Os repórteres dos Jornalistas Livres chegaram no fluxo da Craco, pouco depois da Tropa de Choque iniciar uma ação, que foi descrita via nota pela Secretaria de Segurança Pública, como uma “abordagem de rua”.
De dentro do fluxo, foram vistas cenas de pavor, dignas de uma operação do Terceiro Reich. Os moradores e usuários do local, que já tão cotidianamente violentados e criminalizados por uma das drogas mais terríveis do mundo, hoje, sentiram a força do braço armado da política higienista do atual prefeito de São Paulo, João Dória Jr, que já mostrou sua tônica no tratamento dessa situação: para ele, Crack não é um problema que pode ter solução com ações da pasta de saúde, é tão, e somente, um problema de Segurança Pública.
A Cracolândia parecia um campo de extermínio.
Muitos pais que levavam seus filhos à escola, corriam da Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana e da Tropa de Choque. Trabalhadores tentavam chegar em seus empregos, eram mais de 30 viaturas e caveirões da Tropa. Uma força desproporcional para cerca de 100 usuários que estavam no local no momento da ação. Moradores ficaram feridos por armas “menos letais”.
As ruas Helvétia e Dino Bueno se tornaram impraticáveis e irrespiráveis. Sobrou bala de borracha e bombas de gás para moradores das pensões, crianças e até para a imprensa. Dois fotógrafos ficaram feridos: Marcelo Carneiro da Silva, Chello da agência Photo Frame foi atingido de raspão por uma uma bala LETAL que só não entrou em sua coxa, por que seu celular o salvou, e Dário Oliveira, que infelizmente, estava na trajetória da bala e foi atingido na perna. Seu quadro é estável.
A comunidade local disse à reportagem que essa guerra da Secretaria de Segurança Pública no local, só está acontecendo porque novos prédios domiciliares serão construídos na região do fluxo, assim, a ideia é amedrontar os habitantes das pensões para desocuparem os casarões e pequenos edifícios que poderão dar lugar a mais empreendimentos imobiliários de alto padrão. Enquanto isso, Direitos humanos são depositados na lata do lixo da Cidade Linda.
Durante a repressão, usuários que tentavam falar com a polícia, eram fortemente repreendidos pela Tropa de Choque com suas armas “menos letais”. Aconteciam verdadeiras cenas de praça de guerra, os usuários se defendiam, jogaram pedras e pedaços de madeira. Depois, os vários pelotões formados por 10 a 15 policiais se afastavam. E o ciclo que se repetia de 10 em 10 minutos.
Vale observar, que em nenhum momento, os Jornalistas Livres foram hostilizados. Ao contrário disso, os usuários faziam questão de que tudo fosse fotografo e filmado.
Não é de hoje, que abusos e desproporcionalidade em ações policiais na Cracolândia acontecem. Em 2012, o Governo de Geraldo Alckmin lançou na Cracolândia, uma operação com características desproporcionais do uso da força chamada “Dor e Sofrimento”, Relatores especiais da ONU pediram explicações ao Brasil, mas não houve resposta.
Em 2014, o IBGE lançou uma pesquisa com dados da Secretaria de Segurança Pública onde consta a proporcionalidade do efetivo policial em ações, que é de 1 policial militar para 488 pessoas. Então, qual é o motivo para tamanha desproporcionalidade hoje na Cracolândia.
Quais diferenças de proporcionalidade a policia implementou hoje, em relação ao restante da população em ações de abordagem de rua? Quem fiscaliza isso? Que abordagem de rua foi essa?