Jornalistas Livres

Autor: Helio Carlos Mello

  • As paredes do canto

    As paredes do canto

    Vestia a mesma roupa que era sua, 

     

    dignifica, tal Pandora de macacão,

     

    vela no mar.

    Era dia de São João e eu procurava balão

     

    no céu.

     

    Vi um homem no risco da vida, um céu em riste.

     

    Por que arrisca-se tal gente,

     

    morando em casa de fundo?

     

    Ou nem casa tem, sei bem. 

    Descia da cobertura

     

    em corda e tinta, nem sua moradia era, pensava eu.

     

    Será que  pensa em Maria, quando desce

     

    em dia de São João?

     

    Sabia que ia gente presa naquele dia

     

    para cadeia fria, feia,

     

    por lutarem por moradia.

     

    Mas ele pinta, sério, decidido desce.

    Procurava balão proibido no céu, naquele dia,

     

    mas vi o homem pintando prédio, tantas moradias em poleiro de ricos.

     

    Era corda.

     

    Nem tão solto assim, 

     

    arriscava voo aquele homem, 

     

    mas pintava só.

     

    Para tantos é cela,

    é corda.

    Será força.

     

  • Sujando as mãos

    Sujando as mãos

     

    De repente, na metrópole, indígenas trazem a argila, ensinam os brancos a sujarem as mãos, meterem os dedos no barro, dar forma, modelar. Já afirmaram os cientistas que de fato a origem da vida pode mesmo estar no barro. As mulheres indígenas, há muito, já deram alegria a isso.

     

    Da argila, povos originários do Brasil, sempre fizeram utensílios, panelas, potes, ou bonecas e bichinhos como brinquedos para crianças. Índios Karajá, da Ilha do Bananal, ou os Wauja, da Terra Indígena do Xingu, os donos do barro, são grandes produtores desses artefatos, guardam milenares conhecimentos.

     

    Na aldeia Piyulaga, dos Wauja, no Xingu, criança aprecia o biju com molhos de pimenta.

    O que há de inovador agora é presenciar jovens indígenas, em condições urbanas, exercitando e ensinando antigas tradições. 

     

    O Programa Jovem Aprendiz, de âmbito federal e regulado pelo DECRETO Nº 5.598, DE 1º DE DEZEMBRO DE 2005, na SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina), adquiriu a cara indígena, onde jovens de várias etnias encontram ali uma inserção no desenvolvimento de capacitação profissional, através da elaboração do Projeto Jovem Aprendiz Indígena – PJAI. 

     

    Kuanadiki Karajá e Mahi Trumai Wauja ,  professoras na Oficina de Cerâmica Ritxoko e Yae’ïm.

     

    O barro aqui atua numa transmissão de saberes e fazeres acerca da relação entre arte, cosmologia e vida social. A cerâmica não só serve como instrumento, mas comunica, confirma, reinventa usos e convivência.

     

    Panela Wauja.

     

     

    Na aldeia dos índios Ikpeng, formiga Kulu, iguaria do Xingu, é tostada na cerâmica Wauja, os grandes ceramistas do Alto Xingu, que realizam trocas entre os diversos povos, suprindo a todos com o espetacular utensílio.

    O índio está em toda parte. 

     

  • Poesia da pior qualidade

    Poesia da pior qualidade

     

    É vermelho o milho que como

    enquanto a onça de muitos nomes

    me olha

    espreita.

     

     

     

    Tereza, Ernesto, Ricardo.

     

    Os três pinos da tomada de poder,

    balança que não apruma,

    justiça que trai

    deserta

    desespera.

    Índios Pataxó observam o rio Paraopeba, águas que descem de Brumadinho, MG. Imagem por Lucas Hallel ©

     

    Jogam com a terra dos índios,

    quilombolas

    ribeirinhos

    caiçaras.

     

    Inebriam os limites

    nossas reservas legais,

    nossos parques.

     

    Imagem por Araquém Alcantara©

    Namoram a mata virgem,

    tão casta, tão pública,

    santa,

    imaculada.

     

    Parque Estadual do Jalapão – TO

    Há relações exteriores entre

    meio ambiente e agricultura.

    Derruba

    Queima

    Seca

    Abre

    Vende.

     

     

    Eu deserto,

    eu coagulo.

  • Kriptonita

    Kriptonita

     

    A Kriptonita é uma rocha imaginária, de outro planeta, verde, que ao aproximar-se do Superman, começa a brilhar e atinge os poderes dele, enfraquecendo seus super poderes. Rocha assim padece em solo americano, coisa das Amërika, states. 

     

     

    O pensamento mágico é sempre o cumprimento rigoroso de uma regra, submissão à uma lei, obtenção de alguma recompensa. Vem do Wikipédia boa argumentação:

     

    Em psicologia clínica, o pensamento mágico é uma condição que faz com que o paciente experimente medo  irracional de realizar certos atos ou ter certos pensamentos, porque ele assume uma relação entre suas ações e calamidades ameaçadoras.

    O pensamento mágico inclui todos os sistemas de magia , pois inclui a ideia de causalidade mental, ou seja, a possibilidade da mente ter um efeito direto sobre o mundo físico.

    Na psicologia junguiana , o pensamento mágico é descrito em termos de sincronicidade , uma abordagem que não foca na causalidade, mas no significado da co-ocorrência de certos eventos.

     

    https://www.facebook.com/jornalistaslivres/videos/2041427539246847/

     

    .

     

    O presidente do Brasil fala da kriptonita, em café da manhã com seletos jornalistas, entre bela arrumação de mesa e taças, em dia de greve geral.

     

    Estarreço.

     

    Quando um cabra, homem idoso já, maduro, sente-se o Super-Homem, herói fortuito na infância de muitos, me dá coceiras.

     

    Será que é esse o verde que teme, e por isso desentende o que é meio ambiente, teme tudo que reluz e harmoniza em diversidade? Ou bichos do mato, ou tanta gente que pensa diferente e sente o mundo belo e possível, mata atlântica; Amazônia, o inferno verde, e santo?

     

    O presidente diz também que é um equívoco o Supremo Tribunal entender que atos preconceituosos contra homossexuais e transexuais, devam ser enquadrados no crime de racismo.

     

    Ele diz que teme o desemprego deles!

     

    Quer equilibrar, aprumar o pêndulo da justiça com um ministro evangélico na suprema corte, e que tal ministro sente em processos assim.

     

    Fóbico presidente, filhos mimados, perversos,  perde-se em linhas de crença, fé, preconceito, pífia ideologia.

     

    Será outro clube do Bolinha ou minha alma sem guru que vaga?

     

    Presidente, não é triste informá-lo, mas é redondo o planeta,  e, também, não é o caminho reto. Sim, é curvo, circular, complexo apenas.

     

    Inevitável, óbvio.

     

    O curso dos fatos cavuca, corrói, aplana.

     

  • Novas notícias do mundo doido

    Novas notícias do mundo doido

    O mito da Cobra Norato, que é uma das lendas indígenas mais conhecidas da Amazônia. Essa história folclórica mistura dois personagens locais muito importantes: a Cobra Grande ou Boiúna (“cobra preta”, em língua indígena) e o Boto.

     

    Dizem que a árvore plantada por Trump e Macron, no jardim da Casa Branca, em sinal de amizade, morreu, findou, não resistiu.

     

    Dizem também que o Salvator Mundi, quadro de Leonardo da Vinci, entre as mais  caras obras de arte já leiloadas, está vagando em iate de príncipe saudita, daqueles que mandam cortar as mãos das pessoas, suas cabeças, suas mulheres.

     

    Pelo planeta morrem as abelhas, girafas, orangotangos e rinocerontes. Entre as águas habitam agora os plásticos, nova presença na conquista do mundo.

     

    No Brasil, que chamam pátria amada, buscam maneiras de acabar com a reserva legal.

     

    Para que guardar o mato?

     

    Povos tradicionais, isolados até, afirmam alternativas possíveis, refugiam-se.

     

    Índios Kisedje produzem óleo de pequi , na Terra indígena do Xingu, MT — Foto: Rogério Assis/ISA

     

    https://g1.globo.com/mt/mato-grosso/noticia/2019/06/11/indios-de-mt-ganham-premio-da-onu-por-producao-de-oleo-de-pequi-em-aldeia.ghtml

     

    Homens bem sucedidos em seus projetos de poder, adoram plantar árvores, soltar pombos brancos, comprar arte;  por mais que matem, devastem ou façam guerras.

     

    Balelas, picaretas. Estamos no buraco negro do capitalismo, capitulação.

     

    Chora-se de alegria ou dor. Há ira naqueles que iludem com gestos vazios, jogo de cena.

     

    Os, dos poderes, podres, esnobam boa ação.

    Dizem ao homem da cidade que ser feliz é ter posses. 

    Não creio tanto assim, sem terra. 

    Sirvo, como gente. Nos degustamos.

    Piegas. Seres que passarão. Enterram, ferram, findam,

    longo caminho. Pagamos a conta.

     

    Meu povo abala-se ainda com sevícias sexuais. Craque de araque do futebol.

     

    Falsos,

    tolos ídolos.

     

     

     

     

     

    *Imagens e artes por Helio Carlos Mello©

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  • Como era verde meu canto

    Como era verde meu canto

    O que substituirá o toque, o pólen, a planta, o cheiro?

    Será artificial o tato, a mente, o sabor? 

    Mesmo inteligente, artificial

    pensa?

     

     

    Noções assim, legiões que incham, fermentam

    nação.

     

    Abala, finda.

     

    Nem serei encanto entre tantos

    fins.

    A Sovetskoe Foto (Soviet Photography), ou Советское фото.  Edição iniciada em 1926.

     

    Nem recomeço.

     

    Tudo pranto seco. Seco, nano partícula, lama, micro plástico.

    Advento, ventania.

     

    Montagem através de imagem de Douglas Magno©, em Brumadinho/MG.

     

    É o homem que segue, caga.

    Antiga lenda reza

    ser rei quem um olho tem. Herege, maldito.

     

     

    A peste.

     

    Resta-nos a pauta, colapso.

    Empurra, empurra.

    De tudo resta.

    Helio Carlos Mello©

     

    Serei plástico, prático

    um dia.

     

    por Adenor Gondim©