Dizem que El Niño retorna em 2019, as águas do pacífico se aquecem. El Niño, uma criança, o pequeno, alterna o poder do clima em novo ciclo.
Eu que não sou índio, daqui onde estou observo e arrisco argumentos na nova ordem se aproxima. Na desordem que rege é assim mesmo, há quinhentos anos e tantos; vamos testando, logrando, desgastando os indígenas.
O presidente diz que o índio quer integrar-se. Por que fala o presidente em nome do índio, se entre tantos índios que ando não ouço nada?
O presidente dará os royalties aos índios. Putz, quanta delicadeza tem esse presidente, me espanta tanta cortesia. Recordo-me de um documento importante escrito em 1855, nos Estados Unidos, quando um líder indígena se referia ao presidente que queria comprar as terras dos índios, cito seus três primeiros parágrafos:
“O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende. ” …
Bem, é isso, há tristeza em nós. El Niño retorna, o resto é com os índios e seus algozes.
*Imagens por Helio Carlos Mello© – Jornalista Livre