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fascismo

Aos incomodados com o antifascismo

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Por Gustavo Barbosa*, da agência Saiba Mais

Angela Davis ensina que não basta não ser racista, é necessário ser antirracista. Davis, como boa marxista, pauta suas reflexões não em filosofias meramente especulativas, mas na prática política: os efeitos da negação pura e simples do racismo, sem que seja combatido direta e efetivamente, são nulos na vida real, não contribuindo em nada para a construção de uma ética verdadeiramente antirracista. O antirracismo “passivo”, vamos chamar assim, acaba tendo consequências diversas do antirracismo ativo e militante: enquanto o primeiro, com sua inércia, não apresenta obstáculos para a continuidade do fluxo da discriminação racial, o segundo tenta interrompê-lo, seja pelas instituições, pela organização coletiva e, também e principalmente, pelo uso da força.

​A mesma lógica se aplica ao nazi-fascismo, cujo projeto gira em torno da aniquilação física de seus adversários políticos e das raças que considera inferior (não raro integrados em um mesmo grupo, a exemplo do Partido dos Panteras Negras e dos próprios soviéticos durante a Segunda Guerra). É bom perceber que, contra quem defende a Solução Final, não basta afirmar em convescotes alcoólicos que “discorda dessas ideias”. O compromisso em combatê-las passa necessariamente pelas consequências das escolhas políticas na vida concreta. Nesse sentido, os herdeiros dos derrotados de 1945 têm um profundo débito de gratidão com os “antifascistas limpinhos” que, com medo de serem considerados comunistas, querem combatê-los com notas de repúdio e denúncias contra as torcidas organizadas que puseram os Galinhas Verdes para correr no último domingo.

Antirracismo e antifascismo são movimentos indissociáveis. Se Brecht dizia que não há diferença entre um fascista e um burguês assustado, Malcolm X complementa ao concluir que não existe capitalismo sem racismo. Não causa surpresa a histórica e duradoura convivência pacífica entre escravidão e liberalismo, como reconhece ninguém menos que James Madison, pai da Constituição norte-americana, quando disse que “o domínio mais opressor jamais exercido pelo homem sobre o homem, fundado na mera distinção de cor, se impõe no período mais iluminado”. Madison, George Washington, Thomas Jefferson e demais Pais Fundadores eram todos proprietários de escravos.

O elo estrutural entre racismo e capitalismo reside no fato da mão-de-obra escrava ter sido fundamental para a acumulação primitiva de capital, que acabaria por impulsionar avanços tecnológicos como o da máquina a vapor na primeira revolução industrial. Isso não seria possível sem que houvesse a desumanização dos negros, uma necessidade das forças produtivas que, para lucrar, impôs-lhes a condição de mercadoria, cuja troca e circulação é a alma da acumulação capitalista.

Os anti-antifascistas, que se preocupam muito mais em demarcar sua posição quanto aos comunistas – aqui em sentido amplo e vulgar, incluindo a esquerda não-marxista – do que em bater no fascismo – “bater” em toda sua riqueza semântica -, reproduzem seu papel histórico de linha auxiliar do Fürher ou do Duce do momento. No decorrer do enfrentamento ao imperialismo japonês na China durante a Segunda Guerra Mundial, também era essa a preocupação do Partido Nacionalista (Kuomintang). Por mais que não fosse possível ignorar que seu país estava sendo invadido pelo fascismo (vamos lembrar que o Japão era parte do Eixo), ainda assim não deixou de esconder que seus verdadeiros inimigos eram os comunistas. O saldo dessa proximidade com os invasores está no lado que a massa camponesa tomou em 1949.

Nenhum, absolutamente nenhum, dos anti-antifascistas que votaram 17 e que hoje reclamam do fato das hordas bolso-fascistas terem levado porrada no último domingo deram sequer um assobio quando o mestre Moa do Katendê foi esfaqueado e morto em 2018 por ser eleitor do PT. Também não demonstraram revolta quando o capitão por quem têm uma tara sexual homenageou, em plena tribuna da Câmara, um torturador condenado na justiça que, dentre outras atrocidades, ficou conhecido por enfiar animais vivos em vaginas durante suas sessões de tortura. Não esperemos que quem faz a egípcia para essas coisas levante uma bandeira que não seja a da barbárie genocida defendida por Solange Vieira, assessora de Paulo Guedes responsável pela Reforma da Previdência, para quem a “a morte de idosos melhorará nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit de pensão”.

Quando o presidente, dirigindo-se a uma multidão em êxtase, falou em levar adversários para a Ponta da Praia, local onde a ditadura militar executava opositores, e metralhar petistas, os liberais Paulo Guedes/NOVO também ficaram calados. Quando bolsominions arregaçaram jornalistas e enfermeiras que protestavam pacificamente, silêncio também. Quando Roberto Justus, Luciano Hang – conhecido nas redes como o véio da Havan – e o dono do restaurante Madero defenderam em público seus interesses empresariais à custa da morte de pessoas pelo novo coronavírus, a paz republicana pesou sob suas pálpebras e tapou seus ouvidos, insensíveis ao genocídio da juventude pobre e preta do país, cuja última e mais notória vítima foi o adolescente João Pedro, crivado por balas da PM enquanto brincava em casa com seus primos.

Em 2011 Bolsonaro ainda não era levado a sério, mas grupos neonazistas já organizavam “atos cívicos” em seu apoio. Skinheads engrossaram a comitiva que recebia o ex-deputado em aeroportos. Bandeiras contendo o símbolo de uma auto-denominada facção fascista ucraniana adornam os trios elétricos dos seus apoiadores que saem às ruas pedindo o fim do isolamento e um novo AI-5. Em Campina Grande, o presidente se embriagou na retórica hitlerista ao esgoelar que “vamos fazer um Brasil para as maiorias! As minorias têm que se curvar às maiorias! A lei deve existir para defender as maiorias! As minorias se adequam ou simplesmente desapareçam!”. David Duke, ex-líder da Ku Klux Klan, chegou a falar que suas ideias eram muito próximas às do mandatário.

É esse pessoal que está disposto a sair às ruas para defender o clã de milicianos. O liberal anti-antifascista pode ficar à vontade para se juntar à turma. Vai encontrar do outro lado antifascistas, comunistas, anarquistas, negros, indígenas, feministas, estudantes, sem-terras, sem-tetos, sindicalistas, professores, artistas, gays, lésbicas e todos os demais segmentos que, sentindo no pescoço o bafo da cadela do fascismo, reivindicam o legado histórico do antifascismo.

O encontro pode não ser agradável.

* Gustavo Freire Barbosa, advogado e professor, mestre em direito constitucional pela UFRN.

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fascismo

O Bolsonaro de sempre: porrada na boca do povo e de quem revela seus crimes

Já para os amigos milicianos, a famiglia delinquente e o grande capital é sombra, água fresca, Rodrigo Maia e o STF acovardados

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Bolsonaro é porrada @Antonio Cruz/Agência Brasil

É conhecida a fábula do Sapo e o Escorpião. Certo dia, o escorpião pediu ajuda ao sapo para levá-lo a outra margem do rio. O sapo temia ser picado, mas o escorpião garantiu que não faria isso, pois se o sapo morresse, ele também morreria afogado. Com a explicação convincente, o sapo decidiu ajudar o “amigo”, mas no meio do rio recebeu a picada mortal. Antes de morrer perguntou: “Por que você fez isso?” O escorpião respondeu: “É da minha natureza”. Assim age Bolsonaro. Como o escorpião.

Por Dacio Malta*

Sempre foi assim, e assim continuará.

A trégua que ele deu ao país, após a prisão do amigo Queiroz, foi para inglês ver.

O capitão é caso perdido.

Nem curso intensivo da Socila  — escola tradicional no ensino de etiqueta e boas maneiras — daria jeito no capitão meio bandido, meio desastrado, mas completamente ignorante.

A resposta dada ao repórter de “O Globo”, que perguntou ao presidente por que a terceira primeira-dama Michelle recebeu R$ 89 mil de Queiroz, mostrou um Bolsonaro em sua forma mais genuína:

 —Minha vontade é encher sua boca de porrada.


Um milhão de tweets já publicados contra a declaração, em nada mudará seu comportamento.

O capitão é assim.

Desastrado ao ponto de, no Piauí, pegar um anão no colo pensando ser uma criança.

Grosso ao dizer, em Mossoró, na mesma semana, que na política “sou imbrochável”.

 —E não é só na política não. Eu tenho uma filha de 9 anos de idade, que foi feita sem aditivo.


Em princípio teremos de conviver com a besta por mais dois anos e meio.

Supersticioso, o presidente da Câmara não quer discutir o impeachment.

E tem lá suas razões.

A pandemia é a desculpa, mas a razão verdadeira é o apoio do centrão ao presidente que, junto com os R$ 600,00 alçou sua popularidade a 37% de aprovação, o que é muito pouco, mas suficiente para segurá-lo no cargo.

Obviamente, é preciso haver o combate diário não só contra ele, mas também contra os Ernestos, as Damares, os Ônixs, os Pazuellos, os Salles, os Mendonças e todos aqueles que insistem em avacalhar o país aqui e no exterior. E em especial ao Corisco do Lampião, e que atende pelo nome de Paulo Guedes.

Nos próximos 28 meses ainda iremos sofrer e nos envergonhar por termos de conviver com um presidente tosco com viés miliciano.

Mas ele passará.

Sua força é com um castelo de cartas.


Quis fazer um partido para chamá-lo de seu, e disputar as eleições deste ano, mas já sabe que não conseguirá formá-lo nem para 2022. Precisava do apoio de 492 mil eleitores, mas só conseguiu 15.762 apoiadores.

A resposta virá.

E o melhor.

Ele, e os filhos bandidos, terão o destino que merecem: a cadeia.

*Dacio Malta trabalhou nos três principais jornais do Rio – O Globo, Jornal do Brasil e O Dia – e na revista Veja.

Leia mais Dacio Malta em:

HTTPS://JORNALISTASLIVRES.ORG/BOLSONARO-FACILITA-FUGA-DE-ABRAHAM-WEINTRAUB-PARA-OS-ESTADOS-UNIDOS/

CADÊ O QUEIROZ? BRAÇO DIREITO DE BOLSONARO TEM A SENHA PRA DERRUBAR O PRESIDENTE

COM BOLSONARO, BRASIL SE TORNA O PARAÍSO DO CORONAVÍRUS

Paulo Marinho apavora Jair Bolsonaro porque conhece os podres do presidente

TESTE DO COVID-19 DE BOLSONARO É FAKE

BOLSONARO DEVE DEIXAR SAÚDE COM PAZUELLO, QUE CONFUNDE HOMENS COM CAVALOS

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Brasília

Racistas, fascistas, não passarão!

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Em um lado da Esplanada dos Ministérios, um ato em defesa da democracia, contra o racismo e o fascismo. No outro, a marcha do ódio e antidemocrática dos bolsonaristas defendendo o mesmo de sempre: fechamento do STF, intervenção militar, morte aos comunistas, maconheiros e outros absurdos.

Houve muita provocação verbal dos dois lados, mas apenas os bolsonaristas tentaram criar um embate físico, ao cruzarem a barreira policial no gramado central, para correr entre os manifestantes antifa. A polícia? Parecia mais preocupada em intimidar aqueles que defendem a democracia. Mas a resposta dos que lutam contra o racismo e o fascismo foi linda: muito grito de luta, um ato cheio de emoção e sem violência, como era esperado.

Confira a galeria de imagens da cobertura dos Jornalistas Lives em Brasília

Galeria 1- Fotos: Leonardo Milano / Jornalistas Livres

 

Galeria 2- Fotos: Matheus Alves

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#EleNão

Ato na Paulista, neste sábado (13/06), faz protesto “contra governo da morte”

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Neste sábado (13/6), a avenida Paulista será o espaço de mais uma manifestação pelo impeachment do presidente Jair Bolsonaro. O ato está sendo organizado por grupos sem vínculos partidários ou institucionais, que protestam contra o genocídio produzido pela irresponsabilidade do governo federal diante da pandemia do Covid-19 e contra a violência policial e estatal que vitima os brasileiros mais pobres e vulneráveis.

Bolsonaro, que já vinha pressionando prefeitos, governadores e empresários para um “retorno à normalidade”, antes mesmo do Brasil atingir o pico da pandemia e a contaminação estar controlada, estimulou, em live transmitida na úlltima quinta-feira (11/06), que a população invada os hospitais, filme os leitos e envie as imagens para a Polícia Federal e para a Abin, colocando em cheque os números apresentados pelas secretarias de saúde de estados e municípios. De acordo com nota divulgada pelo grupo que organiza o Ato, não resta outra alternativa que não seja ocupar as ruas e confrontar o governo com os resultados de sua própria política, “o Brasil não pode mais aguentar duas crises ao mesmo tempo: a pandemia e Bolsonaro. Uma se alimenta da outra. A única maneira de lutar contra a pandemia é derrubando este governo irresponsável. Não sairemos das ruas até que ele caia”.

Jair Bolsonaro também ameaçou, nesta quinta-feira (11), vetar a prorrogação do auxílio emergencial, caso o Congresso mantenha o valor de R$ 600. A proposta apresentada pelo governo é reduzir o valor pela metade, para mais dois meses de auxílio.

“A função primeira de um governo é proteger a população. Bolsonaro e seus seguidores zombam dos mortos e conspiram contra políticas que poderiam salvar vidas”.

 

 

 

Outra medida tomada por Bolsonaro esta semana, que vai de encontro às reclamações do Ato Contra o Governo da Morte, foi a exclusão da violência policial do relatório sobre violações de direitos humanos, uma tentativa clara de maquiar os números, assim como é a política oficial com o Coronavírus.

Serão distribuídas para os manifestantes, 500 fotos com vítimas da violência do Estado na ditadura e nos dias atuais, pela polícia e Covid-19. O uso de máscaras e a observação da distância de dois metros uns dos outros será obrigatório. Uma equipe irá garantir a distância e a segurança dos participantes.

O Grupo que organiza a ação é apartidário e espontâneo, composto por ativistas, artistas, advogados, professores, profissionais de saúde, estudantes, comunicadores. Cidadãs e cidadãos que não verão calados mais um genocídio do Estado brasileiro contra o seu povo.

Leia a íntegra do manifesto:

 

 

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