“Há poucos dias, ao firmarmos o acordo coletivo com o Banco do Brasil, perguntamos sobre as notícias dos jornais que davam conta de cortes. Eles negaram e desautorizaram os jornais. Agora, em um domingo, somos pegos de surpresa com os planos de cortes anunciados”, assim a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Pulo, Juvandia Moreira Leite, iniciou sua conversa telefônica com os Jornalistas Livres, na noite dessa segunda (21).
Ao avaliar as medidas anunciadas, Juvandia afirmou que os planos do Banco do Brasil de redução de agências e funcionários equivalem a fechar um HSBC. O HSBC tinha cerca de 20 mil trabalhadores e 800 agências quando foi comprado pelo Bradesco.
“O Banco está sendo desmontado”, afirma ela, levando em conta que o corte no número de agências implica diminuição de superintendências, áreas administrativas, de caixas e assim por diante. Haverá redução de salários para aqueles comissionados que voltarem a funções sem comissão: “Esse descomissionamento pode chegar a 70% da renda atual de um gerente, por exemplo”, pontou Juvandia.
A argumentação usada pela diretoria do Banco, de buscar lucros maiores, contrapõe-se ao papel de um banco como concessão pública que tem necessariamente uma função social. E mais ainda, contrapõe-se ao papel de um banco público, orientado por uma forte preocupação social. Ela ressalta que o Banco do Brasil é bastante lucrativo. A medida de comparação com a banca privada é descabida exatamente pela necessidade de ter a contribuição à sociedade entre suas metas. O banco privado não tem compromissos com a função social.
Em vez de cortar gastos o Banco deveria estar preocupado em aumentar seus créditos para ajudar o país a sair da crise. Em outros momentos o Banco teve esse papel contracíclico importante que agora descarta. Quando os empresários recuam em seus investimentos e os consumidores se retraem, cabe ao governo atuar contra o ciclo recessivo da economia aumentando os investimentos e aumentando o crédito, essa deveria ser a meta do Banco do Brasil nesse momento: ajudar o país a sair da crise e retomar o crescimento econômico. Além disso, aumentam as incertezas quanto ao financiamento da agricultura, já que o Banco concentra cerca de 60% do total do crédito agrícola do país.
“Como ficarão municípios que só contam com agência do Banco do Brasil e tiverem a agência fechada?” Esse questionamento a faz temer por retrocessos inclusive no acesso das pessoas de baixa renda aos serviços bancários em municípios pequenos. Esse acesso, chamado bancarização, tem crescido muito nos anos recentes e sofrerá um golpe com o fechamento de tantas agências.
“O sistema financeiro privado tem interesse nesse desmonte do Banco do Brasil. Eles devem estar comemorando. A atuação do Banco em anos recentes fez o sistema reduzir tarifas e reduzir taxas”, conclui Juvandia. As taxas de juros, cobradas pelo sistema financeiro brasileiro, são as maiores do mundo. O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal tiveram um papel muito importante na redução das taxas e na redução dos chamados “spreads” bancários. Os bancos privados foram obrigados a acompanhar já que corriam o risco de perder clientes se não o fizessem. Balizar o mercado é uma das importantes funções de um banco público. O desmonte tornará mais difícil cumprir também esse papel.
Pegos de surpresa e indignados com a ausência absoluta de diálogo, funcionários e dirigentes sindicais se reunirão, já nessa terça (22), na Comissão de Empresa dos Funcionários do Banco do Brasil, para avaliar as alternativas de luta para preservação do Banco.
Em nota o Sindicato dos Bancários de São Paulo chamam para o seminário da quarta (23): “A recente medida no Banco do Brasil aumentou ainda mais a importância do seminário Se é Público, é para Todos que debaterá os ataques contra Banco do Brasil, Caixa Federal e outras instituições. Será na quarta 23, a partir das 19 h na Quadra (Rua Tabatinguera, 192, próximo ao Metrô Sé).