Companheiro de uma vida e da luta contra a ditadura foi visitar Lula na prisão. A injustiça é o que move os profetas do povo para dividir o pão e os peixes entre os seres humanos. O sonho da liberdade deu força a Mandela e muitos outros para resistir ao arbítrio. Nos tempos atuais, Frei Beto fala por Lula para milhões de lulas, que sabem que a prisão não prende o amor, a solidariedade e as ideias da igualdade , liberdade e fraternidade.
Prendem o corpo, mas jamais as ideias e o coração de um homem.
Frei Beto levava a esperança de Frei Tito e de outros dominicanos torturados na ditadura.
A voz de Frei Beto se junta a de muitos no Brasil que vão continuar o milagre diário de lutar por um Brasil justo e que promova tempos melhores para seus filhos e filhas.
Se os profetas não falarem, as pedras irão falar e o silêncio será impossível em uma terra sem justiça.
Obrigado Frei Beto, pelo milagre diário de acreditar que é possível vencer a opressão dos poderosos.
Lula recebeu hoje a visita espiritual do Frei Beto, que levou palavras de conforto e motivação ao ex-presidente.
Veja texto de Frei Betto:
A condenação de Lula
A defesa recorrerá, em segunda instância, ao Tribunal Regional Federal da 4ª. Região, sediado em Porto Alegre (RS). Segundo o presidente do tribunal, o recurso deve ser julgado até agosto do próximo ano. Caso seja condenado, Lula será preso; não poderá disputar a eleição presidencial de outubro de 2018; e ficará inelegível por 7 anos.
Em pronunciamento no dia seguinte à sentença, o fundador do PT declarou “quem acha que é o fim do Lula vai quebrar a cara. Quem tem o direito de decretar o meu fim é o povo brasileiro.” E confirmou ser candidato a presidente da República em 2018, em busca de seu terceiro mandato: “Se alguém pensa que, com essa sentença, me tiraram do jogo, pode saber que eu tô no jogo.” Acrescentou ainda que só a história poderá julgá-lo.
O juiz considerou existirem provas de que Lula é o legítimo proprietário de um apartamento triplex na praia do Guarujá (SP), no qual a construtora OAS teria investido R$ 2,15 milhões em troca de benefícios obtidos em contratos com a Petrobras.
Lula nega que o imóvel seja de sua propriedade. Admite que sua esposa, Marisa, falecida em fevereiro deste ano, havia demonstrado a intenção de adquirir o triplex. A compra, porém, não se efetivou porque Lula considerou a localização inadequada à sua privacidade, pois o exporia a constante assédio público.
A defesa insiste que a promotoria jamais mostrou a escritura do imóvel em nome da família Lula da Silva. Portanto, a acusação é infundada.
Caso o tribunal de segunda instância mantenha a sentença de Moro, Lula poderá recorrer ao Superior Tribunal de Justiça e, em última instância, ao Supremo Tribunal Federal.
A sentença aplicada ao líder do PT não se baseia em provas, e sim na delação de um corruptor preso pela Lava Jato: José Adelmário Pinheiro Filho, mais conhecido por Leo Pinheiro, dono da OAS, condenado a 44 anos, dos quais 10 anos e 8 meses de reclusão no processo conexo ao de Lula. Leo Pinheiro ganhou de Moro o benefício de cumprir apenas 2 anos e meio de prisão em regime fechado e pedir progressão da pena antes de ressarcir o prejuízo causado à Petrobras.
Segundo a Lava Jato, a OAS pagou R$ 87 milhões em propinas para obter vantagens contratuais com a Petrobras. Desse montante, R$ 16 milhões teriam sido destinados ao PT, e R$ 3,7 milhões beneficiados diretamente Lula, sendo que R$ 2,4 milhões aplicados na aquisição e na reforma do triplex, e R$ 1,3 milhão no armazenamento de presentes que o ex-presidente ganhou durante o exercício de seus dois mandatos. Desta última acusação Moro absolveu Lula.
Por quais crimes o condenou? Na sentença de 280 páginas, dividida em 962 pontos, o juiz escreve que “pelo recebimento de vantagem indevida da OAS em decorrência de contrato com a Petrobras” e “pela ocultação e dissimulação da titularidade do apartamento 164-A, triplex, e do beneficiário das reformas realizadas.”
Segundo Moro “o grupo OAS, dirigido pelo acusado José Adelmário Pinheiro Filho, destinou o imóvel sem cobrar o preço correspondente, e absorveu os custos da reforma, tendo presente um benefício destinado ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.”
Para decretar a condenação de Lula, que deixou o governo no início de 2011, com 87% de popularidade, o juiz escolheu o momento adequado. No mesmo dia, o parlamento aprovou a reforma trabalhista proposta pelo presidente Temer, e que retira dos trabalhadores brasileiros direitos conquistados nos últimos 70 anos, como a Justiça do Trabalho arbitrar os conflitos. Pela lei aprovada, os conflitos serão decididos por negociação direta entre patrões e empregados… No mesmo dia, a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados rejeitou o relatório do deputado Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), favorável a que se investigasse a denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer por corrupção passiva. Novo relator foi indicado, tendo o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) apresentado um texto em que pede o arquivamento da denúncia de Janot. A proposição foi aprovada pela Comissão e vai ser votada em 2 de agosto pelo plenário da Câmara. Para ser aprovada, serão necessários os votos de 342 parlamentares do total de 513.
No mesmo dia em que esses episódios ocorriam na CCJ, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, homem de confiança de Temer e preso pela Lava Jato, obtinha o direito de deixar a prisão e ficar retido em casa. A sentença a Lula ofuscou o noticiário desfavorável ao governo golpista de Temer.
Para a defesa de Lula, evitar a prisão do ex-presidente representou o “reconhecimento da própria fragilidade da fundamentação da sentença”, e a “prudência” para evitar “certos traumas” comprovam o teor político da condenação. “É uma sentença meramente especulativa, que despreza as provas de inocência e dá valor a um depoimento prestado pelo senhor Léo Pinheiro na condição de delator informal, sem compromisso de dizer a verdade, e com manifesta intenção de destravar seu processo judicial”, declarou o advogado Cristiano Martins.
O Brasil se encontra mergulhado em profunda turbulência política. Em menos de um ano ocorreram o golpe parlamentar que derrubou a presidente Dilma Rousseff; a denúncia da Procuradoria Geral da República contra Temer, atual presidente; e a condenação do ex-presidente Lula.
O que se destaca como peculiar é que a Lava Jato só existe graças aos governos Lula e Dilma. A corrupção foi sempre fator endêmico no Estado brasileiro, da monarquia à República. O novo é o fato de ela vir à tona e haver punição de corruptores e corrompidos. Isso graças aos governos do PT, que reforçaram o Ministério Público e a Polícia Federal. O que se lamenta é que não tenha sido feita também a reforma política, omissão da qual o PT e a nação agora são vítimas.
O próprio juiz Moro assinala em sua sentença: “É forçoso reconhecer o mérito do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fortalecimento dos mecanismos de controle, abrangendo a prevenção e repressão do crime de corrupção, especialmente nos investimentos efetuados na Polícia Federal durante o primeiro mandato, no fortalecimento da Controladoria-Geral da União e na preservação da independência do Ministério Público Federal mediante a escolha, para o cargo de procurador-geral da República, de integrante da lista votada entre os membros da instituição” (ponto 793 da sentença).
Lula responde ainda a mais quatro processos nos quais é acusado de corrupção. Outros importantes dirigentes do PT já foram condenados na Lava Jato: José Dirceu, a 23 anos (hoje em prisão domiciliar); Antônio Palocci, a 12 anos (preso); João Vaccari Neto, a 15 anos (preso); e Delúbio Soares, a 5 anos (aguarda em liberdade o julgamento em segunda instância).
Por que o povo brasileiro não ocupa as ruas em defesa de Lula e a favor do “fora Temer”, como fez em anos anteriores por outras causas políticas? Entre os vários fatores, destaco o crescente desemprego, que atualmente atinge 14 milhões de trabalhadores; o desencanto com a política; o vandalismo recorrente em manifestações recentes, que infunde medo à violência; o espaço ocupado pelas redes sociais como ferramentas de protestos e denúncias. Não há no Brasil, hoje, nenhuma força política com suficiente representatividade para promover mobilizações de rua significativas.
Frei Betto é escritor, autor de “A mosca azul – reflexão sobre o poder” (Rocco), entre outros livros.
Uma resposta
fREI BETTO, NADA JUSTIFICA O SILENCIO DO POVO CONTRA A PRISÃO ARBITRÁRIA DO PRESIDENTE LULA. A CLASSE MÉDIA É QUE TEM QUE ASSUMIR A RESPONSABILIDADE DO RESULTADO DESSE SILENCIO, AO CALAR QUANDO TODO O PAIS ESTA SENDO DILAPIDADO E NOSSOS DIREITOS CERCEADOS. NA VERDADE, PERCEBO QUE O PROBLEMA DE DESEMPREGO NÃO AGRIDE NINGUÉM, COMO ACONTECEU COM A FALTA DE COMBUSTIVEL. O QUE PRECISA É O POVO SENTIR QUE NÃO PODERÁ COMPRAR ALIMENTO E ISSO SIM TERÁ EFEITO. PORÉM, OS GOLPISTAS PENSARAM TAMBÉM NISSO E O ALIMENTO CONTINUA BARATO, DANDO PRÁ ENCHER AS PANELAS. QUANDO AS DECISÕES TOMADAS PELO GOVERNO ENTRAREM PELA PORTA DA FRENTE NAS CASAS DA CLASSE MÉDIA, COMO AUMENTO DE LUZ E ÁGUA, MAIS AUMENTO NA GASOLINA E NO GÁS, AÍ SIM, HAVERÁ REAÇÃO. POR ENQUANTO ESTAMOS SENDO DISTRAÍDOS COM OUTRAS COISINHAS MAS ESSES AUMENTOS CHEGARÃO EM QUESTÃO DE DIAS. E AÍ VEREMOS REAÇÕES. MAS, PODERÁ SER TARDE.O POVO QUE BATEU PANELA NÃO É O POVO DOS COLETIVOS E GRUPOS DE MOVIMENTOS CHAMADOS ERRONEAMENTE DE MINORIA. QUEM BATEU PANELA FOI A CLASSE MÉDIA E É ELA AINDA QUEM CONSEGUE SE MANTER EM PÉ. DAQUI HÁ POUCO SERÁ EM PÉ DE GUERRA.