Diário do Bolso: “eu sou que nem o homem invisível: ninguém vê o que eu faço”

José Roberto Torero*

Diário, eu sou que nem o homem invisível: ninguém vê o que eu faço, só enxergam a minha sombra.

 

Por exemplo, esses dias eu disseque não existia fome no Brasil, chamei os governadores nordestinos de “paraíbas”, falei que não fizeram churrasquinho da Miriam Leitão (churrasquinho/Leitão, entendeu, Diário?), disse que os satélites do Inpe mentem sobre o desmatamento na Amazônia, prometi fazer uma censura nos filmes brasileiros e assumi que quero dar o filé mignon pro Dudu.

Mas isso tudo foi só falação, sombra. O que vale mesmo é o que eu assino e não sai nas manchetes.

 

Por exemplo, eu criei um grupo só de três pessoas, todas do governo federal, e mandei que fizessem um projeto para “simplificação do regime de outorga” da lavra garimpeira. Ou seja: já, já vai ser moleza ter autorização para garimpar.

Outra coisa importante de verdade:foi feita uma portaria que diz queos reitores das universidades federais não podem mais nomear os pró-reitores. Agora quem faz isso é a Casa Civil. Ou seja, esquerdocomunopetistas não vão mais ter vez. Vamos acabar a balbúrdia, kkkk!

 

Uma terceira coisa importante que eu fiz com meu poder de invisibilidade: agora as Juntas Comerciais não são mais obrigadas a comunicar ao COAF quando detectam indícios de crimes. Ou seja, vamos acabar com esse negócio que enche o saco de tanta gente boa, tipo o Flavinho.

Uma última coisa: o pessoal ficou defendendo o filme da Bruna Surfistinha, mas o importante mesmo é que,antigamente, no Conselho Superior do Cinema, o governo e os representantes da indústria do audiovisual tinham nove membros cada. Agora a gente tem 7 e eles, 5. Ou seja, nós é que vamos mandar naquela porcaria.

 

Diário, o pessoal só vê a minha sombra, e aí eu faço o que eu quero. Sou mesmo o homem invisível. Pena que não estou mais na idade de entrar no banheiro das meninas, kkkk!

@diariodobolso

*José Roberto Torero é autor de livros, como “O Chalaça”, vencedor do Prêmio Jabuti de 1995. Além disso, escreveu roteiros para cinema e tevê, como em Retrato Falado para Rede Globo do Brasil. Também foi colunista de Esportes da Folha de S. Paulo entre 1998 e 2012.

COMENTÁRIOS

Uma resposta

  1. Todos nós independentemente da classe social de partidos temos censo crítico, difícil é reconhecer as virtudes alheias. Pois sendo assim para vários jornalões ficam fácil criticar, mostrem as obras no norte, os povos artesianos no Nordeste e assim vamos acabar de vez com essa desgraça de esquerda maldita.é fácil fazer isso falando a verdade antes que o povo peça para ser na força.

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