A desumanidade do atendimento aos que vivem o drama de serem considerados indesejáveis
Um assunto espinhoso e incômodo na cidade de São Paulo é o RAPA, nome dado à ação das sub-prefeituras, com a GCM (Guarda Civil Metropolitana), apoiada pela PM, retirando os pertences dos moradores de rua, verdadeiros refugiados urbanos que vivem pelas ruas da cidade de São Paulo.
Segundo o censo de 2015, nas ruas de São Paulo e Centros de Acolhida há 15.900 pessoas em situação de rua — ao nosso ver, trata-se de registro bem abaixo do real . A quase totalidade dessas pessoas já sofreu a ação truculenta do RAPA .
Os fiscais, guardas e PMs chegam em comboio e de armas nas mãos. Levam colchões, cobertores, roupas, alimentos, remédios, documentos, utensílios e tudo o que têm para sobreviver .
O que afirmo é como testemunha ocular de muitas destas ações, que são realizadas por toda a cidade de maneira sistemática, contínua e permanente .
A população de rua tratada com truculência vai acumulando sofrimento e revolta. Quando esboça reação é submetida pela força e criminalizada.
Os agentes de pastoral e militantes de movimentos ou pessoas que, sensibilizadas, manifestam desacordo com as ações são intimidados. Os que fotografam ou filmam, ameaçados .
Pelas redes sociais temos denunciado com fotos e depoimentos as ações de remoção e apropriação dos bens dos refugiados urbanos que vivem pelas ruas de São Paulo Paulo.
Muitas vezes comunicamos de imediato à Secretaria Municipal de Direitos Humanos e algumas vezes fazemos contato telefônico com o secretário Eduardo Suplicy, que ouve os lamentos e indignação dos atingidos pelo RAPA.
A secretaria de Direitos Humanos está convocando uma reunião com a presença do prefeito e dos secretários envolvidos para tratarem do assunto , mas mais uma vez sem a presença dos que sofrem tal iniquidade .
O sofrimento deste povo parece não ter fim. Já vi chutarem a comida, jogarem a água potável no chão, tirarem as cobertas mesmo no frio, deixarem as pessoas desabrigadas e ao relento.
O prefeito não quer barracas, nem coberturas, nem colchões ou qualquer coisa que possa significar proteção.
Os centros de acolhida não são suficientes, não há lugar para todos e nem para os grupos familiares. E não há, principalmente, respostas construídas com a participação dos que vivem o drama de serem considerados indesejáveis.
Enfim, ações desumanas não constroem uma cidade mais humana, que mesmo, na sua complexidade, diversidade e pluralismo, não pode jogar no desalento os mais fracos e descartáveis de um sistema injusto e opressor.