Em Brasília, um imenso vazio em frente ao Congresso. No Rio, mais gente na praia do que no asfalto. Em Belo Horizonte, 400 manifestantes (que a essa altura devem estar pensando em buscar refúgio no Leblon, ou na base aérea de Claudio-MG, na fazenda dos Neves). No Norte e Nordeste, os atos a favor do golpe parlamentar foram ainda mais pífios
Por Rodrigo Vianna, do Blog Escrevinhador, para Jornalistas Livres
As imagens mostravam o fracasso. Mas a Globo e a GloboNews repetiam a estratégia das manifestações anteriores: os repórteres usavam as imagens da manhã, como um “esquenta” para o ato na avenida Paulista, à tarde. A Globo convocava para o golpe; tudo a ver.
Em São Paulo, um pato a favor do impeachment: coxinhas desmoralizam até o golpismo
E claro que São Paulo jamais decepciona. Na Paulista, o ato no início da tarde era um pouco maior do que em outros estados. E se ainda faltava uma imagem símbolo para o golpismo coxinha de 2015, essa imagem apareceu na forma do enorme pato inflável que a FIESP levou pra avenida: infantil e tosco, um símbolo dessa massa de classe média rancorosa e indigente.
Antes mesmo de ter um balanço definitivo de São Paulo, arrisco-me a dizer que o 13 de dezembro deixou algo claro: Eduardo Cunha é agora um entrave para o golpe do impeachment. A presença dele no cenário cria ruído, dificulta a narrativa de que “o PT precisa sair do poder porque é o comandante da corrupção”.
Por isso, as manifestações se esvaziaram: o oportunismo de Cunha e de Temer tirou o discurso e o ânimo dos que querem afastar o PT do poder.
Não é à toa que Folha e O Globo, no mesmo fim-de-semana, saíram com editoriais quase idênticos, pedindo a saída… de Cunha. E não de Dilma.
Ou seja: para o tucanato e seus aliados na mídia, Cunha já cumpriu sua tarefa, abrindo o processo contra Dilma. Agora, ele precisa ser extirpado da cena. Com Eduardo Cunha no poder, não haverá gente na rua suficiente pra apoiar o golpe parlamentar.
Folha e O Globo passam a Cunha um recado que Temer não pode enviar: você virou um entrave para nossos planos.
O PSDB está agora numa enrascada: foi longe demais no golpismo. Não há ponto de retorno. Ou se abraça a Cunha para dar o golpe, ou parte para uma operação complicada: tirar Cunha do poder, a tempo de permitir um discurso coerente contra “a corrupção do PT”.
Talvez, o “timing” já tenha se perdido. Mesmo com as manobras e a demora no trâmite, o processo na Câmara contra Dilma deve estar concluído até março, no máximo.
Haverá tempo de, com o recesso de fim de ano, afastar Cunha e eleger um novo presidente que possa dar alguma credibilidade ao golpe? Parece que não.
O 13 de dezembro de 2015 foi um fracasso. E ao mesmo tempo deixou claro que o impeachment, para ter apoio na rua, precisa ser precedido de uma operação de cassa a Eduardo Cunha.
O cenário, que já era ruim para o governo, torna-se imprevisível também para a oposição e FHC — sócios de um AI-5 fracassado.