Depois de um ano da Primavera Secundarista de 2015, alunos voltam a ocupar escola em Diadema.
Jornalistas Livres estiveram na Escola e conversaram com os alunos sobre suas motivações.
No dia 10 de novembro de 2016, ao completar um ano da primeira ocupação contra a reorganização escolar, alunos da Escola Estadual Diadema, voltaram a ocupar a escola, dessa vez, contra a PEC 55, antiga 241, contra a reorganização silenciosa que continua a ser feita pela Secretaria de Educação e a reforma do ensino médio pelo Governo Federal.
A principal motivação para os ocupantes é poder informar todos os estudantes da escola, familiares e comunidade sobre as consequências dessas medidas na Educação do País. Além das mudanças trabalhistas que o governo atual quer aprovar, como carga horária de 12 horas. A estudante da E.E. Senador Filinto Müller, que também participa da ocupação Gabriela De La Costa, 16 anos, pergunta:
“Eu trabalho e estudo. Como eles querem que eu estude em escala integral se eu tenho que passar 12 horas trabalhando?”
A E.E. Diadema foi a primeira escola a ser ocupada ano passado. A partir disso, as ocupações pipocaram pela cidade, atingiram outras cidades do interior e chegaram a contar com mais de 200 escolas ocupadas no Estado de São Paulo.
Em 2016, enquanto que no País mais de 1000 escolas foram ocupadas contra a PEC 55, que prevê o congelamento dos investimentos na saúde, educação e serviços sociais durante os próximos 20 anos, o Estado de São Paulo mudou a estratégia de luta e as ocupações desapareceram. Antes da E.E. Diadema, poucas escolas tentaram reocupar, mas não tiveram sucesso, como a ETEC Prof. Basilides de Godoy e a E.E. Prof. Silvio Xavier Antunes, além de outras que fracassaram no interior do Estado.
Os alunos da E.E. Diadema falam de perseguições em outras escolas contra estudantes que se rebelaram ano passado, expulsões, troca de turnos, transferências, ameaças, pressão psicológica por professores, pelos pais e pelas diretorias. Rodrigo, 21 anos, ex-estudante da E.E. Senador Filinto Müller, e atualmente coordenador da Rede Emancipa de Cursinhos Populares, também acena para o endurecimento da repressão da Polícia Militar, com invasões permitidas sem mandado de segurança, graças a um acordo da Secretaria de Segurança Pública com a Procuradoria Geral de Estado.
“A ocupação da E.E. Diadema se consolidou neste ano após três horas de conversa com a Polícia. A estratégia mudou. Os ocupantes não tomaram o controle da diretoria da escola, mantiveram o fluxo de aulas e o direito de ir e vir, o que comprova a ocupação pacífica. Funciona como um núcleo de informação sobre as medidas do governo e sobre a luta pela educação dentro da própria escola.”
Na ocupação do ano passado, a proximidade e apoio dos professores era muito forte, o que não vimos em quase nenhuma ocupação que acompanhamos pela cidade. Nesta, no entanto, esse apoio ainda é sentido por meio da formação que uma boa parte desses professores promovem em sala de aula, dando possibilidades de criação de um núcleo de estudantes ativo, pensante e com uma carga revolucionária e coletiva muito consistente.
Como eles dizem, o problema não são as escolas. É a conduta da direção. Beatriz Ribeiro, 16 anos, continua:
“Deixa na nossa mão pra ver o que acontece. Isso aqui vira um castelo. Tem biblioteca, tem laboratório, tem vestiário, tem quadra. Quando a gente ocupou, os vestiários estavam abertos, música, esporte, um monte de gente conversando sobre tudo. Tinha vida.”
E a ocupação na E.E.Diadema já conseguiu muitas vitórias desde o ano passado. A criação do Grêmio, com votação aberta dos alunos, a criação do cursinho para o ENEM e para o vestibular, a efetivação do Conselho da Escola também votado pelos alunos, atividades como o Simpósio sobre Educação. Apesar das conquistas, eles querem mais. Rafaela Bonifácio, 16 anos, pergunta: “Por que essas grades, isso aqui é uma prisão ou uma escola?”, “Pra que tanto portão? Não tem que fechar, tem que abrir!”
“Com todas essas melhorias, a adesão ao movimento chega a 99% dos estudantes. Rafaela confirma. “Eles veem que agora têm voz, não têm medo de pedir as coisas, que podem falar sobre as coisas aqui dentro”.Os mais novos também já entendem essa luta: “Eles vêm pra gente e falam: vocês vão embora ano que vem. Mas vocês tão ocupando pela gente, pra gente ter uma escola melhor. Tem que ocupar mesmo. E quando a gente estiver no ensino médio, a gente vai querer lutar da mesma forma pros outros que estiverem aqui!”
E assim, a E.E. Diadema procura traçar novos caminhos. Caminhos que amedrontam. Os ocupantes sabem que a diretoria tem medo dos alunos porque agora eles falam o que querem realmente. E eles sabem que os alunos estão certos. Mas para a diretoria não existe o diálogo, nunca existiu essa construção. Esse diálogo que os secundaristas da E.E. Diadema tornam imprescindível para uma escola enfim democrática e que seja ponta de lança na mudança conceitual e estrutural na educação deste País.
Quando eu era estudante e alguém na escola me mandava calar a boca, sempre respondia:
“Calabocajámorreu!” É gente, só agora tô entendendo essa frase realmente.