NOTA DE DOCENTES CAMETAENSES EM DEFESA DA EDUCAÇÃO E DEMOCRACIA
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7 anos atrásem
Nós, professoras e professores de Cametá, acreditamos em uma EDUCAÇÃO pautada na DEMOCRACIA, contra qualquer forma de ditadura, no CONHECIMENTO, contra a ignorância, na VERDADE, contra a mentira, no RESPEITO, contra a intolerância, na LIBERDADE, contra a opressão, na IGUALDADE de direitos, contra os privilégios, no direito à VIDA, contra o extermínio de pessoas e grupos, e no AMOR, contra o ódio.
Nesse contexto de eleições para Presidente da República no Brasil, acreditamos que as propostas apresentadas não devem, em hipótese alguma, representar um retrocesso na nossa história, indo de encontro ao acúmulo de avanços que conquistamos mediante muita luta e sacrifício. No que tange à Educação, propostas que pretendam transformar o ensino presencial em ensino a distância podem significar o fechamento de inúmeras escolas e creches por todo o país, além da demissão em massa dos professores, merendeiras, porteiros, agentes de serviços gerais e de vários outros trabalhadores em Educação. A educação é o mais importante caminho para a superação da histórica desigualdade social existente no país e de emancipação política, cultural e intelectual em uma sociedade que não abre mão de um presente digno e de um futuro mais plural e fraterno. Daí ser fundamental o envolvimento de todas e todos e a luta de cada um e de cada uma em defesa da educação pública, gratuita e de qualidade social. E que esta educação possa ser comandada por pessoas realmente competentes, tendo em vista os desafios colocados pelo contexto atual do Brasil.É necessário, é preciso, é urgente mesmo lutar pela revogação da emenda constitucional que proíbe os investimentos sociais, em educação inclusive, por vinte anos; bem como, é necessário barrar a contrarreforma imposta ao Ensino Médio e combater o projeto nefasto da escola sem partido.
Ademais, repudiamos a forma como candidatos que, ao longo de suas carreiras políticas, têm desvalorizado as formas de expressão e os direitos historicamente conquistados pelos negros, movimentos LGBT, indígenas, quilombolas e de mulheres.
Defender ideias e valores que disseminam o ódio e a violência contra a diversidade, ignorar a exploração à qual tem sido sujeitada a classe trabalhadora do nosso país, não reconhecer as lutas pelo direito à terra do MST, desmerecendo todos os movimentos sociais, sindicatos e demais mecanismos de organização dos trabalhadores, tudo isso significa uma volta a um estado ditatorial, com todos os seus horrores que desrespeitam os direitos humanos. Por isso dizemos em uma só voz: Ditadura nunca mais! Democracia sempre! Contra o avanço do fascismo e da intolerância, faz-se necessário que nos unamos em defesa da democracia, da liberdade de expressão, da nossa soberania e da própria vida.
- Prof. Dorielson R. Gaia
- Prof. Benedito Machado Teles Filho
- Prof. Pedro Valmir Guimarães Souza
- Prof. André Luis Franco Lopes
- Profa. Cássia Arnaud
- Prof. Neilson Gaia
- Prof. Doriedson S. Rodrigues
- Profa. Glaucileny Lopes
- Prof. Paulo de Tarso Correa de Paula
- Prof. Osvaldo Castro (Lampa)
- Profa. Vilma Miranda
- Prof. Nilton Oliveira
- Prof. Evandro Rodrigues🇭🇰
- Prof. Raimundo Nonato Gaia Corrêa
- Profa. Gisély Damasceno Furtado
- Profa. Maria da Conceição Barra
- Prof. Marcel Ribeiro Padinha
- Profa. Alice do Socorro Louzada Moraes
- Profa. Klivia Cordeiro
- Profa. Edna Maria Corrêa
- Prof. Alexandre Pantoja
- Profa. Maria das Graças Gonçalves
- Profa. Sara Corrêa Dias
- Profa. Lidiane de Jesus G. Silva
- Prof. Hugo do Carmo Sanches
- Profa. Darcielly da Silva Cardoso Cardoso
- Prof. Messias Vanzeler de Morais
- Prof. Roble C. Moraes Tenório
- Prof. Osvaldo dos Santos Machado
- Prof. João Miranda Furtado
- Profa. Joex Pinto Wanzeler
- Prof. Benedito N. Sacramento
- Profa. Gilma Guimaraes Lisboa
- Prof. Nattan Nahum
- Prof. Carlos Alberto Amorim Caldas
- Prof. Marcos Luís Pereira Fonseca.
- Prof. Adenil Alves Rodrigues
- Prof. Vandreia de O. Rodrigues
- Prof. Cassio Freitas
41. Profa. Nazaré Xavier
42. Profa. Josilma Maciel Matos
43. Prof. Eraldo Cunha Siqueira
44. Prof. Ivaldo Pinheiro Rodrigues
45. Prof. Dilma Cardoso Pereira
46. Profa. Vergiliana dos Santos Corrêa
47- Prof. Adonai do socorro da Cruz Gonçalves
48- Prof. Daniel N. R. Gaia
49- Prof. Fátima Meireles
50- Prof. Cristiane do Socorro Farias de Farias
51- Prof. Paulo Renato Camargo Lacerda
52- Prof. José Domingos Fernandes Barra (Zé Domingos)
53- Profa. Rhana Beatriz Maia de Freitas
54- Profa. Rosivalda Rodrigues Corrêa
55- Prof. José Orlando Ferreira de Miranda Júnior
56- Prof. Rosilene Ferreira Almeida
57- Prof. Irá Mendes
58 – Prof. Cristiano Ramos
59- Prof. José do Carmo Louzada D’Albuquerque
60- Prof. Dael Cardoso Pereira
61- Profa Carla Alice Faial
62-Profa. Vera Lúcia de Cristo Lobato:triangular_flag_on_post:
63- Profa. Vanilce Barroso Miranda
64- Prof. Salete Aqui me
65- Prof. Egídio Martins
66- Prof. Valdiléia Silva
67-Prof. Maria Isabel Batista Rodrigues
68 – Prof. Fabiana Vasconcelos da Cruz
69 – Prof. Francinaldo Mares
70 – Prof. Fatima Mariza de Assis Mota
71 – Prof. José Antônio Capela da Paixão.
72 – Prof. Maurício Bastos da Silva
73 – Prof. Natanael da Cunha Rodrigues
74 – Prof. Mateus Levi Wanzeler de Morais
75 – Profa. Maria Helena Costa
76 – Prof. Miqueis Wanzeler Moraes
77- Prof. Vamilson Farias Oliveira
78- Profa. Roseli Cunha de Freitas
79 – Prof. Warllen Barros de Souza
80 – Prof. Eraldo Souza do Carmo
81- Profa. Maria Sueli Corrêa dos Prazeres
82 – Profa. Flordemira da Silva Ferreira
83 – Profa. Lenise Maria da Silva Ferreira
84- Prof. Geovan da Silva Araujo
85 – Prof. Welington Morais Ferreira
86- Prof. Pedro Pompeu
87- Prof. Cledson dos Prazeres Viana
88 – Prof. Eder de Jesus de Sousa Pantoja
89 – Prof. Jerfferson Valente de Brito
90 – Prof. Elson de Sousa Dias
91- Prof. Paulo Roberto A. Tavares
92- Profa. Maria das Graças Ribeiro Rodrigues
93- Prof. Mario Jr. de Carvalho Arnaud
94- Prof. Emerson da Silva Sanches
95 – Profa. Gabriela Costa Faval
96 – Profa. Alessandra Sena dos Santos
97 – Profa. Ivana Moura Viana
98 – Profa. Kaciane Louzada
99. Profa.Rosiane Cruz do Carmo
100- Prof. Vinicio da Silva Nascimento CUT/PA
101 – Profa. Miria Deise Caldas Albuquerque
102 – Profa. Meury Greece Caldas Farias
103 – Prof. Ribamar da Silva Farias.
104. Prof. Rubens da Costa Ferreira
105. Prof. Madalena Furtado
106. Prof. Dejanil Machado Arnaud
107. Profa. Rosemeire Souza
108. Profa. Maria Rosilda Pantoja Assunção
109. Profa. Neusiane de Nazaré Coelho de Melo
110. Prof Cláudio Farias de Almeida Junior
111- Prof Jeibson Ribeiro
112 – Profa. Ellen Rodrigues da Silva Miranda
113- Profa. Tayana Borges de Oliveira 114- Profa Luzeli Nunes Albuquerque
115 – Prof Alda Lúcia Rodrigues da Silva.
116- Prof Jailson Cruz Gaia
117 – Profa Jercisandra da Silva Alves
118 – Profa Nizandria dos Santos Pompeu
119. Profa Ieda de Fátima Pinto Barradas
120- Prof. Jair Pinto Mendonça
121 – Prof. Anderson de Jesus Gomes Valente
122 – Prof. Cinnamorlinda de Belem Pantoja de Lima Cabral
123- Prof. Laércio Farias da Costa
124- Profa. Alana Martins de Miranda
125 – Prof. Luís Valente
126- Prof. João Batista do Carmo Silva
127. Prof. Raimundo Barra
128. Prof. Edimilson Ramos Marques Gaia
129. Prof. Jorge Domingues
130. Prof Arodinei Gaia
131. Prof. Geanice Baia Cruz
132. Prof. Leonardo do Socorro do Carmo Sanches :fist:🏽
133- Prof. Rosely Xavier Alves
134- Peof. Daniel Pureza Martins
135- Prof. Nilza da Costa Baía.
136- Prof. Jeovane Manuel Ribeiro da Cruz
137 – Prof. Walcinei Pimentel Carvalho
138 – Prof. Altair lobo de Jesus
139 – Prof. Adélcio do Carmo Fiel
140 – Prof. Assis do Carmo Fiel
141 – Prof. John Állef Alves Vieira
142 – Profa. Delcilene Sanches Furtado
143 – Prof. Vilma Ribeiro Cruz
144 – Prof. Alcindo Vasconcelos Caldas
145 – Profa. Leila Maria dos Santos.
146- Profa. Nilma dos Santos Lobato.
147 – Prof. José Márcio dos Santos Pereira
149- Prof Ilaci Júnior.
150 – Prof. Cássio de Freita
151- Prof. Helena Patricia B. Martins
152- Prof. Ana Claudia Ferreira Valente
153- Prof. Paulo Sérgio Pantoja Teles
154- Profa. Maria de Nazaré Cardoso Castro
155- Deolinda Alice Duarte Cordeiro
156 – Profa. Arlete Maria de Freitas Valente
157- Liliane Corrêa Arnaud
158. Prof Gerdson Luiz de Oliveira Gaia
159 – Profa. Marcia do Socorro Caldas Garcia
160 – Alessandra Sena dos Santos
161 – Prof. Radir Wilson Alfaia Moreira
162 – Profa. Verônica Guedes Veiga
163- Prof. Joana Pompeu Vila Real
164- Prof. Sebastião Moraes Pompeu
165- Prof. Manoel Luís Gonçalves Nogueira
166- Prof. Marco Antônio de Freitas Sabóia
167- Prof. Lúcia Helena Silva Lacerda
168- Prof. Tobias Gomes Martins
169- Prof. Raimundo Rodrigues da Silva
170- Prof. Joyce Elizete do Carmo Botelho
171 – Profa. Maria José Borges da Silva
172 – Prof. Rosinaldo do Espírito Santo Cunha
173 – profa Cláudia Martins de Sena
174- Prof. José Carlos Vanzeler Pompeu
175- Benedito Moreira Serrão
176- Prof. Maria Dulcirene Freitas Corrêa
177- Prof. Maria Lucilena Gonzaga Costa Tavares
178- Prof. Ana Carina Ferreira Maia
179 – Profa Helenise de Nazaré Correa da Cunha
180 – Profa Maria de Fátima Gaia Correa
181- Prof. Aliciete Maria Freitas Valente
182- Prof. Ângela Vasconcelos
183- Prof. Christiane Lira
184- Prof. Hélio Vasconcelos
185- Prof. Dileuza do Carmo Cruz
186- Prof. Benedita Celeste M. Pinto
187- Afonso Estumano do Carmo
188- Prof. Beatriz de Fátima Lopes Barata
189- Prof. Rosilene G. Pereira
190- Prof. Joana Gomes Pompeu
191- Prof. Maria do Socorro de Oliveira
192- Leandro de Jesus Baia
193 – Jone Clebson Ribeiro Mendes
194- Prof. Edilene do Socorro Corrêa
195 – Luíza de Marillac Estumano Martins
196- Prof. Dr. Vereador Célio Viana
197- Prof. Maridalva dos Prazeres Araújo
198- Prof. Fred Alfaia
199- Prof. Dr. Gilmar Pereira da Silva
200- Prof. Raimundo Afonso Machado
201 – Prof. Higor Marçal Leitão Costa
202- Prof. Elielma de Freitas Sales
203- Prof. Alaci pereira de Carvalho
204- Prof. Adjaime Costa Gomes
205- Profa Gessyca Karoline Cardoso Wanzeler
206- Prof Jaelson do Carmo Cardoso Castro
207 – Prof Fábio Moraes Lopes
208 – Prof. Paulo Vicente M. de Macedo
209 – Prof. Dejanilson Machado Arnaud
210 – Profa. Ana Maria Raiol da Costa
211 – Prof. Arlenice Raimundo Moraes Filgueira
212- Prof Jaqueline Mendes Bastos
213- Prof. Waldirene da Veiga de Oliveira
214- Prof. Édson Pantoja Nunes
215- Prof. Fernanda Serrão Carneiro
216 – Profa. Ivana Moura Viana.
217 – Profa. Adriana Viana Valente Cardoso
218 – Profa. Jehny Adrianny Alves Vieira
219 – Profa. Maria Eledícia Rodrigues Coelho
220 – Profa. Márcia do Socorro Coêlho de Oliveira
221 – Prof. João Furtado
222 – Gilcilene Dias da Costa
223 – José Valdinei Albuquerque Miranda
224 – Profa. Adriane Santos Siqueira
225 – Yasmim Fonseca Amaral
226 – Michel Douglas Paz Braga
227 – Profa. Caroline Do Socorro Freitas Maciel
228 – Prof. Natalino Laredo Dos Santos
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O caso Mariana Ferrer, por Honoré de Balzac
Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.
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5 anos atrásem
07/11/20O caso Mariana Ferrer por Honoré de Balzac
Por Dirce Waltrick do Amarante*
Quando o escritor francês Honoré de Balzac teve acesso ao vídeo da audiência de Mariana Ferrer, ele decidiu escrever o Código dos homens honestos, isso nos idos de 1875, mas só agora estou tornando públicas suas palavras, que estavam sob segredo de justiça.
Em uma análise bastante rigorosa, Balzac lembra, em primeiro lugar, que sabemos perfeitamente bem que “em princípio, ficou estabelecido que a justiça seria para todos, mas […]” . A tradução é de Léa Novaes, pois Balzac tinha dificuldade em escrever em português.
Dito isso, ele fala da figura do procurador. Em tempos idos, diz Balzac, os procuradores “levavam tão a sério o interesse de um cliente que chegavam a morrer por eles”. Além disso, eles “nunca frequentavam a sociedade”, e se a frequentassem eram vistos como “monstros”, mas hoje, “hoje tudo está monetarizado: já não se diz que Fulano foi nomeado procurador-geral, vai defender os interesses de sua província […]. Não, nada disso; o senhor Fulano acaba de conquistar um belo posto, procurador-geral, o que equivale a honorários de vinte mil francos […]”.
Balzac ia falar da figura do juiz e do defensor público, mas depois de tudo que assistiu ficou sem as palavras justas para descrevê-los.
Então, o escritor francês decidiu se debruçar sobre o papel do advogado, que “frequenta bailes, festas […] despreza tudo o que não é elegante”. E, diz Balzac, “Justiça seja feita aos advogados […]! São os decanos, os chefes, os santos, os deuses da arte de fazer fortuna com rapidez e com uma sagacidade que os torna merecedores de muitos elogios”.
Enfim, “de todas as mercadorias deste mundo, a mais cara é sem dúvida a justiça”.
Não citei na íntegra o texto do Balzac, porque foram esses os únicos fragmentos aos quais tive acesso, os outros foram apagados.
*Formada em Direito, em 1992, na Universidade Federal de Santa Catarina
Geral
O show de Trump: renovação ou cancelamento?
A eleição nos EUA e o destino da democracia na condição atualista
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5 anos atrásem
06/11/20por
Aloisio MoraisNos EUA voto popular não significa vitória. Biden terá mais votos do que Trump e ainda assim o resultado da eleição continuará indefinido por algum tempo. Apesar dos descalabros que marcaram a gestão Trump antes e durante a pandemia, o seu desempenho na atual corrida eleitoral será muito forte.
Mateus Pereira, Valdei Araujo e Walderez Ramalho, professores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) em Mariana, MG
A disputa está sendo muito mais acirrada do que era inicialmente previsto pela maior parte dos institutos de pesquisa e da mídia americana, embora a cautela e o medo nunca deixaram de estar presentes. Sob esse ponto de vista, as eleições deste ano são como uma repetição do que vimos em 2016, ainda que o resultado possa ser a derrota eleitoral para Trump. Em 2016 foram os democratas que denunciaram a interferência russa, agora é o presidente-agitador que se apressa em questionar a legitimidade do pleito, sem mostrar nenhuma prova. Sabemos que no ambiente do atualismo provas têm como base apenas convicções.
Um sistema eleitoral que sobreviveu por séculos, sem grandes mudanças, pode ter se tornado obsoleto desde a eleição de Bush, em 2000. Um lembrete do possível declínio da democracia americana: das últimas oito eleições presidenciais desde 1992, os democratas venceram no voto popular as últimas sete, mas em apenas quatro ocasiões ganharam o colégio eleitoral e fizeram o presidente.

Acreditamos que as eleições nos EUA são um exemplo do confronto entre duas estratégias e duas concepções sobre fazer política: de um lado, Trump e sua promessa de eterna atualização da atualidade em modo nostálgico; e Biden, com sua aposta moderada no cansaço na agitação atualista que seu adversário republicano encarna e radicaliza, e a retomada da política em moldes liberais. Essa retomada é feita sem uma crítica efetiva ao modelo neoliberal abraçado pela cúpula do partido democrata. Uma aposta radical, como Sanders, teria se saído melhor? É difícil dizer, mas tudo leva a crer que não, tendo em vista o complicado xadrez do voto estado a estado.
A escolha entre as duas estratégias/concepções se mostrou muito mais difícil e apertada do que se imaginava. A tal “onda azul” anunciada por parte da imprensa estadunidense esteve longe de acontecer. De fato, Trump se mostrou eleitoralmente muito mais forte do que os analistas supunham. Considerando que esta não é a primeira vez que os institutos de pesquisa falharam em captar esse movimento no eleitorado americano, e considerando também que fenômeno semelhante ocorreu no Brasil em 2018, coloca-se a questão de saber se as tradicionais pesquisas de opinião tornaram-se de alguma forma obsoletas em um mundo atualista. Esse quadro muda pouco, mesmo com uma eventual vitória de Biden ou pior, com uma inconveniente reeleição de Trump.
São vários fatores que devem ser considerados para avaliar essa questão. Os próprios institutos se apressaram a ensaiar algumas explicações ao público. O diretor da Trafalgar Group, Robert Cahaly, afirmou que muitos eleitores “esconderam”, como já havia acontecido, sua preferência por Trump por algum receio ou constrangimento social.[1] Não podemos desconsiderar algum tipo de boicote/sabotagem dos eleitores republicanos, já que na retórica do trumpismo as pesquisas de opinião fazem parte da mídia vendida. Outros recorreram à justificativa de que as pesquisas anteriores representavam apenas fotografias do momento específico em que as entrevistas foram feitas, e não o que se poderia esperar na eleição propriamente dita. Isso poderia ter sido de fato observado pela tendência de redução da vantagem de Biden nos últimos 15 dias. Afinal, o episódio da contaminação de Trump e sua rápida recuperação pode ter tido um saldo positivo, ao menos na mobilização de sua base, como já havíamos especulado em coluna anterior.
Aceite-se ou não essas justificativas, fato é que os institutos de pesquisa sairão dessas eleições com sua credibilidade e imagem pública mais arranhadas, sobretudo diante das especificidades do sistema eleitoral americano. Como afirmamos, muitos fatores concorrem para esse desgaste. Um deles está relacionado à condição atualista que caracteriza o nosso presente e como cada um dos candidatos se coloca frente a tal condição.

Trump é um político bastante sintonizado com o ambiente da comunicação atualista onde as provas dispensam comprovação factual. Seja nas redes sociais, seja em seus concorridos comícios, o presidente se revela um comunicador difícil de ser batido. Dentre os aspectos associados à condição atualista, destacamos a intensidade e velocidade sem precedentes do fluxo de notícias, em detrimento dos protocolos de verificação e checagem da informação veiculada. Esse ambiente infodêmico[2] é particularmente fértil para a produção de desinformação e sua disseminação como misinformação.[3] Além das informações imprecisas, para não dizer apenas falsas, que a infodemia trumpista ajuda a difundir, é preciso levar em consideração a agitação/ativação que produz. É como se a oposição se agitasse confusamente e a base trumpista se ativasse a cada um de seus comentários polêmicos. Assim, o uso constante das redes sociais para disseminar fake news ou comentários faz com que, seja de modo positivo ou negativo, o presidente esteja sempre no foco da mídia. O acúmulo de notícias sobre suas falas ou atos inconsequentes faz com que seja difícil recuperar qual foi o absurdo dito ou feito na semana anterior. Na condição atualista há um valor excepcional em estar mais atualizado (e exposto) que o seu adversário.
Ainda assim, a manipulação das fake news como ferramenta política supõe uma linguagem organizada para se tornar eficaz. Essa afirmação pode soar chocante à primeira vista: como podemos atribuir coerência a um discurso fundamentado em desinformação e que frequentemente e sem o menor pudor afirma hoje o contrário do que disse ontem, como o exemplo do uso de máscaras na pandemia?[4] O ponto aqui é que a condição atualista coloca muitos obstáculos para que o passado, mesmo o mais recente, seja trazido à reflexão. Assim, quando confrontados com suas próprias contradições, políticos atualistas como Trump e Bolsonaro simplesmente atualizam suas narrativas e afirmações quando as anteriores se tornam insustentáveis. Com muita frequência, os seus discursos mudam em função da conveniência da atualidade, sem a mínima necessidade de se prestar conta da contradição com o que eles mesmos diziam no dia anterior.
Essa estrutura atualista do discurso político só se torna eficaz, porém, no interior de uma linguagem organizada e facilmente identificável pelo público que a compartilha, no interior de uma condição material de reorganização do mundo do trabalho e do capital. A crise de 2008, concentração de renda, neoliberalismo, capitalismo de vigilância e a formação do atual “precariado” são elementos, dentre outros, fundamentais para entender a emergência de líderes que governam e são eleitos por pequenas maiorias mobilizadas pela historicidade e ideologia atualista. Só assim podemos entender a força de Trump na eleição independente do resultado final, ainda que sua derrota interesse a todos os democratas do mundo.

Trump lança mão de artifícios retóricos quando confrontado com suas afirmações evidentemente baseadas em mentiras e contradições, de tal maneira que ele consegue, mesmo em tais situações, transmitir e reforçar o código entre o seu público. O código se estrutura em uma lógica antagonista, na qual o portador é sempre vítima de perseguição por parte do establishment e da imprensa vendida para a “esquerda corrupta” ou as corporações globalistas.
O ponto principal a ser considerado é que para ser politicamente eficaz não é necessário que o código seja compartilhado por todos; mas que seja continuamente ativado junto aqueles que já o compartilham. Por mais que esteja sustentado em desinformações, o fato é que o código é bastante poderoso na ativação de afetos políticos centrais como o medo, ódio e ansiedade, vetores de forte engajamento e agitação política que Trump e Bolsonaro sabem tão bem promover.
O sucesso dessa estratégia se coaduna com a popularização das redes sociais e dos smartphones, bem como das novas tecnologias de processamento de dados manipulados para fins políticos. Nesse contexto, tornou-se possível criar e difundir mensagens sob medida para cada tipo de público, cada indivíduo ou grupo formula suas próprias percepções sobre o mundo a partir de narrativas (códigos) que não mais precisam ser expostos publicamente a todos para serem eficazes. Após alguns reconhecimentos iniciais, os algoritmos se encarregam de abastecer-nos das notícias que nos mobilizam, sempre com o mesmo teor e formato. Reforça-se, assim, o fenômeno das “bolhas”.[5] Esses códigos podem circular de forma subterrânea, de tal modo que o que parece absurdo e chocante para uns, é perfeitamente aceitável e normalizado para outros.
Esse ambiente de circulação de notícias e códigos é condizente com a ordem atualista de nosso tempo e, ao nosso ver, é um fator importante a ser considerado no desempenho surpreendente de Trump nestas eleições. E um dos preços a se pagar para tal sucesso é a radicalização do clima de agitação que tem marcado a nossa época. Esse quadro tem resultado inclusive em distúrbios psicológicos cada vez mais comuns, como o “transtorno do estresse eleitoral”, que segundo estimativas afeta sete em cada dez cidadãos estadunidenses.[6]

Os políticos atualistas claramente não se importam em pagar esse preço, na verdade eles têm lucrado com isso. Mas, ao fim e ao cabo, eles não podem evitar completamente os efeitos colaterais de suas apostas. Agitação e dispersão geram também cansaço no eleitorado. Biden e os democratas tomaram esse efeito como vetor de suas estratégias para estas eleições. Frente à irrefreável agitação de Trump, Biden se vendeu como a opção mais “centrista”, de moderação e convergência. A divergência entre as duas estratégias foi mais uma vez demonstrada logo após o fechamento da votação: enquanto Trump se apressou em declarar-se vencedor e dizer que irá judicializar a eleição em caso de derrota, Biden classificou tal postura como “ultrajante” e pregou calma aos seus apoiadores[7].
Mesmo que a vitória do democrata seja confirmada, é inegável que o preço desse lance foi bastante alto. A imprensa americana noticiou como parcelas importantes do eleitorado negro, que o próprio Biden afirmou ser “a chave para a vitória”, relataram estarem pouco motivados a votarem no candidato democrata.[8] O mesmo ocorreu entre parte do eleitorado hispânico, em especial na Flórida e no Texas. O conservadorismo nos costumes, a adesão a denominações evangélicas que tem crescido entre hispânicos e a tradição anticomunista dos cubanos, e agora também venezuelanos, na Flórida, são fenômenos a serem considerados. Enquanto fechamos essa coluna Trump ainda lidera na Pensilvânia, estado no qual o operariado branco migrou dos democratas para o trumpismo. No último debate, Biden acabou por reconhecer que teria que acabar com a exploração do altamente poluente gás de xisto, o que foi imediatamente explorado por Trump: “Eis uma declaração importante”, ironizou o presidente. Caso perca por margem apertada na Pensilvânia, onde os trabalhadores dessa indústria são amplamente sensíveis ao tema, talvez essa declaração tenha custado a eleição.
Para entender melhor essas flutuações teríamos que fazer algo pouco praticado durante a campanha, uma avaliação retrospectiva fundada em boa informação acerca das políticas públicas implementadas por democratas e republicanos, em especial nos governos Obama e Trump. O apoio ao republicano não é apenas resultado da mágica da comunicação, deriva também da tibieza das políticas democratas e dos acertos de Trump. Reforma do sistema criminal, política externa menos intervencionista, foco na economia e na criação de empregos, com bons resultados, ao menos até a pandemia.
A decisão das eleições primárias do Partido Democrata em nomear um candidato “centrista” para concorrer nessas eleições – ao contrário de uma opção mais radical do populismo de esquerda como Bernie Sanders – foi importante para unificar o partido (em especial o seu establishment) e angariar o apoio do eleitorado “cansado” da agitação radicalizada. Por outro lado, a figura moderada de Biden não se mostrou capaz de promover um grau de engajamento e mobilização do público à altura do seu adversário agitador, nem está claro ainda se seu discurso de união nacional conseguiu atrair eleitores de Trump. Essa diferença é importante em um contexto onde o voto não é obrigatório e, no caso particular das eleições deste ano, ainda mais desencorajado pela pandemia do coronavírus.
Mesmo assim, a moderação pode ter sido eficaz para para derrotar a agitação, mas não para desativá-la. E ainda não podemos assegurar como os EUA sairá dessas eleições, pois Trump continua sendo quem é. Há ainda o risco de o agitador perder e não aceitar sair, e as consequências disso poderão ser catastróficas. E mesmo que ele saia, o trumpismo – o negacionismo, o anti-esquerdismo, o desejo de retorno a um passado glorioso e mítico – ainda permanecerá em parcelas consideráveis da população.

O que tudo isso ensina para o campo democrático brasileiro, que tem de enfrentar a sua própria versão de agitador atualista? Desde o início da votação nos EUA, Bolsonaro disparou freneticamente uma série de tweets ressoando as alegações infundadas de seu ídolo sobre as eleições serem “fraudadas” a favor dos democratas, o que seria um risco para a “liberdade” e para o Brasil. Afinal, nosso agitador atualista tupiniquim sabe bem que a permanência de Trump é uma força de sustentação fundamental para ele. As relações entre EUA e Brasil deixaram de ser uma relação entre Estados, mas sim uma relação de “amizade” (leia-se emulação e, do nosso ponto de vista, subserviência) entre os chefes de turno da Casa Branca e do Palácio do Planalto.
Assim, e seguindo o estilo atualista de fazer política, Bolsonaro ressoa as afirmações sem fundamento de Trump, sem se preocupar com a veracidade e desprezando o princípio diplomático básico da impessoalidade. Mas Bolsonaro também tem seu próprio código “alternativo”, cujo enfrentamento é a tarefa prioritária das forças democráticas no Brasil, que deverá avaliar e tomar suas próprias escolhas para vencer o confronto. Assim como o trumpismo, nos Estados Unidos, o bolsonarismo é um fenômeno que não necessariamente depende da permanência de Bolsonaro no poder: ele mobiliza parcelas consideráveis da população através de seus discursos, que defendem o conservadorismo nos costumes, o liberalismo na economia, a luta contra “o sistema”, a religião e a admiração pelo militarismo.
Será que a aposta moderada e centrista será suficiente para derrotar o bolsonarismo aqui? Mesmo que por pouco? Ou, em nosso contexto particular, faz-se necessário redobrar a aposta na radicalização pela via da esquerda? Mesmo que a vitória de Biden seja confirmada, ainda não está claro qual das duas vias parece a mais indicada para o Brasil. Enfim, tudo indica um destino trágico da democracia liberal de “pequenas maiorias” em tempos de agitação atualista. Sem negar a nossa atual realidade, cabe a nós pensar e imaginar alternativas, por mais difícil que pareça ser em nosso atual nevoeiro e impregnados por uma sensação de asfixia. Além disso, a lentidão com que a apuração avança em alguns estados decisivos promete nos deixar hipnotizados pelos mapas eleitorais na expectativa da atualização decisiva.
(*) Mateus Pereira e Valdei Araujo escreveram o Almanaque da Covid-19: 150 dias para não esquecer ou o encontro do presidente fake e um vírus real com Mayra Marques. Ambos são professores de História na Universidade Federal de Ouro Preto, em Mariana (MG). Também são autores do livro Atualismo 1.0: como a ideia de atualização mudou o século XXI e organizadores de Do Fake ao Fato: (des)atualizando Bolsonaro, com Bruna Klem. Walderez Ramalho é doutorando em História na mesma instituição. Agradecemos à Márcia Motta e ao grupo Proprietas pelo apoio e interlocução nesse projeto.
[1] https://noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2020/11/04/o-eleitor-oculto-de-trump-e-o-novo-erro-dos-institutos-de-pesquisa.htm
[2] PEREIRA, Mateus; MARQUES, Mayra; ARAUJO, Valdei. Almanaque da COVID-19: 150 dias para não esquecer, ou a história do encontro entre um presidente fake e um vírus real. Vitória: Editora Milfontes, 2020.
[3] Usamos aqui um neologismo para dar conta da diferença que em inglês é mais clara entre a produção deliberada de notícias falsas (disinformation) e sua disseminação involuntária (misinformation).
[4] https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2020/07/20/trump-muda-discurso-e-agora-diz-que-usar-mascara-e-patriotico.htm
[5] EMPOLI, Giuliano Da. Os engenheiros do caos: como as fake news, as teorias da conspiração e os algorítimos estão sendo utilizados para disseminar ódio, medo e influenciar eleições. São Paulo: Vestígio, 2019.
[6] https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2020/10/quase-sete-em-cada-dez-americanos-relatam-transtorno-do-estresse-eleitoral.shtml
[7] https://br.noticias.yahoo.com/em-pronunciamentos-biden-prega-calma-e-trump-faz-acusacao-de-roubo-065922289.html
[8] https://www.aljazeera.com/news/2020/9/12/biden-battles-trump-lack-of-enthusiasm-among-black-voters
Feminismo
Que tal ajudar Mariana Ferrer a obter Justiça?
Não basta lacrar. Um chamamento a todas as feministas e a todas as mulheres para que enfrentemos a misoginia dos tribunais brasileiros
Publicadoo
5 anos atrásem
05/11/20A reportagem do Intercept Brasil sobre a denúncia de estupro da influencer Mariana Ferrer tornou-se viral nas redes. Sob o título JULGAMENTO DE INFLUENCER MARIANA FERRER TERMINA COM SENTENÇA INÉDITA DE ‘ESTUPRO CULPOSO’ E ADVOGADO HUMILHANDO JOVEM, o texto da repórter Schirlei Alves serviu de base para milhares e milhares de postagens sobre a excrescência jurídica que teria embasado a absolvição do empresário André de Camargo Aranha. Até as 15h30 de ontem (4/11), o Google devolvia 781.000 resultados, quando se procurava pela expressão “estupro culposo”. Memes, charges, textões e textinhos foram produzidos em escala industrial para provar que um estuprador havia conseguido sentença absolutória graças a uma invencionice jurídica obrada pela Justiça, com vistas a proteger um macho branco, amigo de poderosos e, ele mesmo, “filho do advogado Luiz de Camargo Aranha Neto, que já representou a rede Globo em processos judiciais”, segundo a reportagem do Intercept.
Lida toda a sentença de 51 páginas do juiz do caso, Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, entretanto, constata-se que, em nenhum momento da sentença é dito que houve “estupro culposo” contra a jovem. Ao contrário, é dito que não existe essa tipificação e que o estupro é necessariamente doloso. Portanto, está errada a formulação do título do Intercept Brasil.
Está tão errada que o próprio site The Intercept Brasil foi obrigado, às 21h54, nada menos do que 19 horas e 50 minutos depois de publicada a história, a fazer uma “atualização” que diz assim:
“A expressão ‘estupro culposo’ foi usada pelo Intercept para resumir o caso e explicá-lo para o público leigo. O artíficio é usual ao jornalismo. Em nenhum momento o Intercept declarou que a expressão foi usada no processo.”
O Intercept faz como a música de Tom Zé: “Eu tô te explicando pra te confundir. Eu tô te confundindo pra te esclarecer.” Uma explicação que confunde. E, sim, o Intercept disse que a sentença inédita baseou-se no “estupro culposo”.
É só ler o título indigitado de novo:
JULGAMENTO DE INFLUENCER MARIANA FERRER TERMINA COM SENTENÇA INÉDITA DE ‘ESTUPRO CULPOSO’ E ADVOGADO HUMILHANDO JOVEM
Com as redes ajudando a espalhar a bobagem, todo mundo louco atrás de cliques, de “bombar”, da lacração, poucos deram-se ao trabalho de ler a sentença que, sim, absolveu o réu André de Camargo Aranha por “falta de provas”.
Uma pena.
Se, em vez da lacração, tivessem mirado no fato em si da absolvição do crime de estupro “por falta de provas”, talvez tivessem ajudado muito mais. Sabe-se que a cada 8 minutos uma mulher ou menina é estuprada no Brasil. Mas a maior parte desses crimes jamais será nem sequer investigada pela falta de indícios e elementos probatórios, já que ocorrem escondidos e, preferencialmente, sem testemunhas.
Mariana Ferrer, diz a sentença, não conseguiu provar a acusação que fez contra André de Camargo Aranha. Será? Está na sentença que o exame toxicológico não apontou o consumo de substâncias estupefacientes, como seria de se esperar se ela tivesse ingerido involuntariamente alguma droga do tipo “Boa Noite Cinderela”. A maioria das testemunhas ouvidas, várias mulheres inclusive, disse que a vítima não cambaleava e que não parecia dopada. As câmeras internas do Café de la Musique, onde teria ocorrido o estupro, mostram Mariana Ferrer subindo para um camarote e descendo, seis minutos depois, sem necessidade de ajuda (e de salto!!!!, como faz questão de ressaltar a sentença). Teria transcorrido nesses seis minutos o crime de estupro, de que Mariana Ferrer não tem memória.
Mas Mariana Ferrer diz ter inúmeras provas irrefutáveis do estupro e que nem sequer foram levadas em consideração pelo julgador.
E, no entanto, todas as mulheres sabem da dificuldade de “provar” a violência sexual, quando ela ocorre entre quatro paredes, sem testemunhas. Mariana Ferrer não seria exceção. Nos trechos da vídeo-conferência que foi o julgamento, assombra a solidão da menina que denuncia, vítima de outros homens violentos, que a acusam de ser (ela sim), um monstro querendo prejudicar a reputação de um “pobre milionário”.
Como sempre acontece, a vítima deixa de ser vítima para se transformar no monstro sensual e ardiloso que precisa ser contido. A qualquer custo.
A verdade é que Mariana Ferrer estava sozinha.
Desde o dia em que alega ter sido estuprada (15/dezembro/2018), Mariana Ferrer tem pedido ajuda pelas redes sociais e tem narrado todo o sofrimento e a depressão que a assolam em decorrência do fato.
Quem foi ajudá-la a reunir provas? Quem foi ajudá-la a colher testemunhos que aumentassem a credibilidade de sua acusação? Quem foi ao Café de la Musique, onde ocorreram os fatos julgados, procurar indícios de que ali funcionaria um “abatedouro” de meninas destinadas ao gozo masturbatório de machos alfa? Quem?
Ou achamos razoável condenar alguém sem elementos probatórios que apoiem a denúncia?
Não, não é razoável.
Apenas a voz da vítima não pode embasar uma condenação. E quem defende isso precisa saber que abdicar de provas é apenas a reedição do velho punitivismo, é vingança. Não é Justiça. Pior, resultará na condenação sem provas dos mesmos criminalizados de sempre: os pretos, pobres e periféricos.
A única forma de evitar a perpetuação desse ciclo perverso requer de nós nós, feministas, que encaremos o estupro, cada estupro, como um problema nosso!
Temos de ajudar as vítimas a robustecer as provas da violência que sofreram. Temos de afrontar a Justiça machista, exigindo a presença de mulheres no julgamento. Tem de ser um trabalho nosso enfrentar a misoginia cuspida e escarrada de gente como Cláudio Gastão da Rosa Filho, o advogado de defesa de André de Camargo Aranha, que humilhou e ofendeu Mariana Ferrer enquanto exibia fotos dela que nada tinham a ver com o processo! Que nenhuma mulher mais tenha de enfrentar um julgamento de estupro apenas diante de homens, na solidão absoluta, como acontecia com as antigas feiticeiras.
Temos de incentivar a solidariedade entre nós, mulheres, para que acolhamos as vítimas, em vez de fingir que se trata de um problema só delas. Não há mulher ou menina que não tenha sido atacada ao menos uma vez em sua vida pela violência sexual. E nós sabemos disso em nossos próprios corpos!
É o pai, é o tio, é o avô, é o tarado que mostra o pinto para a adolescente, é o abusador que se acha no direito de ejacular na mulher dentro do trem lotado…
Temos de organizar o “Socorro Feminista”, para apoiar as mulheres que decidem denunciar a violência sexual.
Os tribunais brasileiros são câmaras de tortura contra mulheres, negros, indígenas e pobres em geral. As cenas de humilhação de Mariana Ferrer não são, infelizmente, exceções. São a regra.
É preciso atuar sobre esse front.
Então, precisamos entender que não se trata de um problema privado de Mariana Ferrer o desenlace de sua denúncia. É de todas nós!
Lembro da França, em 1971, quando uma mulher foi presa e julgada pelo crime de aborto, na época punível com a pena de morte pela guilhotina!
Em vez de “solidariedades”, textões de repúdio, e essas lacrações inúteis, 343 mulheres, entre elas as atrizes Catherine Deneuve e Jeanne Moreau, assinaram o manifesto escrito por Simone de Beauvoir, e assumindo que haviam feito, elas também, um aborto. A força desse texto e a coragem das signatárias empolgaram intelectuais como Françoise Sagan e Annie Leclerc, jornalistas conhecidas, de muitas feministas, a começar por Antoinette Fouque, da advogada Gisèle Halimi ou ainda da deputada socialista Yvette Roudy. Todas declararam ter realizado um aborto, como forma de quebrar o tabu de uma injustiça social.
A Justiça no Brasil é machista, é racista e é classista. Só incidindo juntas sobre ela será possível mudar esse regramento que sempre condena a vítima e libera o agressor.
Mariana Ferrer deve recorrer da sentença em primeira instância. Agora, é organizar a luta para mudar o rumo da História. Quem se dispõe?
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