por Carolina Rubinato
Quem já sentiu no corpo e na alma a dor da falta do oxigênio, sabe entender o grito dos peixes ao sufocarem na lama contaminada da Samarco. Febre amarela, câncer, são pequenas amostras de Pachamama – a mãe natureza, da falta de respeito do capital pelo maior bem da humanidade.
A contaminação pelos 60 milhões de metros cúbicos de lama química, que correram ao longo dos 700 km entre o local da ruptura da barragem e a foz do rio Doce, no Espírito Santo, causaram danos ambientais e sociais irreparáveis para o Brasil.
No dia 5 de novembro de 2015, o planeta Terra chorou a ganância do homem, e de lá para cá, permitimos que Belo Monte se instalasse em Xingu e quase deixamos o governo liberar a Amazônia para a mineração.
Colhemos o que plantamos, e perguntas ficam. Até quando empresas estarão acima de pessoas? Até qual década ter, será mais importante que ser?
A partir de hoje, 14 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, você poderá acompanhar por meio dos Jornalistas Livres, uma expedição pelo Rio Doce que trará histórias e fatos sobre os danos sociais, ambientais, econômicos e políticos, causados por um dos maiores desastres ambientais do mundo, originados pelo homem.
Especialistas dizem que precisamos de pelo menos 100 anos para reparar os danos, mas nenhum desses anos vai recuperar a dor do povo do rio, dos pequenos agricultores, dos ex-pescadores, das famílias que foram destruídas pelas dificuldades, pela miséria, das mais de 80 espécies que desapareceram, sendo que 12 delas eram exclusivas desse habitat e podem ter sido extintas, dos índios Krenaks – os últimos povos botocudos do país, praticamente em extinção. Será que contribuímos para o fim deles?
Neste caso plantamos destruição, há de pensar que nenhum capital do mundo pode mudar o fato de que sem água e ar, não sobreviveremos. Não há como viver, dia após dia, sem entender a dinâmica, a equação da vida, a única química necessária para sobrevivência humana O² e H²O.
A Jornada pelo Rio Doce é somente uma iniciativa para mostrar o quão sofrida foi sua morte e
como pode ser o destino do nosso Rio Xingu, com sua Belo Monte,
e as tentativas de liberar a Amazônia para a mineração.
A Celestina – uma Kombi, Eduardo Marinho, Hare Brasil e Carolina Rubinato, essa é a tripulação. Celestina de 1995, que ficou por dez anos abandonada, carcomida de ferrugem e renasceu com motor de Brasília 78, teve recentemente seu motor trocado, após o falecimento do antigo em dezembro 2017; Eduardo Marinho, um filósofo das ruas e primoroso artista plástico, capaz de nos fazer pensar com suas obras, e aqui coloco como minha singela opinião, um cara incrível, profundo conhecedor dos assuntos mundanos e da alma humana; Hare Brasil, sagaz produtor e um dos idealizadores do Via Celestina (O Filme), que nos encontrará durante a jornada, e por fim eu, Carolina Rubinato, jornalista e ativista social por amor e convicção.
Durante a jornada pelas margens do Rio Doce, vamos parando por aí, pelos municípios do entorno ouvindo histórias, registrando, apresentando a arte e o conhecimento de Eduardo Marinho em exposições e palestras, o financiamento da viagem é esse, a venda dos trabalhos que Eduardo faz à mão. Nesse contexto colaborativo nossa primeira parada será em Penedo, no dia 15, para um bate papo no Não é Hostel, às 18h, seguido de exposição e música.
Se você mora entre Maringá – RJ, local de onde partiremos, e Regência – ES, local de chegada, acompanhe nosso diário de bordo e nos encontre para uma conversa, vamos adorar partilhar. O mundo só funciona no coletivo.
“Perverso – O governo? As mineradoras e seu poder econômico, apoiado por bancos, com base na ignorância e desinformação minuciosamente aplicadas e mantidas. Por um sistema social armado pra isso mesmo. Governos são peças num tabuleiro dos vampiros sociais, os mais podres de ricos. E as instituições são decorrência disso. É tempo de percepção”, Eduardo Marinho
Manifesto da Águas
“A água pertence bem mais à economia dos bens comuns e à partilha da riqueza,
do que à economia de acumulação privada e individual e da predação da riqueza do outro”, Ricardo Petrella
Esperamos vocês nessa jornada!
- Ilustração por Hélio Carlos Mello