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Como a linda Adélia Batista Xavier, morta na Cracolândia, de vítima transformou-se em bandida

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Adélia Batista Xavier, 30 anos, que a polícia quer transformar em perigosa bandidona da Cracolândia

CRACOLÂNDIA, SP: O corpo de Adélia Batista Xavier tombou por volta das 14h30 da quinta-feira (9/5), bem na frente do terreno que era a sede do Projeto Braços Abertos, que já foi considerado internacionalmente como um dos mais eficazes projetos de ressocialização de dependentes químicos. Adélia morreu na véspera de completar 31 anos com um disparo de arma de fogo que atravessou o seu cérebro, depois de entrar pela têmpora esquerda. Ela permaneceu mais de 30 minutos emborcada no chão, o sangue escorrendo abundantemente pelo buraco da bala.

Adélia Batista Xavier ficou quase uma hora sem socorro, sangrando no chão da Cracolândia

Adélia Batista Xavier ficou quase uma hora sem socorro, sangrando no chão da Cracolândia

A Guarda Civil Metropolitana não permitiu a nenhum morador se aproximar de Adélia, para socorrê-la. Samu e Corpo de Bombeiros tampouco conseguiam chegar até onde ela estava, porque todas as ruas da região da Cracolândia estavam tomadas por tropas da GCM e da PM, que bloqueavam o trânsito. Adélia só foi dar entrada na Santa Casa de Misericórdia, vizinha à Cracolândia, às 15h30. Em estado desesperador.

O inspetor Ferreira, que comandava a GCM, quis colocar a culpa pelo disparo contra Adélia nos próprios moradores da Cracolândia. Para isso, disse que seus homens atuaram naquele dia apenas usando armamento não-letal. Mentira, como Jornalistas Livres provaram, mostrando fotos da ação em que aparecem agentes da GCM ameaçando moradores com suas pistolas.

Foi assim que, em depoimento prestado posteriormente no 77º DP (vizinho à Cracolândia), três guardas civis metropolitanos se apresentaram ao delegado Milton Coccaro e admitiram terem disparado com armas de fogo. Disseram, porém, que o fizeram em retaliação a ataque anterior por parte de traficantes.

É sempre assim nas histórias de “confrontos” narrados pelas tropas de segurança. A GCM diz ter sido atacada com tiros de arma de fogo por traficantes, mas nenhum agente foi ferido a bala. Por uma incrível coincidência, em quase todos os confrontos, só um lado sai ferido.

Eis que, de repente, surge a mais nova versão sobre a morte de Adélia. Segundo a polícia, Adélia seria chefe do PCC na Cracolândia e atuaria como “organizadora da disciplina dos demais traficantes, que estavam sob sua subordinação”. A nova “história” sai em toda a grande mídia, que já embarcou também na narrativa do “confronto”… Jornalistas Livres entrevistaram moradores da área, gente que conhecia Adélia. Todos admitiram que a moça era dependente de crack e álcool, mas TODOS rejeitaram liminarmente a acusação da polícia sobre o suposto envolvimento de Adélia com o crime organizado.

Mas isso pouco importa para essa imprensa chapa branca, que não terá nem mesmo o trabalho de “ouvir o lado da vítima”, já que esse lado está no necrotério, numa geladeira, com um buraco na cabeça. E, assim, a moça, de vítima transformou-se em bandidona da pesada. Vergonha.

Vergonha. Podemos dormir tranquilos até a próxima tragédia na Cracolândia.

 

Adélia Batista Xavier na Folha: assassinada, agora virou chefe do PCC

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4 Comments

4 Comments

  1. Ange

    12/05/19 at 10:14

    Pra mim não tem diferença nenhuma entre quem é dependente químico das drogas ou quem é dependente químico de uma arma. Sendo que quem empunha uma arma pra se sentir mais homem ou mulher e se esconde atrás de uma farda, acaba sendo mais desumano.

  2. Núbia

    12/05/19 at 13:31

    familia deve saber se ela realmente tinha vícios pra estar la..

  3. Ricardo

    12/05/19 at 15:35

    A verdade não dita !!!!

  4. maria antonia da silva

    13/05/19 at 4:02

    por uma politica séria de prevenção ao álcool e outras drogas…

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Cracolândia: Guarda Municipal joga bomba na fila para pegar comida

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marmita

TRETA NA CRACOLANDIA, EM SP.

A Guarda Civil Metropolitana atacou com bombas uma fila de pessoas que aguardava a distribuição de marmitas, por um grupo de voluntários na Cracolândia hoje (23/4).

Depois de fecharem todos os equipamentos de atendimento à população vulnerável na região, Covas e Doria aumentaram a repressão policial na Luz. A ordem é matar de fome, de sede e de doença.

Imagens feitas pelo Irmão do Pão

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Arte

Poesia: Angústia da certeza

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Poesia: Fábio Rodrigues

Esta poesia que dá luz a realidade da população em situação de rua, é de Fábio Rodrigues (@prazer.poeta) – poeta e morador do território da Cracolândia.

Fábio decidiu viver de sua poesia, – poesia de rua, do fluxo. E agora, em tempos de pandemia, vê-se em quarentena a força criadora da poesia. Sem poder transitar e manguear, sua sobrevivência está em xeque.

O poeta necessita do apoio de corações carinhosos para que possa continuar ajudando, escrevendo e sobrevivendo em meio ao caos.

“Qual a saída para o poeta

que prioritariamente se apoia no comunicar,

se o momento pede distância –

até pelo simples ato de falar.

E o mais urgente premente,

onde poder recluso ficar,

se esse mesmo poeta,

por sinal mambembe

não dispõe do advento de um lar”

Ajude Fábio na caminhada, por mais poesia e informação nas ruas.
Qualquer quantia é válida!

Conta:
Pedro Bernardino Martine S
Bradesco: 237
Agência: 1236
C/c: 4603-5
CPF: 391.666.828/51

Texto: @prazer.poeta
Vídeo: @gustavoluizon, @_pedrosanti, @tarikelzein
Áudio: @606gama606

Fábio Rodrigues

Fábio Rodrigues

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Assistência Social

Prefeitura de SP aproveita-se da pandemia para “limpar” a Cracolândia

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Gentrificação: tangidos como animais, povo pobre que vive na Cracolândia foi enviado para a Várzea do Glicério - Foto de Lina Marinelli

Por Laura Capriglione e Katia Passos

 

A Prefeitura de São Paulo, sob o comando de Bruno Covas, desfechou hoje mais uma ação com o propósito de “limpar” a região conhecida como Cracolândia da presença miserável dos usuários de crack. Assim, cerca de 160 seres humanos paupérrimos, muitos idosos, vários não-dependentes químicos, foram tangidos como animais para dentro de três ônibus e despachados para a baixada do Glicério, na várzea do rio Tamanduateí. Outras 50 pessoas preferiram ir a pé, seguindo para o mesmo endereço dos primeiros: Rua Prefeito Passos, 25, em um dos bairros mais degradados da cidade, região de cortiços, alta concentração de moradores de rua, de imigrantes e refugiados. O Glicério fica a dois quilômetros de distância da atual Cracolândia.

 

Acabar com o constrangedor desfile dos usuários de drogas envoltos em cobertores imundos, sempre em busca das pedras de crack, tem sido uma obsessão de vários prefeitos e governadores do PSDB em São Paulo. O atual governador João Doria Jr, ainda na condição de prefeito da cidade, protagonizou em 2017 cena desastrada que por pouco não se transformou em tragédia. Deu-se que, para posar de destemido adversário do crack, Doria ordenou a derrubada de casas na região. Quase matou por soterramento três pessoas que moravam em uma delas e que ficaram feridas. Covas aproveita-se do fato de todos estarem focados na pandemia de Covid-19 para tentar mais uma vez.

Chama-se “gentrificação” o processo de transformação de centros urbanos através da mudança dos grupos sociais ali existentes. A idéia é expulsar a população de baixa renda e substituí-la por moradores de camadas mais ricas. É isso o que está em curso no centro de São Paulo: Gen-tri-fi-ca-ção.

Único lugar a prover meios de higiene, alimentação e descanso para moradores em situação de rua, o Atende-2 foi fechado hoje

Único lugar a prover meios de higiene, alimentação e descanso para moradores em situação de rua, o Atende-2 foi fechado hoje – Foto de Lina Marinelli

Para acabar de uma vez com a Cracolândia, a idéia dos “geniais” urbanistas que trabalham para a Prefeitura foi simples: retiraram de lá o único equipamento ainda existente para acolhimento, higiene, alimentação e encaminhamento médico para dependentes químicos vivendo em situação de rua no centro da cidade. Era chamado de Atende-2, e ficava na rua Helvétia, epicentro dos usuários de crack.

Crueldade das crueldades, fecharam o Atende-2, que atendia 185 pessoas, e fizeram isso em plena pandemia de Covid-19. Nem uma pia restou para lavar as mãos naquele pedaço. Segundo a Prefeitura, o mesmo serviço que era feito pelo Atende-2 será oferecido na Baixada do Glicério, agora rebatizado de Siat 2 (Serviço Integrado de Acolhida Terapêutica).

Resta saber se o tráfico de drogas, que acontece hoje nas barbas das polícias Civil e Militar, da Guarda Civil Metropolitana e do Corpo de Bombeiros, todos com bases no território da Cracolândia, topará também migrar seu negócio milionário para o Glicério. Se não topar, se continuar havendo oferta de drogas baratas nas ruas da Cracolândia, o fluxo de usuários certamente voltará para lá –agora, sem banho, sem lugar para dormir, sem pia, sem médicos. E isso em plena pandemia, quando se sabe que se trata de população que já é ultra-vulnerável: 9,5% têm tuberculose, 6,3% têm HIV e quase 10%, sífilis. Será morticínio certo.

Se o tráfico topar mudar o rolê para o Glicério, haverá alguma chance de que se torne realidade o sonho tucano de restaurar um pouco que seja do brilho quatrocentão do antigo bairro dos Campos Elíseos, onde viveu boa parte da elite paulistana até meados no século passado, e que é o território onde hoje se situa a Cracolândia.

Nesse caso, o bairro tentará esquecer seus dias de miséria e dará lugar a novíssimas torres de prédios, que farão a festa das empreiteiras, incorporadoras e bancos. Doria e Covas poderão usar a imagem daquelas ruas (antes, com o comércio de drogas a céu aberto, e depois, “limpinhas”) em suas propagandas eleitorais, que os apresentará como “vencedores”.

A venda e o consumo de crack, entretanto, continuarão com antes. Só terão mudado de endereço. Em vez do Centro, a várzea invisível. Mais do que Doria e Covas gostariam de admitir, o futuro do território onde está a Cracolândia depende muito mais do tráfico de drogas do que do poder público. E é o tráfico o próximo a jogar os dados…

EM TEMPO:

Quando essa reportagem estava concluída, a juíza Celina Kiyomi Toyoshima decidiu liminarmente impedir o fechamento da unidade Atende-2, situada na rua Helvétia. Ela determinou o restabelecimento das atividades na unidade fechada. A Prefeitura ainda pode pedir a revisão dessa decisão.

Aqui a decisão da juíza:

“Tendo em vista que o estabelecimento em questão é o único ponto de atendimento na região central da cidade, que concentra uma grande parte de pessoas vulneráveis, e tendo em vista o perigo da demora, já que a medida está prevista para a data de hoje, defiro por ora a liminar, para que não sejam tomadas quaisquer medidas visando o fechamento da unidade ATENDE, localizado na Rua Helvétia, nº 57.
Caso já tenha se iniciado o fechamento, as atividades deverão ser, por ora, reestabelecidas.
Oficie-se.
Após a vinda da contestação, a medida poderá ser revista.”

 

Leia também:

Governo ameaça fechar o ATENDE 2, último equipamento público na Cracolândia

O amor em tempos de crack

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