Bem-humoradas, Mães e de Luta!


Bia, Renata, Michele, Taís e Giovana. Elas não são mais exceções: a cada dia ocupam mais espaços no ambiente acadêmico, profissional, político e na militância. Nossas personagens carregam consigo desafios de uma nova geração e uma força regada a gritos de ordem e empoderamento feminino. Das cinco, quatro traziam à tira-colo futuras mulheres e potenciais líderes que desafiarão as barreiras impostas pela estrutura machista e patriarcal da sociedade brasileira

Durante o 55º Congresso da UNE em Belo Horizonte, entre 14 e 18 de junho, acompanhei fascinada crianças e mães lutando lado a lado por seus direitos. O esforço e sacrifício é partilhado pela criatura e pela criadora! Bebês pequenos passam dias inteiros acordados em ambientes agitados, extremamente barulhentos e totalmente despreparados para acomodá-los. Empurra-empurra, gente fumando para todo lado, opções de comida extremamente limitadas, ausência de estrutura para amamentação ou troca de fralda e distâncias muito longas e de difícil locomoção; são alguns dos obstáculos que elas enfrentam nesses grandes eventos. 

Neste ano, a UNE criou um espaço destinado às crianças e a iniciativa foi considerada por várias um avanço, mas não suficiente. Inclusive, a creche nas universidades é sempre a primeira pauta colocada pelas estudantes com quem conversei. O acesso à educação é extremamente complicado para as mães brasileiras, o cuidado dos pequenos é uma tarefa sem expediente e grande parte dessas mulheres o fazem sozinhas. Como conciliar um bebê de colo ou uma criança com a faculdade, o cuidado da casa (muitas vezes também responsabilidade únicamente delas) e o trabalho para o sustento da família? 

No dia 15 de junho, publicada pelos Jornalistas Livres, a entrevista com a Bruna Barbosa ilustrou o despreparo das instituições para lidar com as estudantes que também são mães. Conheci ela e seu filho Joaquim no alojamento, onde o pequeno, com um ano e meio, convivia harmonicamente com quase quatro mil estudantes universitários acampados. Lá encontrei também a Manuela, com 21 anos e sete meses de gravidez, enfrentando o perrengue na maior tranquilidade. Segura do seu caminho, ela contou que a gestação ampliou o leque de pautas que defende e passou a enxergar mais uma realidade.

Como bem colocou a Bia, a maternidade é uma questão social séria e não deve ser romantizada. Elas não precisam de palavras bonitas ou sorrisos simpáticos, mas sim acesso à regimes especiais para a aplicação de provas, creches gratuitas em período integral, espaços adaptados para as necessidades das crianças nas universidades, o fim da cultura de isolamento social, o fim do preconceito contra gestantes no mercado de trabalho, entre outras pautas muito bem defendidas pelo exército de pequenas e grandes mulheres! 

Os dilemas das mães de luta também levam em conta a formação e as escolhas de seus filhos. Elas têm consciência de que essa forma de vida é delas e apesar das crianças terem de acompanhá-las, devem crescer e poder formar suas próprias opiniões. De fato, o que essas mães parecem ensinar não são determinadas ideologias ou crenças, mas uma lógica de mundo diferente, baseada no respeito e na cooperação. 

É surpreendente assistir a essas crianças se desenvolvendo em um universo onde a maioria segurando os microfones e comandando o congresso eram mulheres. Inclusive, muitas mulheres negras. Uma das cenas me marcou: uma menina negra de uns três anos viu um tambor e, sem titubear, empunhou a baqueta e estalou o couro. O braço descia forte sem medo, o olhar da menina sustentava o meu, me desafiando. Ela sabe que tem voz, que tem direito de ocupar aquele espaço e não está disposta a me deixar entrar em seu caminho. 

Saber das dificuldades e a falta de estrutura que enfrentam causa indignação. Mas assisti-las na resistência, desafiando a estrutura da sociedade, é empoderador. Vê-las sorrindo, felizes, inteiras e apaixonadas por si mesmas e suas crias, é contagiante. Escutá-las é inspirador. Eu trouxe um pouco para compartilhar com vocês. 

Assista a história de cinco mulheres, mães e guerreiras

Bia, Coordenadora da delegação do Amazonas e mãe da Helena.

Renata, presidenta da UJS São Paulo e mãe da Laura.

Michele, Estudante da Unb e mãe da Estela.

Taís, presidenta da UJS do Maranhão e mãe da Anita. 

Giovana, Estudante da Universidade Federal de Uberlândia e mãe do Rafael.

COMENTÁRIOS

2 respostas

  1. Lindo relembrar essa reportagem <3
    Gratidão Maria Vitória, por toda sensibilidade ao mostrar a nossa realidade.

POSTS RELACIONADOS