EXCLUSIVO: Tudo sobre o apoio vergonhoso e imoral da TV Record –e seu dono, o bispo Edir Macedo– a Jair Bolsonaro
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7 anos atrásem

Por Patrícia Zaidan, especial para os Jornalistas Livres
Quando o Jornal da Record colocou no ar a entrevista de 26 minutos de Jair Bolsonaro, no mesmo horário do Debate da Globo com sete presidenciáveis, as redações da TV e do portal R7 entenderam o recado: dali em diante, o Grupo Record usaria todos os esforços da reportagem como máquina de campanha para defender e promover o candidato do PSL, que liderava as pesquisas.
Naquela noite de 4 de outubro, reta final do primeiro turno, editores, repórteres e produtores ficaram em silêncio, atônitos, enquanto o colega Eduardo Ribeiro, da equipe paulista, aparecia no vídeo pronunciando as perguntas escritas sob orientação da direção. O vice-presidente de Jornalismo, Douglas Tavolaro, estava presente na empreitada, que se desenrolou na casa de Bolsonaro, no Rio de Janeiro. Tavolaro é homem de confiança e biógrafo do bispo Edir Macedo, o comandante da Record e criador da neopentecostal Igreja Universal do Reino de Deus. O projeto havia sido gestado a sete chaves. Nem mesmo a então chefe de redação, Luciana Barcellos, responsável pelo Jornal da Record, fora comunicada da existência dele. Luciana soube apenas na manhã daquela quinta-feira, quando o diretor de conteúdo de jornalismo, Thiago Contreira, hierarquicamente abaixo de Tavolaro, mandou escalar um determinado editor, pediu a ele para chegar bem mais cedo à emissora, no bairro paulistano da Barra Funda, para preparar o material a portas fechadas.
Só à tarde, profissionais da redação descobriram que o mistério se chamava Bolsonaro. Do conteúdo bruto quase nada foi cortado. A existência da gravação vazou. Mas o que o capitão reformado do Exército diria, permanecia em segredo. Às 18 hs, o candidato do PSL tuitou: “Hoje, às 22 horas, estarei no Jornal da Record com exclusividade. Peço assistir e divulgar”. PT, PSOL e MDB entraram com recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para impedir a publicação da entrevista.
COM A PERMISSÃO DO TRIBUNAL
No espelho – a sequência dos conteúdos que entrariam no ar na edição de 4 de outubro – seriam incluídas matérias frias, que os editores tinham na gaveta, caso a Justiça interditasse a gravação de Bolsonaro.
Nos bastidores houve torcida para que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acordasse e tomasse providências. Fora da lei, a Record não foi importunada pelo Tribunal que tem, entre suas funções, impedir que empresa detentora de concessão pública de rádio e TV favoreça uma candidatura. Surpreendentemente, o ministro Carlos Horbach deu sinal verde, rejeitando a “censura prévia” e reafirmando o direito à “livre manifestação” da Record.
O que os telespectadores viram é praticamente a íntegra da amigável entrevista do candidato que se recusara a debater com os sete adversários reunidos nos estúdios da Globo. Sua justificativa para a ausência: a recuperação do ataque a faca sofrido em Juiz de Fora (MG), no dia 6 de setembro.
O ESTRONDOSO PODER DO BISPO
Terminada a exibição da entrevista, a equipe do Jornal da Record, o principal da casa, deixou a redação constrangida e sem falar nada. “No dia seguinte, 5 de outubro, os colegas chegaram tristes e angustiados para trabalhar”, lembra um produtor, que como todos os outros profissionais da TV e do portal de notícias online R7, deram entrevistas a Jornalistas Livres sob a condição de anonimato. “A Record é uma emissora vingativa. Os repórteres e produtores que se recusam a realizar as pautas sofrem represálias, pressões e podem perder o emprego”, diz ele. Sobre a entrevista, uma profissional da pauta comenta:
“Foi o divisor de águas. Naquele momento a Record perdeu a mão, a sutileza, passou dos limites”. Em outras disputas eleitorais, lembra ela, “a casa já havia adotado um comportamento abusivo em relação à cobertura dos candidatos alinhados aos interesses econômicos do bispo. Mas o ingresso, de cabeça, na linha de frente da campanha do Bolsonaro foi escancarado e vergonhoso demais.”
Edir Macedo conta com a gratidão do mundo político. Para isso coloca a serviço de quem assume o poder a força de seu império de comunicação – um conglomerado de mídia. Macedo já esteve ao lado dos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Mas virou as costas para ela, envenenado por Eduardo Cunha, ex-parlamentar afinado com o bispo e peça fundamental na orquestração do impeachment de Dilma, ocorrido no período em que ele presidiu a Câmara dos Deputados.
Entre os estimados 7 milhões de fiéis e pastores da Igreja Universal, fundada por Macedo no Rio de Janeiro em 1977 e hoje espalhada por mais de 7 mil pontos do país, há inúmeros vereadores e deputados estaduais eleitos com a força da máquina do bispo. Um soldado deste esquema é o deputado federal Celso Russomano (PRB-SP), reeleito este ano, e que sempre depois das disputas eleitorais volta à tela da TV com seu quadro Patrulha do Consumidor. Em Brasília, deputados e senadores filiados ao mesmo Partido Republicano Brasileiro, considerado o braço político da igreja, capitaneiam a bancada evangélica do Congresso Nacional. Atraem parlamentares desgarrados ou de legendas inexpressivas, que se enfileiram ao redor dos projetos de Macedo para existir politicamente e, assim, acabam aprovando as propostas mais conservadoras, moralistas ou retrógradas da agenda nacional.
Douglas Tavolaro, no episódio da entrevista chapa-branca, acertou com Bolsonaro a ampla cobertura que a Record, o R7 e as demais emissoras da rede passariam a fazer dos seus passos. Um jornalista do portal, em um desabafo por escrito, afirmou: “A TV e o R7 passaram a ser usados como máquina de propaganda do candidato do PSL. Nos corredores, já se comenta que Douglas Tavolaro, participa diretamente da campanha de Bolsonaro. Ajuda a estabelecer pautas e estratégias de comunicação…”
Em 6 de outubro, completou-se o chamamento para que as equipes se engajassem no esforço de eleger Bolsonaro. Márcio Santos, diretor de RH, postou na sua página do Facebook, foto em que aparece sorridente com as hashtags: “Melhor Jair se acostumando; “PT Não”; “Ele sim”. Os jornalistas entenderam o recado. O que é capaz de fazer com os próprios empregados um conglomerado que persegue repórteres de outros veículos, autores de matérias mostrando que o bispo construiu seu império explorando fiéis da igreja? A perseguição mais notória se deu a Elvira Lobato, jornalista processada 111 vezes por publicar na Folha de S.Paulo inúmeras reportagens revelando a instrumentalização do conglomerado de comunicação como arma de massificação da opinião pública, além dos negócios milionários que isso possibilitou. Ficam na mira do time do bispo todos os jornalistas que escrevem sobre investigações policias, inquéritos e processos na Justiça envolvendo a igreja ou seu mentor em denúncias de falsidade ideológica, uso de documentos falsos, sonegação fiscal, importação fraudulenta e estelionato.
“No fim de semana posterior à entrevista, Eduardo Ribeiro, voltou do Rio para São Paulo só para resolver a vida, buscar roupas e embarcou de vez na cobertura da campanha”,
relata uma colega dele. “Não faço críticas, Eduardo deve estar sofrendo um bocado. Tem sido citado no mercado como alguém que é mandado e não retruca.”
O cerco se fechou sobre a equipe. Todos os textos de política passaram a ser lidos, com rigor, por Thiago Contrera. Ele também começou a assinar as laudas do espelho, ao dar a sua aprovação.
A LARGADA DO BISPO NO FACEBOOK
Macedo nunca morreu de amores por Jair Bolsonaro, nascido católico e batizado em Israel, no Rio Jordão, por imersão – conforme a tradição evangélica. Nesta altura do calendário, maio de 2016, era presidenciável, mas por outra legenda, o Partido Social Cristão (PSC). O bispo sempre o considerou um parlamentar indócil, alguém com quem era difícil entabular um diálogo. Seu candidato no primeiro turno era, na maior parte do tempo, Alckmin (PSDB). Às vezes pendia para Ciro (PDT), com as reportagens evidenciando a gangorra. “Os jornalistas de política suspiraram aliviados com a escolha do bispo ficando no campo do centro e da esquerda. Ninguém se sentiria confortável em cobrir Bolsonaro se ele se tornasse o candidato queridinho da casa”, lembra uma editora executiva da TV Record. Para comprovar a crença de que o bispo não embarcaria no tanque de guerra do capitão do Exército, ela cita a linha adotada na cobertura do atentado à faca. “Não tínhamos equipe em Juiz de Fora e a ordem foi pegar leve: ‘Atenção com o tom das matérias sobre a cirurgia em Minas Gerais. Não queremos vitimizar Bolsonaro, para que ele não cresça nas pesquisas’,” recorda a editora.
Quando se tornou evidente que Alckmin e Ciro não emplacariam e estariam descartados no fim do primeiro turno, Macedo mudou a rota.
Poucos dias antes da entrevista que dividiu as águas, pairavam a interrogação e o suspense entre os jornalistas do Grupo Record. Dois chefes de redação ouviram de um superior: “Tem um vento aí. Cuidado, não sabemos como ele vai virar”. Era a senha (nunca explicitada em memorandos ou e-mails, mas verbalmente) para não atacar nem paparicar nenhum dos candidatos.
Não foi preciso esperar muito. No dia 29 de setembro, Edir Macedo soprou a sua escolha feito um tufão. No Facebook, um senhor que se identificou como Antonio Mattos, vendo Macedo em um vídeo que nada tinha a ver com política, cutucou: “Queremos saber, bispo, do seu posicionamento sobre a eleição pra presidente”. Na lata, o chefe da Universal respondeu: “Bolsonaro!”. Mas o acerto não havia ainda sido firmado com o quartel-general bolsonarista. Então, a conduta ditada ao jornalismo da rede na primeira semana após o primeiro turno foi a seguinte: Foco no Ciro. “Fizeram matérias para mostrar como seria delicada a situação dele, se apoiasse Fernando Haddad, candidato do PT à Presidência da República. Outras reportagens mostravam que Ciro não ajudaria o petista.
Quando o irmão dele, o senador eleito Cid Gomes, gritou: “O Lula tá preso, babaca”, em um evento do PT, foi, para a Record, a festa da uva. “A recomendação era repetir, muitas vezes o episódio, e Cid berrando para a plateia de militantes: “Babaca, babaca”, conta um editor.
Sobre o assassinato do mestre de capoeira Moa do Katendê, por um bolsonarista, que o atacou pelas costas com 12 facadas, depois de ouvi-lo declarar voto em Haddad, nenhuma palavra. Nenhuma imagem em rede nacional. Na reunião de pauta, uma editora fez a defesa do tema, dizendo que a TV precisaria acompanhar a investigação. “Trata-se de briga de bar”, foi a resposta. Moa não era um brigão de boteco, teve importância na cultura baiana, fundou o Afoxé Badauê, ajudou na criação dos blocos afros de Salvador. A conclusão da polícia, de que a violência na política acendeu o estopim da morte de Moa foi igualmente ignorada pela Record.
A PORÇÃO QUE CABE A HADDAD
O adversário do postulante do PSL entra no noticiário minimamente cumprindo sua agenda de campanha. Ponto. Na sexta, 12 de outubro, dia da padroeira do Brasil, saindo de uma missa, Fernando Haddad criticou o apoio do bispo ao capitão. “Bolsonaro é o casamento do neoliberalismo desalmado representado pelo Paulo Guedes, que corta diretos trabalhistas e sociais, com o fundamentalismo charlatão do Edir Macedo”, afirmou o candidato petista. O Jornal da Record pôs no ar apenas uma nota pelada, jargão televisivo para o texto lido pelos âncoras sem imagem ilustrativa. A nota dizia que Haddad havia ofendido o bispo, e a igreja o processaria.
Na métrica diária do portal R7 entram duas matérias pró-Bolsonaro e duas batendo em Haddad. “Para fazer fachada, publicamos algo positivo do petista, como a sua proposta de baixar o preço do gás para 49 reais. Mas não entra com destaque, fica lá perdida. A demanda é por links negativos”, afirma um dos 80 jornalistas da redação. “Desde sua gestão na Prefeitura (de São Paulo) há um boicote a ele. Não pudemos dar, por exemplo, a queda do número de mortes no trânsito, depois que o prefeito reduziu a velocidade nas vias da cidade”.
A raiva de Macedo é anterior à gestão municipal do petista. Um projeto da igreja para a criação de uma universidade teria naufragado no Ministério da Educação no período em que Haddad foi o titular da pasta. Na disputa pela Prefeitura, em 2012, Macedo embalava a candidatura de Celso Russomano, que não passou para o segundo turno. Vitorioso, Haddad tomou posse quando a construção do Templo de Salomão, o gigantesco local de reuniões da Universal, no Brás, estava adiantada. O terreno havia sido reservado para moradias populares. A igreja conseguiu um alvará de reforma para o que, na verdade, era uma construção. Havia mais um problema: assinava a autorização Hussain Aref, diretor do departamento municipal que concede a licença, e que acabou afastado sob escândalo de corrupção. Haddad endureceu o jogo, a Prefeitura exigiu uma contrapartida, e o Ministério Público (MP) ameaçou pedir a demolição do templo. O petista exigiu como indenização à cidade a doação de um terreno na região com o mesmo tamanho. A igreja assinou um compromisso garantindo que doaria uma área avaliada em R$ 38 milhões. O MP segue acompanhando as tratativas, agora tocadas pela gestão Bruno Covas. “O bispo sabe que, eleito Haddad, não haveria dinheiro do governo federal para a Record”, analisa um editor da TV.

Templo de Salomão, construído pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), no Brás, região central de São Paulo, Inagurado em 31-07-2014, Foto Paulo Pinto/fotospublicas

Imagem mostra terreno onde foi construído o templo de Salomão na região do Brás, em São Paulo. Fernando Haddad teve grandes atritos com o Bispo Edir Macedo, por suspeitas de irregularidades no processo de autorização do terreno durante a gestão Kassab. Haddad exigiu uma contrapartida no valor de 38 milhões, do Bispo, já que o imóvel ocupava área de interesse social para moradia popular. Fernando Haddad enfrentou o temido bispo, mesmo contrariando orientações do PT.
DUAS PAUTAS-BOMBAS CONTRA O PT
“No site a cobertura é ainda mais cretina que na TV”, afirma outro editor, do R7. “E tem a Coluna do Fraga, que mente sobre Haddad e é escancaradamente a favor da vitória de Bolsonaro.” O titular da coluna, Domingos Fraga, e sua pequena equipe ficam isolados; os colegas não querem se relacionar com eles. Mas os comentários de Fraga têm força na casa. Um deles pautou uma matéria especial da TV. A repórter Elaine Heringer teria sido a destacada para “amarrar” o material, que demonizaria o Movimento Sem Terra, com foco principal na educação das crianças nas escolas dos assentamentos rurais. “A ordem é mostrar que as crianças do MST são vítimas de lavagem cerebral, com intuito de provar que elas seriam obrigadas a louvar líderes de esquerda, como Che Guevara”, comenta um profissional da casa. Os depoimentos colhidos estavam direcionados para confirmar a tese de Bolsonaro, para quem “o MST é um grupo terrorista”.
Fraga havia atirado nesta direção ao escrever, em 2 de outubro: “Parece algum grupo muçulmano radical, como o Estado Islâmico (Daesh) ou Hezbollah. Ou mesmo guerrilheiros das Farc. Mas, na verdade, são brasileiros que não alcançaram a puberdade. Milhares de crianças estão sendo guiadas por adultos para militarem nas causas defendidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais”.
A outra pauta-bomba mirou os venezuelanos. A missão era associar o sofrimento deles a um eventual governo de Haddad. A volta do PT ao governo transformaria o Brasil na Venezuela de Maduro. A ideia era mostrar a saída por estradas horríveis, ao longo de dias, com destino à Colômbia e ao Peru, ou a Roraima. “Em esforço incomum, foram enviadas uma equipe para a Colômbia e outra para a cidade brasileira de Pacaraima”, conta um editor.
Os destacados para a missão, Leandro Stoliar e Fábio Menegatti, são repórteres experientes, acostumados a levantar dados secretos, provas, documentos difíceis de conseguir. Fazem parte de um seleto grupo investigativo, têm salários mais altos e são chefiados por Leandro Cipoloni, diretor de gestão de jornalismo. “Internamente, esta equipe ganhou o apelido de “Núcleo de Extorsão”, porque algumas vezes é obrigada a usar a técnica investigativa em reportagens que atingem empresas do mercado – e elas, para se verem livres de exposição negativa na mídia de Macedo, cedem aos interesse do grupo, patrocinando projetos ou engordando a receita publicitária da emissora ”, revela um jornalista da Record.
As reportagens sobre os venezuelanos e a que fala das criancinhas do MST estão editadas e prontas e podem ser publicadas a qualquer momento.
A CAIXA DE MALDADES SEM FIM
Durante a primeira semana do segundo turno, foram muito valorizadas as delações ex-ministro petista Antônio Palocci, as notícias da Lava-jato. No domingo, 14 de outubro, entrou no ar uma nova pancada no PT. Em manobra sem ética, a reportagem tentou associar ao ex-presidente Lula o filho do ditador da Guiné Equatorial, Teodorin Obiana, preso com 1,5 milhão de dólares em dinheiro e 20 relógios avaliadas em 15 milhões de dólares.
O ar estava irrespirável; a tensão e o stress crescentes provocavam inúmeras queixas entre repórteres e editores. Até que, na quarta-feira, 18 de outubro, a redatora-chefe do Jornal da Record tomou uma medida que restaurou a dignidade que os profissionais sentiam estar perdendo. Luciana Barcellos chegou às 13 horas, como de costume, e sentou na frente do computador. Abriu o e-mail e dirigiu-se aos superiores, com cópia para Márcio Santos, do RH. Escreveu a sua carta de demissão, avisou para os três editores executivos e a editora-chefe do JR e saiu da redação direto para a sala do diretor do RH. Pouco depois, Thiago Contreira reuniu a equipe para anunciar a saída de Luciana, depois de oito anos de trabalho na empresa. Funcionou como uma catarse. Alguém ali estava legitimando o desejo da maioria: livrar-se de uma cobertura sem verdade, que vai contra os princípios do jornalismo. E atropela brutalmente a cláusula de consciência do Código de Ética da categoria, que assegura ao profissional o direito de recusar um trabalho que vai contra seus princípios.
Luciana não era uma unanimidade. Para se relacionar com o comando extremamente masculino do jornalismo da Record, ela manteve uma postura firme e muitas vezes foi dura demais com os chefiados. “Mas ela me surpreendeu. Teve a dignidade de dar um basta”, reflete uma repórter. “Fui até ela, como muitos outros colegas, para abraçá-la. Eu lhe disse: ‘Você fez o que muitos de nós queríamos fazer agora’.” Foi uma comoção. Um jovem jornalista perguntou a ela: “Sua decisão foi tomada depois da entrevista do Bolsonaro, não foi?” Luciana respondeu a ele que, na verdade, aquilo fora a gota d’água. E que ela vinha se questionando nos últimos meses: Queria ou não continuar fazendo parte, mesmo que indiretamente, do projeto de poder do Grupo?
NA SAÚDE E NA DOENÇA COM BOLSONARO
Sob os olhos dos ministros do TSE a cavalaria da Record continua mobilizada para angariar votos. Para o programa Domingo Espetacular de 21 de outubro, a reportagem se instala novamente na intimidade do lar do candidato, dedicando a ele uma longa matéria especial. O tema é saúde de Bolsonaro, sua determinação para enfrentar a colostomia etc etc. Para o veículo que não queria dar ênfase ao episódio da facada em Minas Gerais, a última edição de Domingo Espetacular foi mais uma prova da tentativa de elegê-lo. Exibi-lo como o homem que enfrenta tudo e desperta empatia com as pessoas que sofrem dramas semelhantes.
O diretor de Comunicação Celso Teixeira tem sido procurado desde o dia 22 de outubro por Jornalistas Livres. Vários recados foram deixados com a secretária do departamento. No dia 23, Teixeira mandou dizer que só atenderá a nossa equipe depois da votação do próximo domingo. Diante da recusa, insistimos, enviando as perguntas principais que gostaríamos de fazer a ele. Celso não as respondeu. Porém, a direção emitiu uma nota se defendendo de acusações de favorecimento de Bolsonaro publicadas por várias mídias. Um trecho: “O principal acionista Edir Macedo, ainda no primeiro turno, informou sua opinião pessoal em sua rede social particular. Um direito individual garantido pela Constituição e já exercido por ele em eleições anteriores. A decisão em nada influencia as posições da emissora, que tem um jornalismo premiado internacionalmente e reconhecido pelo público e anunciantes.” O texto explica ainda a entrevista de Bolsonaro no dia 4, como “parte de uma estratégia do mercado de televisão que visa transmitir ao telespectador informações em primeira mão com agilidade”.
Faltando três dias para as eleições, a audiência dos veículos de Edir Macedo continua recebendo propaganda eleitoral travestida de reportagem – um veneno recheado de mentiras.
Veja aqui a resposta do Grupo Record aos questionamentos que lhe tem sido dirigidos:
Nota à Imprensa
A Record TV repudia de forma veemente as declarações caluniosas, falsas e preconceituosas do candidato Fernando Haddad contra a emissora nas últimas semanas. Essas ofensas atingem diretamente todos os funcionários e colaboradores do jornalismo que se empenham em coletar informações com um único propósito: atestar a veracidade dos fatos de maneira clara e isenta para que o telespectador tenha a liberdade de tirar suas próprias conclusões.
Com mais de 30 anos de tradição e credibilidade na cobertura de eleições no Brasil, a Record TV procura sempre apresentar suas reportagens jornalísticas de forma equilibrada, mesmo com as críticas infundadas e ofensivas de qualquer candidato. A prova disto são as 11 horas de notícias diárias ao vivo, mais de 800 reportagens por dia produzidas por 2.000 jornalistas espalhados pelo país. Um trabalho de credibilidade em que todos os profissionais priorizam, ao máximo, se afastar de tudo aquilo que possa pôr em dúvida a sua isenção aos fatos.
A emissora também denuncia a estratégia de alguns veículos de comunicação que claramente apoiam Fernando Haddad e de blogs ligados ao candidato que usam estas mesmas falsas acusações para atacarem a Record TV, o portal R7.com e as empresas do Grupo. A ação orquestrada ainda usa de estratégia criminosa de reproduzir estes textos e declarações levianas em panfletos ilegais e apócrifos atacando nosso jornalismo e os profissionais que aqui trabalham com objetivos escusos de tumultuar a eleição.
O principal acionista Edir Macedo, ainda no primeiro turno, informou sua opinião pessoal em sua rede social particular. Um direito individual garantido pela Constituição e já exercido por ele em eleições anteriores. A decisão em nada influencia as posições da emissora, que tem um jornalismo premiado internacionalmente e reconhecido pelo público e anunciantes.
Também esclarecemos que a entrevista realizada pela emissora no último dia 4 de outubro com o candidato Jair Bolsonaro, fez parte de uma estratégia do mercado de televisão que visa transmitir ao telespectador informações em primeira mão com agilidade. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), rejeitou liminarmente a proibição da gravação exibida no horário do Jornal da Record. Em despacho negando o pedido do PT, Carlos Horbach, ministro do TSE, considerou que o trabalho era uma ação jornalística que não feria os princípios legais da democracia. “Impedir, por meio de decisão judicial, que uma emissora de televisão veicule toda e qualquer entrevista do candidato Jair Bolsonaro antes do primeiro turno das eleições, por quaisquer dos meios de comunicação (televisão aberta, televisão fechada, rádio e internet) seria manifesto ato de censura prévia, contrária à liberdade de imprensa, pressuposto fulcral do regime democrático”, decidiu o desembargador.
O Ministério Público Eleitoral também deu parecer contrário ao processo contra a entrevista porque considerou que “para candidatos que se encontram em situações distintas, a ação está prevista na própria lei eleitoral”.
Vale ressaltar que a Record foi a primeira emissora de TV aberta a realizar sabatinas com os candidatos à Presidência da República, com tempos iguais para todos. Uma pesquisa simples no Portal R7.com revela de imediato artigos e reportagens, que atestam nossa independência ao tratar cada um dos candidatos de forma equilibrada, e questionam todos sobre declarações, opiniões e programas de governo.
Por isso, não aceitamos os ataques covardes à nossa conduta pautada numa só direção: jornalismo imparcial a serviço dos brasileiros.
Em nome da democracia, da liberdade de expressão e da defesa veemente dos direitos constitucionais previstos para todos, a Record TV vai seguir firme no sentido de oferecer ao público um jornalismo isento.
São Paulo, 25 de outubro de 2018.
GRUPO RECORD
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O caso Mariana Ferrer, por Honoré de Balzac
Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.
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5 anos atrásem
07/11/20
O caso Mariana Ferrer por Honoré de Balzac
Por Dirce Waltrick do Amarante*
Quando o escritor francês Honoré de Balzac teve acesso ao vídeo da audiência de Mariana Ferrer, ele decidiu escrever o Código dos homens honestos, isso nos idos de 1875, mas só agora estou tornando públicas suas palavras, que estavam sob segredo de justiça.
Em uma análise bastante rigorosa, Balzac lembra, em primeiro lugar, que sabemos perfeitamente bem que “em princípio, ficou estabelecido que a justiça seria para todos, mas […]” . A tradução é de Léa Novaes, pois Balzac tinha dificuldade em escrever em português.
Dito isso, ele fala da figura do procurador. Em tempos idos, diz Balzac, os procuradores “levavam tão a sério o interesse de um cliente que chegavam a morrer por eles”. Além disso, eles “nunca frequentavam a sociedade”, e se a frequentassem eram vistos como “monstros”, mas hoje, “hoje tudo está monetarizado: já não se diz que Fulano foi nomeado procurador-geral, vai defender os interesses de sua província […]. Não, nada disso; o senhor Fulano acaba de conquistar um belo posto, procurador-geral, o que equivale a honorários de vinte mil francos […]”.
Balzac ia falar da figura do juiz e do defensor público, mas depois de tudo que assistiu ficou sem as palavras justas para descrevê-los.
Então, o escritor francês decidiu se debruçar sobre o papel do advogado, que “frequenta bailes, festas […] despreza tudo o que não é elegante”. E, diz Balzac, “Justiça seja feita aos advogados […]! São os decanos, os chefes, os santos, os deuses da arte de fazer fortuna com rapidez e com uma sagacidade que os torna merecedores de muitos elogios”.
Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.
Não citei na íntegra o texto do Balzac, porque foram esses os únicos fragmentos aos quais tive acesso, os outros foram apagados.
*Formada em Direito, em 1992, na Universidade Federal de Santa Catarina
O show de Trump: renovação ou cancelamento?
A eleição nos EUA e o destino da democracia na condição atualista
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5 anos atrásem
06/11/20por
Aloisio Morais
Nos EUA voto popular não significa vitória. Biden terá mais votos do que Trump e ainda assim o resultado da eleição continuará indefinido por algum tempo. Apesar dos descalabros que marcaram a gestão Trump antes e durante a pandemia, o seu desempenho na atual corrida eleitoral será muito forte.
Mateus Pereira, Valdei Araujo e Walderez Ramalho, professores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em Mariana, MG
A disputa está sendo muito mais acirrada do que era inicialmente previsto pela maior parte dos institutos de pesquisa e da mídia americana, embora a cautela e o medo nunca deixaram de estar presentes. Sob esse ponto de vista, as eleições deste ano são como uma repetição do que vimos em 2016, ainda que o resultado possa ser a derrota eleitoral para Trump. Em 2016 foram os democratas que denunciaram a interferência russa, agora é o presidente-agitador que se apressa em questionar a legitimidade do pleito, sem mostrar nenhuma prova. Sabemos que no ambiente do atualismo provas têm como base apenas convicções.
Um sistema eleitoral que sobreviveu por séculos, sem grandes mudanças, pode ter se tornado obsoleto desde a eleição de Bush, em 2000. Um lembrete do possível declínio da democracia americana: das últimas oito eleições presidenciais desde 1992, os democratas venceram no voto popular as últimas sete, mas em apenas quatro ocasiões ganharam o colégio eleitoral e fizeram o presidente.

Acreditamos que as eleições nos EUA são um exemplo do confronto entre duas estratégias e duas concepções sobre fazer política: de um lado, Trump e sua promessa de eterna atualização da atualidade em modo nostálgico; e Biden, com sua aposta moderada no cansaço na agitação atualista que seu adversário republicano encarna e radicaliza, e a retomada da política em moldes liberais. Essa retomada é feita sem uma crítica efetiva ao modelo neoliberal abraçado pela cúpula do partido democrata. Uma aposta radical, como Sanders, teria se saído melhor? É difícil dizer, mas tudo leva a crer que não, tendo em vista o complicado xadrez do voto estado a estado.
A escolha entre as duas estratégias/concepções se mostrou muito mais difícil e apertada do que se imaginava. A tal “onda azul” anunciada por parte da imprensa estadunidense esteve longe de acontecer. De fato, Trump se mostrou eleitoralmente muito mais forte do que os analistas supunham. Considerando que esta não é a primeira vez que os institutos de pesquisa falharam em captar esse movimento no eleitorado americano, e considerando também que fenômeno semelhante ocorreu no Brasil em 2018, coloca-se a questão de saber se as tradicionais pesquisas de opinião tornaram-se de alguma forma obsoletas em um mundo atualista. Esse quadro muda pouco, mesmo com uma eventual vitória de Biden ou pior, com uma inconveniente reeleição de Trump.
São vários fatores que devem ser considerados para avaliar essa questão. Os próprios institutos se apressaram a ensaiar algumas explicações ao público. O diretor da Trafalgar Group, Robert Cahaly, afirmou que muitos eleitores “esconderam”, como já havia acontecido, sua preferência por Trump por algum receio ou constrangimento social.[1] Não podemos desconsiderar algum tipo de boicote/sabotagem dos eleitores republicanos, já que na retórica do trumpismo as pesquisas de opinião fazem parte da mídia vendida. Outros recorreram à justificativa de que as pesquisas anteriores representavam apenas fotografias do momento específico em que as entrevistas foram feitas, e não o que se poderia esperar na eleição propriamente dita. Isso poderia ter sido de fato observado pela tendência de redução da vantagem de Biden nos últimos 15 dias. Afinal, o episódio da contaminação de Trump e sua rápida recuperação pode ter tido um saldo positivo, ao menos na mobilização de sua base, como já havíamos especulado em coluna anterior.
Aceite-se ou não essas justificativas, fato é que os institutos de pesquisa sairão dessas eleições com sua credibilidade e imagem pública mais arranhadas, sobretudo diante das especificidades do sistema eleitoral americano. Como afirmamos, muitos fatores concorrem para esse desgaste. Um deles está relacionado à condição atualista que caracteriza o nosso presente e como cada um dos candidatos se coloca frente a tal condição.

Trump é um político bastante sintonizado com o ambiente da comunicação atualista onde as provas dispensam comprovação factual. Seja nas redes sociais, seja em seus concorridos comícios, o presidente se revela um comunicador difícil de ser batido. Dentre os aspectos associados à condição atualista, destacamos a intensidade e velocidade sem precedentes do fluxo de notícias, em detrimento dos protocolos de verificação e checagem da informação veiculada. Esse ambiente infodêmico[2] é particularmente fértil para a produção de desinformação e sua disseminação como misinformação.[3] Além das informações imprecisas, para não dizer apenas falsas, que a infodemia trumpista ajuda a difundir, é preciso levar em consideração a agitação/ativação que produz. É como se a oposição se agitasse confusamente e a base trumpista se ativasse a cada um de seus comentários polêmicos. Assim, o uso constante das redes sociais para disseminar fake news ou comentários faz com que, seja de modo positivo ou negativo, o presidente esteja sempre no foco da mídia. O acúmulo de notícias sobre suas falas ou atos inconsequentes faz com que seja difícil recuperar qual foi o absurdo dito ou feito na semana anterior. Na condição atualista há um valor excepcional em estar mais atualizado (e exposto) que o seu adversário.
Ainda assim, a manipulação das fake news como ferramenta política supõe uma linguagem organizada para se tornar eficaz. Essa afirmação pode soar chocante à primeira vista: como podemos atribuir coerência a um discurso fundamentado em desinformação e que frequentemente e sem o menor pudor afirma hoje o contrário do que disse ontem, como o exemplo do uso de máscaras na pandemia?[4] O ponto aqui é que a condição atualista coloca muitos obstáculos para que o passado, mesmo o mais recente, seja trazido à reflexão. Assim, quando confrontados com suas próprias contradições, políticos atualistas como Trump e Bolsonaro simplesmente atualizam suas narrativas e afirmações quando as anteriores se tornam insustentáveis. Com muita frequência, os seus discursos mudam em função da conveniência da atualidade, sem a mínima necessidade de se prestar conta da contradição com o que eles mesmos diziam no dia anterior.
Essa estrutura atualista do discurso político só se torna eficaz, porém, no interior de uma linguagem organizada e facilmente identificável pelo público que a compartilha, no interior de uma condição material de reorganização do mundo do trabalho e do capital. A crise de 2008, concentração de renda, neoliberalismo, capitalismo de vigilância e a formação do atual “precariado” são elementos, dentre outros, fundamentais para entender a emergência de líderes que governam e são eleitos por pequenas maiorias mobilizadas pela historicidade e ideologia atualista. Só assim podemos entender a força de Trump na eleição independente do resultado final, ainda que sua derrota interesse a todos os democratas do mundo.

Trump lança mão de artifícios retóricos quando confrontado com suas afirmações evidentemente baseadas em mentiras e contradições, de tal maneira que ele consegue, mesmo em tais situações, transmitir e reforçar o código entre o seu público. O código se estrutura em uma lógica antagonista, na qual o portador é sempre vítima de perseguição por parte do establishment e da imprensa vendida para a “esquerda corrupta” ou as corporações globalistas.
O ponto principal a ser considerado é que para ser politicamente eficaz não é necessário que o código seja compartilhado por todos; mas que seja continuamente ativado junto aqueles que já o compartilham. Por mais que esteja sustentado em desinformações, o fato é que o código é bastante poderoso na ativação de afetos políticos centrais como o medo, ódio e ansiedade, vetores de forte engajamento e agitação política que Trump e Bolsonaro sabem tão bem promover.
O sucesso dessa estratégia se coaduna com a popularização das redes sociais e dos smartphones, bem como das novas tecnologias de processamento de dados manipulados para fins políticos. Nesse contexto, tornou-se possível criar e difundir mensagens sob medida para cada tipo de público, cada indivíduo ou grupo formula suas próprias percepções sobre o mundo a partir de narrativas (códigos) que não mais precisam ser expostos publicamente a todos para serem eficazes. Após alguns reconhecimentos iniciais, os algoritmos se encarregam de abastecer-nos das notícias que nos mobilizam, sempre com o mesmo teor e formato. Reforça-se, assim, o fenômeno das “bolhas”.[5] Esses códigos podem circular de forma subterrânea, de tal modo que o que parece absurdo e chocante para uns, é perfeitamente aceitável e normalizado para outros.
Esse ambiente de circulação de notícias e códigos é condizente com a ordem atualista de nosso tempo e, ao nosso ver, é um fator importante a ser considerado no desempenho surpreendente de Trump nestas eleições. E um dos preços a se pagar para tal sucesso é a radicalização do clima de agitação que tem marcado a nossa época. Esse quadro tem resultado inclusive em distúrbios psicológicos cada vez mais comuns, como o “transtorno do estresse eleitoral”, que segundo estimativas afeta sete em cada dez cidadãos estadunidenses.[6]

Os políticos atualistas claramente não se importam em pagar esse preço, na verdade eles têm lucrado com isso. Mas, ao fim e ao cabo, eles não podem evitar completamente os efeitos colaterais de suas apostas. Agitação e dispersão geram também cansaço no eleitorado. Biden e os democratas tomaram esse efeito como vetor de suas estratégias para estas eleições. Frente à irrefreável agitação de Trump, Biden se vendeu como a opção mais “centrista”, de moderação e convergência. A divergência entre as duas estratégias foi mais uma vez demonstrada logo após o fechamento da votação: enquanto Trump se apressou em declarar-se vencedor e dizer que irá judicializar a eleição em caso de derrota, Biden classificou tal postura como “ultrajante” e pregou calma aos seus apoiadores[7].
Mesmo que a vitória do democrata seja confirmada, é inegável que o preço desse lance foi bastante alto. A imprensa americana noticiou como parcelas importantes do eleitorado negro, que o próprio Biden afirmou ser “a chave para a vitória”, relataram estarem pouco motivados a votarem no candidato democrata.[8] O mesmo ocorreu entre parte do eleitorado hispânico, em especial na Flórida e no Texas. O conservadorismo nos costumes, a adesão a denominações evangélicas que tem crescido entre hispânicos e a tradição anticomunista dos cubanos, e agora também venezuelanos, na Flórida, são fenômenos a serem considerados. Enquanto fechamos essa coluna Trump ainda lidera na Pensilvânia, estado no qual o operariado branco migrou dos democratas para o trumpismo. No último debate, Biden acabou por reconhecer que teria que acabar com a exploração do altamente poluente gás de xisto, o que foi imediatamente explorado por Trump: “Eis uma declaração importante”, ironizou o presidente. Caso perca por margem apertada na Pensilvânia, onde os trabalhadores dessa indústria são amplamente sensíveis ao tema, talvez essa declaração tenha custado a eleição.
Para entender melhor essas flutuações teríamos que fazer algo pouco praticado durante a campanha, uma avaliação retrospectiva fundada em boa informação acerca das políticas públicas implementadas por democratas e republicanos, em especial nos governos Obama e Trump. O apoio ao republicano não é apenas resultado da mágica da comunicação, deriva também da tibieza das políticas democratas e dos acertos de Trump. Reforma do sistema criminal, política externa menos intervencionista, foco na economia e na criação de empregos, com bons resultados, ao menos até a pandemia.
A decisão das eleições primárias do Partido Democrata em nomear um candidato “centrista” para concorrer nessas eleições – ao contrário de uma opção mais radical do populismo de esquerda como Bernie Sanders – foi importante para unificar o partido (em especial o seu establishment) e angariar o apoio do eleitorado “cansado” da agitação radicalizada. Por outro lado, a figura moderada de Biden não se mostrou capaz de promover um grau de engajamento e mobilização do público à altura do seu adversário agitador, nem está claro ainda se seu discurso de união nacional conseguiu atrair eleitores de Trump. Essa diferença é importante em um contexto onde o voto não é obrigatório e, no caso particular das eleições deste ano, ainda mais desencorajado pela pandemia do coronavírus.
Mesmo assim, a moderação pode ter sido eficaz para para derrotar a agitação, mas não para desativá-la. E ainda não podemos assegurar como os EUA sairá dessas eleições, pois Trump continua sendo quem é. Há ainda o risco de o agitador perder e não aceitar sair, e as consequências disso poderão ser catastróficas. E mesmo que ele saia, o trumpismo – o negacionismo, o anti-esquerdismo, o desejo de retorno a um passado glorioso e mítico – ainda permanecerá em parcelas consideráveis da população.

O que tudo isso ensina para o campo democrático brasileiro, que tem de enfrentar a sua própria versão de agitador atualista? Desde o início da votação nos EUA, Bolsonaro disparou freneticamente uma série de tweets ressoando as alegações infundadas de seu ídolo sobre as eleições serem “fraudadas” a favor dos democratas, o que seria um risco para a “liberdade” e para o Brasil. Afinal, nosso agitador atualista tupiniquim sabe bem que a permanência de Trump é uma força de sustentação fundamental para ele. As relações entre EUA e Brasil deixaram de ser uma relação entre Estados, mas sim uma relação de “amizade” (leia-se emulação e, do nosso ponto de vista, subserviência) entre os chefes de turno da Casa Branca e do Palácio do Planalto.
Assim, e seguindo o estilo atualista de fazer política, Bolsonaro ressoa as afirmações sem fundamento de Trump, sem se preocupar com a veracidade e desprezando o princípio diplomático básico da impessoalidade. Mas Bolsonaro também tem seu próprio código “alternativo”, cujo enfrentamento é a tarefa prioritária das forças democráticas no Brasil, que deverá avaliar e tomar suas próprias escolhas para vencer o confronto. Assim como o trumpismo, nos Estados Unidos, o bolsonarismo é um fenômeno que não necessariamente depende da permanência de Bolsonaro no poder: ele mobiliza parcelas consideráveis da população através de seus discursos, que defendem o conservadorismo nos costumes, o liberalismo na economia, a luta contra “o sistema”, a religião e a admiração pelo militarismo.
Será que a aposta moderada e centrista será suficiente para derrotar o bolsonarismo aqui? Mesmo que por pouco? Ou, em nosso contexto particular, faz-se necessário redobrar a aposta na radicalização pela via da esquerda? Mesmo que a vitória de Biden seja confirmada, ainda não está claro qual das duas vias parece a mais indicada para o Brasil. Enfim, tudo indica um destino trágico da democracia liberal de “pequenas maiorias” em tempos de agitação atualista. Sem negar a nossa atual realidade, cabe a nós pensar e imaginar alternativas, por mais difícil que pareça ser em nosso atual nevoeiro e impregnados por uma sensação de asfixia. Além disso, a lentidão com que a apuração avança em alguns estados decisivos promete nos deixar hipnotizados pelos mapas eleitorais na expectativa da atualização decisiva.
(*) Mateus Pereira e Valdei Araujo escreveram o Almanaque da Covid-19: 150 dias para não esquecer ou o encontro do presidente fake e um vírus real com Mayra Marques. Ambos são professores de História na Universidade Federal de Ouro Preto, em Mariana (MG). Também são autores do livro Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI e organizadores de Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro, com Bruna Klem. Walderez Ramalho é doutorando em História na mesma instituição. Agradecemos à Márcia Motta e ao grupo Proprietas pelo apoio e interlocução nesse projeto.
[1] https://noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2020/11/04/o-eleitor-oculto-de-trump-e-o-novo-erro-dos-institutos-de-pesquisa.htm
[2] PEREIRA, Mateus; MARQUES, Mayra; ARAUJO, Valdei. Almanaque da COVID-19: 150 dias para não esquecer, ou a história do encontro entre um presidente fake e um vírus real. Vitória: Editora Milfontes, 2020.
[3] Usamos aqui um neologismo para dar conta da diferença que em inglês é mais clara entre a produção deliberada de notícias falsas (disinformation) e sua disseminação involuntária (misinformation).
[4] https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/07/20/trump-muda-discurso-e-agora-diz-que-usar-mascara-e-patriotico.htm
[5] EMPOLI, Giuliano Da. Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algorítimos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. São Paulo: Vestígio, 2019.
[6] https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/10/quase-sete-em-cada-dez-americanos-relatam-transtorno-do-estresse-eleitoral.shtml
[7] https://br.noticias.yahoo.com/em-pronunciamentos-biden-prega-calma-e-trump-faz-acusacao-de-roubo-065922289.html
[8] https://www.aljazeera.com/news/2020/9/12/biden-battles-trump-lack-of-enthusiasm-among-black-voters
Feminismo
Que tal ajudar Mariana Ferrer a obter Justiça?
Não basta lacrar. Um chamamento a todas as feministas e a todas as mulheres para que enfrentemos a misoginia dos tribunais brasileiros
Publicadoo
5 anos atrásem
05/11/20
A reportagem do Intercept Brasil sobre a denúncia de estupro da influencer Mariana Ferrer tornou-se viral nas redes. Sob o título JULGAMENTO DE INFLUENCER MARIANA FERRER TERMINA COM SENTENÇA INÉDITA DE ‘ESTUPRO CULPOSO’ E ADVOGADO HUMILHANDO JOVEM, o texto da repórter Schirlei Alves serviu de base para milhares e milhares de postagens sobre a excrescência jurídica que teria embasado a absolvição do empresário André de Camargo Aranha. Até as 15h30 de ontem (4/11), o Google devolvia 781.000 resultados, quando se procurava pela expressão “estupro culposo”. Memes, charges, textões e textinhos foram produzidos em escala industrial para provar que um estuprador havia conseguido sentença absolutória graças a uma invencionice jurídica obrada pela Justiça, com vistas a proteger um macho branco, amigo de poderosos e, ele mesmo, “filho do advogado Luiz de Camargo Aranha Neto, que já representou a rede Globo em processos judiciais”, segundo a reportagem do Intercept.
Lida toda a sentença de 51 páginas do juiz do caso, Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, entretanto, constata-se que, em nenhum momento da sentença é dito que houve “estupro culposo” contra a jovem. Ao contrário, é dito que não existe essa tipificação e que o estupro é necessariamente doloso. Portanto, está errada a formulação do título do Intercept Brasil.
Está tão errada que o próprio site The Intercept Brasil foi obrigado, às 21h54, nada menos do que 19 horas e 50 minutos depois de publicada a história, a fazer uma “atualização” que diz assim:
“A expressão ‘estupro culposo’ foi usada pelo Intercept para resumir o caso e explicá-lo para o público leigo. O artíficio é usual ao jornalismo. Em nenhum momento o Intercept declarou que a expressão foi usada no processo.”
O Intercept faz como a música de Tom Zé: “Eu tô te explicando pra te confundir. Eu tô te confundindo pra te esclarecer.” Uma explicação que confunde. E, sim, o Intercept disse que a sentença inédita baseou-se no “estupro culposo”.
É só ler o título indigitado de novo:
JULGAMENTO DE INFLUENCER MARIANA FERRER TERMINA COM SENTENÇA INÉDITA DE ‘ESTUPRO CULPOSO’ E ADVOGADO HUMILHANDO JOVEM
Com as redes ajudando a espalhar a bobagem, todo mundo louco atrás de cliques, de “bombar”, da lacração, poucos deram-se ao trabalho de ler a sentença que, sim, absolveu o réu André de Camargo Aranha por “falta de provas”.
Uma pena.
Se, em vez da lacração, tivessem mirado no fato em si da absolvição do crime de estupro “por falta de provas”, talvez tivessem ajudado muito mais. Sabe-se que a cada 8 minutos uma mulher ou menina é estuprada no Brasil. Mas a maior parte desses crimes jamais será nem sequer investigada pela falta de indícios e elementos probatórios, já que ocorrem escondidos e, preferencialmente, sem testemunhas.
Mariana Ferrer, diz a sentença, não conseguiu provar a acusação que fez contra André de Camargo Aranha. Será? Está na sentença que o exame toxicológico não apontou o consumo de substâncias estupefacientes, como seria de se esperar se ela tivesse ingerido involuntariamente alguma droga do tipo “Boa Noite Cinderela”. A maioria das testemunhas ouvidas, várias mulheres inclusive, disse que a vítima não cambaleava e que não parecia dopada. As câmeras internas do Café de la Musique, onde teria ocorrido o estupro, mostram Mariana Ferrer subindo para um camarote e descendo, seis minutos depois, sem necessidade de ajuda (e de salto!!!!, como faz questão de ressaltar a sentença). Teria transcorrido nesses seis minutos o crime de estupro, de que Mariana Ferrer não tem memória.
Mas Mariana Ferrer diz ter inúmeras provas irrefutáveis do estupro e que nem sequer foram levadas em consideração pelo julgador.
E, no entanto, todas as mulheres sabem da dificuldade de “provar” a violência sexual, quando ela ocorre entre quatro paredes, sem testemunhas. Mariana Ferrer não seria exceção. Nos trechos da vídeo-conferência que foi o julgamento, assombra a solidão da menina que denuncia, vítima de outros homens violentos, que a acusam de ser (ela sim), um monstro querendo prejudicar a reputação de um “pobre milionário”.
Como sempre acontece, a vítima deixa de ser vítima para se transformar no monstro sensual e ardiloso que precisa ser contido. A qualquer custo.
A verdade é que Mariana Ferrer estava sozinha.
Desde o dia em que alega ter sido estuprada (15/dezembro/2018), Mariana Ferrer tem pedido ajuda pelas redes sociais e tem narrado todo o sofrimento e a depressão que a assolam em decorrência do fato.
Quem foi ajudá-la a reunir provas? Quem foi ajudá-la a colher testemunhos que aumentassem a credibilidade de sua acusação? Quem foi ao Café de la Musique, onde ocorreram os fatos julgados, procurar indícios de que ali funcionaria um “abatedouro” de meninas destinadas ao gozo masturbatório de machos alfa? Quem?
Ou achamos razoável condenar alguém sem elementos probatórios que apoiem a denúncia?
Não, não é razoável.
Apenas a voz da vítima não pode embasar uma condenação. E quem defende isso precisa saber que abdicar de provas é apenas a reedição do velho punitivismo, é vingança. Não é Justiça. Pior, resultará na condenação sem provas dos mesmos criminalizados de sempre: os pretos, pobres e periféricos.
A única forma de evitar a perpetuação desse ciclo perverso requer de nós nós, feministas, que encaremos o estupro, cada estupro, como um problema nosso!
Temos de ajudar as vítimas a robustecer as provas da violência que sofreram. Temos de afrontar a Justiça machista, exigindo a presença de mulheres no julgamento. Tem de ser um trabalho nosso enfrentar a misoginia cuspida e escarrada de gente como Cláudio Gastão da Rosa Filho, o advogado de defesa de André de Camargo Aranha, que humilhou e ofendeu Mariana Ferrer enquanto exibia fotos dela que nada tinham a ver com o processo! Que nenhuma mulher mais tenha de enfrentar um julgamento de estupro apenas diante de homens, na solidão absoluta, como acontecia com as antigas feiticeiras.
Temos de incentivar a solidariedade entre nós, mulheres, para que acolhamos as vítimas, em vez de fingir que se trata de um problema só delas. Não há mulher ou menina que não tenha sido atacada ao menos uma vez em sua vida pela violência sexual. E nós sabemos disso em nossos próprios corpos!
É o pai, é o tio, é o avô, é o tarado que mostra o pinto para a adolescente, é o abusador que se acha no direito de ejacular na mulher dentro do trem lotado…
Temos de organizar o “Socorro Feminista”, para apoiar as mulheres que decidem denunciar a violência sexual.
Os tribunais brasileiros são câmaras de tortura contra mulheres, negros, indígenas e pobres em geral. As cenas de humilhação de Mariana Ferrer não são, infelizmente, exceções. São a regra.
É preciso atuar sobre esse front.
Então, precisamos entender que não se trata de um problema privado de Mariana Ferrer o desenlace de sua denúncia. É de todas nós!
Lembro da França, em 1971, quando uma mulher foi presa e julgada pelo crime de aborto, na época punível com a pena de morte pela guilhotina!
Em vez de “solidariedades”, textões de repúdio, e essas lacrações inúteis, 343 mulheres, entre elas as atrizes Catherine Deneuve e Jeanne Moreau, assinaram o manifesto escrito por Simone de Beauvoir, e assumindo que haviam feito, elas também, um aborto. A força desse texto e a coragem das signatárias empolgaram intelectuais como Françoise Sagan e Annie Leclerc, jornalistas conhecidas, de muitas feministas, a começar por Antoinette Fouque, da advogada Gisèle Halimi ou ainda da deputada socialista Yvette Roudy. Todas declararam ter realizado um aborto, como forma de quebrar o tabu de uma injustiça social.
A Justiça no Brasil é machista, é racista e é classista. Só incidindo juntas sobre ela será possível mudar esse regramento que sempre condena a vítima e libera o agressor.
Mariana Ferrer deve recorrer da sentença em primeira instância. Agora, é organizar a luta para mudar o rumo da História. Quem se dispõe?
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Record entra na briga das pesquisas e indica o contrário do Ibope
MB
26/10/18 at 3:40
Lendo essa matéria senti alívio e imenso prazer. Até que enfim alguém levantou o dedo. Só não podem chamar Edir Macedo de “bispo”, de acordo com o jornalista Fábio Pannúnzio, seus diplomas de teologia são falsos. Macedo é um homem perigoso, um trator do mal que atropela quem está à sua frente, como ele mesmo disse: a vida é, matar ou morrer. E ele quer o poder como deixa claro em seu livro Plano de Poder. E está conseguindo. Macedo está fazendo no Brasil o que não conseguiu em Portugal nos anos 90 quando lá fundou o Partido da Gente que foi banido pelas leis portuguesas que não permitem a infame mistura de política com religião. Está no livro: TENTÁCULOS DE UM POLVO MONSTRUOSO PARA A TOMADA DO PODER, lançado em Portugal em 1999 por dois jornalistas que trabalharam nas emissoras de macedo. Macedo não deixou o PT atoa. Mas porque apoia quem está a frente nas pesquisas e pula do barco na próxima eleição caso mude o “vencedor”. Conta Boris Casoy que saiu da Record quando ele criticou o PT. “Ele têm o poder e nós temos interesse”, contou o jornalista (internet) em entrevista. Depois ele cobra a conta. Apoiou Lula, cobrou ajuda para resolver o caso na África (igrejas expulsas de alguns países), Apoio Dilma, cobrou ajuda no caso do banco Renner. Não será diferente com Bolsonaro. A Record Rio, foi tirada do ar por fazer propaganda subliminar em favor de Crivella. Agora é preciso ouvir as denúncias de ex-pastores, ex-fiéis, ex-obreiros. A famigerada Fogueira Santa, é uma vergonha, um abuso, que ninguém presta atenção. É um tipo de venda de indulgências do século 21. A trilogia igreja-mídia- política, o seu exército Gladiadores do Altar – já em quatro ou cinco países – onde num vídeo, já tirado da internet ele cobra fidelidade, e submissão “como um servo do Senhor”, é preocupante. Parabéns à jornalista Luciana pela atitude, pela coragem. Edir Macedo lembra a frase: Acuse o outro do que você faz, xingue-o do que você é. O ovo da serpente.
Maria Jose de Cicco
26/10/18 at 7:51
Vergonhoso, uma emissora de TV como a Record, cujo dono de diz homem de Deus ter se posicionado a favor de um candidato cuja violência é explícita, prega o armazenamento da população e não tem nenhum plano de governo concreto… É imperdoável, isto vai se refletir num futuro próximo onde com certeza, da mesma maneira que aconteceu com a Globo no golpe militar de 64, vai acabar reconhecendo o enorme erro que esta cometendo, um retrocesso sem tamanho para o país, o Bispo vai ter muito o que se explicar com os fieis…gente que eu tenho certeza é do bem e para o bem…
Rodrigo Pereira
26/10/18 at 8:15
Que situação. A Record tinha tudo pra se tornar uma emissora respeitada, uma emissora de verdade. No entanto, se presta a fazer tal desserviço contra a democracia, assim como a Globo se prestara em 64. Nós que trabalhamos com comunicação estamos passando por um momento dificil, preocupante e muito, muito triste. Tenho medo de pensar no meu futuro enquanto comunicador social e radialista. Parabéns pela excelente matéria.
Josely
26/10/18 at 10:40
Não entendo pq todos os jornalistas são contra Bolsonaro…deve ser medo de alguma coisa né??? A Record ou outra emissora são livres de escolher quem quiser…isso se chama democracia…para de pegar no pé dos outros…para que tá feio. Jornalista meia boca.
RICARDO
27/05/19 at 15:31
Belas palavras!