Atingidos pelo rompimento da barragem de rejeitos de minério de ferro da Vale em Brumadinho, na Grande Belo Horizonte, em Minas Gerais, protestaram em frente à sede da empresa Tüv Süd, na Alemanha, na manhã desta quinta-feira. A Tüv Süd certificou positivamente a segurança da barragem poucos meses antes do rompimento, que matou 271 pessoas. Dois bebês em gestação também foram mortos. Fotos das vítimas foram espalhadas em frente à sede da empresa, junto a pessoas cobertas de lama. Na placa, em alemão, os dizeres: “Contra os lucros inescrupulosos”.
Fizeram parte do protesto Marcela Rodrigues, filha de Denilson Rodrigues, trabalhador da Vale morto pela avalanche de lama, e Amanda Andrade, irmã de Natália Andrade, trabalhadora da Vale que também morreu em Córrego do Feijão, distrito de Brumadinho onde encontra-se a mina de minério de ferro. Elas discursaram em frente à Tüv Súd, lembrando o tempo decorrido desde o desastre: “Nove meses, como uma gestação, como um bebê que vai nascer. E aqui agora está nascendo uma guerra, uma luta. Eu quero respostas. Desce alguém aqui e vem falar comigo!”, clamou Marcela diante das portas da Tüv Süd. A empresa se recusou a conversar com as atingidas e manifestantes do lado de fora, e impôs, como condição, que uma comitiva entrasse e que a conversa ocorresse longe das câmeras.
No encontro com representantes da Tüv Süd, Amanda foi enfática ao frisar a co-responsabilidade da empresa pelo crime ocorrido em Brumadinho. “Até hoje, passados nove meses, eles não se dignaram a fazer contato com as famílias, nem ao menos emitir uma nota de solidariedade com pedido de desculpas às famílias das vítimas”, afirmou. Como resposta, a comitiva e as atingidas tiveram apenas falas frias e evasivas, pontuando que seria muito cedo para se apontar responsáveis pelo rompimento da barragem.
O grupo também trabalha para a mudança da lei alemã. Uma coalizão de mais de 70 organizações e sindicatos propôs ao Parlamento Alemão e à chanceler Angela Merkel a adoção da “Lei da Cadeia Logística”, que pretende responsabilizar empresas que atuam ao longo da cadeia de produção pelas violações de direitos humanos que ocorrem na ponta. A queixa apresentada aponta os crimes de homicídio, corrupção, inundação, negligência e violação de deveres de supervisão. “O processo na Alemanha de forma alguma altera a responsabilidade da mineradora brasileira Vale S.A. pela falha da barragem. A Tüv Süd é co-responsável pelas mortes e danos ambientais. Este caso mostra que o sistema de certificação falha em garantir a segurança. E mais que qualquer outra coisa, oculta a responsabilidade”, declarou Claudia Müller-Hoff, advogada que trabalhou na queixa contra a Tüv Süd e também na queixa criminal contra um dos principais funcionários da empresa.