Ajuste Familiar no Brasil de hoje, por Dirce Waltrick do Amarante. Imagem: Gustav Klimt.

Foi numa manhã primaveril que decidi que seria heterossexual. Assim, convicto, fui tomar café da manhã com a minha família, que era, contudo, desajustada: meu pai era funcionário fantasma no gabinete de um vereador, minha mãe era laranja do meu pai, que era laranja do vereador, meu irmão colecionava armas (de plástico, pois não tínhamos dinheiro para comprar armas de verdade).

Ajuste Familiar no Brasil de hoje

Por Dirce Waltrick do Amarante*

Foi numa manhã primaveril que decidi que seria heterossexual.

Assim, convicto, fui tomar café da manhã com a minha família, que era, contudo, desajustada: meu pai era funcionário fantasma no gabinete de um vereador, minha mãe era laranja do meu pai, que era laranja do vereador, meu irmão colecionava armas (de plástico, pois não tínhamos dinheiro para comprar armas de verdade).

Foi assim que, numa manhã primaveril, descobri que, com aquela família, não poderia ser heterossexual.

Mas meu pai, num momento de lucidez, intercedeu por mim e me aconselhou a conhecer uma “mulher de fato” antes de tomar qualquer decisão.

Foi assim, aos doze ou treze anos, que conheci a filha da vizinha, de onze anos e, hoje, passados dois anos, formamos uma família: ela, eu e nosso primeiro filho, porque não fraquejei.

* Pois é…

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