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Lula em Curitiba

Eu tenho um político de estimação

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Nathaly Munarini em Brasília – novembro de 2016 na manifestação contra a PEC 55.

Aos 8 anos eu me vi inserida na política. Meus pais eram da articulação do PT aqui na cidade e eu era aquela criança que corria entre vereadores, professores, sindicalistas, prefeito e pessoas do partido. Ia a todos os comícios, reuniões, enxerida desde pequena, eu queria saber o porque do porque do porque e quem é. E todos me falavam. Me ensinavam. Meu pai, professor, sempre com a orientação política de esquerda, me dizia como aconteciam as coisas e era muito honesto quanto suas posições políticas.

Um fato me marcou muito. Antes do Lula ganhar em 2002, eu ouvi meus pais dizerem ”a Nathaly infelizmente não fará faculdade, a não ser que ela estude muito, a gente nunca vai conseguir pagar os estudos pra ela, vai ser difícil.” Eles não sabiam que eu estava atrás do armário brincando. Até hoje acho que eles não sabem. Eu nunca vou me esquecer daquilo.

Eu era, definitivamente, uma criança nascida e criada no seio político. E eu me apaixonei pelo Lula. Quem me conhece, sabe. Sabe como eu gosto dele por N motivos. É claro que em relação a sua passagem como presidente, eu tenho inúmeras críticas. Muitas mesmo. Algumas delas, coloca em cheque a minha crença de que de fato, ele governou pra esquerda. Isso é doloroso de admitir, mas é um exercício necessário pra nossa formação crítica-ideológica sobre política. Mas há enormes recortes e análises a serem feitos. E agora eu vou falar, pessoalmente, sobre eles.

Numa entrevista da Dona Marisa em 2002, ela disse que ao chegarem em Brasília pela primeira vez, ela disse ao Lula: ”Querido, tem certeza de que você quer isso? Que quer enfrentar esses caras? Eles vão engolir você!”. Ela disse ao entrevistador, que Lula estava com uma camiseta do sindicato, uma calça simples e um sapato que usava para trabalhar, muito simples, como sempre andava. Mas ela também disse, que quando falou isso pra ele, ela olhou nos olhos dele e ele não disse nada. Os olhos dele estavam brilhando, como nunca haviam brilhado antes. Ele nem sequer escutou o que ela disse. Com toda certeza, era óbvio que ele não iria desistir. Ele continuou, e todo o resto, nós sabemos.

Não estou aqui para falar sobre as minhas críticas ao seu governo e sobretudo sobre o PT. Isso eu deixo pra outra oportunidade. Sou humana, e hoje o que me toma, é a emoção e o sentimento.

É, eu amo o Lula. Aquele cara que quase me fez fugir de casa quando veio para Dourados. Minha mãe sabia que eu era muito maluquinha e não me deixou ir no acampamento Itamarati com os colegas da família. Eu chorei o dia inteiro.

Eu nasci numa época que meus pais não tinham nem ideia de quando poderiam ter um carro. A gente não viajava, não comia coisas gostosas, não tinha pequenos luxos. A gente não passava necessidade, mas sabíamos muito bem do nosso lugar na sociedade.

Eu queria estudar na Universidade, eu queria muito fazer faculdade. E quando ele ganhou, tudo que era muito difícil e inacessível, se tornou real, se tornou possível. Se tornou verdade. Conseguimos ter o que a gente nem sonhava em ter. Um carro. Um terreno comprado com dinheiro ”vivo”. Eu na escola com esperança nas Universidades que estavam sendo construídas. O Brasil saindo do mapa da fome. As mulheres conquistando direitos, com tanta dificuldade. Eu nunca vi minha família tão feliz. As minhas vontades, é claro que continuavam, a gente nunca foi rico.
Mas agora a gente se sentia parte de uma sociedade que era nossa. A gente era gente de verdade.

Eu sempre fui privilegiada por estudar em escolas particulares. Eu ganhava bolsa de estudos porque sempre fui atleta e tinha notas muito altas. Mérito? Não pra minha concepção.
Eu simplesmente tive uma oportunidade que condizia com minha educação, que mesmo sem luxos, era a necessária.

Eu era agradecida por tudo isso. Eu não entendia nada sobre política. Nada mesmo. Nada do que entendo hoje. Eu nem sequer compreendia a questão de direita/esquerda. Mas eu sabia quem eu era na sociedade. E sabia que era de uma classe baixa. Eu tinha consciência de que pra ter o que os meus colegas tinham, era preciso muito mais esforço. E eu sabia que naquele momento, algo estava caminhando para que essas diferenças não fossem mais tão discrepantes.

Tudo isso, eu compreendi no governo do Lula. Falem o que quiserem, não existiu governo que mais olhou pra nós, pobres, classe média, classe média alta. Nós saímos do mapa da fome. Nós conseguimos ter Universidades. Nós conseguimos viajar de avião e ter um carro. Isso ninguém vai conseguir me convencer do contrário. NINGUÉM.

É claro que não consigo ultrapassar minha noção de justiça e jamais passaria a mão na cabeça dele se tudo isso que dizem fosse verdade. Eu só acho que do jeito que as coisas procederam, há algo muito errado. Há uma nítida perseguição. Há um desespero intenso em incriminar um ser humano. E isso eu jamais vou aceitar.

”Mas ah, e se conseguirem provar?” Se conseguirem de fato provar, sem utilizar desses mecanismos fajutos e sórdidos, pode ter certeza, eu serei uma das primeiras a chorar. E levando em conta toda a atual conjuntura política, judiciária e do nosso executivo, ainda que consigam provar algo, eu vou duvidar. Porque só estão perseguindo ele. E a Justiça é cega. Não perseguidora.
A Marisa disse na entrevista, que quando eles chegaram em Brasília, nos anos 80, muitos falavam ”quem ele pensa que é?”

”Um sindicalista, nordestino e analfabeto!”

E hoje só consigo pensar, quem ele pensou que era? Quando sua própria companheira advertiu-o sobre o risco que corria. Quando todos os calhordas da elite acusavam de comer criancinhas, quando ele sabia de onde estava vindo e da luta que começava a solidificar a partir de seus impulsos. Quem o Lula pensou que era para quebrar a lógica da extrema direita e colocar um cara como ele no Congresso Nacional? Na Presidência?

Eu só queria dizer essas coisas no dia de hoje. Não quero ataques, nem ofensas. Adotem o político de vocês e escrevam textões sobre eles.
A diferença é que eu tenho um político de estimação e tenho coragem de me posicionar de maneira clara e concisa. Deixo os bandidos de estimação pra vocês!

*Nathaly Munarini é formada em Direito na UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados, militante e ativista de esquerda.

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2 Comments

2 Comments

  1. Nilzete Vilhena

    10/05/17 at 18:56

    Lindo texto! Gostaria de te-lo escrito. Talvez com uma história diferente, mas consciente do que foi melhorado na vida das pessoas. Por isso eu também tenho um político de estimação Lula lá!

  2. Sebastião Calado

    11/05/17 at 11:09

    Que belo e emocionante texto!!! Humano, demasiado humano, Nathaly Munarini — e que faz lembrar daquela estudante. também de Dourados-MS, que num comício do PT em Campo Grande, pediu ao Lula uma Universidade para a nossa cidade. Lembra disso? Claro, você sabe o que aconteceu, e que a Universidade Federal é uma realidade. Parabéns pela coragem de prestar esse feliz depoimento.

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Justica

Lula está solto, mas ainda não livre

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Ato em São Bernardo, para receber Luiz Inácio Lula da Silva, depois de 580 dias de prisão na sede da Polícia Federal de Curitiba - Foto de Bacellar/Jornalistas Livres

Por Ricardo Melo*, especial para os Jornalistas Livres

 

Pode soar incrível. Saíram da boca do usurpador Bolsonaro duas palavras úteis além de bravatas escatológicas de padrão fascista: Lula está “momentaneamente solto”.

Mais do que despeito diante do revés imposto aos golpistas, a definição guarda significado estratégico. O grande capital e seus associados na mídia, judiciário, executivo e legislativo insistem no objetivo de eliminar Lula e o que ele representa. A decisão do Supremo é sintomática: cederam-se alguns anéis para tentar outro bote para recuperá-los (com lucro) mais à frente. Sobretudo mantiveram-se os dedos que apertam gatilhos simbólica e literalmente, como aconteceu com Marielle/Anderson.

Os elogios derramados ao presidente do STF pelo voto de minerva mal abafaram o constrangimento. Nem bem terminou a sessão, Toffoli saiu a dizer que o Congresso pode mudar o decidido pouco antes. “Basta uma emenda”. Quanta hipocrisia. Nenhuma das chamadas cláusulas pétreas pode ser modificada exceto por outra Assembleia Constituinte. Nenhuma. Entre elas, as relativas a direitos e garantias individuais, como a do direito à defesa até o último recurso ser julgado. A Constituição é inequívoca a respeito –assim como inequívoco é o percurso tortuoso de Toffoli nos tribunais.

Ato em São Bernardo, para receber Luiz Inácio Lula da Silva, depois de 580 dias de prisão na sede da Polícia Federal de Curitiba - Foto de Bacellar/Jornalistas Livres

Ato em São Bernardo, para receber Lula – Foto de Bacellar

É indiferente então que Lula tenha saído da solitária? Nem um tolo pensaria isto. Trata-se de uma vitória tática da maior importância. Deixe-se em papelada o raciocínio malabarista de que Lula fora da cadeia favorece a direita, disposta a se reaglutinar com receio do fantasma petista. Pensamento tão razoável quanto imaginar que o inimigo solto, mesmo momentaneamente, é mais seguro do que preso!

Dúvida? Com a palavra Steve Bannon, um dos gurus da extrema direita, conselheiro de todas horas da famiglia Bolsonaro e ex-queridinho de Donald Trump: “Lula é uma figura trágica […] ele é alguém que foi corrompido por dinheiro e poder. É evidente e, para mim, isso agora vai causar uma enorme perturbação política no Brasil”.

Bannon sabe do que fala. Já para o povo pobre do Brasil, para os democratas de verdade, o alcance da liberdade provisória de Lula ficou expresso nas demonstrações incontidas de alegria, satisfação e esperança. Impossível para quem deseja um país decente ficar imóvel diante da recepção a Lula tanto em Curitiba como em São Bernardo. Se Lula ainda não está livre das acusações que pesam sobre ele, é fato que o recuo imposto aos golpistas tornou-se um combustível pronto a incendiar-se diante de um governo interventor.

 

Agenda de ruínas

Lições da história demonstram que o Brasil reúne as chamadas condições objetivas para entrar nos trilhos da democracia. Os de baixo não podem mais viver como agora. A miséria se alastra a toda velocidade; direitos trabalhistas e previdenciários viraram pó; o setor público vem sendo desmantelado impiedosamente; a soberania nacional sofre ataques sucessivos; estatais são vendidas na bacia das almas; os parcos ganhos salariais dos anos pré-golpe começam a ser revertidos. E o desemprego permanece nas alturas, mesmo com as maquiagens estatísticas de “informalidade”, “intermitência” e outros eufemismos abjetos. O esmagamento das liberdades e das minorias, a entrega do poder a milicianos e o desprezo pelo povo equivalem à expressão política necessária para o êxito da agenda de ruínas.

Só que no topo da pirâmide o ambiente está longe de ser tranquilo. Mesmo o mais cínico dos extremistas de direita sabe que a “vitória” de Bolsonaro emergiu da fraude e da manipulação descaradas, a começar pelo banimento de Lula das eleições. O capitão medíocre foi o que restou aos tubarões assustados com o desmoronamento das candidaturas de direita tidas como “civilizadas”. Há, porém, um desconforto inquietante nessa esfera em face da brutalidade da gangue aboletada no Planalto. Também medo de que a implosão do PSL exponha mazelas muito maiores e fétidas além da fronteira do partido.

A divergência não é de fundo, claro. Preocupa esta “gente limpinha”, alinhada desde sempre com os golpistas, que a desfaçatez bolsonarista multiplique a oposição às contrarreformas, cuja aprovação é objetivo maior da elite apodrecida. O pano de fundo internacional não ajuda, com as grandes potências travando uma batalha encarniçada para assegurar fatias crescentes do mercado. Isto num momento em que os próprios teóricos neo-liberais do FMI, Banco Mundial e Cia. admitem que a economia mundial patina e o horizonte se torna mais e mais sombrio.

Não à toa Trump faz gato e sapato do “grande aliado” Bolsonaro, transformado o Brasil em chacota mundial. As multinacionais esnobam Guedes e seus asseclas nos leilões de petróleo e exigem benefícios ainda mais indecentes. Em resposta, Guedes providencia mais contrarreformas para chilenizar o Brasil a toque de caixa antes que aventureiros de outros países o façam. O golpe na Bolívia que derrubou Evo Morales –responsável por um dos maiores índices de crescimento e inclusão social em seus governos– prova que o grande capital não está para brincadeira. Ele compreende muito bem a origem da onda de revoltas espalhadas mundo afora.

Ninguém se engane: neste cenário, a artilharia contra Lula de forma alguma arrefeceu. Seu nome está associado à ideia de conquistas sociais, de liberdade, democracia, menos desigualdade e limites à exploração desenfreada. Tudo o que contradiz a cartilha do grande capital. Obrigados a recuar um pouco, os donos do dinheiro já anunciam nova ofensiva em todas as instâncias. Provocadores esparramados em redes sociais também não pensarão duas vezes em passar das palavras à ação. Contam com a mesma impunidade que cerca, por exemplo, a famiglia Bolsonaro, os assassinos de Marielle/Anderson e o poder miliciano infiltrado no Estado. O reforço da segurança do ex-presidente Lula é questão de honra para o movimento popular, assim como a anulação de todos os processos mentirosos abertos contra ele.

A melhor defesa é o ataque. Como bem disse Lula, o combate imediato é contra a agenda de destruição do Brasil colocada em prática desde a derrubada de Dilma Rousseff. Algo muito maior que uma guerra de palavras parlamentar ou batalha de twitters. A disputa, mais do que nunca, ocorre na ação: nas ruas, nos bairros, nas escolas, nas empresas, nas estatais, no comércio, nos movimentos sociais, nos agrupamentos de desempregados, nas caravanas pelo Brasil –na recusa permanente a todos os atos, leis e decretos que atentam contra a dignidade, sobrevivência e livre manifestação.

Lula é insubstituível como alavanca dessa contraofensiva progressista. Instrumento necessário para organizar os pobres e democratas, tanto quanto para construir uma frente política à altura das urgências do Brasil. O sucesso ou fracasso desse confronto cotidiano vai ditar o prazo de validade de Bolsonaro no poder.

 

 

*Ricardo Melo é jornalista, ex-presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação) e apresentador do programa ‘Contraponto’ na rádio Trianon de S.Paulo (AM 740)

Ato em São Bernardo, para receber Luiz Inácio Lula da Silva, depois de 580 dias de prisão na sede da Polícia Federal de Curitiba - Foto de Ricardo Stuckert

Ato em São Bernardo, para receber Luiz Inácio Lula da Silva, depois de 580 dias de prisão na sede da Polícia Federal de Curitiba – Foto de Ricardo Stuckert

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Lula em Curitiba

Lula livre: “Eles não prenderam um homem, eles tentaram matar uma ideia”

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O ex-presidente Lula atravessou o portão da Polícia Federal, em Curitiba, às 17h32 desta sexta-feira (8), e como ele mesmo já havia prometido, foi abraçar os manifestantes da vigília que permaneceram acampados durante os 580 dias em que o petista esteve preso. Num discurso de menos de 20 minutos, o primeiro em liberdade, Lula agradeceu o apoio, brincou com o público e distribuiu críticas ao presidente Jair Bolsonaro e, principalmente, ao ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro e ao chefe da força-tarefa da Lava Jato Deltan Dallagnol.

– Há muito tempo não vejo um microfone na minha frente. Vocês não tem dimensão do significado de estar aqui junto com vocês. Eu que a vida inteira estive conversando com o povo brasileiro, não pensei que no dia de hoje eu poderia estar aqui conversando com homens e mulheres que durante 580 dias gritaram aqui “bom dia, Lula”, “boa tarde, Lula”, “boa noite, Lula” não importa se estivesse chovendo, que fizesse 40 graus, se fizesse 0 graus, todo santo dia vocês eram o alimento da democracia que eu precisava para resistir à safadeza e a canalhice que o lado podre do Estado brasileiro fez comigo e com a sociedade brasileira”, afirmou.

Segundo o ex-presidente, o objetivo de sua prisão política era a criminalização da esquerda, do Partido dos Trabalhadores e dele mesmo:

– O lado podre da Justiça, do Ministério Público, da Polícia Federal, da Receita Federal trabalhou para tentar criminalizar a esquerda, criminalizar o PT, o Lula”, afirmou.

Assim como no último discurso feito na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em 7 de abril de 2018, data em que foi preso, Lula afirmou que não Sérgio Moro não mandou prender uma pessoa, mas uma ideia:

– Fiquei fortalecido, fiquei corajoso. Além de continuar lutando para melhorar a vida do povo brasileiro. Além de lutar pra impedir que esses caras não entreguem país. Mas o lado podre da Polícia Federal, do Ministério Público, da força tarefa e o Moro têm que saber: eles não prenderam um homem, eles tentaram matar uma ideia. E uma ideia não se mata, uma ideia não desaparece. Vou lutar pra provar que uma quadrilha e um bando de mafiosos nesse país, liderados pela Rede Globo criou a imagem que o PT precisava ser criminalizado”, enfatizou.

 “Meu coração só tem espaço para o amor”

Ex-presidente faz seu primeiro discurso em liberdade e agradece apoio da vigília Lula Livre (foto: Gibran Mendes)

Dona Lindu, mãe do ex-presidente, foi citada como a grande referência de vida. Segundo Lula, foi ela quem lhe ensinou os valores da dignidade e da honestidade. E anunciou que vai percorrer o Brasil em defesa do povo brasileiro:

 – Eu adquiri tudo que tenho na vida de uma mulher que nasceu e morreu analfabeta, que me ensinou a ter dignidade, que é dona Lindu, que me faz dizer para essa gente que tentou me condenar: meu coração só tem espaço paro amor porque o amor vai vencer nesse país. Eles têm que saber que um nordestino que nasceu Garanhuns, que só foi comer pão aos 7 anos de idade, que passou fome… vai ter um encontro amanhã no Sindicato dos Metalúrgicos e, a partir de agora, vou percorrer esse país”, disse o ex-presidente, lembrando que a vida piorou depois que o prenderam e que Fernando Haddad perdeu a eleição:

 – Ontem eu vi na televisão que depois que fui preso e roubaram do Haddad, o povo está passando fome, não tem mais trabalho com carteira assinada, o povo está trabalhando de uber, de bicicleta, o povo está trabalhando sem o menor respeito. E ainda ouvi que não vai ter aumento para o salário mínimo. Mas estou aqui com o maior sentimento de agradecimento que um ser humano pode ter com outro. Não guardo mágoas dos policiais federais, dos carcereiros, de ninguém. Não tenho como pagar a vocês, a não ser dizer que serei eternamente grato”, disse encerrou.

 Lula fará pronunciamento à nação neste sábado na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo

O comitê Lula Livre divulgou a programação do ex-presidente Lula assim que ele deixar a carceragem da Polícia Federal. Depois do primeiro discurso de agradecimento aos manifestantes da vigília Lula Livre, o ex-presidente seguirá para São Paulo, onde encontrará familiares. Está confirmado também um pronunciamento oficial na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, entidade que Lula presidiu quando era metalúrgico e onde ele fez seu último discurso antes de seguir para Curitiba em 7 de abril de 2018.

O Jornalistas Livres vai cobrir a manifestação em São Bernardo dos Campos. Acompanhe a nossa cobertura pelo portal e em nossas redes sociais.

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Lula

Lula avisa: “Tenho muita coisa para fazer ainda”

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“Não vou deixar a solidão tomar conta de mim, não vou deixar o ódio tomar conta de mim, não vou desanimar, não vou ficar deprimido. Não conheço a palavra depressão. Se já tive, não sei. Tenho muita coisa para fazer ainda”, relatou ex-presidente Lula em entrevista ao jornal “Brasil De Fato”. Confira a seguir o que contou o ex-presidente:

“Uma coisa que me interessa muito é ler sobre a escravidão. Estou aprendendo porque o Brasil é do jeito que é, porque ainda existe preconceito. Sempre gostei muito de música e estou ouvindo bastante, recebo um pendrive com músicas. Gosto muito de samba, ouço Chico, ouço Caetano, o Gil, ouço muitas músicas daquelas, como chama, cânticos gregorianos. Às vezes, eu durmo com cantos gregorianos.
Eu recebo muita coisa. E muito debate também. Peço a alguns companheiros que gravem análises de conjuntura para mim. Então, às vezes o João Paulo (do MST) grava uma análise de conjuntura, às vezes o Genoíno me grava, a [Marilena] Chauí me grava, o [Luiz] Dulci me grava, a Gleisi [Hoffmann] me grava, o Jessé [de Souza], o Eduardo Moreira, o Aloízio Mercadante. Eu vou pedindo às pessoas, que vão gravando.
Como não tem o que fazer, sento para ler, ou sento e fico vendo as pessoas falarem, fico discutindo sozinho com as pessoas, discordando das pessoas. Às vezes, fico puto como as pessoas falam bobagens a meu respeito. E não estou lá para dizer: “Não é assim, rapaz”. Assim vou vivendo.
Eu vou dormir por volta de meia-noite, 1h da manhã. Acordo todo dia às 6h30, faço meu café, faço um café de qualidade. Acho que não tem ninguém que faça um café melhor do que eu.

Quero que vocês saibam que essa história de eu falar que vou casar é verdade. Na verdade, encontrei uma meia cara que está me ajudando a vencer essa barreira aqui. Então, não vou deixar a solidão tomar conta de mim, não vou deixar o ódio tomar conta de mim, não vou desanimar, não vou ficar deprimido. Não conheço a palavra depressão. Se já tive, não sei. Como fui corintiano e fiquei 23 anos sem ganhar um título, perdendo para o Santos 15 anos consecutivos, vendo Pelé humilhando o Corinthians – eu ia ao estádio, chegava lá e dava 3 a 0, 4 a 0 –, então acho que não vou ter depressão. Tenho certeza, posso dizer para vocês comunicarem o pessoal lá fora, que vou sair mais maduro, mais preciso naquilo que quero fazer. Vou sair mais lutador do que fui. Estou bem fisicamente. Obviamente que sei que a natureza é implacável, mas como me decidi que vou viver até os 120 anos, que a “Caetana” não venha bater na minha porta, que não tem espaço para ela entrar [referência ao livro “A Moça Caetana – A Morte Sertaneja”, de Ariano Suassuna]. Tenho muita coisa para fazer ainda.
Então, estou assim, nesse momento da minha vida. Obviamente, fico sonhando em sair daqui, decidir onde vou morar. Quando deixei a Presidência, tinha vontade de morar no Nordeste, vontade de voltar para meu Pernambuco, vontade de morar não perto da praia, mas num lugar em que pudesse ir à praia. Pensava em ir para Bahia, Rio Grande do Norte, mas a Marisa não quis ir porque ela nasceu em São Bernardo [do Campo], e o mundo dela era São Bernardo. Eu não tenho mais o que fazer em São Bernardo. Não sei para onde ir, mas quero me mudar para outro lugar. Quero viver. Espero que o PT me utilize, espero que a CUT me utilize, espero que os sem-terra me utilizem, espero que os LGBT me utilizem, espero que os quilombolas me utilizem, espero que as mulheres me utilizem, espero que todo mundo me utilize para fazer com que eu tenha utilidade nessa minha passagem pelo planeta Terra. Vou sair daqui tranquilo. Não vou dizer que cumpri minha missão, mas vou sair daqui tranquilo, como cidadão consciente do seu papel na história.
Sou muito agradecido às manifestações dos artistas. Tenho visto pelo pendrive shows no mundo inteiro. Aliás, acho que o PT e os movimentos sociais deveriam fazer da questão cultural uma das bandeiras mais importantes. A gente não pode deixar que esses caras destruam a cultura. A cultura não tem propriedade do Estado. A cultura é uma prioridade da sociedade – ela que se aproveite da cultura e a criatividade que o nosso povo tem nesse país. Não podemos abdicar disso.
É isso que vocês vão levar daqui. Quero que vocês digam para todo mundo que estou bem, estou muito disposto a brigar. Tenho certeza de que o Moro não dorme com a consciência tranquila como durmo. Tenho consciência de que o Dallagnol está precisando tomar remédio para dormir, talvez tarja preta, porque ele sabe que é mentiroso, ele sabe que foi canalha no meu processo. Estou aqui, para a raiva deles. Porque acho que eles ficam com mais raiva quando eles percebem que estou bem.
Então, muito obrigado. Quero que vocês transmitam um abraço a todo mundo. Quando sair daqui, espero que a gente faça uma boa entrevista – e um churrasco. Há um livro que li que me impressionou muito, chamado “Um Defeito de Cor”, de uma moça chamada Ana Maria Gonçalves. Eu li “Escravidão”, do Laurentino Gomes, muito bom. Eu tenho lido muito. Li, da escravidão, “O Alufá Rufino” [de Flávio dos Santos Gomes, João José Reis e Marcus J. M. de Carvalho]. É muito bom. É um tema que me apaixonou, porque nunca consegui entender.
Não sei se vocês lembram, quando eu era presidente, a gente tentou, foi aprovada uma lei, o Fernando Haddad [então ministro da Educação] deve se lembrar disso, para ensinar a história africana no Brasil, que era umas formas que eu achava que a gente iria vencer o preconceito nesse país. Não sei se aconteceu. Pelo que estou vendo, até universidade afro-brasileira está sendo destruída lá em Redenção (CE). Acho que eles estão desmontando isso. Mas estou aprendendo muito.
As pessoas são muito generosas, as pessoas mandam muitos livros, muito material importante. Esses dias, recebi uma cartinha bonita daquela menina que está em Oxford e participou da equipe daquele médico que ganhou um prêmio Nobel de Medicina; uma menina do Rio Grande do Norte que está com ele, é brasileira. Ela mandou uma cartinha bonita. Eu recebo muita coisa bonita, muita gente generosa. Eu não sei se vou ter força para abraçar todo mundo quando eu sair daqui. Se a minha bursite não voltar…”

 

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