Foto: Mídia NINJA
Atos, centralizados e nos bairros, audiências publicas e vigília em frente à Secretária de Educação, marcam a mobilização da categoria
A greve dos professores estaduais entrou em sua terceira semana, a paralisação já chega aos 60% da categoria, com a adesão de cerca de 140 mil docentes. Nessa sexta-feira (27), mais de 60 mil manifestantes, entre professores, funcionários, pais e alunos, foram às ruas pedir uma educação pública de qualidade e a valorização dos profissionais. O governador, que na semana passada havia alegado que a greve só tinha a adesão de pouco mais de 2% dos docentes e que, portanto, a paralisação era inexistente, teve que voltar atrás. Alckmin já admite negociação. O governo estadual deverá receber o sindicato nessa segunda-feira (30). Até mesmo a rede globo teve que admitir a proporção da greve.
Antes disso, no entanto, muita coisa aconteceu. A Apeoesp, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, realizou três grandes assembleias gerais no MASP, nas últimas três sextas-feiras, que reuniram dezenas de milhares de professores. Além de assembleias regionais, audiências públicas e atos descentralizados por todo o estado e capital. “Esses atos nos bairros são fundamentais para dialogar com a comunidade”, lembrou Bruno Liberato, professor de história.
Outra tática assumida pelos grevistas foi a vigília. Professores e alunos estão acampados desde quarta-feira (25) na Praça da República, em frente à Secretaria de Educação.
Vigília pela precarização da educação
Velas coloridas acesas e escolas feitas de dobraduras de papel, alimentadas por um soro, dão o tom simbólico a um problema real: a precarização do ensino público. Desde a última quarta-feira, professores e alunos estão acampados em frente à Secretaria da Educação para pressionar o governo estadual e o secretário da educação, Herman Jacobus Cornelis Voorwald, pela negociação das reivindicações da categoria.
A Apeoesp montou uma estrutura para os professores que optarem em participar da vigília. Docentes de todo o estado somam à ação. Pela praça é possível ver faixas e cartazes de Guarulhos, Bebedouros, Araçatuba, Atibaia, São Roque, Arujá e muitas outras cidades. Além das subsedes municipais, bandeiras de outros sindicatos e da UEE (União Estadual dos Estudantes), mostram apoio à manifestação.
Os professores podem trazer suas barracas, ou dormir em colchonetes sob uma tenda metálica montada na praça. Alimentação, banho e banheiros são disponibilizados na Casa do Professor, espaço mantido pelo sindicato que funciona como pousada para os professores filiados, localizado na Rua Bento Freitas, bem próximo ao local do acampamento.
Os participantes estão se revezando para manter a praça sempre ocupada. Nos dois primeiros dias havia cerca se 100 docentes acampados. Na noite dessa sexta-feira (27), depois da assembleia geral e ato, 300 professores pernoitaram no local.
Clayton Lima da Silva é professor de geografia e ficou na vigília nos dois primeiros dias, sua avaliação da ação é positiva “realmente, a partir do primeiro dia, o governo e a mídia começaram a cobrir mais a greve. O acampamento deu uma visibilidade maior para a luta”.
Liberato também participou da ação: “estou no sistema desde 2010 e essa é minha terceira greve. Nas duas anteriores essa estratégia do acampamento não foi utilizada. Nas lutas anteriores, principalmente as greves na gestão do governador Mario Covas, os acampamentos eram práxis. Pode ser uma retomada de uma estratégia assertiva”.
Solidariedade e causos
As refeições são garantidas pelo sindicato, mas quem traz algo diferente divide. Os professores que moram em São Paulo levam mimos aos companheiros acampados. Esses por sua vez, dividem com os moradores das ruas da região. “Não tem como, tudo que vamos comer acabamos dividindo. Nós dividimos a comida e eles as histórias”, brinca Valdireth de Paula Costa, professora de matemática de Guarulhos, “ficamos aqui de ouvinte das pessoas”.
Valdireth está acampada desde quarta e conta que viu e ouviu muitas coisas: “as pessoas passam e ficam curiosas, perguntam o que está acontecendo. A maioria apoia”. Até briga ela presenciou: “Uma anarquista veio conversar comigo, ao mesmo momento uma blogueira apareceu e começou a defender a ditadura. As duas saíram na mão. Tive que chamar o segurança do acampamento”.
Mas ela diz estar se divertindo: “só fiquei triste de não ter participado do ato, tive que ficar cuidando da barraca”.
A vigília tem previsão de terminar na segunda-feira, quando teriam inicio as negociações. A greve, no entanto, não tem previsão para acabar. A continuidade, bem como os próximos passos, serão discutidos na próxima assembleia geral, marcada para quinta-feira (2/4) às 14h no vão do MASP, na Avenida Paulista.
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