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JUÍZA PROÍBE ESTUDANTES DE DIREITO DA UFMG DE DEBATEREM O IMPEACHMENT

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A “excelentíssima” senhora Moema Miranda Gonçalves, juíza da 9ª Vara Cível de Belo Horizonte, deferiu ontem, 29 de Abril, uma liminar que impede que estudantes da Faculdade de Direito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) se reúnam para discutir o Impeachment da presidenta Dilma Rousseff ou qualquer assunto relacionado. O Centro Acadêmico Afonso Pena (CAAP), órgão que representa os discentes, foi intimado a pagar R$500,00 por dia, caso descumprisse a decisão. A liminar, de caráter de urgência, interrompeu uma reunião prevista para as quatro da tarde do mesmo dia e que pretendia apenas avaliar o posicionamento político da comunidade estudantil da faculdade e discutir “possíveis desdobramentos e medidas a serem tomadas”. Além disso, o CAAP está proibido de convocar outra assembleia para debater o impedimento da presidenta ou qualquer assunto relacionado.

“Por volta das cinco horas da tarde, a reunião ainda não tinha começado efetivamente quando chegou um oficial de justiça, entregando a ordem de ‘uma obrigação de não fazer’. Em respeito aos próprios alunos que estavam presentes, decidimos cancelar a assembleia e fazer outra reunião só para deliberar sobre a própria liminar que proibia debatermos o processo de impeachment”, conta Gustavo Ribeiro, estudante de direito na UFMG e Primeiro Secretário do CAAP. O órgão estudantil já se encontrou com sua assessoria jurídica e avisou que vai recorrer a decisão.

Assembleia estudantil interrompida pela liminar

Assembleia estudantil do CAAP proibida por decisão de Juíza

Assembleia estudantil interrompida pela liminar

Assembleia estudantil do CAAP interrompida por liminar

Os autores do pedido de urgência são dois alunos da mesma faculdade, Túlio Antunes Campos e Maria Clara Barros. Segundo o texto, eles acusam a atual gestão do CAAP de servir como “aparelhamento partidário”, não exercendo suas atribuições dedicadas a apenas representar os alunos e aprimorar o ensino de direito, além de outras alegações, como ser conivente com a presença de moradores de rua no prédio da faculdade e organizar um “movimento grevista” que prejudicaria as aulas. A juíza Gonçalves aderiu a esses argumentos, defendendo que a função do CAAP é apenas “aprimorar a formação universitária”.

Pedido de Urgência que proíbe realização de reuniões

Pedido de Urgência que proíbe realização de reuniões estudantis

“O que é a luta pela qualidade de ensino jurídico? Ela passa pela discussão de grandes questões nacionais. A final de contas, quando estamos falando de impeachment estamos falando de um processo central no sistema legislativo brasileiro”, analisa o professor da faculdade e especialista em direito constitucional, Marcelo Cattoni. “Na verdade, é uma decisão anti-partidária e corporativista que acredita que o papel de estudante é discutir somente o estudo e que trata de uma maneira restrita no que diz respeito a uma suposta qualidade de ensino”.

Os estudantes e o professor também destacam que a decisão não é apenas errada no ponto de vista jurídico, mas também representa uma ruptura com os direitos mais básicos previstos não só na Constituição, mas também na própria Declaração dos Direitos Humanos. “Ela rompe com o direito de reunião, de manifestação, de expressão e de debate. Não existe democracia sem o direito de realizar uma assembleia”, explica Marcelo Cattoni. “Essas ações por parte do poder público nos lembram de precedentes históricos da época da ditadura…”, acrescenta o professor, se referindo ao decreto-lei 477 de 1969, apelidado de AI-5 dos Estudantes, que formalizou a perseguição de professores, alunos e funcionários de universidades considerados subversivos pelo regime.

O CAAP é a entidade estudantil mais antiga de Minas Gerais, acumulando mais de cem anos de existência e sendo uma das referências em Belo Horizonte da atuação de movimentos sociais pela história brasileira, como o Impeachment de Fernando Collor, as Diretas Já e a resistência política durante o Ditadura Militar. Sua sede foi invadida durante o Golpe de 1964 e vários de seus membros foram perseguidos e mortos, inclusive seu ex-presidente, José Carlos Novaes da Mata Machado, torturado e morto pelo DOI-CODI em 1973.

Pedido de Urgência que proíbe realização de reuniões

Pedido de Urgência que proíbe assembleias para discutir Impeachment ou qualquer assunto relacionado

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3 Comments

3 Comments

  1. Regina Célia Simões

    30/04/16 at 21:24

    Putz! Quando a gente fala que a ditadura é a meta desses golpistas imundos, eles falam que pensar isso é “coisa de comunista, que vê ditadura em tudo”. E agora? Nem bem a maldita se concretizou e olha só o que temos: A (in)justiça brasileira proibindo estudantes de debaterem um tema que os incomoda porque corta sua própria carne e expõe mais essa pústula indelével na nossa história… Tempos sombrios se aproximam!

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Feminismo

ATO: MULHERES CONTRA O DESMONTE DAS POLÍTICAS DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA NA CIDADE DE SÃO PAULO

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#CDCMFicaDoriaSai #CDCMsFicamDoriaSai! As políticas de atendimento às mulheres vítimas de violência na cidade de São Paulo estão em risco!

Desde que assumiu, o prefeito Doria Jr. opera um verdadeiro desmonte das políticas para as mulheres na cidade de São Paulo. Num de seus primeiros atos, Doria extinguiu a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres e criou dentro da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania, uma Coordenação de Políticas.

Os serviços e equipamentos, como os Centros de Cidadania da Mulher – CCM e Centro de Referência a Mulher – CRM, sob responsabilidade da extinta secretaria padecem sem funcionárias, sem recursos e correm risco de serem fechados, como já aconteceu como CRM Onóris Ferreira Dias, em São Miguel Paulista. A Casa da Mulher Brasileira, apesar de já estar pronta, segue fechada e não se sabe se e quando ela começará a atender as mulheres vítimas de violência na cidade de São Paulo.

Como se não bastasse, Doria Jr. anuncia o corte de cerca de R$ 3,5 milhões nos serviços que atendem as mulheres vítimas de violência, os Centros de Defesa e Convivência da Mulher – CDCM, sob gestão da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.

Doria Jr. determina esse corte mesmo sabendo que nos primeiros 3 meses desse ano, os atendimentos realizados por esses serviços aumentaram em mais de 30%. Enquanto isso, crescem as estatísticas de violência contra as mulheres na cidade de São Paulo. Os casos de estupro também aumentaram na cidade em mais de 20%, em relação ao mesmo período do ano passado. Alarmantes também são os números de assassinatos de mulheres – feminicídios – sobretudo na zona sul e leste da capital.

Essas iniciativas evidenciam que para Dória Jr. as políticas de enfrentamento à violência e de atendimento das mulheres vítimas de violência não são prioridade! Assim, o movimento de mulheres na cidade de São Paulo, atento ao desmonte das políticas para as mulheres na cidade, convoca para o ato contra o desmonte das políticas públicas para as mulheres, em especial as destinadas ao enfrentamento e a atendimento as mulheres vítimas de violência.

Por Lina Marinelli | Jornalistas Livres

 

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Relatório denuncia violações de direitos humanos aos Guarani do Oeste do Paraná

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Por Júlio Carignano – Guaíra (PR)

“Você tem que ir agora, senão quiser morrer aqui mesmo. Fiquei assustado, mas tive coragem e falei: se você quiser fazer alguma coisa, matar alguém do nosso povo, pode matar. Se tem coragem me mata agora. Mas ele não me matou. Deu cinco tiros pra cima e foi embora. Eram mais de cinquenta. Muitos, muita gente”.

“(…) eu não nasci pra isso. Pra mim é dor. Dói muito, muito mesmo, porque eu nunca vivi assim. Mas não vou me entregar. Por isso estamos aqui”. Esse relato simboliza a luta de um povo que reivindica as terras de seus ancestrais numa região de colonização forçada pelo esbulho dos territórios das comunidades tradicionais estabelecidas às margens do Rio Paraná.

São histórias de quem viveu e ainda convive com violência, agressões e preconceitos e que estão reunidas no relatório “Guaíra & Terra Roxa sobre violações de direitos humanos contra os Avá Guarani”, lançado neste 9 de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, data de várias mobilizações pelo país contra a tese do marco  temporal (leia abaixo) e os retrocessos impostos aos direitos dos povos originários pelo governo Temer.

Elaborado pela Comissão Guarani Yvy Rupa, com apoio do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), o relatório traz violações aos direitos humanos cometidos contra os quase dois mil Avá Guarani que habitam a região. Pesquisa realizada por uma equipe de oito pessoas – entre indígenas e não indígenas – que visitaram pelo menos três vezes cada uma das 14 aldeias da região com o propósito de fazer entrevistas, reunir dados e documentos que comprovassem essas violências e violações.

Além de ouvir o testemunho direito de indígenas, o grupo colheu depoimentos de não indígenas que trabalham em contato permanente com as comunidades. “O objetivo deste trabalho é dar voz as comunidades Guarani do Oeste do Paraná. É trazer ao conhecimento das autoridades as violações que nosso povo sofre e também ser um documento de fortalecimento de nossa luta pelo direito a terra, a saúde, a educação diferenciada como previsto na Constituição”, explica Alexandre Ferreira, da coordenação da Comissão Guarani Yvy Rupa.

O objetivo de caciques e lideranças Guarani é que o relatório chegue ao conhecimento de entidades e organizações internacionais. “As autoridades locais e estaduais sabem o que acontecem aqui nas nossas comunidades, estão cansados de saber e não fazem nada. Por isso queremos que essas denúncias cheguem a autoridades maiores, cheguem até as organizações internacionais para que saibam que no Oeste do Paraná não se respeita a Constituição e os tratados internacionais”, diz Paulina Martines, liderança da aldeia Tekoha Y’hohy.

Foto: Júlio Carignano

Marcha

O lançamento oficial do relatório aconteceu na Escola Mbyja Porã da Aldeia Marangatu, município de Guaíra, com a participação de comunidades de Guaíra e Terra Roxa, lideranças indígenas de outros estados, autoridades políticas e do poder judiciário, da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e entidades ligadas aos direitos humanos e a causa indígena. Cerca de 500 indígenas saíram em marcha pelo município até a prefeitura e o Ministério Público Federal, órgãos públicos onde o documento foi protocolado.

Antes do protocolo oficial, os indígenas fizeram rezas e danças tradicionais em frente ao paço municipal, além de pronunciamentos públicos denunciando o retrocesso em seus direitos, o preconceito e hostilidade de parte da sociedade da região e o discurso dos veículos de comunicações locais aliados aos interesses do agronegócio e que criminalizam a luta indígena. Essa atuação da mídia regional também faz parte do relatório, que compilou matérias e reportagens contrárias às comunidades tradicionais.

Foto: Júlio Carignano

Proteção

A publicação revela a negação de direitos básicos fundamentais, tais como o acesso à água, ao saneamento básico e aos serviços de saúde e educação. Além disso, reúne diversos casos de violências físicas, agressões, tentativas de assassinato e os inúmeros casos de preconceito contra indígenas no Oeste do Paraná.

Todas essas situações são acompanhadas pelo Ministério Público Federal, que também foi fonte do documento e que desde novembro do ano passado tem ampliado sua atuação de proteção às comunidades tradicionais de Guaíra e Terra Roxa, tanto os povos indígenas quanto os quilombolas, como explica o procurador da República Dermeval Ribeiro Vianna.

“Temos a missão constitucional de ouvir as comunidades, suas necessidades e resguardar seus direitos previstos na Constituição Brasileira e dentro dos ditames da Corte e Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Nosso papel é buscar a resolução dos conflitos agrários e das violações de direitos fundamentais”, aponta.

Para o procurador, a violação dos direitos fundamentais – como acesso à luz, alimentação, saneamento básico, educação – está diretamente ligada à questão territorial. “Essa região sofre com a ausência de demarcações, não há nenhuma terra demarcada em Guaíra e Terra Roxa e, a partir do momento que eles não têm terras, esse povo sofre um dano espiritual. São territórios em batalhas judiciais, não conseguem acesso a luz, não tem moradia adequada, os serviços públicos não chegam, há casos de desnutrição, vivem de cesta básica em situação de vulnerabilidade e miséria”.

A ausência de demarcações na região é alvo de uma das ações civis públicas do MPF que requer condenação da FUNAI. Além disso, o órgão tem agido extra judicialmente, expedindo recomendações e notificações a entidades que promovem o preconceito e a violência contra os indígenas. Uma delas é a intitulada “ONGDIP” – Organização Nacional de Garantia ao Direito de Propriedade.

“Há inquéritos policiais em andamentos, algumas ações penais já foram ajuizadas no passado contra pessoas que promoviam manifestações de preconceito e expedimos recentemente uma recomendação, há um mês, para que uma dessas “ONGs” retire de sua página manifestações de ódio e façam controle de suas publicações por parte de terceiro”, comenta o procurador, explicando que o MPF está sempre em vigilância e recebendo denúncias tanto na forma física ou virtual.

Foto: Júlio Carignano

Marco temporal: o novo ataque ruralista

Uma das principais bandeiras dos grupos contrários aos direitos territoriais indígenas, com forte representação no Congresso Nacional e no governo federal, é o chamado “marco temporal” – uma tese político-jurídica inconstitucional, que estabelece que só teriam direito à demarcação os povos que estivessem em suas terras em 5 de outubro de 1988, data de promulgação da Constituição.

A tese ignora o histórico de remoções forçadas e outras violências sofridas ao longo de séculos pelos povos indígenas. O marco temporal pode ser adotado em julgamentos do Supremo Tribunal Federal marcados para o dia 16 de agosto.

Em meio às negociações do presidente Michel Temer para evitar seu afastamento da presidência, os ruralistas do Congresso conseguiram emplacar essa pauta no governo federal. Temer assinou, em julho, um parecer da Advocacia Geral da União obrigando todos os órgãos do Executivo a aplicar o “marco temporal” e a vedação à revisão dos limites de terras já demarcadas – inclusive visando influenciar o STF.

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Comportamento

Sobre formas e a nova cara do Jornal Nacional

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Durante o trabalho noturno de leituras e correção de trabalhos de alunos(as), rendo-me à assistência do JN, agora com nova roupagem. Em meus interesses sobre a forma das coisas, comecei a observar detidamente o cenário, a bancada. E confesso que tive dificuldade em permanecer atenta por uma questão de ótica: o exagero dos (d)efeitos visuais, como bem lembrou Valmir Costa, as luzes que se assemelham aos holofotes de grandes eventos e, assim, vão nos anestesiando com seus efeitos alucinógenos. Letreiro de motel de beira de estrada perde feio. Mas como forma não é mero detalhe, dá pra intuir que essa mudança (mais uma num lapso de tempo relativamente curto) sinaliza para algo de fundo, para a decadência do jornalismo global que tenta nos engabelar por meio de uma duvidosa plasticidade e beleza visual (o termo global aqui tem sentido duplo: planetário e da Rede Globo. Refiro-me, claro, a esse modelo de negócio que se desmancha).

Vem de longa data a relação forma X conteúdo, todos(as) sabemos. Vistos de maneira dicotômica, quase sempre o segundo levou vantagem sobre a primeira no que diz respeito à produção de sentidos. No entanto, temos uma longa discussão teórica, eu mesma a enfrentei no doutorado, sobre a importância da forma na produção de sentidos. O pensador Mouillaud, já teria afirmado o quanto a hierarquização entre forma e conteúdo não é produtiva: o termo conteúdo remete à metáfora de uma caixa ou de um escrínio nos quais um objeto está, de fato, “contido”. Para esses analistas, a própria língua era apenas um envelope do sentido, do qual era necessário extrair as “categorias”, assim como se separa a amêndoa do caroço. (…). À primeira vista, a embalagem e o objeto podem ser separados sem que o objeto perca sua identidade; entretanto, um perfume continuaria a ser um perfume sem seu frasco? O presente permanece um presente sem as fitas e as graças que os envolvem? A prece é prece sem seu gestual? (MOUILLAUD, 1996: 29).

Renata Vasconcellos, Roberto Irineu Marinho e William Bonner na inauguração do novo estúdio do Jornal Nacional (Foto: João Cotta/Globo)

Considerando, então, que forma e conteúdo são indissociáveis, a nova identidade visual deve ser percebida e analisada como um forte indício de que as matérias, os textos também já foram solapados, rebaixados a uma categoria estética e política que de jornalismo não tem nada. A cobertura política da política disso nos dá testemunho. Prospectemos, portanto, novas formas, formatos de notícia. Decididamente, o JN é triste retórica que atrasa o país. Descendo ladeira abaixo, quer nos levar a todos para o precipício.
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*Rosane Borges, 42 anos, é jornalista, professora universitária e autora de diversos livros, entre eles “Esboços de um tempo presente” (2016), “Mídia e racismo” (2012) e “Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro” (2004).

Foto: Divulgação/ Globo

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