O plano para retomada das aulas presenciais na rede pública e privada de ensino no estado de São Paulo, anunciado pelo governador João Doria nesta quarta-feira (24/6), é prematuro, não tem base científica e pode representar um perigo real de recrudescimento da pandemia de Covid-19. São Paulo já é neste momento o epicentro da epidemia no Brasil.
A data prevista por Doria para a retomada das aulas presenciais é 8 de setembro. Segundo ele, só ocorrerá se todas as cidades paulistas completarem 28 dias na fase 3 da pandemia (etapa amarela do plano São Paulo de flexibilização econômica). A pergunta que fica é: por que, então, anunciar essa retomada neste momento?
De acordo com o governador, o retorno seguirá normas baseadas no distanciamento social, higiene pessoal, sanitização dos ambientes, comunicação com as famílias e monitoramento de sintomas. Será mantido o distanciamento de 1,5 metro.
Também prevê a organização da entrada e saída dos alunos para evitar aglomerações, intervalos em horários alternados. Atividades de educação física, somente com distanciamento e preferencialmente ao ar livre. E um escalonamento de retorno, dividido em fases.
Há, entretanto, muito mais perguntas que respostas. Como o Governo de São Paulo pretende resolver em tão curto espaço de tempo os problemas estruturais das escolas públicas estaduais? Até 8 de setembro será executado um plano de reformas que permita assegurar condições de segurança sanitária para estudantes, professores e funcionários na rede estadual de ensino?
Como pretende o governo garantir condições para a higiene pessoal de milhões de estudantes, se chega a faltar água em muitas escolas, não há lavatórios suficientes, a maior parte dos banheiros se encontra em péssimo estado, há falta até mesmo de papel higiênico e papel toalha? Haverá garantia de álcool em gel para todos, máscaras de proteção e verificação da temperatura dos estudantes na entrada das escolas todos os dias? Serão aplicados testes em massa em professores, estudantes e funcionários quando desta retomada?
Uma grande parte das nossas escolas não possui condições de ventilação necessárias para o momento e a situação de luminosidade natural prejudica o processo de aprendizagem. É um bom momento para resolver essas questões, pois a ventilação é um item necessário à prevenção da pandemia.
Devemos aprender com os países que foram rigorosos no isolamento social horizontal e obtiveram melhor controle da pandemia. Devemos aprender também com aqueles que em algum momento se precipitaram e tiveram que retomar medidas restritivas.
Escolas são locais de alto contágio. Foram as primeiras a parar e devem ser as últimas a voltar, no momento em que houver uma drástica redução da pandemia, com garantia de segurança sanitária para estudantes, professores, funcionários e suas famílias. Qualquer precipitação será um atentado contra a vida. A prudência recomenda que pelo menos até dezembro seja mantido o uso das tecnologias de informação e comunicação, porém de acordo com um protocolo que é necessário estabelecer de forma negociada.
O governo Doria, ademais, insiste em tomar medidas unilaterais, sem diálogo com a APEOESP, demais segmentos diretamente envolvidos e com a sociedade, em desrespeito à gestão democrática da Educação. Avalia-se nesse sentido a decretação de uma greve da categoria.
Professora Bebel é deputada estadual pelo PT de São Paulo e presidenta do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP).
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