por Vinícius Segalla
Para impedir a reeleição da ex-mulher, o deputado Jair Bolsonaro lançou a candidatura do filho de apenas 17 anos. Por ordens do presidenciável do PSL, o então estudante Carlos Bolsonaro precisou disputar com a própria mãe.
A guerra familiar patrocinada pelo capitão reformado ocorreu na eleição para a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, no ano 2000. Na ocasião, Rogéria Bolsonaro, àquela altura já ex-mulher do presidenciável, tentava se eleger vereadora pela terceira vez. Ao contrário das outras duas disputas, em 2000 Rogéria já não contava com o apoio de Jair Bolsonaro. Classificando a ex-muher como “dona de casa”, Bolsonaro estava irritado com a postura da mulher como vereadora:
“Nas questões polêmicas, ela deveria falar comigo para decidir o voto dela. Mas começou a frequentar o plenário e passou a ser influenciada pelos outros vereadores. Eu a elegi. Ela tinha que seguir minhas ideias. Acho que sempre fui muito paciente, mas ela não soube respeitar o poder e a liberdade que lhe dei”.
A solução do ex-capitão para destruir Rogéria foi lançar outro candidato à Câmara Municipal. Seu nome: Carlos Bolsonaro, seu filho, então um adolescente de 17 anos. Abaixo, a inscrição eleitoral do rapaz, protocolada na época junto ao TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral).
À época, Carlos era estudante do ensino médio, menor de idade. Para que pudesse se candidatar, de acordo com a lei, era preciso que fosse emancipado. Jair Bolsonaro então assim o fez, como noticiou a imprensa carioca na época. A partir daí, naquela eleição no Rio de Janeiro, a mãe Rogéria e o filho Carlos passaram a ser adversários, disputando o mesmo eleitorado: os simpatizantes do ex-capitão.
“Ele colocou o filho contra a própria mãe”
“Bolsonaro emancipou o filho para jogá-lo contra a mãe. Em seu grupo político, não há ninguém merecedor de sua confiança. Já que não é a (ex-)mulher, tem que ser o filho. Um menino ainda, sem o mínimo preparo, com o único objetivo de dizer aos seguidores do deputado-capitão que o seu preposto na Câmara Municipal não é mais a ex-mulher, mas sim o filho, disputando os dois o patrimônio eleitoral do parlamentar. Se isso não é nepotismo, o que é?”
Assim noticiou o fato, no dia 25 de setembro de 2000, o jornal carioca “Tribuna da Imprensa” (que deixou de circular em 2008), um veículo alinhado à direita, simpático a Bolsonaro, mas atento aos fatos, como se pode ver na imagem abaixo, ou em sua versão original, preservada pela Biblioteca Nacional.
No dia seguinte à publicação acima, ocorreu um incidente de violência política no Rio de Janeiro. Um cabo eleitoral de Rogéria Bolsonaro foi espancado por três homens enquanto panfletava na zona norte da capital fluminense. Seu nome: Gilberto Gonçalves, então com 47 anos, ex-militar e ex-amigo de Jair Bolsonaro. O próprio deputado apresentara a vítima a Rogéria, alguns anos antes, na década de 1980, quando Gonçalves prestava o mesmo serviço de cabo eleitoral ao ex-capitão, que tentava se eleger deputado pela primeira vez.
Rogéria Bolsonaro, um dia após o espancamento, não teve dúvidas em afirmar: seu correligionário fora espancado a mando de Jair, que estava inconformado com o fato de o ex-amigo ter-se bandeado para o lado de sua ex-esposa. [https://jornalistaslivres.org/segunda-ex-mulher-de-bolsonaro-acusa-candidato-de-espancamento-e-desequilibrio-mental/]
Jair Bolsonaro, então, comemorou a vitória eleitoral sobre a mãe de seus filhos Carlos, Flávio e Eduardo, hoje todos parlamentares, acumulando mandatos à família. Na visão do ex-capitão, porém, aquela não tinha sido uma disputa em que um filho derrotara sua mãe. “Não foi uma eleição de filho contra mãe, mas sim de filho com o pai. Para mim, ela já está morta há muito tempo”, disse o “mito”, em entrevista amplamente divulgada pela imprensa na ocasião.
O Ministério Público Eleitoral tentou impugnar a diplomação do jovem Carlos. Alegou que a lei não permite que um menor de idade fosse eleito parlamentar. Jair Bolsonaro e o filho recorreram da impugnação junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e saíram vitoriosos. A corte interpretou que a barreira etária prevista na lei se refere ao momento em que o candidato é diplomado no cargo, e não àquele em que se candidata. “A idade mínima de 18 anos para concorrer ao cargo de vereador tem como referência a data da posse”, proferiu o TSE.
Assim, em 1º de janeiro de 2001, data da diplomação, o filho de Rogéria já entrara na casa dos 18, e assim passou a fazer parte daquela legislatura e da história da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, conforme se lê no registro do jornal “O Estado de S.Paulo.
Uma resposta
Gente, ex-mulher é um termo bem machista. Troquem por “ex-esposa”, por favor.