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Democracia

Crise Democrática e Mudança Climática: um caminho para a solução

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Por Renata Callaça Gadioli Dos Santos e Laís Vitória Cunha de Aguiar

 

‘Qual a solução para a crise democrática? Estamos agora elegendo democraticamente ditadores. É uma situação bizarra. Uma democracia real requer a participação de cidadãos, e os cidadãos devem ser capazes de entender as coisas. Os especialistas devem ser capazes de conseguir discutir com a população.’

Na tarde do dia 14 de dezembro, fomos ao hotel do cientista político Frank Fischer para entrevistá-lo. Este é o segundo ano consecutivo que o professor e cientista político, Frank Fischer, visita Brasília para participar como formador do Curso de Verão Internacional de Políticas Públicas (International Summer School on Public Policy). É a quarta edição do curso realizado pela EAP em parceria com Associação Internacional de Políticas Públicas (IPPA). Além do curso, o professor veio lançar seu recente livro em evento promovido pelo Curso de Gestão de Políticas Pùblicas da Universidade de Brasília, o qual trata do impacto da mudança climática na governança democrática e participativa. Tem como título Crise Climática e Prospecto Democrático: Governança Participativa em Comunidades Sustentáveis (Climate Crisis and the Democratic Prospect: Participatory Governance in Sustainable Communities).

Professor Frank Fischer é americano radicado na Alemanha, onde ministra aulas no Departamento de Ciências Políticas e Sociais, da Freie Universität Berlin. É o criador da teoria Virada Argumentativa, teoria de análise de políticas públicas que observa os dados a partir dos valores contidos nos argumentos emitidos pelos atores elaboradores das políticas públicas.

 

Estamos vivendo em um tempo no qual notícias e fatos falsos são levados igualmente a sério: algumas pessoas discutem se a Terra é redonda ou plana. Ou se o aquecimento global realmente existe. Muitos desses fatos são, porém, falsos. Os fatos falsos são também chamados corriqueiramente pela sua expressão em inglês: fake news.

Donald Trump e Steve Bannon
Foto: Mandel Ngan-AFP/Getty Images

Frank Fischer considera que as notícias falsas, que conduzem a política e as relações em toda parte do mundo, podem ser consideradas um perigoso e grande desafio para as ciências políticas e sociais, pois elas têm como objetivo criar fatos e verdades sórdidas. São como armadilhas criadas para nos negarmos. Entretanto, ele não acredita que nossa preocupação deva estar exatamente nos fatos falsos, mas em seus significados, o que eles alimentam e o que eles querem representar. A questão central está nas diferentes concepções de ver o mundo e os fatos falsos ajudam a nos dividir. Essas notícias fortalecem a divisão da população em dois grupos, esquerda e direita, que não conversam entre si e que não acreditam na possibilidade de o grupo oposto falar alguma verdade ou algo confiável. Foi o que aconteceu nas eleições dos Estados Unidos, quando Trump e Steve Bannon emergiram e fizeram a população acreditar que eles poderiam ser a voz que representava o desejo de um grupo.

 

FK: E você gostaria de me perguntar sobre o livro?

 

JL: Sim, mas antes gostaria de discutir sobre alguns pontos interessantes apontados pelo senhor, como por exemplo a questão do cidadão comum querer se sentir melhor representado. Acredito que alguns políticos da atualidade fizeram isso.

 

F.K.: Sim, políticos como Trump, e agora as pessoas estão começando a se arrepender, dizer: sinto muito por ter votado nele. Na minha família temos um grupo de primos que se reúne em um jantar uma vez por ano, mas temos que ter muito cuidado sobre o que falamos, porque começamos falando sobre os velhos tempos e acabamos falando sobre política e gritando uns com os outros, como se estivéssemos falando a partir do ponto de vista de nossos grupos políticos, não mais como família. Eu tenho uma prima que vive no Texas, e é muito conservadora, mas seu marido não. Eu não sei o porquê, mas eles foram ao Clube de Campo jantar, e lá estavam todo aquele grupo conservador, de direita. Eles defenderam tudo o que Trump fez, cada pequena coisa, foi horrível, e então o marido dela disse, como se para si mesmo, o cara é burro. Mas todos na mesa se viraram: o quê?! O cara é burro. Simples assim. Mas como, por quê? Eles questionaram, mas ele não quis ir a fundo e simplesmente fez um gesto para deixar de lado a questão. Enfim, quando vem um político e aponta tudo o que está faltando (trabalho, dinheiro), assim como os grupos ‘responsáveis’ pelos seus problemas (imigrantes), gerando um sentimento nacionalista, ele conquista a população sem esperança, eles acham que encontraram ‘o cara’ que irá resolver seus problemas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

As questões centrais, porém, continuam sem o devido conhecimento. As temáticas da pós-verdade ainda são desconhecidas e estamos rodando em círculos na superfície. Precisamos reconhecer que as pessoas realmente sofrem e que muitas questões precisam ser levadas à sério. As pessoas realmente estão frustradas e raivosas. Podemos encontrar esse mesmo contexto na Inglaterra, com as questões relativas ao Brexit e também na Alemanha. Alguns acreditam que o livre comércio oportuniza o “modo de vida americano”. Uma parte do problema é que a pós-verdade tenta convencer os pobres de que eles podem ter privilégios se o livre comércio voltar. Não se mostram os problemas.

Os argumentos entre tribos diferentes gera o que Foucault chama de “regime da verdade”. Existem os fatos, mas eles pertencem a um sistema da verdade total. Alguns possuem certos fatos, que suportam um novo sistema neoliberal e não são rejeitados. Os fatos chamados de alternativos conduzem na direção que outras pessoas desejam ir. Qual fato é mais importante? A mídia e alguns cientistas sociais erram ao pensar que é preciso produzir mais fatos para contrapor à outros.

A população já está dividida e não é com mais e novos fatos que um grupo vai convencer o outro a mudar de opinião. Não há nada que altere o pensamento dos grupos, pois para eles não importa. A maior e mais importante questão é como que esses dois grupos, que não confiam um no outro, podem ter a confiança reconstruída. Como eles podem se unir novamente? Ninguém sabe quanto tempo esse distanciamento vai perdurar, pois a cultura política está fraturada. Essa junção dos grupos não será fácil e pode levar gerações. Talvez possamos começar conversando com essas pessoas, perguntando como é a vida delas, o que elas pensam, se é possível trocarmos pontos de vista tentando nos compreender melhor.

Somente depois os fatos podem ser inseridos no diálogo. Os liberais nunca se preocuparam em falar com essas pessoas, pois consideravam que elas não tinham diplomas acadêmicos. Esse tipo de pensamento dificulta o diálogo e podemos encontrar, até mesmo entre os liberais, neonazistas que exploram a situação para benefício próprio. Temos que saber para onde caminha a sociedade, onde achamos que queremos ir. Se os grupos querem ir para caminhos diferentes e até mesmo opostos é preciso encontrar um consenso.

Um dos esforços para construirmos políticas públicas que solucionem problemas nem sempre identificados pela comunidade, mas existentes, é realizado pelo movimento alternativo do campo das ciências sociais e das políticas públicas. Um movimento que busca interpretar as políticas estipuladas, as ações dos atores, as deliberações. Esse grupo busca promover a Análise Interpretativa de Políticas Públicas. Do interesse do grupo emergiu a Rede de Análises Interpretativas de Políticas Públicas (IPA). Este grupo vem organizando, desde 2006, conferências e cursos de formação que questionam os modelos de análise de políticas públicas existentes até então.

Analisam os valores das pessoas envolvidas na construção de políticas públicas, assim como os valores e as causas dos fatos que tem provocado no mundo diversas crises, perda de direitos civis e que fazem emergir diversos movimentos ambientais e movimento de mulheres dando a parecer que a sociedade está desmoronando. Os estudos mostram que somente pesquisas empíricas não podem mostrar as raízes dos problemas, elas não podem ser vistas. Os pesquisadores de metodologias empíricas só levam em consideração o que eles podem ver e muito do que se precisa entender deve ser escutado, está subentendido, que são os valores, como também as reais causas. A perspectiva interpretativa é um esforço para trazer a tona as pressuposições que existem por trás dos fatos, as suposições que estão escondidas. Trazê-las à tona para serem examinadas e discutidas. Frank Fischer complementa que a sociedade é construída por meio de significados sociais. Neste aspecto, mudança social envolve as mudanças de significados. Como exemplo, Frank Fischer cita as relações no passado entre brancos e negros, quando os brancos se sentiam no direito de dar ordens aos negros e estes os obedeciam. Estava definido nas relações sociais da época a possibilidade de um mandar e outro obedecer. Hoje não se pode mais dirigir a uma pessoa negra dessa forma. As próprias pessoas negras conseguiram alterar a forma como brancos deveriam se relacionar com elas. Elas mudaram os termos da relação. Os movimentos sociais lutam para mudar a definição das coisas. O movimento ambiental luta para mostrar que a natureza não é apenas um recurso a ser usado para nos fazer feliz e mesmo assim estamos nos matando.

Conectada com a primeira temática, das notícias falsas, o ponto central é entender a verdade e conhecer fatos alternativos. O problema para o mainstream de políticas públicas é que, uma vez que você entra no mundo dos significados sociais, você não pode construir uma ciência empírica, rigorosa e preditiva. Assim, a análise interpretativa busca fazer uma ciência social reflexiva. Nós nos juntamos para nos entendermos, compreendermos as suposições que cada grupo tem de si mesmos, do mundo e as deles sobre nós. Suposições sociais que cada um constrói, cotidianamente, em parte porque deseja que algo aconteça, em parte por interesses pessoais. Essas suposições são expressadas pelos argumentos que pessoas e grupos emitem ao interpretar os significados sociais.

Esses argumentos são construídos individualmente e coletivamente. Sim, a democracia está em crise. Na América Latina, na Europa, nos Estados Unidos da América. E aqui voltamos para o início do texto: qual a solução para a crise democrática?

Uma democracia real requer a participação dos cidadãos, que devem ser capazes de entender os fatos, e os especialistas devem ser capazes de entrar em um tipo de discussão com os cidadãos. Assim o grupo de pesquisa de Frank Fisher desenvolveu o que é chamado Análise Interpretativa de Políticas Públicas (Deliberative Policy Analysis), que é uma forma de estudar os fatos, mas trazendo em conjunto todas as questões. Um exemplo: eu sento com os cidadãos para discutir os fatos, o que vocês acham? Poderia significar isso, isso e isso. Como nós queremos pensar sobre isso? Como vamos nos orientar em relação aos fatos?

Essa é uma parte importante, mas nós também desenvolvemos uma teoria para governança, que nós chamamos de Governança Participativa (Participatory Governance), que é uma forma muito mais radical de ação-tenha cuidado com a palavra radical, o entrevistado nos pediu. Ele foi para Índia estudar um projeto no qual o governo pede às pessoas para que elaborem planos sociais. Foi ao Nepal e visitou um local no qual a comunidade que vive das florestas criou uma rede ligada a um tipo de hierarquia que vai até o governo federal, e debate com o Ministério das Florestas e Conservação do Solo (Ministry of Forests and Soil Conservation) a situação das florestas. O ministério vê tudo como ciência, considera que tem maior conhecimento do que aqueles aos quais escutam, nos relatou o professor, que disse veementemente: mas aquelas pessoas sabem do que estão falando, elas vivem nas florestas! Esse projeto submerge como produto da luta para trazer a democracia no Nepal, primeiro eles tiveram o rei e depois o governo maoísta. Quando ele esteve nas florestas encontrei um homem desse grupo, Maoístas (houve uma guerra entre o Partido Comunista do Nepal e o governo nepalês entre 1996 e 2006, que se tornou uma guerra civil). Ele me disse: uma das coisas que costumávamos fazer era vir as vilas com armas, mas depois percebemos que isso não funciona, que deveríamos conversar. Isso pode parecer óbvio para nós, mas eles são um grupo de guerrilhas, acostumados a isso, porém entenderam que se você quer dar uma boa impressão, você não mostra suas armas. Trazer armas é um gatilho para acabar com a discussão. O interessante é que esses projetos não aparecem nos países que são considerados as lideranças democráticas do mundo.

Nepal – Foto: Dilvigação

Existem outras iniciativas, como orçamento participativo, que fortalecem a democracia. Esse foco democrático procura encontrar Inovações Deliberativas Orientadas (Deliberative Orientated Inovations) que podem nos unir, trazer um diálogo significativo, sem distúrbios comunicativos. Normalmente existe uma propensão ideológica por trás dos discursos. A ideia é como identificar as ideias tendenciosas nos discursos, mas isso também é sobre poder, quem tem esse discurso tendencioso se beneficia disso, e não facilmente desistem. Mas existem experiências e projetos que provam que as pessoas conseguem fazer isso, elas não precisam ir até um gabinete para perguntar ao político o que eles estão fazendo. Elas não precisam saber sobre a equação, elas precisam saber sobre a aplicação da equação em seu cotidiano. Eu não quero saber toda a planta de uma usina nuclear, todos seus canos, eu quero saber o que significa quando você coloca uma usina nuclear no meu quintal. É uma discussão diferente. E nesse caso os cientistas não têm nenhuma posição privilegiada, eles são como qualquer outro cidadão.

Frank Fischer foi visitar outro projeto, o Conselho Dinamarquês de Tecnologia (Danish Board of Technology), em que ao invés de somente contratar especialistas para fazer a análise técnica, eles iriam começar o que chamaram de Função Iluminadora da População (Public Enlightenment Function), trazendo cidadãos e cientistas juntos para pensar na análise: os cientistas dariam tempo para os cidadãos lerem, refletirem, e os cidadãos, com o tempo, poderiam fazer questões aos especialistas, mas os cientistas não poderiam dizer: não, não, você não sabe isso e isso, deveria saber. Eles deveriam somente responder às questões. Ao final eles realizaram uma conferência no Parlamento (com a TV nacional presente), e os cidadãos discutiram manipulação genética de alimentos, se queriam ou não. Até um certo ponto os cientistas puderam falar um pouco, mas não poderiam dominar a discussão. Depois de muitos dias de escuta, o entrevistado percebeu que estava realmente apreciando a discussão. Primeiro porque não pensou que eles não conseguiriam fazer, em segundo porque a escolha dos cidadãos foi aleatória, então havia um assistente social, um médico aposentado. Era um grupo bem misturado que normalmente não se uniria.

O interessante, ele descreveu, foi que ao final esses relatórios, normalmente em linguagem inacessível a população, estavam acessíveis, em uma linguagem que nós podemos entender. Mas os conservadores voltaram ao governo e fecharam esse projeto, porque afinal eles não querem esse tipo de discussão. O projeto não está completamente parado, pode voltar, mas ao menos pôde mostrar que essas coisas podem acontecer. O entrevistado refletiu que o que devemos pensar é em como fazer esses arranjos para que uma política participativa ocorra com uma parcela maior da sociedade, incluindo o setor judicial, que se tornou manipulado por esses demagogos, e trazê-los para a discussão, fazer com que eles se sintam parte dela.

 

Democracia

Urgente! The Intercept Brasil acaba de vazar áudio de Deltan Dallagnol

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Via The Intercept Brasil

Na manhã do dia 28 de setembro de 2018, a imprensa noticiou que o ministro do STF Ricardo Lewandowski autorizara Lula a conceder uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Em um grupo no Telegram, os procuradores imediatamente se movimentaram, debatendo estratégias para evitar que Lula pudesse falar. Para a procuradora Laura Tessler, o direito do ex-presidente era uma “piada” e “revoltante”, o que ela classificou nos chats como “um verdadeiro circo”. Uma outra procuradora, Isabel Groba, respondeu: “Mafiosos!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!”

Eram 10h11 da manhã. A angústia do grupo – que, mostram claramente os diálogos, agia politicamente, muito distante da imagem pública de isenção e técnica que sempre tentaram passar – só foi dissolvida mais de doze horas depois, quando Dallagnol enviou as seguintes mensagens, seguidas de um áudio.

28 de setembro de 2018 – grupo Filhos do Januario 3

Deltan Dallagnol – 23:32:22 – URGENTE
Dallagnol – 23:32:28 – E SEGREDO
Dallagnol – 23:32:34 – Sobre a entrevista
Dallagnol – 23:32:39 – Quem quer saber ouve o áudio
Dallagnol – 23:33:36 –

Leia a matéria completa no site do The Intercept Brasil:

https://theintercept.com/2019/07/09/vazajato-audio-inedito-deltan-dallagnol/

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Censura

Senadora do PSL cassada por caixa dois ofende jornalista por fazer seu trabalho

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Os bolsonaristas, muitas vezes eleitos com apoio da Grande Mídia, agora deram para atacar e ameaçar jornalistas que não passam pano para ilegalidades. Incensada pela imprensa tradicional de Mato Grosso quando aceitou a delação premiada do ex-governador Silval Barbosa (MDB) e o condenou a 13 anos e 7 meses em 2017 (mas permitiu o cumprimento da pena em casa), por exemplo, a então juíza Selma Arruda foi apelidada de “Moro de Saia”. Sob os holofotes favoráveis dos jornais, Selma se aposentou da magistratura e se candidatou, com o apelido na propaganda eleitoral, ao cargo de senadora pelo Partido Social Liberal (PSL), o mesmo de Bolsonaro. Ganhou fácil!

Depois disso, sua relação com o “modelo” não mudou. No último dia 19 de junho, por exemplo, durante depoimento do ex-juiz e atual ministro da justiça e segurança pública, Sérgio Moro, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a senadora fez questão de dizer que “É absolutamente normal juiz conversar com o Ministério Público”. Moro respondeu com elogios: “É normal uma discussão de logística. Tem aqui a senadora Selma, que atuou muito destacadamente como juíza lá no Mato Grosso, teve várias operações, é normal depois da decisão proferida haver uma discussão sobre questão de logística, quando vai ser cumprida, como vai ser cumprida, e eventualmente pode ter havido uma mensagem nesse sentido. Isso não tem nada de revelação de imparcialidade ou conteúdo impróprio”, disse. Nenhum dos dois comentou, nem de leve, a condenação unânime do Tribunal Regional Eleitoral, em abril, à perda do mandato por caixa dois. Ela e seus dois suplentes, também cassados, não conseguiram mostrar ao tribunal a origem de R$ 1.2 milhão gastos na campanha.

Com a revelação do caixa dois, as relações da senadora com o jornalismo sério passaram a uma nova fase. Enquanto o Tribunal Superior Eleitoral analisa em segunda instância se ela deverá ou não deixar o cargo, Selma aproveitou as câmeras da TV Senado para insinuar que a atuação do jornalista Glenn Greenwald, vencedor dos maiores prêmios mundiais de jornalismo, não é profissional, mas guiada por interesses políticos. “O sujeito que vazou é marido do suplente do Jean Wyllys. Ele é intimamente ligado, né. Politicamente, óbvio que é uma estratégia para colocar em dúvida a atuação do juiz e do Ministério Público”, afirmou. Sobre as suas intenções políticas ou as de Moro quando ainda estavam na magistratura, não houve uma única palavra.

Na imprensa matogrossense, a antigamente sempre disponível magistrada passou a escolher com quem conversar. Na semana passada, por exemplo, foi procurada pelo jornalista Lázaro Thor Borges, do jornal “A Gazeta“, o maior diário do estado, para comentar uma reportagem, com dados oficiais obtidos a partir da Lei de Acesso à Informação e do Portal da Transparência, sobre salários de servidores públicos acima do teto constitucional. Via aplicativo de mensagens, a senadora respondeu com xingamentos e, novamente, insinuações de interesse político acima do jornalístico. “Tadinho, você é ridículo. Nem li nem sei do que você está falando. Sua opinião não faz efeito na minha vida e nem na de nenhum matogrossense”, escreveu a parlamentar. Borges, educadamente, respondeu apenas: “tudo bem, senadora”. Mas ela não parou por aí. Além de chamá-lo novamente de coitado e mandar “catar coquinho”, ainda o chamou de “retardado”, ao que Borges respondeu: “É só meu trabalho, senadora”. 

A reportagem, publicada no dia 22 de junho e que infelizmente não está disponível online no portal do jornal, trazia o valor mensal líquido de R$ 53,8 mil desde de março desse ano, mais de R$ 14 mil acima do teto de R$ 33,7 mil recebidos pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. De acordo com a matéria, apenas 11 dos 84 magistrados aposentados do Superior Tribunal de Justiça de Mato Grosso receberam acima do teto em abril, mês do levantamento.   Os ataques da parlamentar ao jornalista foram repudiados em editorial do jornal, que publicou os prints das telas do celular mostrando as grosserias da senadora. Os as respostas mal criadas ao profissional também sofreram grande condenação do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso, em nota também assinada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Está passando da hora de TODOS e TODAS jornalistas se unirem para barrar o crescimento do fascismo e as das ameaças aos profissionais, à liberdade de imprensa e à própria democracia.

 

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Democracia

Deputado do PSOL que chamou Sérgio Moro de “ladrão” já havia chamado Eduardo Cunha de “gângster”

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Por Rafael Duarte I Agência Saiba Mais

O deputado do PSOL Glauber Braga (PSOL/RJ) desestabilizou os parlamentares governistas nesta terça-feira (2), na Câmara dos Deputados, ao dizer que o ex-juiz e atual ministro da Justiça Sérgio Moro passará para a história como um “juiz ladrão e corrompido”.

As palavras duras do parlamentar mexeram com os brios dos colegas que participaram da sessão da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara para defender o ex-juiz das graves acusações de interferência no julgamento do ex-presidente Lula reveladas pelas mensagens trocadas entre ele e procuradores da operação Lava Jato.

Moro se esquivou da maioria das perguntas e voltou a tentar criminalizar o site The Intercept Brasil, que vem divulgando a conta gotas as mensagens. Acuado, o ex-juiz deixou a sala da comissão sob os gritos de “ladrão” e “fujão”. A sessão foi encerrada após um tumulto generalizado:

– “A história não absolverá o senhor, da história o senhor não pode se esconder. E o senhor vai estar no livro de história como juiz que se corrompeu, como um juiz ladrão. A população brasileira não vai aceitar como fato consumado um juiz ladrão e corrompido que ganhou uma recompensa pra fazer com que a democracia brasileira fosse atingida. É o que o senhor é: um juiz que se corrompeu, um juiz ladrão”, disse já sob os gritos da tropa bolsonarista.

 Após o discurso, as redes sociais do deputado foram inundadas de xingamentos e mensagens de apoio. Ele agradeceu a solidariedade e voltou a provocar tanto Sérgio Moro como a militância que o defende:

– Obrigado pelas inúmeras mensagens de apoio ! E pra turma da extrema-direira que veio aqui desabafar, infelizmente não posso me desculpar. O herói de vocês feriu a democracia brasileira e recebeu a recompensa de Bolsonaro. E em linguagem bem popular, juiz vendido é juiz ladrão ! Boa noite. Fiquem bem!”, escreveu.

Esse não é o primeiro discurso de Glauber Braga que repercute no Congresso e na imprensa. Em 2016, durante a votação para a abertura do processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff, o voto do deputado do PSOL também foi um dos mais comentados. Na ocasião, ele chamou de “gângster” o então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, atualmente preso, em Curitiba. E evocou figuras históricas da democracia brasileira:

– Eduardo cunha, você é um gangster e o que dá sustentação à sua cadeira cheira a enxofre. Eu voto por aqueles que nunca esconderam o lado fácil da história. Voto por Marighella, voto por Plinio de Arruda Sampaio, voto por Evandro Lins e Silva, voto por Arraes, voto por Luís Carlos Prestes, voto por Olga Benário, voto por Brizola e Darcy Ribeiro, voto por Zumbi dos Palmares, voto não.

Perfil

Glauber Braga é advogado, natural de Nova Friburgo (RJ), tem 37 anos e está filiado ao PSOL desde 2015. Ele exerce o quarto mandato na Câmara Federal. O primeiro assumiu como suplente, em 2007, quando ainda militava no PSB, e os demais foram exercidos como titular da vaga.

Braga ocupou a liderança da bancada do PSOL em janeiro de 2017. No ano anterior, disputou a eleição para prefeito de Nova Friburgo e ficou em 2º lugar.

Progressista, Glauber Braga realiza um mandato participativo defendendo bandeiras em defesa da democracia e direitos humanos. Está na linha de frente da luta no parlamento contra a reforma da Previdência.

O parlamentar do PSOL foi relator da Comissão Especial de Medidas Preventivas Diante das Catástrofes Climáticas, que gerou a primeira Lei Nacional de Prevenção e Resposta a Desastres Naturais (12.608): o Estatuto de Proteção e Defesa Civil. O estatuto foi sancionado pela Presidência em abril de 2012.

Em 2018, Glauber Braga foi escolhido pelo júri especializado do portal Congresso em Foco como o melhor parlamentar do Brasil.

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