Centenas de pessoas de Mogeiro (PB) e do agreste paraibano participaram na manhã de hoje da missa de corpo presente de Ivanildo Francisco da Silva, presidente do PT na cidade e assentado da reforma agrária. Ele foi assassinado na noite de quarta-feira (6/4) em casa, com um tiro de revólver e outro de espingarda calibre 12 na cabeça, diante da filhinha de um ano e meio.
A pequena Mogeiro tem 13.349 habitantes e área de 218 km². Está localizada no polígono das secas. Distante 113km de João Pessoa, a cidade tem Índice de Desenvolvimento Humano de 0,574, considerado baixo pelas Nações Unidas.
Ivanildo e a família moram no Assentamento Padre João Maria, na zona rural do município. O corpo só foi encontrado na manhã de ontem, quinta-feira (7/4), pela mulher de Ivanildo, que havia dormido na casa de parentes, na cidade, onde fora participar de uma missa. A filha do casal passou a noite ao lado do corpo do pai.
A missa foi presidida pelo frade franciscano Frei Anastácio Ribeiro, que é deputado estadual do PT. Ele disse que o assassinato “é a volta do crime organizado no campo” e acusou um grupo de 5 fazendeiros: “Temos informações de que existe um grupo arquitetado para impedir a luta pela terra na região do Agreste paraibano. Atualmente há um grupo de capangas fortemente armados atuando nos municípios de Mogeiro, Itabaiana e São José dos Ramos. Eles estão sendo pagos por um grupo de cinco proprietários rurais desses municípios”.
O parlamentar indicou quem são os fazendeiros: “O grupo é formado pelos proprietários José Guilherme, dono da fazenda Paraíso; José Otávio Silveira, proprietário da fazenda Fazendinha; o jogador de futebol Ailton, de Mogeiro, além de Maria Luiza, dona da fazenda Salgadinho (ex-vice-prefeita de Mogeiro), Alexandre de Miranda, que comprou uma parte da fazenda Salgadinho e o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da Paraíba, Paulo Américo Maia Filho, dono da fazenda Pau a pique, em São José dos Ramos”.
Os nomes dos fazendeiros já foram entregues às autoridades da Paraíba para que seja aberta investigação. Frei Anastácio relatou ainda que na tarde da quarta-feira (6/4), Ivanildo e outras lideranças haviam realizado reunião com a assessoria jurídica da Comissão Pastoral da Terra (CPT), para denunciar toda organização criminosa. À noite, foi morto.
Ivanildo e os agricultores da região têm uma história de ameaças e atentados realizados por jagunços dos fazendeiros. Em outubro de 2015 ele e outros cinco agricultores da fazenda Salgadinho, no município de Mogeiro, haviam sido feridos a tiros de espingardas 12 e revólveres .38 quando realizavam um mutirão. Os jagunços foram presos e depois soltos, com pagamento de fiança.
Segundo frei Anastácio, não tem fim a lista de arbitrariedades contra os pobres no agreste da Paraiba. Ivanildo e mais 7 trabalhadores da antiga fazenda Mendonça, também em Mogeiro – hoje Assentamento Dom Marcelo – ficaram 19 meses presos entre abril de 2002 e dezembro de 2003, acusados injustamente de terem atentado contra a vida do policial civil Sérgio Azevedo. “Esse policial era líder de capangas na região de Itabaiana”, afirmou o parlamentar.
Ivanildo e os outros foram julgados em 2015 pelo Tribunal do Júri de João Pessoa e absolvidos por unanimidade.
Fotos da missa de corpo presente de Ivanildo Francisco da Silva, celebrada na manhã de hoje (8), em Mogeiro. Frei Anastácio Ribeiro, deputado estadual pelo PT, presidiu a missa. Fotos enviadas pelo mandato do deputado.
Uma resposta