Por Marisilda Silva, para os Jornalistas Livres
Na sexta-feira, 18/4, um mês após o anúncio das primeiras mortes por Covid-19 em São Paulo, o bairro da Brasilândia, na zona norte da capital, passou a liderar o número de óbitos, com 54 mortes confirmadas ou suspeitas por coronavírus. E a grande mídia, nas suas manchetes, sentenciou, botando a culpa na população: as ruas do distrito estão lotadas e comércio está aberto. Mas, a situação é mais complexa e a Brasilândia está pedindo socorro.
“A política de isolamento social no nosso bairro enfrenta todo tipo de obstáculo”, dizem as lideranças populares do bairro. Eles estão certos. Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, de 26/3, os médicos sanitaristas Ricardo Teixeira e Ivan França Jr., da USP, avisavam que a estratégia do distanciamento social para toda a população é de difícil implementação, porque “exige do Estado grande capacidade de controlar informações, coordenar ações para sustentar a vida das pessoas e exercer poder coercitivo”. E na Brasilândia, como em toda a periferia, o Estado é ausente.
“Em muitas casas a água continua sendo racionada e ficamos com as torneiras secas por horas e até dias, o que não permite uma higiene que possa conter o avanço da doença”, contam os moradores. E falta de água na Brasilândia, sabemos, não é de hoje.
População sem leitos
A Brasilândia é o quarto distrito mais populoso da cidade de São Paulo, e lá residem 264.918 pessoas, quase 13 mil pessoas por quilômetro quadrado. Para se ter ideia, no Morumbi, onde se registra o maior número de casos de infecção por coronavírus, a relação é de 4 mil habitantes por quilômetro quadrado.
Ainda para efeito de comparação, o Morumbi tem 14,54 leitos hospitalares por cem mil habitantes e a Brasilândia, 0,011.
Os moradores do distrito da zona norte reivindicam a imediata abertura do Hospital da Brasilândia, cuja construção teve início em 2015, no governo municipal de Fernando Haddad, foi suspensa quando João Doria assumiu a prefeitura e retomada em 2017.
É possível também aumentar leitos, reabrindo o Hospital Sorocabana, localizado na Lapa, próximo ao nosso bairro, dizem os moradores. “Fechado há muitos anos, o terreno é do governo estadual e a população pede há muito tempo que o local seja cedido para que a prefeitura assuma, reforme, equipe e reabra o hospital”.
Apoie o Manifesto pela Saúde na Brasilândia
Num manifesto sincero que começa por agradecer aos trabalhadores do transporte, da limpeza, da alimentação e, em especial da saúde, o Movimento pela Saúde na Brasilândia e pedem apoio de todos os setores da sociedade e ação do poder público.
“Precisamos de uma ação constante e forte de comunicação da prefeitura pelo bairro, usando todas as formas de comunicação, carros de som, panfletos, faixas, inclusive rádio e televisão orientando as pessoas da necessidade do isolamento social e higiene, para impedir a disseminação do vírus. Distribuição imediata de alimentos, seja em forma de cartão merenda para todos os alunos da rede pública e/ou cestas básicas, incluindo produtos de higiene e limpeza, além de botijões de gás para as famílias carentes, além da isenção do pagamento de água e luz e fim do racionamento de água na região. É preciso testes para detectar o vírus na nossa população e leitos para assistência à nossa saúde.”
Para assinar o manifesto, comunique-se pelo WhatsApp: (11) 98978-8342, (11) 994650914 e (11) 98765-9232