Ataque a candidata em Parnamirim expõe intolerância a terreiros de candomblé

Vereadora emitiu parecer em Comissão da Câmara Municipal de Parnamirim favorável ao projeto que reconhece utilidade pública casa de candomblé

Por Isabela Santos, da agência Saiba Mais

Em Parnamirim, os ataques políticos entre os candidatos durante a campanha eleitoral de 2020 atingiram também o respeito à diversidade e o direito à liberdade religiosa. Viralizou entre os eleitores da cidade uma imagem questionando se a vereadora Kátia Pires (DEM), que é candidata a vice-prefeita na chapa com Taveira (Republicanos), é cristã ou do candomblé.

Isso porque a vereadora emitiu parecer da Comissão de Constituição, Legislação e Redação Final da Câmara Municipal de Parnamirim favorável ao projeto que reconhece utilidade pública da Sociedade Filantropico-Religiosa de Candomblé Ilê Olorum.

A montagem compartilhada nas redes sociais inclui um texto bíblico sugerindo que a candidata supostamente pertence a duas religiões distintas e uma foto do projeto de lei Nº056/2020, assinado por Kátia Pires. “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Mateus 6:24”, destaca a imagem.

O projeto de lei é uma resposta à reivindicação da comunidade do candomblé e para o ogan e oluwô da casa Ilê Olorum, Richardson de Omolu, a imagem compartilhada é um ato criminoso de intolerância religiosa, racismo, incitação ao ódio e a perseguição das religiões tradicionais de matriz africana e seus adeptos.

“O card mostra a vereadora como uma pessoa cristã que apoia as causas das comunidades tradicionais, o que é louvável. Entretanto, eles colocam-na como uma cristã adoradora de outras religiões e o versículo deixa explícito isso, dizendo que você não pode servir a dois senhores, demonizando as religiões de candomblé, com o nome da minha instituição, do Ilê Olorum, com um ponto de interrogação no sentido de colocar em dúvida a postura da candidata, que é adequada em respeitar a diversidade e entender que a laicidade do Estado está acima de qualquer protocolo religioso”, argumenta Richardson de Omolu, informando que a casa tem investigado a origem da publicação que foi amplamente compartilhada entre grupos fundamentalistas de Parnamirim.

“A ialorixá da nossa casa, Mãe Isa de Nanã, tem relevantes serviços filantrópicos prestados à comunidade e a casa Ilê Olorum está pleiteando o título de utilidade pública. Começou com o mandato do vereador Rogério Santiago e a vereadora Kátia Pires protocolou o pedido na comissão da Câmara há um certo tempo”, contextualiza.

Richardson publicou uma nota em suas redes sociais destacando a gravidade da publicação. Ele lembra que no Brasil, a liberdade de crença é assegurada pela Consituição Federal e que a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, alterada pela Lei nº 9.459, de 15 de maio de 1997, considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões.

Ele aponta ainda que o crime de injúria e danos morais contra sujeitos de direitos, também podem ser configurados na postagem que “tenta achincalhar” o terreiro de candomblé e a vereadora Kátia Pires.

O ogan escreve que as ofensas não são suficientes para diminuir a resistência do seu grupo religioso e termina convocando a população que não compactua com as diversas formas de preconceito de discriminação a não votarem em candidatos que pregam segregação.

“Para nós que somos religiosos e povos de comunidades tradicionais de matriz africana, em nenhum momento essas pseudo ofensas diminuem nosso Axé, nosso empoderamento e orgulho de pertencermos a ancestralidade africana que foi trazida na condição de mão de obra escrava para esse país, mas que resistiu, lutou e edificou essa nação ladeado aos povos originários”.

A reportagem da Agência Saiba Mais tentou contato com a vereadora Kátia Pires durante a segunda (26) e a terça-feira (27) e não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.

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