Apontamentos para uma série sobre o futuro de Aécio Neves

Senador Aécio Neves (PSDB-MG) - Foto: Jefferson Rudy/Agência Senado

Por cinco votos a zero, o Supremo Tribunal Federal acatou a denúncia de corrupção contra o senador mineiro Aécio Neves (PSDB). Até seu grande amigo e aliado político, Alexandre Morais, votou a favor. Na denúncia de obstrução da justiça, votou contra, mas os demais pares votaram a favor, e assim o ‘Mineirinho’ da planilha da Odebrecht virou réu em dois processos.

Os caciques do PSDB, ao comentar a decisão do STF, sacaram o argumento de que isso confirma que “a lei é para todos”. Será?

Desde que foi exposto pelas gravações de Joesley Batista, quando pediu e recebeu R$ 2 milhões, e de mandar um emissário descartável pegar o dinheiro (alguém que possa matar antes de delatar), Aécio trafega dos espaços onde antes reinava como uma alma penada. Aqui e ali um jornal lhe dá espaço para dizer que foi vítima de uma armação, e só. Os velhos amigos correram para apagar fotos ao seu lado, outros dizem ter sido enganados pelo jeitobom moço do playboy carioca/mineiro.

A atual situação da ex-estrela do PSDB pode nos levar a desenhar um enredo e sugerir o que irá acontecer com ele daqui para frente:

EPISÓDIO 1. STF aceita julgar tucano por corrupção e obstrução da justiça. A decisão ganha o noticiário geral do país e seu partido aparentemente o entrega às feras A ideia de que “a lei é para todos” serve para divulgar o filme e a série contra Lula, além de atrair a atenção do público para Aécio, na esperança de que esqueçam outros tucanos. A ‘justiça’ deu uma mãozinha ao candidato a presidente do partido, Geraldo Alckmin, também delatado na Lava Jato, que teve seu processo enviado para a branda justiça eleitoral, e isso não pegou muito bem junto aos brasileiros indignados.

EPISÓDIO 2. “Mineirinho” analisa se renuncia, ou deixa o mandato vencer, para perder o foro privilegiado. Se renunciar, conta com uma decisão monocrática barrosiana de mandar o processo para a primeira instância, como fez com Azeredo. A vantagem é que, sem mandato, logo será esquecido e vai gozar do anonimato, e da grana que o acusam de ter rapinado.

EPISÓDIO 3. Aécio analisa aguardar o fim do mandato. Até lá o processo não andou um metro, vai perder o foro e vai para a primeira instância mineira de qualquer forma. Lá não lhe faltam juízes amigos e devedores de favores para congelar as investigações e aguardar a prescrição. As duas opções podem ser utilizadas, o que não influenciará muito no capítulo final desta história.

EPISÓDIO FINAL. Em qualquer das hipóteses, o cara não será preso, entre outras coisas porque carrega em si o ovo da serpente tucana que precisa ser congelado para não chocar. Além disso, o judiciário brasileiro já demonstrou que tem uma decisão fechada e coerente para cada tipo de suspeito, réu ou condenado. Um exemplo disso é a escolha de qual julgamento tem cobertura televisiva ao vivo, e qual é censurado. Nos julgamentos dos petistas, a decisão foi de transmissão em cadeia nacional, “porque é do interesse público”. Já no caso de Aécio, Carmen Lúcia proibiu a transmissão. Aí já não sabemos no interesse de quem.

Embora aparentemente a história esteja recheada de ingredientes que têm feito muito sucesso ultimamente, é duvidoso que ela vá empolgar. Em primeiro lugar, porque os produtores não irão investir muita grana na sua divulgação. Está mais para uma história que se deseja cair no esquecimento. Em segundo lugar, porque o protagonista hoje parece um daqueles atores hollywoodianos, que um dia dominaram a bilheteria, e hoje fazem ponta em filmes “B”. A melhor aposta é a de que esta série não saia do papel.

O resumo da ópera é o seguinte: da mesma forma que um dia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso declarou “esqueçam o que eu escrevi”, a fala final desta história que não ganhará nem telonas e nem telinhas é Aécio Neves declarando: “esqueçam que eu existi”.

  • Everaldo de Jesus é jornalista e mestrando em História pela Universidade Estadual da Bahia.

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