“Carlos”, o primeiro

 

Fotografia feita no Rio de Janeiro em 1883. Documentando a preparação física da primeira expedição científica às cabeceiras do rio Xingu, a qual viria a se concretizar em 1884. Liderada pelo etnólogo alemão Karl von den Steinen a expedição foi a primeira a documentar cientificamente os povos indígenas do Alto Xingu. Steinen realizou duas viagens para àquela região, uma em 1884 e outra em 1887. Os índios Kuhikugo, ainda hoje relembram “Carlos”, como sendo o primeiro não-índio a vir em paz, trazendo muitos “presentes”. Suas anotações, iconografias e observações servem de base para qualquer um que deseja estudar as sociedades indígenas que lá ainda vivem. – legenda por  Adelino Mendes

 

 

Sim, a aldeia está tão próxima hoje. Chego ao Xingu ou entre os Kaxinawá do Rio Jordão, no Acre, num click, um enter. Nada mais de expedições entre tantas caminhadas ou rodas na lama e barcos entre rios.

Tá na rede, é índio. Sem arco, borduna ou tacape, mas um celular e uma mensagem, tal granada em nossa mente torta.  

Querida amiga do Xingu, mulher indígena da gema, lamenta tão longe, mas logo aqui em meu canto entendo o lamento:

Triste saber que parente fala isso pra nós, mandar voltar pra nossa terra fico triste!

Sou filha de uma família que foi obrigada a mudar do seu território de origem por causa da invasão, brancos mataram muitos e tomaram nossas terras. Hoje vivemos nesse território da Terra Indígena do Xingu. Querendo ou não, hoje somos natural do Xingu e originários dessa terra, sim, pois nascemos aqui. 

Espero que entendam que meus pais não são original daqui, MAS EU SOU XINGUANA!

 

 

 

 

 

 

 

 

Da linda rede em trama, fusões dos descampados tanto habitados por muitos povos, muito antes de 1500 ou qualquer agro negócio semear terra de outros. País de parto escuso, obtuso, deslumbrante, nossa fundação em nação foi o cão na terra fazendo sua roça.

Hoje índio dá um recado, direto, ao vivo, tal velas nos mares invadindo nossa praia, nossa tutela, nossa incursão na mente de tantos. On-line, instantâneo, sem fronteiras ou impugnações.

Não sei afirmar se é questão de mundo, mundo, vasto mundo, mas tudo é aqui tão perto.

Se queriam proibir, negar, acorrentar ou assimilar, sei hoje que deram com os burros n’água, os algozes. A mente é clara, o olhar é plano, a flecha é digital.

 

*imagens por Muni Yefuka Filho Kawaiwete© e Helio Carlos Mello©  

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