Por Martha Raquel e Lucas Martins
No meio de um dos metros quadrados mais caros da cidade – ao lado do shopping JK Iguatemi – a pequena comunidade do Coliseu sobrevivia entre os prédios espelhados da Vila Olímpia. Hoje, depois de mais de 5 décadas de resistência, as 272 famílias sofreram um despejo. Por meio da Operação Urbana Consorciada Faria Lima, a Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB) promete construir habitações para todas as famílias no mesmo local.

Foto Lucas Martins / Jornalistas Livres
Os moradores conseguiram, dias antes, contato com o comandante da Polícia Militar que realizaria o despejo e garantiram assim que a ação não aconteceria de forma truculenta. Porém no ultimo dia 15, quarta-feira, durante a noite policias atacaram os moradores com bombas de gás lacrimogêneo. Os moradores afirmam que ação começou quando policiais da ROCAM (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) entraram na rua e airaram duas bombas, seguidos por outro efetivo policial. A corporação afirma que agiu quando abordaram um homem na entrada da favela e ele resistiu à abordagem. Ninguém explicou o porquê o homem foi abordado.
Ana Cecília Gomes Vieira, da associação Sou Coliseu, conta que além de sair do terreno onde sua família a criou, o preço do aluguem e os novos arranjos para acomodar a família não estão certos. Monique Amorim, outra moradora da favela, explica que o auxilio da prefeitura de R$ 500,00 não é o suficiente par pagar o aluguel de R$ 800 da casa que conseguiu encontrar para não ficar sem teto. Marizete Maria dos Santos, que viveu no Coliseu por 56 anos, também não sabe como vai lidar com o aluguel e acrescenta que muitas das pessoas da comunidade trabalham na região “nós todos trabalhamos na Vila Olímpia. Vai ser duro pagar condução para vir trabalhar”.

Foto Lucas Martins / Jornalistas Livres
A ação de despejo, ocorreu de forma tranquila, mas o momento é estanho. Três anos atrás já houve uma outra tentativa de reintegração, que retirou alguns moradores, mas não foi finalizada. O plano do poder público usar a área é antigo, já tendo sido discutido em gestões passadas, desde Paulo Maluf ate a gestão de João Doria, mas nunca saiu do papel. Agora na gestão de Bruno Covas (PSDB), que é um possível candidato para a reeleição municipal, realizou o despejo.
Uma moradora que preferiu não se identificar conta que por mais que a relação com o bairro fosse complicado ainda sim não estava feliz em sair de lá, “tudo de ruim que acontecia nas redondezas era nossa culpa. O pessoal acha que só tem gente ruim, dava para falar que o Fernandinho Beira-mar era daqui, quase, do jeito que associavam as coisas com a comunidade”, mas a mudança para o Capão Redondo, onde conseguiu uma casa iria atrapalhar sua vida, principalmente as atividades dos filhos que iam a escola na região. Perguntada se iria mantê-lo na unidade respondeu “não dá. É muito longe”.

Foto Lucas martins / Jornalistas Livres
A pequena viela com pouco mais de 130 metros de extensão, foi lar de várias famílias por gerações. Monique encontrou, no meio dos barracos destruídos, uma foto do time que o pai montou nas várzeas do Rio Pinheiros, nos anos 80, quando ele ainda vivia na comunidade. O time, com direito a hino, chamava Funchal, por conta da rua da qual sai a viela. Alguns dos moradores adotam o nome de comunidade Funchal, no lugar de Coliseu.
Juscelino Pereira, assessor de imprensa da SEHAB contou esteve no local e informou que todos as famílias receberão o auxílio aluguel por tempo indeterminado até que possam retornar para o local. Ana Cecília conta que os moradores irão continuar acompanhando e cobrando a Secretaria para que ela de certeza da destinação do terreno para as moradias populares.