Por Dirce Waltrick do Amarante*
A família chegou ao hospital. Eram quatro – os pais, o filho e o neto – todos com sintomas da Covid 19.
Os pais, por razões óbvias, foram os primeiros a ser atendidos. O médico fez, como de costume, a anamnese, segundo os novos protocolos do ministério da saúde:
“Os senhores são aposentados? Quanto pagam de impostos? São consumidores? Pegam seus remédios no posto de saúde ou os compram?”
Diante das respostas, encaminhou o casal de volta para o carro e de lá para a casa. O mesmo procedimento foi feito com o filho, e o encaminhamento foi o mesmo.
Quando chegou o neto, um menininho de seis anos, o médico consultou novamente os protocolos. A família do menininho se resumia àqueles três infectados, então, se sobrevivesse, seria criado num orfanato e se tornaria, num futuro próximo, um possível delinquente. Mandou, assim, o menininho de volta para casa com os demais membros da família.
No carro, o avô, ofegante, suava muito em razão da febre alta.
O filho tirou do porta-luvas a bandeira do Brasil, que outrora flamulava do lado de fora da janela do carro, e enxugou o suor do rosto do pai.
- Confeccionando máscaras.