Jornalistas Livres

Em discussão de trânsito, PM à paisana atira 11 vezes em DJ negro, acerta um tiro, mas é ele que é acusado de tentativa de homicídio

Na madrugada do sábado, 27/1, o destino do conhecido DJ Aluisio Martins de Souza cruzou com o de uma policial militar na rua Jornalista Aloysio Biondi, próximo ao metrô Barra Funda, em São Paulo. O carro da PM Paloma Celeste Dadão Teixeira, que estava sendo conduzido pelo pai dela, deu uma freada abrupta, diante do veículo dirigido pelo DJ Aluisio. Da briga de trânsito banal, o caso quase se transformou em assassinato, quando a PM, que disse ter-se sentido ameaçada pelo DJ, começou a disparar sua pistola Taurus calibre 40, da polícia militar de São Paulo. Ao todo, foram 11 disparos da arma dela.

Por sorte, apenas um tiro atingiu o DJ, assim mesmo em seu ombro, numa área não-letal.

O que seria motivo de alívio, porém, converteu-se em mais sofrimento para o DJ Aluisio, porque a soldado PM, que estava à paisana, acusou o jovem negro de “tentativa de assassinato”. Alegou para tanto que ele a teria ameaçado com a seguinte frase: “Depois não sabe por que leva um tiro na cara.” Para agravar, a policial disse que o DJ Aluisio abriu o porta-malas de seu carro e dele retirou uma arma. Depois, novamente em seu veículo, o DJ teria corrido no encalço da PM, que havia entrado num estacionamento próximo para pedir ajuda “ao 190”. Segundo a policial, neste momento o DJ tentou atropelá-la, “forçando-a” a atirar para se defender.

Curiosamente, não se encontrou arma alguma com o DJ ou jogada nas imediações. Tampouco foram localizadas cápsulas deflagradas pela suposta arma do DJ. Nem a própria PM alegou que o DJ tenha atirado.

Apesar desse histórico, o indiciado por “tentativa de homicídio qualificado” foi o DJ negro. A soldado PM, Paloma Dadão Teixeira, que é branca, figura como “vítima” no B.O. assinado pelo delegado Omar Guerke Santos Cruz, do 91º DP, na Vila Leopoldina.

O DJ Aluisio sobrevive animando festas para sustentar sua família. A PM Paloma Celeste tem a segurança pública e a manutenção da ordem pública como seu ganha-pão. Para isso, o Estado treinou-a no trato de situações de perigo e tensão.

Isso posto, fica a pergunta: em que manual ou protocolo da Polícia Militar a senhora Paloma Celeste Dadão Teixeira aprendeu a lição segundo a qual uma discussão de trânsito se resolve com os disparos de mais de 10 tiros no seu interlocutor?

E por fim, e mais delicado. Onde está a arma que foi citada no B.O. e que, segundo a policial militar, estaria de posse do DJ Aluisio?

Para lembrar outro caso, famoso nesta semana: #CadêAProva?

O DJ Aluisio após ser baleado, correu para o metrô Barra Funda e telefonou para sua esposa, Debora Regina Boaventura, contando que foi baleado no ombro. Ele informou a mulher de que seria levado para a Santa Casa de Misericórdia, próximo dali.

No hospital, o projétil foi retirado do ombro de Aluisio e ele foi conduzido ao DP. A mulher correu ao DP, mas não conseguiu contato com o marido, que foi enviado diretamente para uma cela. Desesperada, ela recebeu das mãos das autoridades o cinto da calça do seu esposo, procedimento-padrão para evitar que o preso cometa suicídio.

O pai de Debora Regina, que é advogado, recebeu do delegado a informação de que Aluisio tinha sido preso em flagrante “porque desacatou a autoridade” (vulgo “sabe com quem está falando?”).

Abaixo, o depoimento emocionado da esposa do DJ Aloisio, Debora Regina Boaventura, para os Jornalistas Livres:

“Eu nesse momento me sinto indefesa perante a Justiça deste país. Nós saímos de casa e não sabemos se e como vamos voltar. Eu, mãe, professora; ele cidadão trabalhador, DJ conhecido, sofre agressão e ainda sai como culpado. Como isso?, cadê a Justiça? Este caso, torna evidente que se trata de uma policial despreparada e sem equilíbrio emocional para conduzir uma simples discussão de trânsito. Para se defender, ela poderia ter atirado no pneu, para o alto ou coisa que o valha. Mas não. Ela atirou nele para matar e ele não teve a mínima condição de defesa. Meu marido teve de sair correndo para fugir da agressão absurda. Eu acredito na Justiça Divina e tenho certeza que ela será punida.”

Neste domingo, na audiência de custódia, no Fórum Criminal da Barra Funda, decidiu-se que o DJ Aloisio não teria direito a aguardar o desdobramento de seu inquérito em liberdade. E ele foi conduzido ao Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, uma marmorra cruel, superlotada de corpos negros como o dele.

Jornalistas Livres endereçaram à Secretaria de Segurança Pública pedido de “esclarecimentos” sobre o caso, com as seguintes questões:

Perguntas:
1. Não foi encontrada a arma do DJ. É possível que a soldado tenha se enganado?
2. A soldado disparou 11 tiros no DJ por causa de uma briga de trânsito, uma ameaça verbal e uma arma que não foi encontrada. Pode ter ocorrido reação exacerbada da policial?
3. Será aberto procedimento para investigar se houve reação desproporcional por parte da PM?
4. Porque o delegado do 91º DP não permitiu que o sogro do DJ, que é advogado, o acompanhasse durante da confecção do B.O.?

 

Eis a resposta que a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo enviou aos Jornalistas Livres:

 

Comentários

3 respostas para “Em discussão de trânsito, PM à paisana atira 11 vezes em DJ negro, acerta um tiro, mas é ele que é acusado de tentativa de homicídio”

  1. Avatar de Kelvin Barros
    Kelvin Barros

    Geraldão da Merenda não curtiu essa publicação.

  2. Avatar de Luh Souza
    Luh Souza

    Ah, batata, no perfil ostenta fotinha com filtro de Bolsonaro, queria saber como essa gente perversa e racista dorme.
    A lei do retorno vem, sempre vem!

  3. Avatar de Ramayana
    Ramayana

    O que está acontecendo agora? O que aconteceu com o Dj?

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