Aos colegas jornalistas trago um ótimo exercício de como não se portar na profissão.

No dia 16 de março de 2016 o Jornal Nacional abriu o jornal com as mensagens vazadas, da então presidente Dilma, pelo então juiz federal Sérgio Moro, que violou a Constituição Federal ao interceptar e divulgar uma ligação da Presidência da República. O jornal em nenhum momento contesta a legalidade da ação de Moro ou enfatiza, como fez ontem, que interceptação e vazamento sem autorização é crime. A matéria que durou mais de 09 minutos resultou em um teatro, onde William Bonner e Renata Vasconcelos declamaram longos minutos das conversas entre Lula e Dilma, Lula e Eduardo Paes entre outros. No dia seguinte, 17 de março de 2016, mais uma longa matéria, 14 minutos sobre as mensagens vazadas da então presidente e Lula.
No jornal de ontem, o mesmo JN, os mesmos apresentadores, abriram o jornal com a manchete do The Intercept, que através de uma denúncia, divulgou conversas de Moro e procuradores da Lava-Jato. O jornal a todo momento marcou que a ação do hacker foi ilegal e deixou ser ditado pelo vídeo de defesa, divulgado pelo procurador Deltan Dallagnol. O jornal se quer teve a coragem de assumir o dever jornalístico em investigar e assumir a informação que passava e usou a expressão “o site Intercept, diz que na Constituição brasileira um juiz não pode aconselhar o ministério público, nem direcionar seu trabalho, deve apenas se manifestar nos autos dos processos, para resguardar a sua imparcialidade[…]” Ora, a Constituição do Intercept é diferente da Constituição que o JN segue? O jornal não tem autonomia para verificar isso? A matéria durou 4 minutos e outros 5 minutos foram destinados a defesa de Moro, defesa de Deltan, que inclusive foi a primeira pessoa não jornalista a ser um âncora do JN. Sim, podemos dizer que William, Renata e Deltan dividiram bancada em frases casadas, que se não tivessem sido tão ensaiadas não sairia perfeito, um verdadeiro ballet de aúdio e imagens.


A indagação aqui não é para o JN dizer que Lula é um preso político ou algo do tipo, é uma indagação sobre a atividade do jornalista e do jornalismo. Por que o pau que bate em Chico não é o mesmo pau que bate em Francisco? O jornalismo não é e nunca deve ser assessoria de imprensa e foi isso que vimos no Jornal Nacional de ontem.
Sabemos mais que nunca que a Globo é uma fiel defensora de Moro e Lava-Jato. Para o jornalista Gleen Greenwald, do The Intercept, não é diferente. Em sua conta no Twitter, na manhã desta terça-feira (11), o jornalista enfatizou a ligação entre a Rede Globo e o ministro da Justiça, Sergio Moro, ao comentar o caso que o Intercept trouxe a público.
“A Globo é sócia, agente e aliada de Moro e Lava Jato – seus porta-vozes – e não jornalistas que reportem sobre eles com alguma independência. É exatamente assim que Moro, Deltan e a força-tarefa veem a Globo. Então não esperem nada além de propaganda”.

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