Quando criança, lembro-me que lia nos livros e jornais impressos, sobre o mar e as matas. Vi mitos e seus donos, Iemanjá, rainha do mar, Mavutsinim catando seus troncos na mata, fazendo seus filhos.
Tudo tão gratuito, nunca me pediram moeda para saber, amar e rezar.
Templo, terreiro, altar, tudo em seus cantos e cânticos. Lá longe as margens do rio, as lavadeiras, a lavanderia.

Fé linda, limpa, livre que trazemos no peito.
Meu Deus, por que me abandonaste, é dúvida do profeta e frase do poeta, se sabias que eu não era Deus, se sabias que eu era fraco?
Cinquenta e quatro anos de vida, e o mar e a mata tornaram-se sinônimos de pré-sal e agronegócio, sem encanto ou respeito pelos donos sagrados dos cantos e curvas, ondas e brisas no segredo de cada coisa. Tudo virou um mercado, investimento, domínio.

Liguei cedo a TV, vi escancarado que proíbem terreiros, mandam fechar as portas daquilo que não está no jogo, atacam, dizem ser ordem do tráfico.

Terá no Brasil até a fé virado assunto de milícias, transcendendo podres poderes, extorquindo nossa reza dos matos e águas?
Meu povo grita, mareja os olhos, fecha a alma. Há desencanto, medo, escândalo. Fechar terreiros é como incendiar aldeias.
É pau, é pedra, é água.
Um fuzil ameaça os santos.
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