Conecte-se conosco

Comportamento

Como se faz uma caminhada: 20 anos de Paz em Heliópolis

Publicadoo

em

A Estrada da Lágrimas me levou ao céu [não este cÉu com acento] mas o CEU – Centro Educacional Unificado Arlete Persoli que abriga também a EMEF Presidente Campos Salles, entre outras escolas, que fica em Heliópolis onde a ideia de Bairro Educador se concretiza no dia-a-dia.

Pude acompanhar por 2 meses e meio a construção e a mobilização da comunidade de Heliópolis _no distrito do Ipiranga, bairro do Sacomã, Zona Sul e São Paulo, para a realização da 20º Caminhada Pela Paz.

Tudo começou, como conta o professor Orlando Jeronymo (veja o vídeo), com uma tragédia. Em 1999, a cidade vivia um momento de muita violência, e no bairro de Heliópolis havia até toque de recolher. A menina Leonarda estudante da EMEF Pres. Campos Salles havia sido assassinada, e o Professor Orlando, o Diretor Braz Nogueira e João Miranda líder da UNAS (União de Núcleos, Associações e Sociedades de Moradores de Heliópolis e região) se encontravam consternados no velório da menina.

Resolveram enfrentar este problema de frente e de peito aberto e chamar à comunidade assumir a responsabilidade e dar os primeiros passos da Caminhada. De lá para cá já são 20 anos de um processo de mobilização e alerta para a necessidade de combater a violência e semear a paz na comunidade.

Eles fundaram o Movimento Sol da Paz que articula diversos atores da comunidade: coordenadoras das Escolas CEI e IMEIs (Educação Infantil), EMEFs (Educação Fundamental), FATEC (Ensino Médio Estadual), Escolas Estaduais do entorno, Diretorias Regional de Ensino, CCAs e CCJs (Centros de Atendimento em contraturno de Jovens e Adolescentes), Centro de Acolhimento de Idosos, Centros de Assistência Psico-social, Universidade Uniceu, lideranças da Comunidade e gestores do CEU Arlete Persolli.

Esta articulação foi construída ao longo deste 20 anos, e é mais um forma de se perceber como a luta do bairro se concretiza, na atuação dos diversos atores, em prol do bem comum, em busca do convívio e da cultura de paz e da educação, muitas vezes se colocando à frente do estado para a concretização de políticas públicas.

O Bairro Educador existe em Heliópolis por que existe uma comunidade organizada. Esta organização vem desde as primeiras ocupações em 1970, e foi se fortalecendo na luta pelo direito a moradia e condições dignas vida.

Leia mais na tese de Mestrado de Marília de Santis, hoje coordenadora do CEU Artelete Persoli para conhecer mais a fundo a história do bairro e a construção deste aparelho de cultura, esporte lazer educação que é verdadeiramente integrado ao bairro.

A 20ª caminhada também e marcada pela mudança da coordenação do carro de som. O professor Orlando Jeronymo se aposentou este ano, e está passando o bastão para Indira Gabriela Ribeiro dos Santos, uma jovem moradora do bairro, estudante de pedagogia da Uniceu, que atua também em um dos CCAs do bairro, que agora assume esta tremenda responsabilidade (veja no vídeo a passagem do bastão).

O termo bairro educador, conheço desde o final dos anos 90, quando o projeto Aprendiz defendia esta ideia em palestras e artigos, mas vim a saber que muito antes disso, educadores como Anísio Teixeira e Paulo Freire já difundiam em suas propostas de educação libertária, democrática em busca da autonomia, territórios não cercados para que a educação se realiza-se. Até a inspiração para os CEUs implementados na gestão Martha Suplicy (2001-2004) podem ter vindo dos projetos de escolas parques de Anísio Teixeira na década de 1950.

A caminhada é um dos momentos mais contundentes do projeto, por que professores, alunos e comunidade andam juntos se manifestando, não apenas com desenhos de pombas e girassóis em pvc, mas repletos de questionamentos e reflexões, que foram sendo trabalhados em suas unidades, e são levados para rua em um grande desfile.

O movimento começa este trabalho, dois meses e meio antes da caminhada, como uma grande reunião (veja no vídeo) e com a distribuição de kits pedagógicos que podem servir de orientação para cada educador trabalhar dentro da sua unidade. Eles podem trazer para a caminhada cartazes, faixas, músicas, palavras de ordem e várias formas de expressão.

As reuniões com os representantes de cada unidade vão acontecendo mais ou menos a cada 15 dias, para que o trabalho avance, a as necessidades estruturais ou mesmo de uma visita na unidade para ampliar a mobilização possam ocorrer. O tema principal este ano é Consciência Comunitária + Políticas Públicas = Sociedade Educadora.

Alguns exemplos que posso citar, pois acompanhei na EMEF Pres. Campos Salles, foram os roteiros de estudo temáticos sobre a caminhada, a leitura do manifesto em sala de aula, e o minuto da paz, onde os alunos eram surpreendidos com um sino que é o sinal para que todos fiquem um minuto em silêncio refletindo sobre o que é a paz.

Uma outra atividade que é feita todo ano é o concurso para criação do manifesto da caminhada. Este ano foram recebidos 63 propostas de texto para o manifesto, delas 16 foram escolhidas por uma comissão julgadora que fundiu as propostas num texto único. Na semana passada, educadores e alunos panfletaram pela comunidade o convite que no verso tem o manifesto. (veja a baixo)

Além da Caminhada que vai ocorrer na próxima quinta-feira 7 de junho, às 13hs, existe o Festival da Paz, que vai acontecer dias 4 e 5 no CEU Arlete Persoli com diversas apresentações culturais produzidas pela comunidade e pelos estudantes, e no dia 6 de junho para os alunos da educação infantil e do EJA (Educação de Jovens e Adultos) que não conseguem participar da “caminhadona” haverá durante o dia a caminhadinha dos pequenos e à noite a dos Jovens e Adultos. (Acompanhe na página dos Jornalistas Livres as transmissões ao vivo)

A Caminhada também é promovida nos bairros próximos com o no parque Bristol, que ocorreu no dia 25/05/2018, veja imagens no final do vídeo e acompanhe as notícias pelas páginas:

www.unas.org facebook da Unas

facebook do CEU Arlete Persoli

site www.radioheliopolisfm.com.br

pagina do face da Rádio Comunitária Heliópolis

Continue Lendo
1 Comment

1 Comments

  1. mercia

    04/06/18 at 13:06

    estamos nesta luta hoje e sempre precisamos garantir um Estado livre, laico, sem preconceito, sem fome, sem miséria….A verdadeira paz quando os direitos é pra todos e não minoria então não direitos.

Leave a Reply

Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Comportamento

Quilimérios, um povo isolado entre belas rochas de Minas

Vídeo revela os moradores remanescentes que habitam há quase dois séculos uma área próxima à divida com a Bahia

Publicadoo

em

Quem percorre o Vale do Jequitinhonha no extremo Nordeste de Minas, quase divisa com o sul da Bahia, vê ao longe um conjunto de belas pedras de granito como se tivessem sido despencadas numa chuva de meteoritos. É difícil passar por ali e conter a vontade de ir ver de perto, afinal, a pacata e hospitaleira cidade de Rubim fica logo ali. Pois bem, foi neste belo lugar que um antigo quilombo volante, certamente vindo do interior da Bahia, resolveu se fixar de vez, esquecendo-se do tempo e da chamada civilização, vivendo ali esquecido, isolado. São os Quilimérios, um nome de origem desconhecida.

Uma equipe de cineastas e jornalistas de Belo Horizonte esteve lá e fez o interessante curta-metragem chamado Quilimérios, um documentário de 24 minutos que trata da história deste povo que vive isolado desde o século XIX, na parte mineira do Vale do Rio Jequitinhonha, que logo depois deságua no litoral baiano. Escondidos entre altas pedras de lugares quase inacessíveis, os Quilimérios ainda são desconhecidos por muita gente que vive até mesmo na própria região.

O curta Quilimérios conta um pouco da história deste povo, mostra cenários deslumbrantes e lugares quase intocados do Baixo Jequitinhonha, filmados praticamente com celular e drone, “o que o torna um produto experimental e inovador”, afirma Emerson Penha. O diretor do curta revela que ir a esta comunidade e fazer o documentário foi muito significativo: “É impressionante, nos dias de hoje, com tanta tecnologia, um povo permanecer isolado. Por outro lado, é importante poder mostrar que o mundo tem lugar para todos, independentemente do seu jeito de ser e viver. Todos têm direito a viver como desejam e isso precisa ser respeitado”, observa.

Na região do Baixo Jequitinhonha, divisa entre Minas Gerais e Bahia, as pedras gigantes marcam o caminho do rio. A muralha natural isola tudo, até mesmo a passagem do tempo. Nesse cenário, os Quilimérios vivem como no século XIX. Para eles, o isolamento foi a única opção e até hoje o mistério de sua existência permanece. A explicação sociológica mais razoável é que seriam remanescentes dos quilombos volantes, grupos nômades formados por afrodescendentes que escapavam do cativeiro, indígenas expulsos de suas terras e mesmo brancos que fugiam das cidades por diversas razões.

A história que se conta entre várias gerações na região de Rubim, cidade mais próxima e de pouco mais de 10 mil habitantes, é que esse grupo de pessoas foi formado a partir da fuga de um ex-escravo, Juca Preto, contratado por um fazendeiro da vizinha cidade de Pedra Azul para matar alguém importante. Após cometer o crime, Juca fugiu para a região onde seus descendentes vivem até hoje e que permanece quase inacessível. Ali só se chega a pé ou a cavalo. Na fuga, Juca levou uma índia, com quem teria dado início à família dos Quilimérios. São pessoas muito reservadas, que cultivam costumes antigos e têm hábitos comportamentais como o casamento endogâmico. Atualmente restam apenas alguns quilimérios remanescentes, já que as novas gerações vêm se transferindo para Rubim.

Quilimérios é um filme de Emerson Penha, com música de Túlio Mourão, fotografia de Fábio Damasceno, produção de Zu Moreira, edição de Rafael Diniz (Fiel) e argumento de Tião Soares.

Confira o vídeo acima indo ao Youtube.

Continue Lendo

Chacina

Cuiabá nas ruas contra do racismo, o fascismo e o genocídio

Publicadoo

em

Da: MediaQuatro especial para os Jornalistas Livres

Desde de 2019, com as manifestações contra os cortes na educação e a deforma da previdência, Cuiabá não juntava tanta gente nas ruas. E talvez nunca tenha havido tamanho contingente policial, incluindo helicóptero, para o improvável caso de “vandalismo”. Mas era mesmo de se esperar. Afinal, o racismo estrutural brasileiro em uma das capitais mais conservadoras do país exige que se trate os pretos e pretas sempre como potenciais criminosos. BASTA! O país não pode mais conviver e não conseguirá sequer viver como nação integral enquanto houver preconceitos que se refletem em práticas cotidianas e políticas públicas que oprimem e excluem a maior parte da população.

Texto e fotos: www.mediaquatro.com

Texto e fotos: www.mediaquatro.com

Chegamos a um ponto no Brasil que não é mais suficiente não ser racista. É preciso lutar contra o racismo, nas ruas, nas redes, nos campos e nas casas. E a luta antirracista é central na derrubada do governo Bolsonaro e suas políticas genocidas na economia, na segurança pública e na saúde. Foi por isso que, apesar da necessidade de se intensificar o isolamento social, fomos à Praça Alencastro e marchamos pelas avenidas Getúlio Vargas, Marechal Deodoro, Isaac Póvoas e BR 364 para retornarmos à Praça da República sem qualquer incidente.

Texto e fotos: www.mediaquatro.com

Assim como em outras cidades e estados por todo o Brasil, em Cuiabá e Mato Grosso os negros e negras são maioria e são exatamente os corpos pretos os mais encarcerados, os pior pagos, os que vivem nos lugares mais distantes, os que mais precisam trabalhar fora de casa durante a pandemia (e muitas vezes sem sequer os equipamentos de proteção adequados) e os que mais são atingidos pela Covid-19. Isso não é uma coincidência. É resultado de quase 400 anos de escravidão formal, que em Mato Grosso também vitimou indígenas em larga escala, e de uma abolição inconclusa que indenizou os “proprietários” de pessoas mas nunca pagou a dívida histórica com quem sente na pele seus efeitos até hoje.

Texto e fotos: www.mediaquatro.com

É fato que o assassinato do estadunidense negro George Floyd foi o estopim dos protestos antirracistas em todo mundo e também no Brasil, onde houve atos em pelo menos 20 cidades, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife. Mas por aqui, as mortes do menino Miguel, do adolescente João Pedro e dos jovens em Paraisópolis, só pra citar alguns casos mais representativos nos últimos seis meses, demonstram cotidianamente o que significa ser alvo do preconceito, da polícia e das políticas.

Texto e fotos: www.mediaquatro.com

Desse modo, derrubar o governo o quanto antes o governo do fascista que ocupa a presidência é indispensável para conseguirmos combater a epidemia de forma minimamente eficiente. E tirar apenas o presidente não é suficiente, porque seu vice e ministério são igualmente racistas, como está provado em entrevistas antes mesmo das eleições, em pronunciamentos em eventos e na fatídica reunião ministerial.

Texto e fotos: www.mediaquatro.com

Enquanto não derrubarmos as políticas estúpidas da “guerra às drogas”, do encarceramento em massa, da concentração de renda, do agronegócio acima da agricultura familiar, não há presente para o país. E enquanto não investirmos em políticas públicas de igualdade racial e de gênero, de proteção às minorias e à diversidade, e de promoção dos direitos humanos a TODOS e TODAS, incluindo a punição de policiais assassinos, milicianos e racistas, não haverá futuro também.

 

 

Continue Lendo

#EleNão

Os camisas negras de Bolsonaro

Publicadoo

em

Mais de 1 milhão de crianças, 2 milhões de mulheres e 3 milhões de homens foram submetidos ao assassinato e à tortura de forma programada pelos nazistas com o objetivo de exterminar judeus e outras minorias. Nos primórdios da Itália fascista, os camisas negras – milícias paramilitares de Mussolini – espancavam grevistas, intelectuais, integrantes das ligas camponesas, homossexuais, judeus. Quando a ditadura fascista se estabeleceu, dez anos antes da nazista, Mussolini impôs seu partido como único, instaurou a censura e criou um tribunal para julgar crimes de segurança nacional; sua polícia secreta torturou e matou milhares de pessoas. Em 1938, Mussolini deportou 7 mil judeus para os campos de concentração nazista. Sua aliança com Hitler na 2ª Guerra matou mais de 400 mil italianos.

Perdoem-me relembrar fatos tão conhecidos, ao alcance de qualquer estudante, mas parece necessário falar do óbvio quando ser antifascista se tornou sinônimo de terrorista para Jair Bolsonaro. Os direitos universais à vida, à liberdade, à democracia, à integridade física, à livre expressão, conceitos antifascistas por definição, pareciam consenso entre nós, mas isso se rompeu com a eleição de Bolsonaro. O desprezo por esses valores agora se explicita em manifestações, abraçadas pelo presidente, que vão de faixas pelo AI-5 – o nosso ato fascista – ao cortejo funesto das tochas e seus símbolos totalitários, aqueles que aprendemos com a história a repudiar. Jornalistas espancados pelos atuais “camisas negras” estão entre as cenas dessa trajetória.

A patética lista que circulou depois que o deputado estadual Douglas Garcia(PSL-SP) pediu que seus seguidores no Twitter denunciassem antifascistas mostra que o risco é mais do que simbólico. Depois do selo para proteger racistas criado pela Fundação Palmares, e das barbaridades ditas pelo seu presidente em um momento em que o mundo se manifesta contra o racismo, e que lhe valeram uma investigação da PGR, essa talvez seja a maior inversão de valores promovida pelos bolsonaristas até aqui.

A ameaça contida na fala presidencial e na iniciativa do deputado, que supera a lista macartista pois não persegue apenas os comunistas, tem o objetivo óbvio de assustar os manifestantes contra o governo e de açular as milícias contra supostos militantes antifas, dos quais foram divulgados nome, foto, endereço e local de trabalho.

É a junção dos “camisas negras” com a Polícia Militar, que já se mostrou favorável aos bolsonaristas contra os manifestantes pela democracia no domingo passado em São Paulo e no Rio de Janeiro. E que vem praticando o genocídio contra negros impunemente no país desde sua criação, na ditadura militar, muitas vezes com a cumplicidade da Justiça, igualmente racista.

Como disse Mirtes Renata, a mãe de Miguel, o menino negro de 5 anos que foi abandonado no elevador pela patroa branca de sua mãe, mulher de um prefeito, liberada depois de pagar fiança de R$ 20 mil reais, “se fosse eu, a essa hora já estava lá no Bom Pastor [Colônia penal feminina em Pernambuco] apanhando das presas por ter sido irresponsável com uma criança”. Irresponsável. Note a generosidade de Mirtes com quem facilitou a queda de seu filho do 9º andar.

Neste próximo domingo, os antifas vão pras ruas. Espero não ouvir à noite, na TV, que a culpa da violência, que está prestes a acontecer novamente, é dos que resistem como podem ao autoritarismo violento. Quem quer armar seus militantes, e politizar forças de segurança pública, está no Palácio do Planalto. É ele quem precisa desembarcar. De preferência de uma forma mais pacífica do que planejam os fascistas para mantê-lo no poder.

Por: Marina Amaral, codiretora da Agência Pública

Continue Lendo

Trending