É sempre assim, chegam uns homens de longe dos roçados, gente endinheirada e de outros saberes, e vai logo grilando, especulando grandes extensões, dominando, comprando títulos. Aquele que ao chão se deu, plantou pés de frutas para os filhos, ergueu a casa para família e fez o galinheiro, tem que partir.
Terra coletiva é conceito de difícil entendimento no Ocidente, um acidente na dinâmica territorial do capital agrícola e sua expansão. Povos indígenas, quilombolas e populações ribeirinhas ou caiçaras caracterizam a pedra no meio do caminho para ações públicas e privadas voltadas para a agroindústria, com vista à exportação da commodity.
Querem desbravar e produzir mais. Chamam de geração de riquezas tais atitudes, royalty é nome que dão para ovo de serpente.
Mundo indecente. Logo cai floresta pelo chão, foge macuco, foge macaco, foge papagaio.
Os homens tem fome de terra e as máquinas a devoram. Novos agentes se instalam no território, com sua produção mecanizada, sem interesse em participar da vida social daqueles que da terra se constituem. Metem pesticidas, agrotóxicos, fertilizantes.
O monstro que invade os campos zomba dos povos diferenciados, quer o esbulho. Zomba do aquecimento do planeta, desmente cientistas, jornalistas, velhas benzedeiras. Toda poesia é delírio para o monstro que tem fome e pressa. Propriedade particular é sua prece e direitos humanos e leis ambientais lhe provocam urticária. Multas lhe enfurece.
Adeus Amazônia, cerrado, caatinga ou restinga. Adeus olho d’água, formigueiro, planta dormideira.
O ambientalista Paulo Nogueira Neto dizia que as abelhas mereciam todo nosso respeito e que nenhuma abundância de recursos resiste ao impacto de uma exploração sem retorno. Mas abelhas, beija flores e borboletas não importam mais.
Tudo é agro, tudo é monstro.