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Jamais apoiarei o #elenão Jair Bolsonaro, diz o presidente do Tucanafro

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Por: Humberto Meratti – especial para os Jornalistas Livres

Em meio às polarizações nestas eleições de 2018, torna-se necessário entender o que a política realmente representa. Além disso, é importante e interessante compreender as diferentes militâncias negras dentro de partidos de Centro e Centro Direita no País, como elas pensam e o que representam dentro de suas agremiações.

O Tucanafro, grupo interno do PSDB, é encarada, por alguns, como a esquerda dentro do partido, com suas próprias causas e lutas, possuindo embates contrários diferentes de muitos que estão no partido. Nessa entrevista exclusiva para os Jornalistas Livres, o presidente do grupo, Alexandre Ifatola (46 anos), natural e residente de São Paulo (SP), fala sobre o atual cenário que vive dentro do PSDB e os rumos que ele e outros militantes deve seguir:

 

Humberto Meratti – Olá Sr. Alexandre, obrigado pela entrevista cedida aos Jornalistas Livres. Gostaria de abrir a entrevista contigo, inevitavelmente, perguntando sobre a campanha do Sr. Geraldo Alckmin à Presidência da República. Aos olhos de diversos analistas de política, foi um fracasso a campanha. O que aconteceu na sua visão? Foi um problema interno? O Segmento Negro do PSDB, apresentou propostas? Estas propostas, foram ouvidas pelo mesmo?

 

Alexandre Ifatola – Grato pela entrevista. Na minha visão, acredito que a população está agindo pelo fígado, e também pelo fato de que os brasileiros não estão preocupados com plano de governo e sim em buscar um pseudo “Salvador da Pátria”, e infelizmente nós brasileiros, estamos passando por um período de muitas denúncias de corrupção em nosso país, haja vista que os maiores políticos corruptos são do PT, entretanto, o resultado desse primeiro turno mostra que boa parte da população não estão preocupados com a ética, com o desenvolvimento econômico, educacional e social e sim, estão em busca de um ídolo, tanto, que quem foi para o segundo foi dois extremos e não de um político experiente e que conhece a máquina pública como o Geraldo Alckimin, portanto acredito que não foi um problema interno dentro do meu Partido PSDB e sim, a população por estar atrás de um ícone caricato. Nós do Segmento Negro do PSDB, entregamos em mãos do próprio Geraldo Alckimin no dia da oficialização da sua candidatura para Presidente do Brasil, nossas propostas para a população negra, onde foram recebidas e incorporadas ao seu plano de governo, pois sempre tivemos nós do Tucanafro, um elo muito forte com o partido, que sempre desenvolveu programas principalmente no combate ao racismo, como a criação do “Comitê de Saúde da População Negra”, a capacitação de professores sobre a Lei 10.639/03 (que obriga o ensino da história da África e do afro-brasileiro). Auxiliamos também, na criação do projeto “São Paulo: educando pela Diferença para a Igualdade”, projeto este, direcionado ao Estado de São Paulo junto a Conselhos da Comunidade Negra, capilarizando o conhecimento, o empoderamento, e principalmente tratando de ações afirmativas para a população negra.

 

Humberto Meratti – Na noite deste domingo passado (07/10), a mídia noticiou os resultados para Governo no Estado de São Paulo em relação ao 1º turno e, em entrevista realizada junto ao candidato João Dória, o mesmo citou que fará apoio ao candidato à Presidência, o Sr. Jair Bolsonaro. Para vocês do Segmento Negro do partido PSDB, o que essa declaração representa? 

 

Alexandre Ifatola – Eu estava na entrevista naquele momento, e posso afirmar que o candidato João Doria falou por si, e não pelo partido, haja vista que eu também estava na coletiva em que o Presidente Nacional do Partido PSDB – Geraldo Alckimin, disse que iria se reunir com membros do partido para tratar sobre apoiar ou não, o candidato #elenão mais conhecido como Jair Bolsonaro. Saliento que a maioria da população negra, principalmente a militância negra e o coletivo negro na qual sou o atual Presidente Municipal do Secretariado da Militância Negra do PSDB – Tucanafro, como Presidente da Câmara de Comercio e Indústrias Brasil e Nigéria e Vice Presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial da Cidade de São Paulo, e pôr o candidato #elenão desrespeitar a população negra, as mulheres, o público LGBT e incitar a violência e o preconceito, por minha questão de ética e da minha ancestralidade, e pela solidariedade a todos os meus irmãos de raça, jamais apoiarei o mesmo. Muitos dizem que somos todos iguais, digo só se for em espirito, porque a desigualdade é tamanha. Basta observar que não se respeita a reserva de 20% de vagas em todas as instâncias do poder público para afrodescendentes desde o cargo de estagiário até os de alto escalão, vou além se me permite – temos milhares de negras e negros altamente qualificados para ocupar qualquer cargo. A Executiva Municipal do PSDB da Cidade de São Paulo decidiu, após consulta a suas bases e salvo orientação em sentido diverso das instâncias superiores do partido, pela liberação de seus filiados para tomar posição no segundo turno da eleição presidencial conforme a consciência de cada um.

 

Humberto Meratti – Em diversas mídias, visualizamos que o PSDB em alguns Estados, apoiarão o Bolsonaro, principalmente em alguns estados do Sul do País, já na região do Nordeste, maioria apoiarão o Fernando Haddad. Minha pergunta é, o PSDB hoje, está rachado assim mesmo?

 

Alexandre Ifatola – Posso dizer que o PSDB, como qualquer outro partido tem as suas divergências internas, que podem tomar atitudes de acordo com a sua regionalidade, mas nem por isso podemos considerar que estamos rachados.

 

Humberto Meratti – Você pode nos informar, pelos bastidores, o que os mais velhos e célebres do partido como o FHC, antecipam já sobre o 2º turno?

 

Alexandre Ifatola – Não tenho como dizer sobre todos, mas em relação ao FHC e ao José Serra, os mesmos afirmaram que não vão apoiar nem o PT, nem Jair Bolsonaro, conhecido também como “#elenão”, no segundo turno, pois prezam pelo País e o povo. Assim faço das palavras deles como o meu posicionamento. Digo claramente que vou votar em branco por ser democrático e válido. Jamais votaria no Haddad e por minhas convicções em relação ao candidato #elenão que instiga a violência, o ódio, o preconceito de negros, mulheres e de gays, haja vista que até criaram um jogo para celulares que tem com objetivo de matar petistas, gays, defensores de direitos humanos e negros, sendo que os chefões do jogo são políticos de esquerda e que uma fase do jogo ocorre dentro de uma escola, onde o objetivo é matar gays para proteger as crianças do kit-gay.

 

Humberto Meratti – Qual será o posicionamento do Segmento Negro do partido neste 2º turno? Vocês apoiarão quem, e por quê?

 

Alexandre Ifatola – Digo que o Segmento Negro do PSDB – Tucanafro, seguirá a decisão do partido, mesmo que isso contraria a vontade de alguns pois somos militantes e queremos o melhor para o PSDB.

 

Humberto Meratti – A candidata a Deputada Federal, Aline Torres pelo partido em SP, teve amplamente o apoio da Juventude Negra do PSDB? Ela teve de desbancar políticos com mais prestígio para poder concorrer? Nos explique como foi esse processo e como vocês encarão os quase 14 mil votos que ela obteve.

 

Alexandre Ifatola – Como Presidente Municipal do Secretariado da Militância Negra do PSDB –Tucanafro, posso dizer que o meu apoio foi fundamental para que a mesma pudesse ser Candidata a Deputada Federal, pois foi eu que apresentei uma carta ao Partido, solicitando a vaga dela para participar como Candidata a Deputada Federal, tanto que também ela teve todo o apoio também do Presidente do Diretório do PSDB – sr. Pedro Tobias. Em relação a Juventude Negra, infelizmente quase não se tem jovens negros dentro do nosso partido PSDB, por muitos até acharem que é um partido de elite, mas a Aline Torres com toda a sua garra e determinação, sendo uma mulher, negra e da periferia, sem recurso quase algum e se não fosse ela, uma mulher batalhadora, guerreia, que gastou sola de sapato, muita saliva e praticamente com apenas 8 pessoas, onde nós nos dedicamos para que a mesma conseguisse todo êxito, pois para todos nós a Aline é motivo de um grande orgulho, posso até dizer com a vitória do nosso candidato João Doria onde tenho a certeza que vai vencer, a Aline Torres tem toda a condição de assumir a Secretaria Estadual de Cultura do Estado de São Paulo, que para nós da população negra, será um grande marco na história do Governo do Estado de São Paulo. Nomear uma mulher, negra que veio da periferia, alcançando uma cadeira tão almejada por nós, pois o que a população negra mais tem é cultura.

 

Foto: assessoria de imprensa PSDB

 

Humberto Meratti – O que é o Tucanafro? Qual é o papel desta no PSDB? Um ponto que observamos como você é o Atual Presidente Municipal do Secretariado da Militância Negra do PSDB-Tucanafro, e pelo que pesquisamos sobre você é muito atualmente sobre as causas da militância negra e que condiz com as características de quem pode representar a população negra, agora entrando na esfera do Estado de São Paulo, pesquisamos e verificamos que a Presidente atual do Estadual de São Paulo da Militância Negra do PSDB-Tucanafro Silvia Cibele e que também a mesma é chefe de Gabinete da sub-prefeitura do Jaçana, não apresenta fenótipos da raça negra, e que tem pouca atuação nos coletivos da população negra. Podemos afirmar que isso se dá por ter poucos negros e negras no Partido PSDB?

 

Alexandre Ifatola – É o núcleo do Secretariado da Militância Negra do PSDB, que surgiu no Município de São Paulo, em que por meio de planos, projetos e programas de combate ao racismo, melhorar-se condições políticas, econômicas e sociais dos negros em todo território nacional, busca contribuir de forma incisiva na ampliação e legitimação do partido no enfrentamento ao racismo e às desigualdades raciais, por meio de ações afirmativas e do reconhecimento a valorização da população negra. Digo que na minha gestão, estamos promovendo debates, seminários, afroempreededorismo e palestras de ações afirmativas relacionadas às questões étnicas raciais, visando a elaboração de propostas públicas em benefício da população negra, assim também como é nosso objetivo, a participação ativa do negro na política em todas as esferas.

 

Em relação ao meu envolvimento ao coletivo negro sempre se deu por eu ser negro, por ser das religiões de matrizes africanas, por criar projetos que levem ações afirmativas para a população negra e por escrever em diversas revistas sobre a cultura africana e afro-brasileira, por ter um canal no youtube – Tucanafro nas Ruas e outros vídeos através do Instituto Akhanda, que sempre busco levar adiante pautas que coloque em evidencia todas as ações que venho desenvolvendo ao logo dos anos para levar representatividade, principalmente visando apoiar e disseminar pautas ligadas a Década Internacional dos Afrodescendentes (2014-2015) para o reconhecimento, a justiça e o desenvolvimento para toda população negra. Sobre a questão da atual Presidente Estadual de São Paulo da Militância Negra-Tucanafro, digo que vem desenvolvendo um excelente trabalho em sua gestão, e não é porque ela não possui aspectos negroides, não podemos desmerecer o trabalho que vem executando com louvor e criando ações para dar visibilidade a população negra do Estado de São Paulo, e falo mais, tive o prazer de conhecer a mãe da Silvia Cibele e também alguns irmãos dela que são negros. Afirmo que de fato não temos muitos negros dentro do Partido do PSDB, devido que muitos pesam que somos elite, mas tanto eu como a Silvia Cibele, estamos trabalhando em conjunto para agregar e somar cada vez mais a população negra dentro do nosso partido.

Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Nigéria

Outras notas sobre Alexandre Ifatola:

 

É graduado em Psicologia (Universidade São Marcos); graduado Pedagogia (Universidade São Marcos); especialista em Meio Ambiente e Sustentabilidade (Faculdade Futura); Mestre em Ciências da Religião (Universidade São Marcos) e, é doutor em Psicologia Transpessoal (Université Fédérale Toulouse Midi Pyrénées). Foi Coordenador Geral de Políticas Públicas para Idosos na cidade de São Paulo, entre Janeiro a Agosto de 2017 foi também Coordenador de Programas na Autoridade Municipal de Limpeza Urbana do Município de São Paulo de setembro de 2017 até agosto de 2018.

 

Iniciou-se aos 6 anos de idade no Terreiro do Gantois ou, Ilê Iyá Omin Axé Iyá Massê, um terreiro de candomblé brasileiro em Salvador, tornando-se Babalorixá com 21 anos de idade. Em 2004 iniciou-se na Nigéria, em Ifá na Cidade de Osogbo Osun, onde tornou-se Babalawo.

 

Fui Fundador e Presidente do Instituto Akhanda, que trabalha com a população idosa, onde através do projeto “Faça Um Idoso Feliz”, capacita alunos idosos travestis e transexuais através do curso “Padaria Artesanal”.

 

Por ser assumidamente gay, faz parte do órgão secretariado “Diversidade Tucana”, servindo de referência para as questões relativas à população LGBTI+, tendo como objetivo, articular o desenvolvimento e implementação de políticas públicas voltadas à diversidade sexual nas administrações geridas pelo PSDB.

Alexandre Ifatola é também, o atual Presidente da Câmara de Comércio e Indústrias Brasil e Nigéria.

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Nota da ABI – Bolsonaro mente na ONU e envergonha o Brasil

No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.

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No seu discurso na manhã desta terça-feira na Assembléia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro contribuiu para que o Brasil caminhe para se tornar um pária internacional.
Sem qualquer compromisso com a verdade, o presidente afirmou que seu governo pagou um auxílio emergencial no valor de mil dólares para 65 milhões de brasileiros carentes, durante a pandemia. O auxílio foi de 600 reais.
Bolsonaro mentiu
O presidente responsabilizou, ainda, índios e caboclos pelos incêndios na Amazônia e no Pantanal, que alcançam níveis nunca antes vistos no País. Todas as investigações, inclusive de órgãos oficiais, indicam que fazendeiros estão na origem das queimadas.
Como se vê, de novo Bolsonaro mentiu.
O presidente transferiu a responsabilidade para governadores e prefeitos pelos quase 140 mil mortos vítimas do coronavírus. Todo o país é testemunha de sua leviandade, ao classificar a pandemia de “gripezinha” e ir na contramão dos procedimentos defendidos pelas autoridades de Saúde.
Assim, mais uma vez Bolsonaro mentiu.
A ABI, com a autoridade de seus 112 anos de existência em defesa da democracia, dos direitos humanos e da soberania nacional, repudia esse comportamento que vem se tornando recorrente e conclama o povo brasileiro a não aceitar o verdadeiro retrocesso civilizatório que o governo está impondo ao País.
Paulo Jeronimo – Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI)

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Sem papas na língua. Juliano Medeiros no Dialogando de hoje

Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

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Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? No Programa Dialogando desse domingo (26/07), 18h, o Pastor Fábio recebe Juliano Medeiros, presidente do PSOL para um papo sobre eleições e aprendizados da pandemia que passa por uma das fases mais críticas do momento, onde prefeituras e governos de vários Estados do país programam reabertura de mais uma parcela considerável de setores, enquanto isso, a mídia normaliza as curvas ascendentes do número de infectados pelo Coronavírus.

Outra pergunta que precisa ser respondida é qual é o sentido das eleições serem realizadas ainda neste ano? Quais interesses políticos estão por detrás da próxima disputa eleitoral? Tudo isso e um pouco mais, sem papas na língua, como diz o Pastor Fábio. Vem!

Assista, compartilhe. comente e mande perguntas no Facebook.

Juliano Medeiros é um jovem dirigente político da esquerda brasileira e desde janeiro de 2018 ocupa a presidência do Partido Socialismo e Liberdade. Historiador e Mestre em História pela Universidade de Brasília, é Doutor em Ciências Políticas pela mesma instituição.

Co-autor e organizador de Um Mundo a Ganhar e Outros Ensaios (Multifoco, 2013), Um Partido Necessário – 10 anos do PSOL (Fundação Lauro Campos, 2015) e Cinco Mil Dias: o Brasil na era do lulismo (Boitempo, 2017), colabora com sites, jornais e revistas no Brasil e exterior.[2]

Em 2018 coordenou a campanha de Guilherme Boulos à Presidência da República pelo PSOL[3] e, no segundo turno, após decisão do partido, passou a integrar a coordenação da campanha de Fernando Haddad[4]. Desde a vitória de Jair Bolsonaro, participa do Fórum dos Presidentes de Partidos de Oposição[5].

Durante mais de uma década Juliano Medeiros foi dirigente da corrente interna Ação Popular Socialista – Corrente Comunista do PSOL. Em Junho de 2019, a APS-CC se fundiu com o Coletivo Rosa Zumbi e mais oito coletivos regionais para fundar a Primavera Socialista, atualmente maior tendência do PSOL, da qual Juliano também é dirigente.[6]

Fábio Bezerril Cardoso é Pastor, cientista social, ativista social e Cofundador & Coordenador da Escola Comum e atualmente apresenta o Programa Dialogando, todos os domingos, às 18h. É um dos pastores progressistas que têm lutado pela defesa dos povos periféricos e costuma não ter papas na língua para falar sobre a realidade desses lugares. A produção é de Katia Passos, com arte de Sato do Brasil.

Conheça mais sobre a atuação do Pastor Fábio https://www.facebook.com/fabio.bezerrilhttps://www.facebook.com/fabio.bezerril

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Hilário Ab Reta Awe Predzaw e a história de um povo, historicamente, moído pelo ódio ou indiferença

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Por Diane Valdez, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás, militante do Movimento de Meninos(as) de Rua e Comitê de Direitos Humanos Dom Tomás Balduíno

 

 

Hilário Ab Reta Awe Predzaw, 43 anos, morador da Aldeia Xavante N. S. de Guadalupe, em Barra do Garças, Mato Grosso, morreu na madrugada de 18 de junho de 2020, vítima do descaso governamental que permitiu a chegada do Coronavírus em sua comunidade. Era aluno do 5º período do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás. Sua tia morreu há pouco mais de uma semana vítima do mesmo descaso, a mãe e seus dois irmãos, seguem contaminado pelo vírus, assim como outros Xavantes e outras pessoas de etnias indígenas de todo o Brasil.

Hilário entrou na UFG, pelo sistema de cota para indígenas, no ano de 2018. Chegou com o já conhecido atraso histórico de acesso dos povos originários no ensino superior, ainda que a UFG seja uma das universidades públicas que tem buscado cumprir com o direito de povos indígenas ao ensino universal, o acesso e a permanência ainda sofrem de fragilidade.

A trajetória de Hilário, na UFG, não se limitou às dificuldades ocasionadas pela pobreza, como muitos de nossas/os alunas/os enfrentam. A academia era um outro mundo, distante de sua comunidade, não só em quilômetros, como também em movimentos culturais, sociais e políticos. Talvez essa distância, o fazia um aluno reservado e observador, sem abrir mão da seriedade e interesse pelo conhecimento.

Era umas das lideranças de seu povo, portanto, sabia da responsabilidade que assumia frente a comunidade, ele seria um professor, um educador de seu chão, de sua gente. Hilário trabalhava em uma escola, com o formato de um Tatu Bola, na sua aldeia, trabalhava na área de serviços gerais, em breve voltaria como Professor!

No primeiro ano de curso, Hilário, na desconfiança de seu silêncio indígena, que não significava submissão, tentava se inserir no mundo acadêmico. Veio um tempo, que largou tudo e voltou para a aldeia, não por opção dele, mas por opção deste desgoverno que é incansável na destruição de direitos dos povos originários.

O Ministério da Educação e Cultura, suspendeu todas as bolsas de permanência para a população indígena e quilombola. Um grupo de alunas e professoras se juntaram, arrecadaram dinheiro e o trouxeram de volta para a Faculdade. Foi feita uma mobilização de docentes e discentes sensibilizados e a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis da UFG, cumprindo seu importante papel, disponibilizou uma bolsa e outros auxílios emergenciais.

Nessa ocasião, quando perguntado sobre o porquê de não falar nada dos problemas para colegas, e voltar para sua comunidade, Hilário disse que achava que ninguém sentiria falta dele.

No segundo ano, trouxe seu curumim para estudar em Goiânia, começou a trabalhar como intérprete na escola, acompanhando seu filho na dificuldade com a lingua. Era visível seu orgulho de exercer a função de intérprete. Lutou e enfrentou as diferenças que separavam as culturas e, como muitos, guerreou como seus ancestrais, para não perder seu lugar de legítima conquista.

No início da Pandemia, que começou junto com o semestre letivo, Hilário resistiu em voltar para sua comunidade, tinha medo das aulas retornarem e ele não estar presente na Faculdade, isso aponta o lugar que a UFG ocupava em sua vida. Quando percebeu que seu povo não estava acreditando na letalidade do vírus, retornou para alertar todos sobre o perigo. A UFG, cumprindo seu papel de instituição pública, providenciou o transporte para seu retorno no Mato Grosso.

Em maio, informou para duas amigas, que sua comunidade precisava de cobertores, pois fazia muito frio, e seu povo estava adoecendo. Elas mobilizaram, imediatamente, uma Vakinha On Line, onde arrecadou-se pouco mais de três mil reais, no entanto, como o total da arrecadação demora para ser liberado, emprestaram dinheiro e compraram os cobertores de forma mais hábil, enviando-os dia seguinte.

Os sintomas que atingia a comunidade, febre, falta de ar etc. já indicavam que era Coronavírus, no entanto, isso não foi motivo de interesse governamental, que poderia ter evitado o alastramento do vírus.

Ao apresentar os sintomas da doença, Hilário mostrou-se resistente em ir para o hospital, tinha dificuldade de aceitar o tratamento “dos brancos”. Acreditava nos rituais de seu povo, no tratamento natural que conhecia há tempos. Por outro lado, a histórica resistência dele, fazia todo sentido, pois sabemos como os povos indígenas são tratados neste país tão indígena que não se reconhece como indígena. Foi convencido a ir para o hospital e, na última conversa com as amigas em chamada por vídeo, estava muito escuro, e a família arrumou uma lanterna para as meninas verem o rosto dele, que disse para elas, em lágrimas, que estava somente suado, quando perguntado se estava com medo, disse que sim, que estava com muito medo…

A ida para o hospital foi acompanhado de longe pelas amigas, falavam sempre com a Assistente Social que afirmava que Hilário estava se recuperando, que receberia alta a qualquer momento. Nessa madrugada, ao pedirem informações sobre o amigo no hospital, alguém disse que alguém havia morrido, mas não sabia o nome. O nome de mais um número morto é Hilário Ab Reta Awe Predzaw, que deixou a mulher, filhos e todo seu povo Xavante.

O acesso dos povos indígenas ao ensino superior é recente, no entanto, é marcado por extrema coragem e resistência, pois o mundo acadêmico não é de todo um espaço acolhedor. Ainda que a dureza prevaleça na universidade, Hilário encontrou solidariedade e amizade na Faculdade de Educação, ainda que não seja uma solidariedade coletiva, foi construído uma rede de apoio, tanto de alunas/os, como também de docentes, isso pode ter aliviado sua dura estrada longe de seu chão.

Hilário não morreu porque “chegou a hora dele”, morreu por não ter o direito de ser mais um indígena, digno de necessários cuidados. Hilário, era um homem parte do “povo indígena”, um povo invisibilizado, injustiçado, espezinhado, humilhado e, odiado por este desgoverno.

Um povo com suas terras ameaçadas e roubadas pelo latifúndio, mortos por pistoleiros do agronegócio, ironizado e menosprezado por representantes deste desgoverno, ignorado por gente nativa que se acha descendente de europeus, machucados por todos que acham que universidade não é lugar de indígenas.

Não sei falar de fé, nem de ‘destino’, nem de coragem para aliviar o cansaço de um tempo incansavelmente dolorido. Ironicamente, para não dizer, funestamente, o tal ministro da educação, que afirmou odiar a expressão “povos indígenas”, ampliando seu descaso com a educação, revogou hoje [H OJ E], (19/06) a portaria assinada pelo ex-ministro de educação, Aluísio Mercadante, que estabelecia a política de cotas para negros, indígenas e pessoas com deficiência em cursos de pós-graduação. Hilário, estaria fora da pós-graduação, se dependesse deste ser desumano.

Quando lanternas começaram a iluminar caminhos de direitos para esta população, no interior de nossas universidades públicas, ainda que timidamente, um furacão de perversidade em formato de governo, dá pontapés e pisa, moendo, as possibilidades de justiça. Feito bandeirantes, grupos genocidas a frente das decisões da nação, estimulam a morte em todos os formatos. Deixar que o coronavírus atue, sem controle, é a proposta de morte atual para os povos originários.

Como Hilário, temos medo, muito medo, mas agarremos as lanternas, e assumimos nosso lugar na defesa dos povos indígenas, não os condenando a escuridão, como muitos fazem.

Hilário Ab Reta Awe Predzaw presente!

Este texto foi escrito com informações coletadas com as alunas, companheiras de Hilário, da turma do quinto período de Pedagogia da Faculdade de Educação/UFG, Dorany Mendes Rosa e Raysa Carvalho.

A elas e a toda turma, meu carinho e solidariedade.

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