Luana era mulher, lésbica, mãe, negra e periférica. Luana foi brutalmente assassinada pela PM de São Paulo e ninguém vai responder por isso
“Corre que eles vão matar a Luana”. Foi assim que a mãe e a irmã de Luana Barbosa dos Reis Santos, de 34 anos, entenderam o motivo da gritaria e do desespero que tomava conta do Jardim Paiva II, na periferia de Ribeirão Preto, na noite de 08 de abril.
Luana foi violentada, na frente de seu filho de 14 anos, espancada e morta pela Polícia Militar, que não tinha nem sequer um motivo para abordá-la na rua. A história, narrada alguns dias depois por sua irmã, só comprova a infeliz, mas já conhecida, motivação da PM: lesbofobia e racismo. Luana era mulher lésbica, mãe, negra e periférica.
Além disso, seus traços e trejeitos menos femininos revelam ainda a transfobia que a maior parte dos PMs promovem. A família acredita ainda que o fato de Luana já ter passagem pela polícia a condenou imediatamente.
Esse não foi o primeiro e, com muita tristeza, não será o último. A impunidade segue mais uma vez. Ninguém foi preso. Ninguém foi indiciado. Ninguém foi responsabilizado pelo brutal assassinato de Luana. Ela foi mais uma das tantas vítimas diárias do feminicídio no país.
“Eu sou mulher e tenho o direito de ser revistada por outra”
A PM abordou Luana na rua, perto da sua casa, enquanto ela levava seu filho de 14 anos ao curso. Alegaram que sua moto era suspeita e deveriam revistá-la.
Ciente do seu direito de pedir por uma PM mulher, ela não permitiu que homens a revistassem. Isso bastou para que as agressões começassem. Luana era mulher lésbica, mãe, negra e periférica.
“Foi questão de dez minutos para começarem os gritos e tiros. Ao abrirmos o portão, já estava uma cena de guerra, com policial apontando arma, vizinhos correndo e minha mãe gritando por ajuda”, conta a irmã, Roseli Barbosa.
A PM justifica a ação dizendo que foi Luana quem agrediu os seis, sim, seis policiais homens presentes, e que ela chegou íntegra na delegacia.
A integridade era tanta que cinco dias depois ela morreu no hospital por “uma isquemia cerebral aguda causada por traumatismo crânio-encefálico”, como confirmou o laudo do Instituto Médico Legal, divulgado no último dia 03.
Video do relato da irmã de Luana Barbosa dos Reis
O Brasil mata um LGBT a cada 28 horas
Luana foi vítima de lesbofobia, assim como Verônica foi de transfobia (se lembra da Verônica? A transexual espancada pela polícia, quando foi presa em São Paulo e que, de tão desfigurada, ficou irreconhecível). Felizmente, Verônica está viva.
As duas refletem uma realidade caótica no país: a cada 28 horas um LGBT é assassinado. Em 2013 um levantamento feito pelo Grupo Gay da Bahia contabilizou 312 mortes contra gays, travestis, lésbicas e bissexuais.
A luta continua e não vai parar. Precisamos defender as Luanas e as Verônicas. “Sim eu sou mulher e estou pronta pra lutar, sim eu sou mulher e vou sempre avançar, sim eu sou mulher ninguém vai me parar… ninguém vai me parar”, flor de mulher, Mc Luana Hansen.
Assista o vídeo produzido pelos Jornalistas Livres, sobre o ato realizado em nome Luana Barbosa Reis
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