Diante da crueldade do mundo, o corpo nu
O show Frou Frou é marcado pelo non-sense da arte do disco, pela simplicidade. As letras das músicas tiram sarro dos amores e suas dores, mas também falam de curar o coração e se conectar. Tem música sem letra, libertação da palavra! Fui juntando tudo isso, visualizando um convite à diversão, à liberdade, ao desbunde, à felicidade, ao amor.
Vejam bem que quando falo tanto sobre amor, estou falando do amor incondicional, cósmico, daquilo de que somos feitos, do essencial. E amar-se significa aceitar o que se é, como se é. Amar os outros significa aceitá-los exatamente como são. Somos humanos, feitos de carne, somos uma máquina genial. Porém não passa disso. O corpo é só essa embalagem, esse vaso. É natural e é lindo. Em algum momento na história, decidiram que era feio e vulgar. Principalmente o corpo feminino. Crianças são criadas para esconderem o corpo, terem vergonha, é um tabu! Que coisa mais atrasada esse negócio de tabu…
Mulheres ficam de calcinha rendada fazendo pose sensual, ficam praticamente nuas em vídeos musicais, em festas populares. Isso, tudo bem. Por que não pode mostrar tudo? Por que ser natural não pode? O que pode é ser vulgar, é alimentar a cultura machista em que vivemos, alimentar uma indústria do medo.
Preconceito é medo, violência é medo.
Pensando nisso tudo, tive a ideia de fazer uma performance, uma intervenção no meu show. Ficar nua e dizer algumas palavras, mostrar que um corpo é só um corpo, que não tem nada além. Chegando ao Sesc Belenzinho, local do show, falei com meus parceiros queridos Tatá Aeroplano e Peri Pane, que iriam participar em algumas canções, e os convidei para entrarem comigo segurando uma faixa escrita: “você tem medo de que?”
Fiquei muito feliz por eles toparem, fortaleceu a ideia toda. São só corpos, o que importa? Homem, mulher, somos todos feitos de partículas subatômicas que vibram criando a matéria. Na essência, somos a mesma coisa. Pra que tanto barulho, por que tantas barreiras?
Não lembro exatamente minhas palavras ali no show, mas foi algo mais ou menos assim: “eu queria dizer que quanto mais se olha pro que tá de fora, pro superficial, menos se olha pro coração. Essa desconexão é a grande causa de toda essa merda que está acontecendo. Falta olhar pra dentro. E respirar. Vai dar tudo certo. Nada é tão importante assim.”
Por uma bela sincronicidade da vida, esse show acabou acontecendo no mesmo fim de semana em que mulheres (e muitos homens) saíram às ruas a favor de sua liberdade, após aprovação na CCJ de um projeto de lei absurdo e escabroso (PL5069/2013) em que, basicamente, a mulher violada tem seus direitos negados.
Estamos próximos a um abismo perigoso, porém acredito que nada vá derrubar essa força que é a mulher. Os papeis estão se redefinindo após um longo limbo. Existirão choques, haverá confusão, e faz parte. Sugiro que trabalhemos, todos os dias desde o mínimo ato, para que reine a harmonia. Deveria ser natural, mas se é necessário um esforço então vamos arregaçar as mangas!
Não é pela naturalidade da nudez, é pela naturalidade da vida.
Agradeço demais todo mundo que está apoiando e espalhando a mensagem de forma positiva!
E espero que os maldosos encontrem sua paz.
Cada um no seu processo, mas aqui sem retrocesso, seguimos adiante!!!