Marcos Rezende*
O que dizer do “tão promissor” mundo livre, quando o seu país líder, os EUA, é a nação com o maior número de mortos pelo Coronavírus? No momento em que escrevo esse breve texto, já se somam 105.000 mil mortos pelo Coronavírus no mundo e os EUA ultrapassam a Itália e alcançam a marca de mais de 19.600 vidas perdidas para o novo Corona, ou melhor, para a potência homicida do capital.
Quando todos os sinais recomendavam parar, líderes do capitalismo optaram por seguir com a rotina das vidas robotizadas que sustentam a riqueza de uma ínfima minoria, mesmo que essa desobediência custe essas próprias vidas. O capital robotiza seres humanos e faz com que pessoas priorizem enriquecer alguém em lugar de preservar a própria vida e a de seus pares. Foi assim que Trump deu ordem para que quase 20.000 cidadãos estadunidenses fossem mortos, dizendo que, em nome do capital e da concentração de riqueza, os EUA não iriam parar.
Foi este também o pensamento do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que hoje se encontra internado em uma UTI em virtude da contaminação pelo Coronavírus e do agravamento do quadro da doença. Johnson voltou atrás em seu posicionamento e se permitiu orientar pela ciência, que apontava que com a estratégia inicial de não Isolamento mais de 250.000 pessoas viriam a óbito no Reino Unido. Esta mesma pesquisa sinalizava que os EUA poderiam alcançar números de morte entre 1 milhão e 2,2 milhões, caso o comportamento homicida de Trump se mantivesse com a mesma força que no início da Pandemia.
No Brasil, que neste momento há 1.090 mortos e 20.247 pessoas infectadas, número que não pode ser considerado baixo, o presidente Bolsonaro teima em manter o mesmo tipo de postura que levou os EUA a ser o país com mais mortes por Coronavírus no mundo. Enquanto os governadores dos Estados brasileiros lutam para manter as pessoas em isolamento domiciliar, o presidente incentiva a população brasileira a ir para rua e tem colecionado maus exemplos para o povo do Brasil. Como se não bastasse a postura homicida de Bolsonaro, o Brasil ainda conta com um Ministro da Saúde que titubeou nos primeiros dias de combate ao COVID-19 frente à pressão política do Chefe do Executivo, colocando em cheque o próprio juramento de salvar vidas, e que continua variando a depender do nível da “fritura” pública a que o submetem o presidente, seus filhos e seguidores.
A postura dos defensores do capital é responsável pelo número excessivo de mortes de pessoas contaminadas pelo Coronavírus ocorridas em todo o mundo. Se alguém ainda tinha alguma dúvida das mazelas do capitalismo, o Coronavírus desmonta qualquer justificativa para que estas dúvidas permaneçam, fazendo até cair o véu que tapava os olhos de defensores do neoliberal “Estado mínimo”. Quando, em nome da concentração de riqueza, se permite que pessoas tenham as suas vidas colocadas em risco, tem-se a certeza de que o capitalismo se sustenta com a morte dos nossos iguais.
Mais que isso, o fato de o capitalismo ter a desigualdade racial como estrutura que lhe é fundante faz com que os dados sinalizem que a população negra tem o maior número de mortos vítimas do Coronavírus, considerando a proporção de negros infectados. No Brasil, por exemplo, os negros representam 25% dos infectados, contudo chegam a 32,8% dos mortos, segundo informações publicadas pelo G1. Isso joga luz sobre o cenário das desigualdades sociais e as consequentes vulnerabilidades em que a população negra, em regra, se encontra inserida.
Não sei dimensionar quais as lições que o Coronavírus ainda pode nos deixar. Mas já podemos dizer que este novo vírus não nos deixa ter dúvidas de que as nossas vidas são moedas de troca para que os 2.153 bilionários do mundo concentrem riqueza maior do que 4,6 bilhões de pessoas, algo em torno de 60% da população global. Precisamos desobedecer os líderes mundiais que oferecem as nossas vidas para que os ricos aumentem seus patrimônios. Precisamos ficar em casa! A lógica do mundo livre é homicida e cada líder que incentivar seu povo a seguir nas ruas é um assassino em série. Que recriemos um novo modelo de sociedade onde as vidas e a igualdade sejam as riquezas pelas quais dedicaremos os nossos esforços. Venceremos o Coronavírus e preservaremos a todos, afinal as vidas são o que realmente importa.
*Marcos Rezende é historiador, mestre em Gestão e Desenvolvimento Social pela Faculdade de Administração da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e ativista do movimento negro brasileiro, sendo membro-fundador do CEN (Coletivo de Entidades Negras), instituição da luta antirracista presente e 17 Estados do Brasil
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