Por Mauricio Barraza*
Ontem, dia 5 de setembro, foi organizada uma marcha na Cidade Universitária em apoio aos estudantes agredidos e contra a violência e os grupos de porros existentes na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), a maior universidade da América Latina. O governo da Cidade do México calcula que participaram cerca de 30 mil estudantes. No dia 4 de setembro, estudantes, professores e trabalhadores da UNAM decidiram suspender suas atividades. Na véspera, estudantes do Colégio de Ciências e Humanidades (CCH) de Azcapotzalco foram violentamente atacados. Grupos estudantis de choque, conhecidos como porros, lançaram pedras e coquetéis molotov e chegaram a dar facadas nos alunos. 14 ficaram feridos, 2 em estado grave.
Os estudantes organizavam uma marcha e protestavam em frente à reitoria da UNAM por agressões que já tinham sofrido em dias anteriores por parte desses grupos de choque. Eles tomaram a escola desde o dia 27 de agosto, exigindo a destituição de María Guadalupe Patricia Márquez Cárdenas como diretora do Colégio devido às suas atitudes antidemocráticas e por ter apagado vários murais que relembravam os movimentos estudantis históricos da UNAM. Outras demandas dos estudantes estavam relacionadas com a falta de professores no CCH Azcapotzalco, com a cobrança de taxas indevidas e com o esclarecimento do feminicídio de Miranda Mendoza Flores, aluna de outra unidade do Colégio, o CCH Oriente.
Em dias anteriores, estudantes que tomaram o colégio já haviam sofrido algumas provocações pelos porros, que tentavam desmobilizar os membros da ocupação no CCH Azcapotzalco.
Os porros são aqueles que fazem parte de grupos de choque formados por estudantes que comumente pertencem a alguma torcida organizada de times universitários de futebol e futebol americano, têm ligações com alguns grupos e partidos políticos dentro e fora da universidade e são historicamente utilizados, desde a década de 40, para desarticular a organização e os movimentos estudantis. Os métodos para conseguir esta desarticulação podem ser desde a infiltração nos próprios movimentos e organizações estudantis, passando pela infiltração em marchas e mobilizações para ocasionar distúrbios, até chegar a extremos exercendo violência física direta contra os estudantes e podendo, inclusive, causar sua morte.
Em resposta às agressões cometidas pelos porros, os estudantes do CCH Azcapotzalco organizaram uma marcha cujas demandas principais eram “fora porros da UNAM” e o esclarecimento do feminicídio de Miranda Mendoza Flores, aluna de um dos CCH mencionada anteriormente. A marcha terminaria em um comício em frente à reitoria da UNAM, na Cidade Universitária. No começo do ato, um grupo de porros com camisetas de times de futebol americano da UNAM começou a jogar pedras e coquetéis molotov em direção aos presentes. No entanto, os porros avançaram contra os estudantes os agredindo e os esfaqueando. O saldo final do enfrentamento foram 14 estudantes feridos, dois em estado grave: Emilio Aguilar Sánchez e Joel Meza García. Um deles perdeu parte da orelha devido à um corte com faca e o outro precisou de uma transfusão de sangue e está em risco de perder um rim. Até o momento, nenhum dos agressores foi detido.
Os estudantes acusam os porros de atuar sob a proteção das autoridades universitárias e inclusive apontam a Teófilo Licona, coordenador de auxílio da UNAM e chefe de segurança da universidade, como responsável pelos ataques, já que foi visto com os porros momentos antes do ataque.
Alguns porros já foram identificados como estudantes de diferentes Colégios de Ciências e Humanidades pertencentes à UNAM e são acusados de ter vínculos com o Partido da Revolução Democrática (PRD), que atualmente governa a Cidade do México e com o Partido Revolucionário Institucional (PRI), ao qual pertence o atual presidente do México, Enrique Peña Nieto.
Como resultado, distintas faculdades e escolas de ensino médio da UNAM organizaram, no dia 4 de setembro, assembleias em cada um dos espaços acadêmicos, nas quais se decidiu apoiar as demandas do CCH Azcapotzalco e fazer paralisações em cada uma das faculdades e escolas. Até agora, um total de 41 escolas e faculdades estão paralisadas.
Além disso, no dia 4 de setembro o reitor da UNAM, Enrique Graue, se pronunciou contra as agressões sofridas pelos estudantes e condenou o ocorrido, prometendo a expulsão da universidade e a denúncia perante as instituições correspondentes dos porros que já foram identificados. No entanto, os estudantes responsabilizam o reitor pelo ataque e o acusam de ser cúmplice destes grupos que ainda não foram expulsos da vida estudantil da UNAM.
Outras instituições de ensino superior, como a Universidade Autônoma Metropolitana (UAM), a Universidade Autônoma da Cidade do México (UACM), o Instituto Politécnico Nacional (IPN), a Escola Nacional de Antropologia e História (ENAH), a Universidade Pedagógica Nacional (UPN) e a Escola de Jornalismo Carlos Septién, manifestaram apoio total aos estudantes da UNAM, somando‐se aos protestos. A Universidade de Chapingo, localizada no município de Texcoco, Estado do México, também está paralisada.
Ontem, dia 5 de setembro, foi organizada uma marcha na Cidade Universitária em apoio aos estudantes agredidos e contra a violência e os grupos de porros existentes na UNAM, à qual se somaram grupos de estudantes das universidades e escolas já mencionadas. O governo da Cidade do México calcula que participaram da marcha cerca de 30 mil estudantes.
Amanhã, sexta‐feira, 7 de setembro, se convocou uma assembleia geral da UNAM. Nela, se decidirão as seguintes ações a ser realizadas.
Estes fatos ocorrem no contexto do aniversário de 50 anos do movimento estudantil mexicano de 1968, que impactou o país inteiro e culminou com o massacre de centenas de estudantes em Tlatelolco – um bairro da Cidade do México – perpetrado pelo exército mexicano no dia 2 de outubro daquele ano.
*Mauricio Barraza é cientista político graduado pela Universidad Autónoma del Estado de México (UAEMéx).