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Educação

A TOMADA DA CÂMARA EM 48H

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Os movimentos estudantis, sociais e culturais não dormiam enquanto discretamente o governo da cidade de São Paulo preparava a sórdida manobra silenciosa que tem por objetivo a entrega do patrimônio público a bel prazer da classe patronal.

No começo da tarde de quarta-feira (09), cerca de 60 manifestantes de 17 forças políticas compareceram à sessão da Câmara de vereadores a fim de fiscalizar quais rumos os parlamentares sorrateiramente dariam à 4ª maior metrópole do mundo. E por lá decidiram ficar! Em ocupação pacífica jamais tão bem organizada na história das lutas sociais.

Por 48 horas de permanência, 9 delas sem a permissão de acesso a água e mantimentos, foi apresentado um novo método de organização. Cada movimento representado ali já não mais defendia suas bandeiras particulares, mas, propunha uma unidade que em coro diz NÃO ao projeto neoliberalista praticado pelo empresário à frente da administração da capital.

“Entendemos vivenciar um país fruto de um golpe programado por governos que defendem o Estado Mínimo das privatizações. Por isso, não fomos discutir a dança, o teatro, a música ou, a Cultura enquanto pauta individual, mas, fomos discutir a cidade”, diz Alessandro Azevedo, 49, da FUC (Frente Única de Cultura).

Até quando a participação popular ficará restrita às urnas?

Se o presidente da Câmara chamou a iniciativa organizada de “camping”, os protestantes mostraram que não estavam ali para falar sobre amenidades.

Tinham na mira os projetos de Lei 367 (pacotão de concessões à iniciativa privada), 404 (venda de imóveis públicos iguais ou, inferiores a 10 mil m², leia-se: todo e qualquer patrimônio público da cidade), além do fim das restrições ao passe livre estudantil. Pautas de complexidade e consequências cujas proporções jamais poderiam ser negociadas entre Executivo e Legislativo sem a consulta popular devida a um modelo legítimo de democracia.

“Sempre fizemos críticas em relação à maneira como acontecem as audiências públicas. É claro que o trabalhador comum não poderá comparecer às 14h de uma quarta-feira na Câmara para debater esse projeto político”, explica Nayara Souza, presidente da UEE-SP (União Estadual dos Estudantes). “Por isso, propomos audiências regionais nas subprefeituras para promover um debate maior e mais justo”, complementa.

A estudante lembra que há mais de um mês os movimentos vêm promovendo atos nas ruas contra os pacotes propostos pelo prefeito, sem sucesso. Mesmo após encontro com o presidente da Câmara, os diálogos não avançaram. “Esgotadas as possibilidades, decidimos que a estratégia seria, então: ocupar”, reitera.

Para Alessandro, passados 28 anos de ‘retomada’ a democracia no país, a discussão sobre a participação popular é inadiável e urge. “Nos interessa que qualquer governo nos dê a possibilidade de discutir a peça orçamentária como um todo para que os recursos públicos sejam decentralizados, garantindo acesso também às populações periféricas”.

Unidade organizada

Ao longo da permanência no Plenário, que já escreveu novo capítulo na história, os protestantes se subdividiram em comissões como método de ação. O grupo da articulação política pensava o conteúdo de divulgação das notas, manifestos e discursos das coletivas de imprensa. Era o interlocutor entre as negociações das reivindicações junto aos parlamentares.

À comissão de estrutura coube cuidar do aspecto jurídico da ação, dos acordos entre seus advogados, além do suporte operacional para organizar o plano de prospecção de doadores de mantimentos. O grupo também era responsável pela organização e limpeza do Plenário.

A comissão de comunicação estabeleceu os temas que guiaram as assembleias e debates promovidos ao longo da estadia. Também promoveu saraus, aulas de forró e intervenções culturais diversas.

A fim de zelar pela integridade física dos manifestantes foi criada a comissão de segurança que pensou nas barricadas, controles de entrada e saída de pessoal, e revezamento da vigilância em turnos já que a possibilidade de reintegração forçada de posse parecia “iminente”. “A GCM (Guarda Civil Metropolitana) se montava e desmontava com cassetetes e escudos visivelmente para nos dar a impressão de que a qualquer momento usariam a força para nos tirar de lá”, conta Keith Cristine Horta, 28, da UBM (União Brasileira de Mulheres).

Keith, ainda tem as marcas roxas no corpo da quarta-feira, quando uma GCM empurrou cadeiras em sua direção ao serem montadas as barricadas que selaram o anúncio de que os manifestantes permaneceriam na Casa. A militante testemunhou a agressão de um PM contra a vereadora Juliana Cardoso (PT). A parlamentar foi puxada pelo braço e retirada à força ao tentar entrar no plenário. “A ocupação era nossa, e nós deveríamos escolher quem poderia entrar ali”, reitera.

Dentre as coerções psicológicas vivenciadas estão o corte da água e o impedimento da entrada de alimentos no primeiro dia de ocupação, além do ar condicionado do plenário que teve sua temperatura estupidamente reduzida durante ambas as noites tipicamente frias de agosto. Desprevenidos, cobriram-se com as bandeiras de suas siglas. A maioria não conseguiu dormir.

Um Juiz de “Esquerdo”?

Seria perverso falar sobre os êxitos da promoção desse grande ato sem pronunciar o nome do juiz Alberto Alonso Muñoz, que na noite da quinta-feira, negou o pedido de reintegração de posse protocolado pelo presidente da Casa, e concedeu 5 dias para que os manifestantes a desocupassem pacificamente, caso não houvessem avanços nas negociações.

A determinação ainda previa que no caso de reintegração, não seria permitido o uso de armas letais ou, não, dentre outras formas de emprego da violência.

Vale lembrar que Muñoz foi o responsável pelo impedimento do aumento salarial dos vereadores sugerido pelos mesmos no começo deste ano.

Cleiton Coutinho, advogado à frente das reivindicações do movimento, comemorou a sentença impetrada pela Justiça. “Foi um dia de muita alegria para a advocacia! O juiz da 13ª Vara reconheceu que aqueles estudantes e manifestantes não são bandidos. São da Frente Única de Cultura, trabalhadores, organizações sociais, são essas as pessoas que protagonizaram essa grande ação. Cidadãos que exaltam cada vez mais a democracia”, assinala. “Quando a determinação do juiz nos protegeu impedindo o uso da força policial e nos permitiu deixar o local em cinco dias ao entendermos ser pertinente, a Justiça legitimou o movimento”.

A desocupação e a conquista

Por volta das 14h da sexta-feira, os manifestantes decidiram desocupar o Plenário. Saída que se deu pela porta da frente. “Uma ocupação tem por objetivo impedir o funcionamento normal das atividades cotidianas a fim de chamar a atenção para uma causa maior. Entendendo que a Câmara hoje é capitaneada por uma classe política irredutível ao diálogo com os cidadãos, optamos por continuar com nossas reivindicações nas ruas. Até porque o Parlamento estaria esvaziado no final de semana, e as atividades parlamentares ocorrem mais intensamente de terça à quinta-feira”, esclarece Alessandro.

O advogado das frentes ressalta que o movimento deixou o Plenário com uma conquista inédita. “Teremos fala na reunião do colégio de líderes do parlamento por cinco minutos, fato excepcional no regimento da Casa que assegura a não criminalização da luta”, finaliza.

Os movimentos sociais, educacionais e culturais representados ali por 60 pessoas, negociaram nova audiência pública antes da segunda votação para discutir um substitutivo ao Projeto de Lei 367 que, na tradução, visa rifar a cidade de São Paulo. “Conseguimos ganhar mais tempo e mostrar para a sociedade que, na grande maioria não tem conhecimento sobre as pautas em tramitação que decidirão os rumos de nossas próprias vidas. Temos mais tempo para fazer paralisações, mostrar o que está acontecendo e, inclusive, mobilizar mais pessoas para a audiência”, diz Nayara, que complementa. “Avaliamos que ainda é muito pouco, mas, dentro do contexto político conservador e neoliberalista praticado pelo atual prefeito, consideramos uma vitória importante”.

A audiência pública acontecerá nesta terça-feira (15) e a presença em peso da população é imprescindível! As frentes que encabeçaram a ocupação (listadas abaixo) convocam a todos para somar nesta luta e deixam um recado à atual administração: “Resistência nos define. Não vamos descansar”!

Confira a íntegra da Carta dos Estudantes publicada após a decisão pelo fim da ocupação no link:

https://www.facebook.com/jornalistaslivres/posts/581364148654133?pnref=story

Por Nayara de Deus com fotos de Thallita Oshiro especial para os Jornalistas Livres

UNE – União Nacional dos Estudantes

UPES – União Paulista dos Estudantes Secundaristas

UEE SP – União Estadual dos Estudantes

FENET – Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico

UJR – União da Juventude Rebelião

RUA – Juventude Anticapitalista

UJS – União da Juventude Socialista

Juntos – Movimento Nacional de Juventude

JPT – Juventude Petista

Levante Popular da Juventude

Juventude Revolução

UBM – União Brasileira de Mulheres

FUC – Frente Única de Cultura

UP – Unidade Popular pelo Socialismo

SINDSEP – Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo

Frente Brasil Popular

Frente Povo Sem Medo

Educação

Há dois meses, uma escola e seus sonhos foram ao chão

Documentário conta a história da Escola Popular Eduardo Galeano

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Por Lucas Bois e Raquel Baster*

A escola popular Eduardo Galeano foi o primeiro local a ser destruído durante despejo violento que começou no dia 12 de agosto deste ano, pela Polícia Militar, e que se seguiu por três dias, no acampamento quilombo Campo Grande, município de Campo do Meio, em Minas Gerais. Após dois meses do despejo, é lançado o curta documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” com depoimentos de educandos, educadores e representantes do setor de educação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) sobre a situação atual do acampamento.

“Ser analfabeto é a gente ficar no escuro e uma pessoa no escuro, ela não é ninguém”. Essa frase dita no documentário por Adão Assis Reis, explica a importância do acesso à educação contextualizada para alcançar a luz do conhecimento. Aos 59 anos, ele se mostra pronto para voltar à sala de aula assim que a escola for reconstruída. Muitos outros trabalhadores e trabalhadoras rurais poderiam ter a chance de seu Adão, mas os dados vem demonstrando o contrário. Um levantamento de dados do Censo Escolar de 2019, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sobre o número de estabelecimentos de ensino na Educação Básica apontou que, entre 1997 e 2018, foram fechadas quase 80 mil escolas no campo brasileiro. A Escola Popular Eduardo Galeano entra para a estatística não só como mais uma, mas como exemplo de uma política de fechamento de escolas do campo que acontece há anos no país. 

Desenho de uma criança do acampamento Quilombo Campo Grande, ao relembrar o dia do despejo e derrubada da Escola Eduardo Galeano. Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O MST chegou a lançar uma campanha de denúncia em 2011, intitulada “Fechar escola é crime”. E em 2014 foi aprovada a lei (12.960/2013) que obrigou a realização de consulta às comunidades antes do fechamento de escolas do campo, indígenas e quilombolas. Mas parece que não surtiu muito efeito. A própria escola Eduardo Galeano foi fechada pelo governo de Minas Gerais no início de 2019, logo após outra tentativa de desejo no assentamento quilombo Campo Grande em 2018 e reaberta pela resistência do Movimento. “Quando começou o governo de Romeu Zema (Novo) nós recebemos a triste notícia que a Escola seria fechada. E a justificativa era poucos educandos. Eram duas salas aonde chegamos a ter 75 pessoas matriculadas. E, na maioria das vezes, nós mesmos que mantivemos a escola funcionando com nossos recursos porque mesmo sendo uma escola reconhecida, não era garantida pelo Estado”, explica Michelle Capuchinho do setor de Formação do MST.  

Ciranda das crianças do acampamento Quilombo Campo Grande, Campo do Meio (MG).
Frame do documentário “Sonhos no chão, sementes da educação” (2020).

O curta documentário descreve como o despejo e a destruição da Escola impacta diretamente inúmeras famílias, sobretudo crianças e adolescentes. Isso somado a um período onde o isolamento social e medidas de proteção à saúde deveriam ser prerrogativas à gestão estadual no enfrentamento à Covid-19. O MST alega que o despejo foi feito de forma ilegal, já que o processo judicial abrangia 26 hectares inicialmente e depois, sem justificativa e transparência das informações, foi ampliada para 53 hectares no último despacho da Vara Agrária que culminou no despejo de 14 famílias. Cerca de 450 famílias permanecem na área da usina falida Ariadnópolis, da Companhia Agropecuária Irmãos Azevedo (Capia), que encerrou as atividades em 1996.

O filme completo está disponível no YouTube: https://youtu.be/iT1kP7jTO0E

Ficha técnica
Curta-documentário: “Sonhos no chão, sementes da educação”
Imagens e edição: Lucas Bois
Roteiro: Raquel Baster e Lucas Bois
Duração: 22 minutos
Ano: 2020

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Educação

Volta às aulas é proibida pela Justiça em Colégio Militar de Belo Horizonte

Funcionários e inúmeros pais de alunos são contrários à retomada das aulas na instituição do Exército

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Aloísio Morais

A Justiça Federal deu um chega-pra-lá nos militares do Colégio Militar de Belo Horizonte e proibiu o retorno às aulas presenciais a partir da próxima segunda-feira, 21, a exemplo do que outras instituições do Exército pretendem fazer no país. A instituição tem cerca de 750 alunos, 42% do sexo feminino. Dezenas de pais de alunos são contrários à volta às aulas, mesmo com uma série de protocolos a serem adotados. Durante a ditadura, as instalações da escola abrigaram presos políticos, que foram vítimas de tortura no local.

A retomada das atividades escolares na unidade do Exército provocou discussões tanto na Prefeitura de Belo Horizonte quanto no Ministério Público Federal e, como medida de segurança, o Sindicato dos Trabalhadores Ativos, Aposentados e Pensionistas do Serviço Público Federal (Sindsep-MG) entrou na Justiça com um pedido em tutela de urgência para continuidade do regime remoto de aulas, o que foi acatado com a fixação de uma multa de R$ 5 mil por dia, caso ocorra descumprimento da determinação.

Colégio do bairro Pampulha foi usado para abrigar presos políticos durante a ditadura

Sem prejuízo

Na quarta-feira, 16, a direção do Colégio Militar encaminhou às famílias um comunicado informando sobre o retorno obrigatório às aulas na unidade, exceto para os alunos que comprovassem pertencer a grupos de risco para o novo coronavírus. Porém, para o sindicato, o retorno não é necessário, uma vez que os alunos não estariam sendo prejudicados pelo sistema de aulas on-line. Pela avaliação dos professores, os estudantes estão respondendo bem às aulas.

“Nós estamos conversando com os professores há mais de um mês, logo que eles perceberam que seriam convocados para um planejamento presencial das atividades e que incluía desde então o retorno às aulas na própria escola. Nós entendemos que não é necessário um retorno presencial quando tudo pode ser feito remotamente. Sabemos que a cidade está em processo de reabertura, mas achamos que não há necessidade de colocar mais pessoas nos ônibus e nas ruas se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas. As aulas estão tendo qualidade”, ressaltou a diretora do Sindicato, Jussara Griffo, ao jornal O Tempo.

Segundo Jussara, o Colégio Militar tinha determinado que retornariam apenas aqueles funcionários que não compõem grupos de risco para a pandemia do novo coronavírus, mantendo em regime remoto, portanto, aqueles com idades superiores a 60 anos e portadores de comorbidades. “Se algumas pessoas permaneceriam em casa, entendemos que o trabalho pode ser mantido remotamente, então não há necessidade de retornar também os outros. Para quê colocar alunos em risco, famílias e professores? Se os alunos estão respondendo bem às aulas remotas, podemos mantê-las”, declarou.

O comunicado feito pelo colégio indicava que haveria um revezamento entre turmas e a adoção de medidas sanitárias relacionadas à Covid-19 para garantir a segurança de estudantes, funcionários e familiares. O retorno contradiz as políticas municipal e estadual que ainda mantêm as aulas suspensas nas redes pública e particular de Minas Gerais. Autoridades da Prefeitura de Belo Horizonte declararam nessa sexta-feira, 18, que poderia procurar a Justiça para pedir a proibição da retomada do ano na unidade militar. Em uma mesma direção, o Ministério Público Federal determinou que o diretor do colégio, o coronel Marco José dos Santos, explicasse à Justiça com um prazo máximo de 24 horas quais estudos técnicos e protocolos de segurança justificariam o retorno às aulas presenciais.

Barbacena


Desde o dia 26 de maio mais de 200 alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Ar (Epcar) em Barbacena, no Campo das Vertentes, em Minas, testaram positivo para Covid-19. No dia 22 de junho, o Ministério Público Federal emitiu recomendação ao diretor de Ensino da Aeronáutica, major-brigadeiro do Ar Marcos Vinícius Rezende Murad, e ao comandante da Escola Preparatória de Cadetes do Ar, brigadeiro do Ar Paulo Ricardo da Silva Mendes, para suspender imediatamente todas as aulas e demais atividades acadêmicas presenciais.
A Epcar é uma escola de ensino militar sediada em Barbacena que admite alunos de idade entre 14 e 18 anos por meio de concurso público. No local, estudantes de várias cidades de todo o Brasil vivem em regime de internato e, por isso, dormem em alojamentos e têm aulas em horário integral.

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Cotas

Única vereadora preta de Natal celebra cota do fundo eleitoral para candidaturas negras

Divaneide Basílio (PT) acredita que a decisão do Tribunal Superior de Eleitoral, que determina distribuição proporcional do fundo eleitoral e partidário para candidaturas negras vai incentivar a participação de mais negros e negras na política

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Da agência Saiba Mais

O Tribunal Superior Eleitoral determinou que a partir de 2022 os fundos partidário e eleitoral terão que ser usados de forma proporcional para as candidaturas negras. A decisão é estendida também para o uso do tempo no rádio e na TV das campanhas.

O posicionamento do TSE é fruto de uma consulta feita pela deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que solicitou a destinação de 50% da verba para candidaturas negras, uma vez que conforme dados do IBGE o Brasil tem 55% da população nesse recorte.

A medida foi anunciada pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e tem a intenção de reduzir o desequilíbrio na participação eleitoral e no financiamento de campanhas das candidaturas de negras e negros. Essa deliberação se soma à determinação de 2018, que obriga o repasse de percentual fixo de 30% do fundo eleitoral para candidaturas de mulheres.

A subrepresentação das mulheres nos espaços de poder do Brasil, e em especial das mulheres pretas, é uma realidade. As mulheres são 51% da população brasileira, mas governam apenas 12% das prefeituras. Já as mulheres pretas administram apenas 3% dos municípios mesmo representando um contingente de 27% da sociedade.

E mesmo as cidades governadas por mulheres são proporcionalmente menores do que aquelas que contam com homens na chefia do Executivo. Apenas 7% da população no país moram em municípios administrados por mulheres, brancas ou pretas. Do total de prefeituras governadas por mulheres, 91% são de municípios com até 50 mil habitantes

Os dados estão disponíveis para consulta pública e foram divulgados pelo Instituto Alzira, organização que desenvolve ferramentas para contribuir com o aumento na participação das mulheres na política.

O parlamento de Natal é um exemplo desse desequilíbrio e subrepresentação. Das 28 cadeiras, apenas uma é ocupada por uma mulher preta. Não bastasse ser a única, a cientista social Divaneide Basílio (PT) também é a primeira vereadora negra da história da Câmara Municipal de Natal.

Para ela, a decisão do TSE deve garantir maior representatividade nos parlamentos:

– Acompanhamos com lupa esse debate, esse tema é algo para nós muito significativo porque vai garantir a ampliação da representatividade. Uma parlamentar como a Benedita da Silva (PT-RJ) provocando esse debate só reforça que a representatividade importa e que nós podemos disputar em condições de igualdade. Porque essa é uma pauta de todo o país. Eu sou a única negra em Natal, mas na maioria dos estados também é assim”, destaca.

Divaneide comemora e compara a decisão do TSE válida para 2022 com a obrigatoriedade do repasse de 30% para as candidaturas femininas.

– O processo, apesar de lento, já representa para as mulheres um avanço. Uma mudança de postura, com isso mais mulheres estão percebendo que poderiam se candidatar, tem melhores condições pra isso. Não é fácil conciliar a vida doméstica com o trabalho. E é uma mudança que nós, no PT, já iniciamos com o projeto Elas por Elas, garantindo formação. Lançamos esse projeto dm 2018 e hoje já é uma realidade e tem ajudado a nos fortalecer. No Rio Grande do Norte o Elas por Elas ajudou na capacitação das mulheres, contribuiu com o planejamento da campanha e aumento o nível de debate”, disse.

Além da questão financeira, a parlamentar que tentará a reeleição em 2020 acredita que a decisão do TSE estimula o envolvimento da população negra do debate político. O próprio Instituto Alzira reconheceu o avanço já notado em 2018 embora a subrepresentação seja latente.

Divaneide não acredita que haverá uma disputa por mais espaço entre candidatos negros e candidatas negras. A pauta antirracista, segundo ela, vai unir o candidatos.

– Vai ser bom pra todo povo negro. A pauta antirracista é de todo mundo, negro e negra. Nós mulheres negras estamos fazendo um debate para aprimorar o gênero de classe e raça. Vamos fazer um Elas por Elas com recorte de mulheres negras. Essas interfaces não são para colocar um grupo em superioridade, mas para mostrar que aquele grupo representa mais de uma identidade”,

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