Como as duas faces de uma moeda, nosso caráter de país se embaralha, ilude a própria cara no espelho. Saúde se escreve com rios e florestas, difícil entendimento para a nação.
Tudo vagueia, meandra entre fascínio e exclusão. Subserviência foi a regra estabelecida pela elite colonizadora na terra dos indígenas, seus povos. Toda a América foi varrida pelo bafo alienígena, imperialista.
Persistem os bravos, os fortes, a originária fé. Há em curso uma educação dos brancos do asfalto, seja pela arte, pela espiritualidade ou pelas ácidas palavras de um rapper Guarani, furando as bolhas das ideologias.
Apesar do fascismo que insiste na aridez do futuro, há um elo que reluz, naqueles que não temem o desconhecido, o novo, o arcaico, a testeira. Temperança é seu nome, a ciência das coisas, é Tupã, é Mavutsinin, é Txai.
Há brasileiros que até queimam um indígena dormindo em paz em seu chão, há tantos que nem se lembram deles, outros tantos querem sim abraçar sua gente, entender os caminhos, desvelar as mentiras.
De tudo fica a determinação de seguir, de saber-se imenso, imerso, gigante adormecido que sonha consigo mesmo, tão belo que assusta, apavora os insanos. Somos o sonho duma aldeia multiétnica, é fato, por mais que sufoquem o novo mundo.
Uma nova ordem se estabelece, feliz em seus cantos, vigora nosso destino. Há profetas, poetas, ilusionistas espalhados pelo campo largo de nossas dúvidas, sei apenas que falam do fundo das almas, tal olho d`água, fonte limpa das vontades e leitos.
Enfim, não se cala o canto indígena das Américas.
*relato de Beatriz de A. Sant’Anna recolhido por: http://www.aldeiamultietnica.com.br/