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Belo Horizonte

Do nordeste para o sudeste, a poesia de cordel no Festival da Reforma Agrária em BH

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Os versos, e a rima em si, é uma característica marcante da poesia de cordel. Existem várias formas de estrofes e versos que se encaixam na produção cordelista. Constituída desde estrofes, com o mínimo de quatro versos a estrofes com mais de dez versos, a literatura de cordel tem forte presença no nordeste brasileiro. E foi na oralidade que o cordel teve seu início, sendo muitos repentistas exemplos de cordelistas.

A maioria dos poetas da literatura de cordel são nordestinos. Isso não significa a inexistência da poesia de cordel em outras regiões do país, mas sem sombra de dúvidas, os poetas cordelistas estão presentes em menor número no sudeste, no sul e no centro-oeste. A presença marcante do cordel na região nordeste explica-se desde a chegada da corte portuguesa em terras brasileiras. Sabe-se que se aportaram em Salvador e junto com os desejos de desbravar e conquistar novas terras, a literatura de cordel também desembarcou aqui, em terras tropicais. Dessa forma, já no século XVIII, encontrava-se literatura de cordel produzida pelo nosso povo brasileiro. E no século XIX já era marcante a presença do cordel com características essencialmente brasileiras.

Gustavo Miranda/Sô Fotocoletivo

 

Durante o Festival Nacional de Arte e Cultura da Reforma Agrária do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra), que aconteceu em Belo Horizonte entre os dias 20 e 24 de julho, a literatura de cordel marcou presença. Na programação oficial do evento, todos os dias ocorreram a Mostra de Poesia Luiz Beltrame, com apresentação de poemas e composições dos integrantes do MST. Beltrame é um poeta nordestino com mais de 100 anos de idade e integrante do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra.

Além da programação oficial, havia ali, dependurados, apoiados em uma pilastra do Galpão da Serraria Souza Pinto, vários livros de poesia de cordel expostos. O preço? Baratinho. Dois reais apenas por uma literatura essencialmente nordestina. “Essa é a mercadoria mais barata do Festival. E aqui, nesse local, com certeza, tem em média 500 poetas, dentre escritores e compositores participando do evento”, enfatizou o poeta que expunha suas poesias de cordel.

 

Gustavo Ferreira / Sô Fotocoletivo

Gustavo Miranda/ Sô Fotocoletivo

Alexandre Salles, o poeta solitário, vindo de Gameleira, a 98Km da capital de Pernambuco, além de dependurar os livrinhos para serem vendidos, é também o autor das poesias. “Cheguei aqui e consegui um bom preço no xerox para produzir meus livros. Agora vou expor eles durante a feira”, contou Alexandre, enquanto dobrava e grampeava seus livros de cordel. O poeta afirma que, especialmente para o Festival da Reforma Agrária, ele produziu dois cordéis inéditos “A era LULA –  Tempos de Fartura” e “A Luta Pela Terra – É o dia a dia do Agricultor”. Vale ressaltar que, as publicações de cordel, quase sempre, são feitas pelos próprios poetas de maneira artesanal, em folhas de papel A4, partidas ao meio, dobradas e grampeadas. Os materiais essenciais para produzir os livros de cordel é uma guilhotina de cortar papel, um grampeador e a disposição em dobrar cada livrinho. “Pronto! Agora já estão todos à mostra e disponíveis para a venda”, completa Alexandre.

Gustavo Ferreira / Sô Fotocoletivo

 

Gustavo Ferreira / Sô Fotocoletivo

Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo

E ainda, falando-se da presença de poetas cordelistas no Festival da Reforma Agrária do MST em BH, José Paes de Lira, o Lirinha, poeta da cidade de Arco Verde, interior de Pernambuco, e ex-vocalista da extinta banda Cordel do Fogo Encantado, foi um dos convidados do evento. Quando chamado ao palco, ele expôs que sua paixão pelo cordel deu-se após conhecer as poesias de Ariano Suassuna, importante poeta cordelista nascido em João Pessoa, na Paraíba. E ali, acostumado com o palco, o pernambucano Lirinha demonstrou sua aproximação com o MST e a felicidade em participar daquele momento. Seus versos, declamados em tom forte e rimas cantadas, foram ouvidos pela plateia, que sentada no chão, próximo ao palco, permanecia com olhares fixos e ouvidos atentos às palavras declamadas.

Gustavo Ferreira / Sô Fotocoletivo

Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo

Ai! Se sêsse!…

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dos se impariásse,
Se juntinho nós dois vivesse!
Se juntinho nós dois morasse
Se juntinho nós dois drumisse;
Se juntinho nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cum insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?…
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!!!


*Poeta: Zé da Luz

No improviso com as palavras, o cordelista tira seus versos ou, que sejam versos e estrofes pensadas e escritas, para depois ser inseridas nos livros. Temas sobre o amor, a solidão, a vida sertaneja, a cultura nordestina, as aventuras, além de ficções e fatos jornalísticos estão presentes na literatura de cordel. Em uma conversa franca e descolada com o poeta, músico e compositor Lirinha, a caráter de exemplo, ele cita como o cordel, ainda antes da televisão e do rádio, servia para levar informação à sociedade.  “Contaram-me que, quando Getúlio Vargas se suicidou, por volta  de 8h30 da manhã, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, às duas horas da tarde já tinha na feira de Campina Grande a morte de Getúlio em um folheto de cordel, escrito com as características que definem a literatura cordelista.”

Gustavo Ferreira / Sô Fotocoletivo

Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo

 

Segundo Lirinha, a literatura de cordel teve seu auge por um contexto histórico: nas décadas de 30 e 40, a poesia de cordel era o jornal do sertão nordestino e também o entretenimento.  “Naquela época, os folhetins, ou cordel, eram o que equivale hoje às novelas. Naquelas décadas, o cordel significava o encontro pós janta para a leitura de poesia ao redor do fogo”, argumenta Lirinha.

Alexandre Salles, o poeta solitário, integra o MST e participa do Festival com a sua banca de frutas, legumes e verduras, vindas diretamente de Gameleira/PE, e aproveita para expor e vender seus livros de poesia.  Alexandre conta que sua missão é não deixar morrer a poesia de cordel. E mesmo que ela não lhe dê renda para sobreviver, não a deixará. “A nossa cultura está ameaçada de morte. Nós, cordelistas, estamos entrando em extinção. E eu, que sou jovem, tenho a missão de carregar a poesia de cordel até o futuro. Nós, nordestinos, carregamos nossa cultura no DNA”, afirma o poeta solitário, de 28 anos. Alexandre vende, juntamente com sua família, às margens da BR 101, no KM159, o que produz e tira da terra: frutas, legumes e verduras. Na barraca de alimentos agroecológicos, ele aproveita para vender suas poesias.

Sobre a luta pela poesia de cordel e sua obstinação em estimular e levar a leitura às pessoas, o poeta solitário conta que “uma vez, um caminhoneiro falou que não ia comprar os livros porque ele dirigia muito e não teria tempo de ler. Mas eu insisti e ele levou. E não é que, depois quando o vi novamente, ele disse que leu meus cordéis. Teve uma paralisação na estrada por onde ele viajava, daí contou que em 30 minutos leu as poesias que tinha comprado comigo”, relata Alexandre, sobre suas experiências em vender seus livros.

Gustavo Ferreira / Sô Fotocoletivo

Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo

Salles também conta a dificuldade que existe onde mora, para digitar e imprimir seus cordéis. “Lá em Gameleira, as lan-house não querem digitar as poesias, porque não dá lucro para eles. Além do xerox também ser muito caro. Aqui consegui a 0,05 centavos, acima de 100 cópias, onde moro, é 25 centavos acima de 100”, desabafa Alexandre, que também afirma ser avesso à tecnologia. “Não tenho computador, não tenho celular, não uso internet. Sou do tempo do bilhete e da carta, sou da moda antiga”, esclarece o poeta, que também reconhece que, para ele, a tecnologia não é só coisa ruim. “Na verdade, a tecnologia oferece coisas boas e você pode usar a seu favor. Mas, no Brasil muita gente a usa de maneira errada”, completa Alexandre, que ainda depois dessa afirmação finaliza: “Sou da idade da pedra. Sou Alexandre Salles, o poeta solitário.”

O sem-terra e poeta pernambucano conta que a solidão é a grande companheira do cordelista. “O cordel surgiu para mim através da solidão e também por meio do MST. Na época eu fazia parte da base de militância Pé no Chão, em Caruaru/PE.  De lá, veio a vontade de fazer poesia, pois a solidão era minha companheira.”

Sentado à beira da cama

Sozinho me ponho a pensar

Será q existe mulher que me ama

Se existe aonde está

Da cama vou para a sala

Da janela começo a olhar

Toda essa solidão me abala

Da vontade de chorar

Da sala eu vou pro terraço

As estrelas começo a contar

Ás vezes preciso de um  abraço

E não tenho ninguém  pra me dar

Do terraço eu vou pra cozinha

Vou tentando disfarçar

São tantas mulheres sozinhas

Mas a minha aonde está?

Da cozinha entro no banheiro

Ali eu tomo meu banho

Meu coraçãoo tá solteiro

procurando alguém do seu tamanho

Onde será que está ela…..

Poeta: A. Salles, o poeta solitário

 

Hoje, a literatura de cordel segue viva, mas não tão viva assim, pois na era de computadores, internet e comércio de livros caros, o cordel pode ser que passe despercebido. Porém, os lutadores da poesia, cordelistas de coração, escrevem e produzem seus próprios livros e saem às vendas, a exemplo do Poeta solitário. Com uma postura firme na fala e o sotaque pernambucano, ele conta que gostou de Belo Horizonte. “Aqui as pessoas parecem ser muito acolhedoras. E de agora em diante eu não perco mais nenhuma feira dessa. Isso é bom demais!” Para completar sua satisfação, Salles conta que todos os exemplares do título “A era LULA –  Tempos de Fartura” foram vendidos, e àquela altura, na manhã de domingo do último dia do Festival da Reforma Agrária do MST, ele já tinha procurado pelo centro de Belo Horizonte, algum local onde pudesse fazer mais cópias para vender.

Gustavo Ferreira / Sô Fotocoletivo

Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo

 

O trânsito da poesia de cordel

Ali, bem à porta  da Serraria Souza Pinto, onde durante quatro dias aconteceu o Festival da Reforma Agrária do MST, rolava um rap. Era domingo, 24 de julho, e era dia de Duelo de MC’s, evento realizado pelo coletivo Família de Rua, que promove batalhas de freestyle entre os mc’s que animam se inscrever e competir, em que vencem as melhores rimas.

Gustavo Ferreira / Sô Fotocoletivo

Gustavo Miranda / Sô Fotocoletivo

 

Batalha essa que é feita de palavras. Palavras essas que compõem versos e formam poemas. O mestre de cerimônia, o rapper Douglas Din, com o boné aba reta do MST na cabeça, pede licença à geral do rap, e disse que ali estava para apresentar um poeta. Nesse momento, rolava um break, que foi interrompido para prestigiarem a poesia. Especificamente a poesia de cordel.

“Peço licença para apresentar um cara referência na poesia pra mim. E o rap é composto de poesia. Com vocês, Lirinha, vocalista  da banda Cordel do Fogo Encantado”, bradou ao microfone Douglas Din. Daí em diante, no palco do rap, no Viaduto Santa Tereza, o que rolou foi poesia de cordel e todos atônitos, prestando atenção às palavras que Lirinha entoava para a crew do hip hop do Duelo de MC’s.

 

Gustavo Miranda/Sô Fotocoletivo

 

À frente de Lirinha, centenas de pessoas o fitavam ao final dos versos, gritos de wow e assovios de exaltação devido às poesias declamadas, eram entoados pela galera do Duelo.

Depois da inserção poética de cordel no palco do rap, o poeta solitário, Alexandre Salles,  ao encontrar com o repórter aqui, disse que já estava de partida. Dali a pouco o ônibus da galera do MST de Pernambuco já seguiria rumo ao nordeste. Enquanto isso, o poeta solitário sempre frisava, ao ver caixotes, garrafas e embalagens sendo descartadas, que aquilo tudo, em Gameleira/PE, viraria arte. É assim a cabeça de quem pensa e vive poesia, sempre quer construir algo e transformar seu entorno. Salve salve a poesia de cordel.

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Belo Horizonte

A ciranda das mulheres que percorre o Brasil em podcast

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Texto: Lucas Bois
Revisão: Ágatha Azevedo

Escutar notícias, ouvir uma narração e ser levado por uma trilha sonora… O que antes poderia ser um programa de rádio, hoje talvez seja um episódio de podcast. Esse fenômeno que invadiu a internet há poucos anos, continua em constante crescimento no número de ouvintes e se expande também na variedade de assuntos oferecidos. Atualmente, grande parte dos temas de podcasts estão relacionados à pandemia da COVID-19 ou ao contexto sócio-político decorrente do bom ou mau enfrentamento dos governos a essa crise mundial sanitária. No nosso país, a pandemia escancara as desigualdades ao evidenciar os problemas sociais que separam as classes econômicas da população.

Diante desse contexto, as jornalistas Raquel Baster e Joana Suarez decidiram mergulhar no mundo do podcast para contar histórias de mulheres brasileiras que enfrentam a pandemia, além dos desafios diários vividos cotidianamente. “A gente tem certeza que as mulheres sempre tem as melhores soluções. Ao reunir essas histórias, trazemos muitas ideias e inspirações, formando uma grande ciranda. Daí veio o nome do podcast: Cirandeiras“, conta Joana.

Para conhecer melhor esse espaço de webrádio e feminismo, os Jornalistas Livres fizeram um bate-papo com as jornalistas que contam sobre o processo de produção, a pandemia e a relação desse projeto com a democratização da comunicação.

Como começou

Raquel Baster e Joana Suarez já dividiam afinidades pelas pautas feministas e bastou apenas uma semana de quarentena para que colocassem o projeto do podcast em ação. Joana, que vem do jornalismo de redação, conta que já vinha se aproximando da rede de podcasts, refletindo sobre a acessibilidade do áudio e seu poder de democratizar: “A maioria dos textos que eu faço são textos enormes e tenho a certeza que muita gente não lê, principalmente as mulheres sobre quem eu falo. O áudio me atraía muito porque leva as pessoas a imaginarem, criar cenários e ir para outra dimensão. Agora na pandemia onde as pessoas estão confinadas, o podcast virou uma companhia, uma forma de sair de casa.”

Já Raquel trouxe ao universo do podcast, sua experiência com a comunicação popular: “Eu sempre trabalhei muito com rádio comunitária e me interesso por essa forma de comunicação que está mais próxima das pessoas. Por mais que ainda seja um novo tipo de mídia, o podcast traz as características do rádio, como as histórias contadas através de uma narração.”

Como é produzido

Muitas vezes, quem escuta um podcast não imagina o que pode estar por trás de sua produção. Segundo as jornalistas, a primeira coisa a fazer é pensar no tema e escolher as mulheres para as entrevistas, por elas chamadas de “cirandeiras”.

“Geralmente o episódio tem a ver com uma pauta que já trabalhamos anteriormente e assim, procuramos mulheres que já tivemos contato. Por coincidência, toda vez que decidimos uma pauta, acontece algo nacionalmente que se conecta ao programa.” Joana lembra que o episódio recente Pandemia na internet sobre segurança digital foi ao ar na mesma semana em que o Senado brasileiro discutia o projeto de lei que combate fake news, enquanto outra discussão acontecia nas redes sobre a exposição de dados pessoais dos usuários do aplicativo FaceApp.

Após o primeiro contato, elas fazem uma pesquisa sobre a cirandeira, enviam as perguntas e dão algumas dicas à entrevistada de como fazer uma boa gravação utilizando o próprio WhatsApp. Como essa orientação, muitas vezes, não é suficiente, nem sempre os áudios tem a melhor qualidade, “mas na pandemia tá tudo justificado”, comenta Joana.

Com as respostas da entrevistada, o roteiro chega a ter mais de 10 páginas e leva de 20 a 30 horas para sua elaboração. A cada episódio, uma delas toma à frente a função de escrever o roteiro, incluindo referências pessoais, e em seguida, a parceira acrescenta a sua parte. “A gente percebe que às vezes um tema muito comum para uma, pode ser muito complexo para a outra. A gente vai se complementando para facilitar o entendimento de quem escuta”, conta Raquel.

Depois do roteiro, vem a hora da gravação que exige algumas preparações, como escolher um horário silencioso do dia para gravar, desligar a geladeira e armar um pequeno estúdio caseiro com edredons. “O legal do podcast é que é uma mídia barata. Basta ter um celular, internet e gambiarras”, conta Joana dando risadas.

Retorno dos ouvintes

As jornalistas contam que 75% das pessoas que ouvem o podcast são mulheres e pertencem ao grupo social que elas convivem. Além do desafio de expandir a rede de ouvintes, elas relatam que ainda é uma grande dificuldade fazer com que o podcast retorne às pessoas entrevistadas e a outras mulheres que não estão acostumadas a esse tipo de mídia.

Raquel conta que a cirandeira Lia de Itamaracá, entrevistada no episódio Pandemia na Ilha, só pôde escutar o podcast após seu produtor viajar até a ilha onde mora para mostrá-la pessoalmente em seu celular. Lia é uma das mulheres brasileiras que ainda não fazem parte dessa grande rede de internet em 2020.

Um infográfico produzido pelo site iinterativa utilizando as fontes do IBOPE, Spotify Newsroom e ABPod, mostra que cerca de 45% do público dos podcasts é formado por homens, do sudeste do país, que pertencem às classes A e B e tem entre 16 e 24 anos. Segundo a pesquisa feita em 2019, 32% dos entrevistados nem sabiam o que é um podcast.

Se o podcast ainda é limitado a uma pequena parcela da população, o WhatsApp talvez possa ser um lugar mais democrático para a sua difusão. As jornalistas contam que decidiram fazer os episódios em formatos pequenos de até 30 minutos para conseguir enviar pelo aplicativo de mensagens e garantir que o podcast alcance o maior número de pessoas.

Democratização da comunicação

Para a jornalista Raquel Baster, é inevitável discutir o alcance dos podcasts sem pensar na democratização dos meios de comunicação no Brasil. Apesar do surgimento das novas mídias, grande parte das informações veiculadas é controlada por um conglomerado de grandes empresários que atendem os interesses privados dessa própria elite.

Segundo ela, “não adianta inventar a roda do podcast, sem falar da estrutura da comunicação no Brasil. Para tornar (a comunicação) mais acessível, precisamos discutir a concentração midiática. A internet ainda não é acessível para grande parte da população brasileira. Precisamos que o maior número de pessoas tenham acesso, mas que possam também alcançar os meios de produção.”

No episódio sobre trabalhadoras rurais, a entrevistada Verônica Santana fala sobre a dificuldade das agricultoras em conseguir se comunicar durante a pandemia, visto que o trabalho sempre foi presencial. “A gente tem muita dificuldade, tanto no domínio dessas ferramentas, como no desafio de que a internet não funciona na maioria dos nossos territórios rurais. No campo, a internet ainda não é uma realidade.”, diz Verônica.

Segundo a pesquisa TIC Domicílios, apenas 50% da população rural tem acesso a internet e esses números podem diminuir ainda mais de acordo com o recorte social e econômico.

Por outro lado, Joana revela seu otimismo no poder das novas mídias: “Acho que o podcast vai se democratizar como aconteceu com o Instagram. Quando a gente poderia imaginar ter acesso a sotaques das pessoas do sertão do Cariri?” Joana se refere ao podcast BUDEJO, de Juazeiro do Norte, e cita ainda o Radionovela produzido por alunos da UFPE em Caruaru, no agreste pernambucano, que narra em formato de radionovela O Alto da Compadecida em Tempos de Pandemia, adaptação da obra de Ariano Suassuna.

Para onde vai essa Ciranda

O podcast Cirandeiras teve início durante a pandemia, portanto grande parte dos seus episódios tem esse tema como contexto. No entanto, as jornalistas Raquel Baster e Joana Suarez pretendem continuar os episódios futuramente, indo a diferentes locais do Brasil para entrevistar de perto as mulheres que conduzem “as cirandas”.

Os episódios das Cirandeiras estão disponíveis nas plataformas mais conhecidas de podcast e tem a cada quarta-feira um novo episódio. Também estão presentes no Instagram, onde ocorrem as lives com as outras mulheres dentro das temáticas dos programas.

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Belo Horizonte

Salve sua força, Marlene Silva! Obrigada.

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Não há em Belo Horizonte, gente negra de mais de 40 anos, envolvida com o Movimento Negro ou com a cultura negra da dança que desconheça o significado do nome Marlene Silva para a cena da dança afro local e brasileira. E que alegria, senhora, saber que as devidas homenagens lhe foram prestadas em vida.

Artistas negros da dança na cidade, na casa dos 40 anos ou mais, se não foram formados por Marlene Silva, passaram por suas mãos, receberam sua orientação, seu carinho e sua benção. Os mais jovens também, pois um currículo de dança rico e respeitável precisava abrigar os ensinamentos da mestra maior da dança afro.

Marlene Silva, seu nome e seu legado povoam meu imaginário há 35 anos. Discípulos seus são amigos queridos e sempre me contaram de seu alto nível de exigência, compensado pelo sorriso largo.

Pedimos desculpas, querida Marlene Silva, mas nossa responsabilidade uns com os outros nesse tempo de pandemia não permitirá que lhe prestemos a última homenagem com um gurufim à sua altura, repleto de história contada e cantada, uma cachacinha e comida de angu com rabada, pra dar sustança aos que comporiam seu cortejo fúnebre pela Afonso Pena, Praça Sete, Amazonas. Liderado por djembês, congas, atabaques, agogôs, seus alunos e alunas de todas as gerações, em lindas roupas coloridas, à frente de um corpo dançante que puxaria o caminhão do corpo de bombeiros que transportaria seu corpo para o descanso final.

Aos transeuntes que perguntassem que autoridade era homenageada naquele cortejo, nós, suas admiradoras e as amigas responderíamos felizes e agradecidas: É Marlene Silva, Rainha da Dança Afro em Minas Gerais.

  • EM
    https://jornalistaslivres.org/cadeira-de-miss-davis/

DO BLOG da autora:
https://medium.com/@cidinhadasilva/salve-sua-for%C3%A7a-marlene-silva-obrigada-5c2ff1fcf967

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Belo Horizonte

Shoppings, bares e restaurantes fecham a partir de hoje em BH

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A partir desta sexta-feira, 20, os bares, restaurantes, shoppings e cinemas de Belo Horizonte estarão com o alvará de funcionamento suspensos temporariamente, para evitar aglomeração de pessoas e o avanço da Covid-19. A medida foi anunciada pelo prefeito Alexandre Kalil (PSD) por meio de decreto e vale por tempo indeterminado, contrariando o governador Romeu Zema (do Novo).

A medida vale para:

– Casas de shows e espetáculos de qualquer natureza;

– Boates, danceterias, salões de dança;

– Casas de festas e eventos;

– Feiras, exposições, congressos e seminários;

– Shoppings centers, centros de comércio e galerias de lojas;

– Cinemas e teatros;

– Clubes de serviço e de lazer;

– Academia, centro de ginástica e estabelecimentos de condicionamento físico;

– Clínicas de estética e salões de beleza;

– Parques de diversão e parques temáticos;

– Bares, restaurantes e lanchonetes.

O decreto não afeta o funcionamento de supermercados, farmácias, laboratórios, clínicas, hospitais e demais serviços de saúde em funcionamento no interior de suas instalações. Permite também a atividade de empresas que trabalhem com entrega de alimentos ou ofereçam retirada de produtos no local, embalados e para consumo fora do estabelecimento. O funcionamento de bares, restaurantes, lanchonetes e estabelecimentos congêneres no interior de hotéis, pousadas e similares, também poderão ser mantidos para atendimento exclusivo aos hóspedes.

Nesta quinta-feira, 19, a capital mineira já começava a parar. Com a suspensão das aulas em todos os níveis de ensino, era pequeno o movimento de carros nas ruas e avenidas, muitas ruas estavam desertas, inúmeros estabelecimentos comerciais fechados e restaurantes vazios. Em alguns bairros, como o Santa Efigênia, de classe média, destacava-se apenas o som da kombi da pamonha a anunciar o “delicioso mingau de milho verde” e outros derivados do milho.

 

Nação Conservadora se lasca

O decreto assinado pelo prefeito Alexandre Kalil acabou livrando Belo Horizonte de sediar o Iº Congresso da Nação Conservadora neste fim de semana. O evento teria como palestrantes o mineiro Salim Mattar, fundador da locadora de carros Localiza, o empresário e jornalista Allan dos Santos, do canal Terça Livre; deputado estadual pelo PSL de SP, Gil Diniz, o Carteiro Reaça; a também bolsonarista deputada estadual Ana Caroline FamFampagnolo, do PSL/SC, entre outros. Estes mais aqueles que se sujeitariam a pagar ingressos entre R$ 82,50 a R$ 165,00 teriam direito, como aperitivo, a assistir uma vídeo conferência do autoproclamado filósofo e astrólogo Olavo de Carvalho, o guru do Bozo.  

Bate-boca

Segundo o portal BHAZ, “o prefeito Kalil subiu o tom contra o governador, na tarde desta quarta, 18, após Zema anunciar, em coletiva, as medidas para conter o avanço da doença no Estado. O motivo da irritação seria o recuo em medidas já alinhadas entre o Governo e a prefeitura. ‘O Governador me ligou. Já tínhamos combinado… Uma pena. Preocupado com votos e não com vidas’, escreveu Kalil no Twitter após o fim da coletiva de Zema”.

Um dos principais motivos para a irritação de Kalil seria o fechamento de bares e restaurantes em Belo Horizonte, estudado pela PBH e pelo Governo, para reduzir a aglomeração de pessoas. A possível adoção da medida causou receio em empresários, que temem pelo fechamento de empresas,conforme ainda o BHAZ.

Íntegra do decreto

DECRETO Nº 17.304, DE 18 DE MARÇO DE 2020.

Determina a suspensão temporária dos Alvarás de Localização e Funcionamento e autorizações emitidos para realização de atividades com potencial de aglomeração de pessoas para enfrentamento da Situação de Emergência Pública causada pelo agente Coronavírus – COVID-19.

Art. 1º – A partir do dia 20 de março de 2020, por tempo indeterminado, ficam suspensos os Alvarás de Localização e Funcionamento – ALFs – emitidos para realização de atividades com potencial de aglomeração de pessoas, em razão da Situação de Emergência em Saúde Pública declarada por meio do Decreto nº 17.297, de 17 de março de 2020, especialmente para:

I – casas de shows e espetáculos de qualquer natureza;

II – boates, danceterias, salões de dança;

III – casas de festas e eventos;

IV – feiras, exposições, congressos e seminários;

V – shoppings centers, centros de comércio e galerias de lojas;

VI – cinemas e teatros;

VII – clubes de serviço e de lazer;

VIII – academia, centro de ginástica e estabelecimentos de condicionamento físico;

IX – clínicas de estética e salões de beleza;

X – parques de diversão e parques temáticos;

XI – bares, restaurantes e lanchonetes.

  • 1º – Caso tenham estrutura e logística adequadas, os estabelecimentos de que trata este artigo poderão efetuar entrega em domicílio e disponibilizar a retirada no local de alimentos prontos e embalados para consumo fora do estabelecimento, desde que adotadas as medidas estabelecidas pelas autoridades de saúde de prevenção ao contágio e contenção da propagação de infecção viral relativa ao Coronavírus – COVID-19.
  • 2º – A suspensão prevista neste artigo não se aplica aos supermercados, farmácias, laboratórios, clínicas, hospitais e demais serviços de saúde em funcionamento no interior de shoppings centers, centros de comércio e galerias de lojas, desde que adotadas as medidas estabelecidas pelas autoridades de saúde de prevenção ao contágio e contenção da propagação de infecção viral relativa ao COVID-19.
  • 3º – O funcionamento de bares, restaurantes, lanchonetes e estabelecimentos congêneres no interior de hotéis, pousadas e similares, poderá ser mantido para atendimento exclusivo aos hóspedes, desde que adotadas as medidas estabelecidas pelas autoridades de saúde de prevenção ao contágio e contenção da propagação de infecção viral relativa ao COVID-19.
  • 4º – As atividades administrativas e os serviços essenciais de manutenção de equipamentos, dependências e infraestruturas referentes aos estabelecimentos cujas atividades estão incluídas nos incisos do caput poderão ser realizadas com adoção de escala mínima de pessoas e, quando possível, preferencialmente por meio virtual.

Art. 2º – A partir do dia 20 de março de 2020, por tempo indeterminado, todas as demais atividades com potencial de aglomeração de pessoas, não incluídas nas restrições do art. 1º, deverão funcionar com medidas de restrição e controle de público e clientes, bem como adoção das demais medidas estabelecidas pelas autoridades de saúde de prevenção ao contágio e contenção da propagação de infecção viral relativa ao COVID-19.

Art. 3º – Ficam suspensas enquanto perdurar a Situação de Emergência em Saúde Pública:

I – autorizações para eventos em propriedades e logradouros públicos;

II – autorizações de feiras em propriedade;

III – autorizações para atividades de circos e parques de diversões.

Art. 4º – A fiscalização quanto ao cumprimento das medidas determinadas neste decreto ficará a cargo dos órgãos de segurança pública, com apoio da Subsecretaria de Fiscalização, caso necessário.

Art. 5º – Este decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Belo Horizonte, 18 de março de 2020.

Alexandre Kalil

Prefeito de Belo Horizonte

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