Bruno Covas destrói gestão democrática do CEU Heliópolis #SP

Imagens da Caminhada pela Paz de 2018, no bairro de Heliópolis. Foto de Joana Brasileiro | Jornalistas Livres

Gestão democrática do CEU Heliópolis – Arlete Persoli, foi exonerada na canetada, sem qualquer diálogo pela gestão Bruno Covas, em meio à pandemia de Covid. Um trabalho pioneiro, que vem sendo construído nos últimos 11 anos, por pessoas que fazem uma gestão participativa, cidadã e democrática, com reconhecimento internacional acaba de ser interrompido, por motivos políticos e sem qualquer possibilidade de diálogo.

As 7 pessoas que trabalhavam na gestão democrática do CEU Heliópolis foram exoneradas nesta terça-feira 12.05.2020, exerciam seus cargos com apoio e vínculo com a comunidade. Muitas delas são moradores e lideranças, e outras vieram para a gestão por amor a uma experiência única na cidade de São Paulo. Este duro golpe desferido pela administração Covas, em uma das comunidades mais organizadas, e que vive a prática da gestão democrática e cidadã à 40 anos, deixa claro que a gestão do PSDB não é democrática, nem tão pouco uma boa gestão.

As lideranças da UNAS (União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região), e todas as pessoas que conhecem e apoiam o projeto acordaram de luto, não apenas pelo terror da pandemia de covid, mas pela maneira como isso se deu, sem qualquer chance de diálogo.

Entrevistamos 3 lideranças na manhã de hoje (terça 13.05.2020) #aovivo pelas páginas dos Jornalistas Livres:

CEU Heliópolis, um lugar que pode ficar vazio

O lugar onde fica o CEU Heliópolis, antes de ser um Centro de Educação Unificado (projeto criado no governo Marta Suplicy, 2001-2004), era uma espaço conquistado pela comunidade, hoje a maior favela vertical da Cidade de São Paulo, com cerca de 220.000 moradores.

Diferente dos outros espaços culturais da cidade como ele, a comunidade de Heliópolis foi quem se apropriou do espaço e por meio da UNAS e da luta de suas lideranças, depois de muita negociação com o poder público, conseguiram transformar em Centro de Convivência Educativa e Cultural de Heliópolis, em 2015 na gestão de Gilberto Kassab e também durante a breve gestão de José Serra do PSDB.

Com o disse Reginaldo Gonçalves, um jovem que viveu toda essa transformação:

“Pra nós nunca foi fácil”

Reginaldo hoje, coordena diversas ações, articula o grupo de jovens no projeto Fala Jovem, atua na Rádio Heliópolis, na coordenação do Helipa Fest entre outras ações culturais e educacionais que acontecem no Bairro Educador. Essa ações, entre tantas outras que acontecem nessa comunidade, são exemplo de como enfrentar questões que o poder público não consegue nem chegar perto de resolver, com a experiência do baile funk sem álcool e drogas que dá oportunidade para novas configurações, do entretenimento dos jovens da comunidade.

Para a comunidade de Heliópolis a prática da cidadania plena só existe tendo a educação como a principal arma. Por isso os projetos surgem, com diversos tipos de iniciativas, envolvem a comunidade, as lideranças, a rádio, e o espaço físico do CEU, além de outros aparelhos públicos, como uma FATEC, o projeto Uniceu entre outros. Mas a diferença está nas pessoas que amam, e fazem destas práticas referências nacional e mundial. Por isso o luto, de quem cuida com muito carinho para esse projeto não seja distorcido por retóricas sem ações na prática.

LEIA MAIS SOBRE HELIÓPOLIS E O PROJETO DO BAIRRO EDUCADOR NESTE ARTIGO:

Como se faz uma caminhada: 20 anos de Paz em Heliópolis

 

Em 2018, acompanhamos por 3 meses como é feita a construção da Caminhada pela Paz, que vai completar 22 anos de existência este ano, e que além de ser um evento que mobiliza a comunidade para lutar contra violência, é também uma lembrança de como ela causa vítimas todos os dias.

O Luto das lideranças, não é apenas pela exoneração de pessoas que estavam envolvidas todos esses anos ao projeto que envolve toda a comunidade, mas é também uma indignação pela atitude da gestão Bruno Covas, que desrespeitou os processos democráticos que são os principais instrumentos de conquista desta comunidade. A gestão democrática e participativa é resultado da prática e da luta, além de acumular inúmeros prêmios e reconhecimento, não apenas simbólicos, representa um modelo de gestão que otimiza e distribui melhor os gastos da gestão municipal nesse espaço cultural. Apesar dos governos do PSDB falarem muito em modelos de gestão, ele parecem não se importar com os que já existem e que são um sucesso reconhecido, pelo contrário, preferem destruir a aprender com eles.

LEIA UM TRECHO DA NOTA DE REPÚDIO publicada no site da UNAS

“Durante esses onze anos diversas gestões estiveram à frente do poder executivo municipal (José Serra, Gilberto Kassab, Fernando Haddad e João Dória), todas as transições respeitaram a história que construímos e o modelo de educação inovadora e democrática implantado no equipamento, e mantiveram o grupo gestor, que vem desde então consolidando um trabalho de reconhecida qualidade no atendimento à população.

Por isso repudiamos a ação desumana da Prefeitura de São Paulo, que não respeitou toda a história de luta e construção coletiva desse local, que é referência de educação e cultura em nosso território e é um importante centro de formação para educadores de todo o Brasil.!”

LINK da NOTA

Exauridos pela ação constante de distribuição de mais de 10.000 cestas, e o monitoramento dos casos de covid na comunidade, as lideranças da UNAS falam indignadas das sensação de abandono e de traição. Ele [Bruno Covas], conhece nosso trabalho. “Veio aqui nos comprimentar diversas vezes”, afirma Cleide liderança da UNAS. Como é que num momento como esse que a morte nos ronda, ele faz esse desmonte, e não aceita conversar, afirmou Solange, outra liderança da comunidade.

Tendo o isolamento social como única política para evitar a contaminação da população, e com evidentes dificuldades de propor ações práticas para o enfrentamento da pandemia na cidade, o governo municipal do PSDB demonstra com essa ação, que dentro da política neoliberal, vai aproveitar a crise do covid, para fazer mais um desmonte e atingir a população mais pobre da cidade. Desmontando um projeto que é um exemplo pra todo o país, para fazer arranjos políticos para as eleições municipais.

 

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