seguimos buscando junto ao Poder público soluções que contemplem todos os moradores da Ocupação, nos colocando à disposição para que a negociação de compra da área pelas famílias seja realizada.”
Hoje também foi realizada uma atividade on-line de Lançamento da Campanha Despejo Zero em Campinas -SP (
https://tv.socializandosaberes.net.br/vod/?c=DespejoZeroCampinas) tendo a Ocupação Mandela como o centro da discussão na cidade. A Campanha Despejo Zero em Campinas faz parte da mobilização nacional em defesa da vida no campo e na cidade
Campinas prorroga a quarentena
Campinas acaba prorrogar a quarentena até 06 de outubro, a medida publicada na edição desta quinta-feira (10) do Diário Oficial. Prefeitura também oficializou veto para retomada de atividades em escolas da cidade.

A Comunidade Mandela e as ocupações
A Comunidade Mandela luta desde 2016 por moradia e desde então tem buscado formas de diálogo e de inclusão em políticas públicas habitacionais. Em 2017, cerca de mais de 500 famílias que formavam a comunidade sofreram uma violenta reintegração de posse. Muitas famílias perderam tudo, não houve qualquer acolhimento do poder público. Famílias dormiram na rua, outras foram acolhidas por moradores e igrejas da região próxima à área que ocupavam. Desde abril de 2017, as 108 famílias ocupam essa área na região do Jardim Ouro Verde. O terreno não tem função social, também possui muitas irregularidades de documentação e de tributos com a municipalidade. As famílias têm buscado acordos e soluções junto ao proprietário e a Prefeitura.
Leia mais sobre:
https://jornalistaslivres.org/em-meio-a-pandemia-a-comunidade-mandela-amanhece-com-ameaca-de-despejo/
#EleNão
EDITORIAL – HOJE É DIA DE LUTO! PERDEMOS O MENINO GABRIEL
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5 anos atrásem
10/06/20

Gabriel e Lula: aniversário no mesmo dia: 27/10
Perdemos um camarada valoroso, um menino negro encantador de feras, um sorriso no meio das bombas e da violência policial, um guerreiro gentil que defendeu com unhas e dentes a Democracia, a presidenta Dilma Rousseff durante todo o processo de impeachment, e o povo brasileiro negro e pobre e periférico, como ele.
Gabriel Rodrigues dos Santos era onipresente. Esteve em Brasília, na frente do Congresso durante o golpe, em São Paulo, nas manifestações dos estudantes secundaristas; em Curitiba, acampando em defesa da libertação do Lula. Na greve geral, nas passeatas, nos atos, nos encontros…
O Gabriel aparecia sempre. Forte, altivo, sorrindo. Como um anjo. Anjo Gabriel, o mensageiro de Deus
Estamos tristes porque ele se foi hoje, no Incor de São Paulo, depois de um sofrimento intenso e longo. Durante três meses Gabriel enfrentou uma infecção pulmonar que acabou levando-o à morte.
Estamos tristíssimos, mas precisamos manter em nossos corações a lembrança desse menino que esteve conosco durante pouco tempo, mas o suficiente para nos enriquecer com todos os seus dons.
Enquanto os Jornalistas Livres estiverem vivos, e cada um dos que o conheceram viver, o Gabriel não morrerá.
Porque os exemplos que ele deixou estarão em nossos atos e pensamentos.
Obrigada, querido companheiro!
Tentaremos, neste infeliz momento de Necropolítica, estar à altura do Amor à Vida que você nos deixou.
Leia mais sobre quem foi o Gabriel nesta linda reportagem do Anderson Bahia, dos Jornalistas Livres
Golpe
Presidência cavalga para fora dos marcos do Estado de Direito
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5 anos atrásem
07/06/20
Por Ruy Samuel Espíndola*
O Governo, num Estado de Direito, deve ser eleito, e, depois de empossado, deve ser exercido de acordo com regras pré-estabelecidas na Constituição. Essas são as regras do jogo, tanto para a tomada do poder, quanto para o seu exercício, como ensina Norberto Bobbio. Governo entendido aqui como o conjunto das instituições eletivas, representadas por seus agentes políticos eleitos pelo voto popular. Governo que, numa República Federativa e Presidencialista como a brasileira, é exercido no plano da União Federal, pela chefia do Executivo, pela Presidência da República e seus ministros, como protagonistas e pelo Congresso Nacional, com os deputados federais e senadores, como coadjuvantes.
Ao Governo, exercente máximo da política, devem ser feitas algumas perguntas, para saber de sua legitimidade segundo o direito vigente: quem pode exercê-lo e com quais procedimentos? Ao se responder a tais questões, desvela-se o mote que intitula este breve ensaio.
Assim, pode-se dizer “Governo constitucional” aquele eleito segundo as regras estabelecidas na Constituição: partido regularmente registrado, que, em convenção, escolheu candidato, que, por sua vez, submetido ao crivo do sufrágio popular, logrou êxito eleitoral. Sufrágio que culminou após livre processo eleitoral, no qual se assegurou, em igualdade de condições, propaganda eleitoral e manejo de recursos para a promoção da candidatura e de suas bandeiras, e que não sofreu, ao longo da disputa, nenhum impedimento ou sanção do órgão executor e fiscalizador do processo eleitoral: a justiça eleitoral. Justiça que, através do diploma, habilita, legalmente, o candidato escolhido nas urnas, a se investir de mandato e exercê-lo. Um governo constitucional, assim compreendido, merece tal adjetivação jurídico-politica, ainda que durante o período de campanha ou antes ou depois dele, o candidato e futuro governante questione o processo de escolha, coloque em dúvida sua idoneidade, ou mesmo diga que não estará disposto a aceitar outro resultado eleitoral que não o de sua vitória, ou, após conhecer o resultado da eleição, diga que o conjunto de seus adversários podem mudar para outros países, pois não terão vez em nossa Pátria e irão para a “ponta da praia” .
O Governo constitucional, sob o prisma de seu exercício, após empossado, é aquele que respeita a mínimas formas constitucionais, enceta suas políticas mediante os instrumentos estabelecidos na Constituição: sanciona e publica leis que antes foram deliberadas congressualmente; dá posse a altas autoridades que foram sabatinadas pelas casas do congresso; não usa de sua força, de suas armas, a não ser de modo legítimo, respeitando a oposição, as minorias e os direitos fundamentais das pessoas e de entes coletivos; administra os bens públicos e arrecada recursos públicos de acordo com a lei pré-estabelecida, sem confisco e de modo impessoal; acata as prerrogativas do Judiciário e do Legislativo, ainda que discorde ou se desconforte com suas decisões; prestigia as competências federativas, tanto legislativas, quanto administrativas, etc, etc. Promove a unidade nacional, em atitudes, declarações públicas e políticas concretamente voltadas a tal fim.
O “Governo constitucionalista”, por sua vez, além de ascender ao poder e exercê-lo, tendo em conta regras constitucionais, como faz um governo constitucional, defende o projeto constitucional de Estado e Sociedade, através do respeito amplo, dialógico e progressivo do projeto constituinte assentado na Constituição. Respeita a história política que culminou no processo reconstituinte e procura realizá-lo de acordo com as forças políticas e morais de seu tempo, unindo-as, ainda que no dissenso, através da busca de consensos mínimos no que toca ao projeto democrático e civilizatório em constante construção sempre inacabada. E governo constitucionalista, no Brasil, hoje, para merecer esse elevado grau de significação político-democrática e civilizatória, precisa respeitar a gama de tarefas e missões constitucionais descritas em inúmeras normas constitucionais que tutelam, entre outros grupos sociais, os índios, os negros, os LGBT, os ateus, os de inclinação política ideológica à esquerda, ou a à direita, ou ao centro, sem criminalização ou marginalização no discurso público de quaisquer tendências ideológicas. É preciso o respeito ao pluralismo político e aos princípios de uma democracia com níveis de democraticidade que não se restringem ao campo majoritário das escolhas políticas, mas, antes, se espraiam para as suas dimensões culturais, sociais, econômicas, sanitárias, antropológicas e sexuais etc, etc.
Governos que ascenderam sem respeito a normas constitucionais, como foi o de Getúlio Vargas em 1930 e o que depôs João Goulart em 1964, são inconstitucionais. E governo que se exerce fechando o congresso e demitindo ministros do STF, como se fez em 1969, com a aposentação compulsória dos ministros da Corte Suprema Evandro Lins e Silva, Hermes Lima e Victor Nunes Leal, são governos inconstitucionais, arbitrários, autocráticos, fora do projeto civilizatório e democrático de 1988.
O ponto crítico de nosso ensaio é que um governo pode ascender de modo constitucional, mas passar a ser exercido de modo inconstitucional e/ou de modo inconstitucionalista. O governo do presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, é um exemplo deste último e exótico tipo: consegue ser inconstitucional e inconstitucionalista no seu exercício, embora investido de maneira constitucional.
E o conjunto de declarações da reunião ministerial de 22/4, dadas a conhecer em 22/5, é um exemplo recente a elucidar nossa asserção: na fala presidencial, a violação ao princípio da impessoalidade (art. 37, caput, CF) ressoa quando afirma que deseja agir para que familiares seus e amigos não sejam prejudicados pela ação investigativa de órgãos de segurança (polícia federal). Na fala do ministro da Educação, quando afirma “que odeia” a expressão “povos indígenas” e os “privilégios” garantidos a esses no texto constitucional, o que indica contrariar o constitucionalismo positivado nos signos linguístico-normativos “população”, “terras”, “direitos”, “língua”, “grupos” e “comunidades indígenas”, constantes nos artigos 22, XIV, 49, XVI, 109, XI, 129, V, 176, § 1º, 215, § 1º, 231, 232 da CF e 67 do ADCT. Essa fala ministerial, aliás, ressoa discurso de campanha de 2018, quando o então candidato disse, no clube israelita de São Paulo: “No meu governo, não demarcarei nenhum milímetro de terras para indígenas. Também há inconstitucionalismo evidente na fala do Ministro do Meio Ambiente quando defendeu que se fizessem “reformas infralegais” “de baciada”, “para passar a boiada”, “de porteira aberta”, no momento em que o País passa pela pandemia de covid-19, pois o foco de vigília crítica da imprensa não seria o tema ambiental, mas o sanitário e pandêmico, o que facilitaria os intentos inconstitucionalistas contra a matéria positivada nos arts. 23, VI, 24, VI e VII, 170, VI, 174, § 3º, 186, II, 200, VII, 225 e §§ da CF.
Outras falas e atitudes presidenciais ainda mais recentes, e de membros do governo, contrastam com as normas definidoras da separação de poderes, da federação e da democracia, princípios fundamentais estruturantes de nossa comunidade política naciona. A nota do general Augusto Heleno, chefe do GSI, ao dizer que eventual requisição judicial do celular presidencial pelo STF, levaria à instabilidade institucional, traz desarmonia e agride ao artigo 2º, caput, da Constituição Federal. “Chega, não teremos mais um dia como hoje” e “Decisões judiciais absurdas não se cumprem”. Essas falas presidenciais, após o cumprimento de mandados judiciais no âmbito do inquérito judicial do STF, ordenados pelo Ministro Alexandre Moraes, agridem o mesmo dispositivo constitucional, com o agravante do artigo 85, II e VIII, da CF, que positiva ser crime de responsabilidade do presidente atentar contra o livre exercício do Poder Judiciário. E o atentado contra a democracia poderia ser também destacado na fala do filho do Presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro, que declarou estarmos próximos de uma ruptura e que seu pai seria chamado, com razão, de ditador, a depender das atividades investigativas do judiciário, tomadas como agressões ao governo de seu genitor. E o atentado contra a federação se evidencia nas falas presidenciais contra os governadores e prefeitos que estão a tomar medidas sanitárias no combate a covid-19, em que o presidente objetiva desacreditá-los e incitar suas populações contra esses chefes dos executivos estaduais e municipais, para que rompam o isolamento social, com agressão patente aos artigos 1º e 85, II, da Constituição. Os ataques diários aos órgãos de imprensa e a jornalistas, assim como sua atitude contra indagações de repórteres, também afrontam o texto da constituição da República: 5º, IX e XIV, 220 §§ 1º e 2º, protegidos pelo art. 85, III, da CF.
Em nossa análise temporalmente situada e teoricamente atenta, o conjunto de declarações públicas conhecidas do então deputado federal Jair Bolsonaro, desde seu primeiro mandato parlamentar, alcançado em 1990, portanto após o marco constitucional de 1988, embora constituam falas inconstitucionais e inconstitucionalistas, não servem para descaracterizar a “constitucionalidade” de sua eleição em 2018. Embora ainda reste, junto ao TSE, o julgamento de ação de investigação judicial eleitoral por abuso dos meios de comunicação social, que poderão ganhar novos elementos de instrução resultantes da CPI no Congresso sobre fake news e do inquérito judicial do STF com objeto semelhante. Sua eleição presidencial se mantém válida, assim como sua posse, enquanto essa ação eleitoral não for julgada definitivamente pela Suprema Corte eleitoral brasileira.
Algumas de suas falas públicas inconstitucionalistas e inconstitucionais pré-presidenciais devem ser lembradas: “Erro da ditadura foi torturar e não matar”; “O Brasil só vai mudar quando tivermos uma guerra civil, quando matarmos uns trinta mil, não importa se morrerem alguns inocentes”; “Os tanques e o exército devem voltar às ruas e fechar o congresso nacional”, etc. E durante o processo eleitoral de 2018, falas inconstitucionalistas também foram proferidas: “No meu governo, não demarcarei um milímetro de terras para indígenas”. “O Brasil não tem qualquer dívida com os descendentes de escravos. Nossa geração não tem culpa disso, mesmo porque os próprios negros, na África, escravizavam a si mesmos”, entre outras.
A resposta a nossa indagação: embora tenhamos um governo eleito de modo constitucional – até decisão final do TSE -, ele está sendo exercido de modo inconstitucional e de modo inconstitucionalista. A Presidência da República atual, caminha, inconstitucionalmente para fora do marco do Estado de Direito. E o passado pré-presidencial do presidente da República demonstra que o seu inconstitucionalismo governamental não é episódico e sim coerente com toda a sua linha de pensamento e ação desde seu primeiro mandato parlamentar federal.
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Advogado – mestre em Direito UFSC Professor de Direito Constitucional – Presidente da Comissão de Direito Constitucional da OAB-SC – Membro Consultor da Comissão de Estudos Constitucionais do Conselho Federal da OAB – Imortal da Academia Catarinense de Letras Jurídicas, cadeira 14, Patrono Advogado Criminalista Acácio Bernardes.
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Inácio da Silva
14/04/19 at 20:43
E apesar de tudo isso Erundina foi, por muitos anos esnobada pelo PT…
ELIANA C M GOUVEIA
16/04/19 at 19:06
Nenhum outro prefeito (a) chegou aos pés da Erundina !
Jane Darckê
19/06/20 at 20:54
Só digo uma coisa – OBRIGADA, ERUNDINA! MUITO OBRIGADA… E SE PUDER, VOLTE, POR FAVOR!
Miryám Hess
17/09/20 at 1:37
Erundina é a melhor prefeita da história de SP.