Doria despeja pessoas em processo de cura na rua

Prefeitura retira resto de pertences de moradores do Santa Maria

Por Cecília Bacha e Katia Passos

“Vou voltar pro fluxo”. Foi assim que após quatro anos, o senhor Daniel Hamilton se despediu do programa De Braços Abertos (DBA), política de redução do uso de drogas desenvolvida pelo governo de Fernando Haddad na capital paulista. O projeto foi extinto pelo atual governo Doria.

Daniel dividia com cerca de outros 28 companheiros uma residência coletiva, localizada no número 612 da Alameda Barão de Limeira, que fazia parte da rede de serviços aos usuários sob a ótica da redução de danos, através da oferta de moradia aberta e emprego, que chegou a atender cerca de 800 pessoas em 2016.

Moradores e trabalhadores do Santa Maria, como era chamada a residência, tiveram 48 horas para organizar a saída do edifício.

A promessa de Doria é fechar até março deste ano as outras seis moradias onde permanecem cerca de 250 pessoas (servidores da prefeitura não quiseram confirmar o número) remanescentes do projeto.

De mala na mão, o adeus a casa Santa Maria

Segundo Arthur Guerra, psiquiatra responsável pela coordenação do programa Redenção que substitui o DBA, e o chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Social, José Antonio de Almeida Castro, os moradores foram levados para Centros Temporários de Acolhida (CTAs), onde teriam acesso a vagas permanentes, situação atípica para os que já hospedam o local, que normalmente precisam disputar vagas para o pernoite devido ao número limitado de beliches.

“É um lugar igual a presídio”, denunciou o ex-morador do DBA, Narciso Rodriguez, de 52 anos, inconformado com o destino que o aguarda depois de tantos anos de luta para largar o vício construir uma vida digna.

Assista aqui como foi a triste despedida dos moradores

Entre as justificativas para fechamento das casas, Guerra citou em coletiva de imprensa a falta de condições estruturais dos prédios. Para ele os ambientes apresentam condições insalubres para moradia e oferecem risco aos moradores.

Prefeitura recolhe pertences de cidadãos atendidos por De Braços Abertos

Para explicar a falta de investimento nos locais, o psiquiatra afirmou que a atual prefeitura está priorizando o sistema de CTAs, locais que abrigam mais de uma centena de usuários e ex-usuários de drogas e moradores de rua.

Segundo o psiquiatra, além do problema estrutural, os moradores faziam uso de drogas nos locais.

Depois do despejo, os Jornalistas Livres estiveram no CTA da rua Prates, também na região central,  para onde foram levados alguns dos antigos moradores do Santa Maria.

“É como ir do paraíso ao inferno”, descreveu Narciso, a frente do portão do CTA III que fica trancado com cadeado e é vigiado por seguranças.   

No local a equipe recebeu reclamações de falta de água para atendimento das mínimas necessidades, além de notar o uso de álcool e outras drogas a frente do complexo, revelando a enorme hipocrisia do atual governo.

Assista aqui como foi a chegada do senhor Narciso no CTA III 

Ao serem questionados sobre como seriam a alimentação das pessoas que haviam deixado suas casas, umas das servidoras do CTA disse que uma outra funcionaria da prefeitura havia passado ali há 20 minutos para ver se tinha vaga e alimento para todos, o que comprova mais uma vez a falta de planejamento da administração Doria. “Todo dia fica gente de fora porque temos um número pequeno de marmitas”, afirmou a trabalhadora.

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