A última escola a ser ocupada

Com 121 anos de funcionamento, a primeira escola pública fundada em São Paulo entra na luta contra a “reorganização”

Por Taynah Meira, colaboração para os Jornalistas Livres

Dentro do Parque Dom Pedro 2º, na zona leste, fica a Escola Estadual São Paulo. No enorme prédio em meio ao parque degradado, já de cara podemos observar os vidros quebrados e as necessidades de mudanças no espaço escolar. Os alunos há muito vem percebendo tais necessidades, como também a importância de apoiar o movimento contra a chamada “reorganização escolar” proposta por Geraldo Alckmin e no dia 2 de dezembro começaram mais uma ocupação.

A E.E. São Paulo atualmente conta com o Ensino Fundamental do 6º ao 9º ano e com o Ensino Médio. Se a “reorganização” passar, perderá o fundamental e passará a ter apenas o Ensino Médio.

Depois de tentativas falhas de diálogo com o diretor, cerca de 30 alunos ocuparam a escola pela tarde e lá ficarão por tempo indeterminado. Os relatos dos estudantes demonstram o descaso não só com a educação e o patrimônio, mas com a integridade física dos alunos.

A escola, localizada dentro do parque, está em posição de grande exposição e insegurança. Por ser em uma região perigosa e de difícil acesso, assaltos fazem parte do cotidiano dos estudantes. Os portões que dão para a tentativa de verde do parque que é habitado por moradores de rua, trazem mais situação de vulnerabilidade que de segurança.

Ontem, em meio à ocupação, chegou a notícia de que dois alunos que haviam acabado de sair do colégio haviam sido assaltados a menos de 300 metros dali. “Falta segurança dentro do colégio e em torno dele, todo dia sabemos de alguém que foi assaltado”, afirma Karen, estudante do segundo ano.

Mas o descaso não fica só por conta da segurança: “Muitos que estudam aqui nem sabem da existência dos laboratórios”, me confessa Leonardo Silva, um dos alunos da escola que está organizando a ocupação. A grande escola tinha tudo para ter as condições ideais de estudo, com laboratórios e biblioteca, porém não é o que acontece na prática.

São mais de dez salas de aulas que estão inutilizadas, em péssimas condições, com piso quebrado e paredes rachadas, além de dois laboratórios que nunca foram frequentados pelos alunos e que atualmente servem como depósitos (!!!).

A Escola e a reorganização educacional

O anúncio do fechamento das 93 escolas não atingiu apenas as que seriam fechadas, mas todos que fazem parte dessa precária educação pública. “Achamos um absurdo escolas serem fechadas quando mais precisamos de mais escolas”, afirma o aluno Leonardo. Diz também que não é uma questão só de solidariedade, mas de imposição dos estudantes. “É muito importante o governo perceber que estamos todos querendo estudar e também de melhorias na nossa escola”.

Diferente do que ouvimos por aí, “que muitos jovens não estão preocupados com a educação pública”, o movimento vem mostrar o contrário. Os jovens estão se organizando e precisam de uma educação de qualidade. “Sabemos que a mudança só vem a partir da educação, precisamos mudá-la e também mudar o rumo desse país, por isso estamos ocupando, resistindo e lutando”, afirma o aluno.

História

Ano passado a escola ocupada completou 120 anos de funcionamento. Fundada em 1894, originalmente chamada de Ginásio do Estado de São Paulo, foi a primeira escola paulista a ter ensino secundário (ensino médio). Começou seu funcionamento dentro da Pinacoteca do Estado, mudou-se para São Joaquim e desde 1958 ocupa as dependências do Parque Dom Pedro I.

É muito conhecida também pela gama de intelectuais e cientistas que frequentaram as suas salas de aula, como o jornalista Vladimir Herzog, um dos nomes centrais do movimento pela restauração da democracia no Brasil após 1964, quando o país vivia sob uma ditadura militar cruel e assassina.

Como ajudar

Os alunos do E.E. São Paulo estão precisando da ajuda de todos. A questão mais urgente é a segurança. Como o colégio fica dentro do parque é muito perigoso andar pelas imediações à noite. Então eles precisam de gente. E a doação de alimentos é muito importante para a sobrevivência dos que ali estão morando. Todo apoio é bem vindo.

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