por Epitácio Macário
O conselho superior da CAPES enviou ofício ao MEC advertindo que se for realizado corte no orçamento previsto para a instituição em 2019, em agosto do próximo ano será necessário suspender o pagamento de:
* 93 mil bolsas de mestrado, doutorado, pós-doctor;
* 105 mil bolsas de programas voltados para a formação de profissionais da educação básica.
Além disso, serão interrompidos o sistema Universidade Aberta (UaB) prejudicando 245 mil beneficiários e programas de cooperação internacional.
Ou seja, será decretada a falência do órgão e, com ela, a desestruturação da pós-graduação no país.
Levando em consideração que cerca de 80% das pesquisas no Brasil são desenvolvidas em programas de pós-graduação, os cortes orçamentários liquidarão a pouca produção científica e tecnológica no país.
Elaboramos os gráficos abaixo utilizando dados de pesquisa realizada pelo professor Luiz Fernando Reis da UNIOESTE e dados sistematizados por nós em pesquisa do laboratório Cetros Uece.
Os gráficos evidenciam uma crise muito grave do sistema de pós-graduação, pois enquanto o número de matriculados em cursos de mestrado e doutorado cresceu, e também o número de bolsas concedidas pela CAPES, o orçamento vem sofrendo queda vertiginosa.
Não é preciso muita expertise para concluir que ocorrerá grave desmantelamento e fechamento de vários programas de pós-graduação.
A questão que se coloca é se a autodenominada “comunidade científica” vai descer do salto e abraçar os embates políticos – necessários e urgentes – que se impõem.
Outra questão não menos importante é sobre os sujeitos sociais, as forças políticas atuantes na sociedade brasileira que podem assumir essa tarefa de lutar junto com cientistas, estudantes, professores, pesquisadores, comunidades acadêmicas.
Não, não será nenhuma fração da burguesia que vai empunhar essa tarefa.
Serão os movimentos sindicais e sociais que lutam histórica e heroicamente por direitos, por democracia e por justiça social os sujeitos que podem abraçar esta causa.
Para tanto, será necessário que cientistas, pesquisadores, pós-graduandos, comunidades acadêmicas digam clara e inequivocamente qual o sentido das universidades e da produção de C&T para a vida das amplas massas do povo que sofre horrores para sobreviver.
E não vale contar as pueris historinhas que falam da presença da ciência em nosso cotidiano – no giro do liquidificador, na TV de led, na combustão dos motores, na vacina contra a H1N1. Até que vale , mas isso não fere sequer a casca do problema.
Sera necessário mostrar que é possível desenvolver um conhecimento voltado para as amplas maiorias do povo, para solucionar os problemas que as afligem.
Vamos apostar alto; que esta unidade aconteça. É por isto que lutamos.
- Epitácio Macário é Professor Doutor na Universidade Estadual do Ceará (UECE) e coordenador do grupo de estudos “Crise brasileira e política de ensino superior” do Centro de Estudos do Trabalho e Ontologia do Ser Social da UECE