DA FOME DE TERRA

É sempre assim, chegam uns homens de longe dos roçados, gente endinheirada e de outros saberes, e vai logo grilando, especulando grandes extensões, dominando, comprando títulos. Aquele que ao chão se deu, plantou pés de frutas para os filhos, ergueu a casa para família e fez o galinheiro, tem que partir.

Fotolitos do livro Xingu, de Maureen Bisilliat

Terra coletiva é conceito de difícil entendimento no Ocidente, um acidente na dinâmica territorial do capital agrícola e sua expansão. Povos indígenas, quilombolas e populações ribeirinhas ou caiçaras caracterizam a pedra no meio do caminho para ações públicas e privadas voltadas para a agroindústria, com vista à exportação da commodity.

 

Querem desbravar e produzir mais. Chamam de geração de riquezas tais atitudes, royalty é nome que dão para ovo de serpente.

Mundo indecente. Logo cai floresta pelo chão, foge macuco, foge macaco, foge papagaio.

Os homens tem fome de terra e as máquinas a devoram. Novos agentes se instalam no território, com sua produção mecanizada, sem interesse em participar da vida social daqueles que da terra se constituem. Metem pesticidas, agrotóxicos, fertilizantes.

imagem por Adenor Gondim©

O monstro que invade os campos zomba dos povos diferenciados, quer o esbulho. Zomba do aquecimento do planeta, desmente cientistas, jornalistas, velhas benzedeiras. Toda poesia é delírio para o monstro que tem fome e pressa. Propriedade particular é sua prece e direitos humanos e leis ambientais lhe provocam urticária. Multas lhe enfurece.

Adeus Amazônia, cerrado, caatinga ou restinga. Adeus olho d’água, formigueiro, planta dormideira. 

Rio Xingu, por Helio Carlos Mello©

O ambientalista Paulo Nogueira Neto dizia que as abelhas mereciam todo nosso respeito e que nenhuma abundância de recursos resiste ao impacto de uma exploração sem retorno. Mas abelhas, beija flores e borboletas não importam mais. 

Tudo é agro, tudo é monstro.

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