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Alunos ocupam UEL contra PEC, MP e por Aninha da Balinha

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Ricardo Gozzi, especial para os Jornalistas Livres.

De Londrina

Os protagonistas das ocupações de escolas e universidades pelo Brasil têm como pautas principais a retirada das PECs 55 e 241 e da MP 746, mas temas peculiares às instituições de ensino ocupadas têm sido rotineiramente incluídos entre as reivindicações dos estudantes. Na Universidade Estadual de Londrina (UEL), além das PECs e da MP em questão, os alunos exigem da reitoria que a estudante Anne Caroline Santos Ramalho, de 22 anos, possa voltar a residir na moradia estudantil. O caso de Anne Caroline, conhecida entre os colegas como Aninha da Balinha, contém indícios de perseguição, afirmam estudantes que participam da ocupação. Ela foi expulsa da moradia estudantil da UEL no início de outubro depois de ser alvo de uma enxurrada de processos administrativos por suposta perturbação dentro da ordem nas acomodações.

Nascida em Presidente Venceslau, no oeste paulista, Anne Caroline viveu na Grande São Paulo antes de mudar-se para Londrina com o objetivo de ingressar na UEL. Por comprovar a baixa renda, a administração da universidade concedeu a ela o direito à moradia gratuita já quando prestava o vestibular para o curso de Serviço Social. Ganhou o apelido de Aninha da Balinha por causa das balas de coco que produz para complementar sua renda.

Negra, pobre e lésbica, Aninha relatou ao JL que passou a ser tratada de maneira diferente pelo corpo de funcionários e de assistentes sociais da UEL no decorrer do último ano e meio, especialmente depois de ter-se envolvido com a militância estudantil e de ter publicado no YouTube um vídeo no qual expõe os problemas enfrentados pelos 82 jovens que vivem na moradia estudantil da universidade.

“Alguém cantou a bola para um grupo de alunos da moradia que não gosta de mim que se eles abrissem processos administrativos pelo meu comportamento eu poderia ser expulsa”, alega Aninha.

Entre dezembro do ano passado e julho deste ano, cinco processos administrativos foram abertos contra Aninha por diferentes pessoas, entre elas Jailson Aparecido Pinheiro, responsável pela supervisão predial da moradia.

As queixas e notificações contra a estudante vão desde mexer na maçaneta de um quarto ocupado por outros estudantes – por engano, segundo ela – e ouvir som em volume alto a colocar água para um cachorro que vagava pelo campus e pular a catraca de acesso à moradia. Pesam contra ela outras reclamações, como andar de skate nas instalações da moradia e derrapar a moto no interior do campus.

Em um ofício com data de julho do ano passado, a então chefe da Divisão de Moradia da UEL, Cristiane Vercesi, acusa Aninha de tratar a moradia estudantil da universidade como “se fosse a casa dela” e de ser agressiva e desrespeitosa com alguns funcionários e moradores do local.

Aninha admite ser “meio marrenta”, mas acredita que a burocracia da universidade esteja sendo usada contra ela por preconceito e por causa de sua militância. Segundo Aninha, alunos do outro grupo violam normas do regimento da moradia sem serem incomodados pela administração, inclusive ouvir música em volume elevado. Até mesmo as balinhas de coco vendidas por ela na universidade causaram problemas. “Um dia chegaram pra mim com uma multa de mil reais. Disseram que eu não podia vender nada dentro do campus da UEL. Como se eu fosse a única pessoa aqui que vende alguma coisa pra complementar a renda”, prosseguiu a estudante.

Em um documento no qual defendeu a adoção de medidas punitivas contra a aluna antes do início da enxurrada de processos administrativos, Cristiane Vercesi relata em ofício um episódio ocorrido durante uma visita do deputado estadual Tercílio Turini à UEL. Segundo a ex-chefe da Divisão de Moradia, o político ouviu da aluna “todo tipo de avaliação negativa” sobre o local. “Falas do tipo ‘essas máquinas de lavar fazem as roupas saírem sujas’, ‘os fogões não funcionam’, ‘as paredes são horríveis’”, escreve Cristiane Vercesi. As queixas da aluna estão em linha com as reclamações apresentadas por ela no vídeo publicado no YouTube em março de 2015. Em resposta, o deputado sugeriu que, apesar da burocracia existente, Aninha colocasse suas queixas no papel e apresentasse um projeto de melhorias à administração da moradia. Como resposta, ele ouviu: “Pois é, deputado, aqui não se faz projeto porque a chefia fica no Facebook”.

A estudante não seguiu a orientação do deputado e, de acordo com ela, o clima azedou ainda mais depois dessa conversa.

Desde a expulsão, no início de outubro, Aninha passou a dormir em casas de amigos. Segundo ela, se não conseguir retornar à moradia estudantil da UEL não terá condições de se manter em Londrina e se verá obrigada a abandonar a universidade.

“Entendemos a situação da Anne como perseguição e por isso a volta dela à moradia estudantil passou a constar da nossa pauta de reivindicações”, explicou um representante da ocupação da UEL.

O Jornalistas Livres procurou por Cristiane Vercesi na UEL e recebeu a informação de que ela se aposentou recentemente. Na Divisão de Moradia da UEL, um funcionário limitou-se a informar que os processos referentes à perda do benefício de Aninha estão sob responsabilidade do departamento jurídico.

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Moradores da Maré são bailarinos em espetáculo com temporada na Suiça

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Foto: Andi Gantenbein, de Zurique, Suíça, para os Jornalistas Livres

Denúncias sobre os atuais tempos de antidemocracia, assassinatos da população preta, pobre e periférica e o da vereadora Marielle Franco aparecem em cartazes erguidos pelos bailarinos de “Fúria”, espetáculo de Lia Rodrigues, considerada uma das maiores coreógrafas brasileiras da atualidade e uma das mais engajadas na realidade política do país.

A foto é da noite deste sábado (16), durante apresentação do grupo brasileiro no ‘Zürcher Theaterspektakel’, em Zurique, Suíça.

No Brasil, Fúria estreou em Abril, no Festival de Curitiba. A montagem evidencia, de maneira crítica, relações de poder, desigualdades, e as interligações entre racismo e capitalismo.

O espetáculo foi concebido no Centro de Artes da Maré, na Maré, RJ. O local foi inaugurado em 2009, e o projeto nasceu do encontro de Lia Rodrigues Companhia de Danças com a Redes da Maré. Os bailarinos são moradores da favela e de periferias do RJ.

Fruto dessa mesma parceria é a Escola Livre de Dança da Maré que resiste, em meio ao caos do governo violento de Witzel contra as favelas do RJ.

 

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Temer/Kassab preparam ataque ao seu direito à Internet

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O método Temer de solapar direitos dos cidadãos brasileiros tem novo alvo: a Internet. Sem qualquer discussão prévia, os golpistas querem mudar a composição do Comitê Gestor da Internet.

A consulta pública determinada pelo governo, sem diálogo prévio com os membros do Comitê e com apenas 30 dias de duração, certamente pretende aumentar o poder e servir apenas aos interesses das empresas privadas. As operadoras de telefonia têm todo o interesse do mundo em abafar as vozes de técnicos, acadêmicos e ativistas que lutam pela neutralidade da rede, por uma Internet livre, plural e aberta.

Veja, abaixo, a nota de repúdio ao atropelo antidemocrático da consulta pública determinada por Temer/Kassab. A nota é da Coalizão Direitos na Rede que exige o cancelamento imediato desta consulta.

Nota de repúdio

Contra os ataques do governo Temer ao Comitê Gestor da Internet no Brasil

A Coalizão Direitos na Rede vem a público repudiar e denunciar a mais recente medida da gestão Temer contra os direitos dos internautas no Brasil. De forma unilateral, o Governo Federal publicou nesta terça-feira, 8 de agosto, no Diário Oficial da União (D.O.U.), uma consulta pública visando alterações na composição, no processo de eleição e nas atribuições do Comitê Gestor da Internet (CGI.br).

Composto por representantes do governo, do setor privado, da sociedade civil e por especialistas técnicos e acadêmicos, o CGI.br é, desde sua criação, em 1995, responsável por estabelecer as normas e procedimentos para o uso e desenvolvimento da rede no Brasil.

Referência internacional de governança multissetorial da Internet,

o Comitê teve seu papel fortalecido após a

promulgação do Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014)

e de seu decreto regulamentador, que estabelece que cabe ao órgão definir as diretrizes para todos os temas relacionados ao setor. A partir de então, o CGI.br passou a ser alvo de disputa e grande interesse do setor privado.

Ao publicar uma consulta para alterar significativamente o modelo do Comitê Gestor de forma unilateral e sem qualquer diálogo prévio no interior do próprio CGI.br, o Governo passa por cima da lei e quebra com a multissetorialidade que marca os debates sobre a Internet e sua governança no Brasil.

A consulta não foi pauta da última reunião do CGI.br, realizada em maio, e nesta segunda-feira, véspera da publicação no D.O.U., o coordenador do Comitê, Maximiliano Martinhão, apenas enviou um e-mail à lista dos conselheiros relatando que o Governo Federal pretendia debater a questão – sem, no entanto, informar que tudo já estava pronto, em vias de publicação oficial. Vale registrar que, no próximo dia 18 de agosto, ocorre a primeira reunião da nova gestão do CGI.br, e o governo poderia ter aguardado para pautar o tema de forma democrática com os conselheiros/as.

Porém, preferiu agir de forma autocrática.

Desde sua posse à frente do CGI.br, no ano passado, Martinhão – que também é Secretário de Política de Informática do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – tem feito declarações públicas defendendo alterações no Comitê Gestor da Internet. Já em junho de 2016, na primeira reunião que presidiu no CGI.br, após a troca no comando do Governo Federal, ele declarou que estava “recebendo demandas de pequenos provedores, de provedores de conteúdos e de investidores” para alterar a composição do órgão.

A pressão para rever a força da sociedade civil no Comitê cresceu,

principalmente por parte das operadoras de telecomunicações,

apoiadoras do governo.

Em dezembro, durante o Fórum de Governança da Internet no México, organizado pelas Nações Unidas, um conjunto de entidades da sociedade civil de mais de 20 países manifestou preocupação e denunciou as tentativas de enfraquecimento do CGI.br por parte da gestão Temer. No primeiro semestre de 2017, o Governo manobrou para impor uma paralisação de atividades em nome de uma questionável “economia de recursos”.

Martinhão e outros integrantes da gestão Kassab/Temer também têm defendido publicamente que sejam revistas conquistas obtidas no Marco Civil da Internet, propondo a flexibilização da neutralidade de rede e criticando a necessidade de consentimento dos usuários para o tratamento de seus dados pessoais. Neste contexto, a composição multissetorial do CGI.br tem sido fundamental para a defesa dos postulados do MCI e de princípios basilares para a garantia de uma internet livre, aberta e plural.

Por isso, esta Coalizão – articulação que reúne pesquisadores, acadêmicos, desenvolvedores, ativistas e entidades de defesa do consumidor e da liberdade de expressão – lançou, durante o último processo eleitoral do CGI, uma plataforma pública que clamava pelo “fortalecimento do Comitê Gestor da Internet no Brasil, preservando suas atribuições e seu caráter multissetorial, como garantia da governança multiparticipativa e democrática da Internet” no país. Afinal, mudar o CGI é estratégico para os setores que querem alterar os rumos das políticas de internet até então em curso no país.

Nesse sentido, considerando o que estabelece o Marco Civil da Internet, o caráter multissetorial do CGI e também o momento político que o país atravessa – de um governo interino, de legitimidade questionável para empreender tais mudanças –

a Coalizão Direitos na Rede exige o cancelamento imediato desta consulta.

É repudiável que um processo diretamente relacionado à governança da Internet seja travestido de consulta pública sem que as linhas orientadoras para sua revisão tenham sido debatidas antes, internamente, pelo próprio CGI.br. É mais um exemplo do modus operandi da gestão que ocupa o Palácio do Planalto e que tem pouco apreço por processos democráticos.

Seguiremos denunciando tais ataques e buscando apoio de diferentes setores,

dentro e fora do Brasil,

contra o desmonte do Comitê Gestor da Internet.

 

8 de agosto de 2017, Coalizão Direitos na Rede

 

Notas

1 A Coalizão Direitos na Rede é uma rede independente de organizações da sociedade civil, ativistas e acadêmicos em defesa da Internet livre e aberta no Brasil. Formada em julho de 2016, busca contribuir para a conscientização sobre o direito ao acesso à Internet, a privacidade e a liberdade de expressão de maneira ampla. O coletivo atua em diferentes frentes por meio de suas organizações, de modo horizontal e colaborativo. A nota está em https://direitosnarede.org.br/c/governo-temer-ataca-CGI/ .

2 Para ouvir a entrevista, à Rádio Brasil Atual, de Flávia Lefévre, conselheira da Proteste e representante do terceiro setor no Comitê Gestor da Internet, que afirma que as mudanças visam a atender interesses do setor privado e ferem caráter multiparticipativo do Comitê: https://soundcloud.com/redebrasilatual/1008-enrevista-flavia-lefevre

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FRAGMENTO E SÍNTESE

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Ligar a tv logo cedo num pequeno quarto de hotel no interior do país é desentender-se dos fatos nos telejornais matutinos. Abre-se a janela e uma menina vai à escola à beira do rio, um menino faz gol de bicicleta entre guris e o homem ergue a parede de sua casa.  Tudo tão distinto das ruas em alvoroço de protestos urbanos ou políticos insanos.  No rincão o que se busca é continuar vivo entre chuvas e trovões, sem não ou talvez. Tudo é certo. Sem modernidades calam ou arremedam nossa urbanidade, gente que se defende com pimentas e ervas, oração e vizinhança. Voz sem boca, boca sem voz, essa gente não é parte nas notícias selvagens dos jornais distantes.  Se resolvem entre cozidos, arte, bola e santos. No país de tantos cantos, muitos voam fora da asa e sem golpes entre si vão tocando suas mazelas e graça.

Mas vivemos tempos obscuros, a noite persiste em nossos avançados quinhentos e tantos anos e muitos santos. Dizem que burro velho é difícil se corrigir nos hábitos. Em manhã chuvosa na grande São Paulo, ligo a tv e o notbook, as janelas se abrem antes que a cortina deixe entrar o novo dia. Surpreendente ver na tv o deputado Jair Bolsonaro afirmando em um clube israelita na cidade do Rio, que se presidente for, não teremos mais terras indígenas no país. Ao mesmo tempo o computador expõe na rede social a opinião de meu amigo Ianuculá Kaiabi Suiá, jovem liderança do Parque Indígena do Xingu, onde leio ao som do deputado que ladra:

Jair Bolsonaro, obrigado por você existir. Graças a você, hoje, temos noção de quanto a população brasileira carece de conhecimento, decência, consciência, juízo, amor e que carrega um imenso sentimento de ódio sem saber o porque. Sim, sim, não sabem. Um exemplo? Veja a bandeira de quem te aplaude, é de um povo que, assim como nós, sofreu as piores atrocidades cometidas pelas pessoas que pensavam como você. Enfim, eu não sei se essa parcela do povo brasileiro pode ser curada, mas vou pedir para um pajé fumar um charuto sagrado e revelar se o espírito maligno que se apossou da tua alma pode ser desfeita com uma grande pajelança.

Ianuculá sabe o que diz, sabe de todo martírio vivido pelos povos originários, e mesmo assim se propõe a consultar o mundo dos espíritos.

 

É deus e diabo na terra do sol, a mesma terra que ofende também abriga e anuncia uma mostra de cinema indígena nos próximos dias. Terra de etnias e corpos na terra, a cidade maravilhosa do Rio não se calará diante do fascismo desses tempos sombrios, acompanhe.

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